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O silêncio ensurdecedor

Eu ouvia o ressoar a cada braçada. Sentia o forte cheiro de cloro, impregnado na minha pele. O contato com a água me era familiar, esfriava meu corpo, mas me envolvia como uma mãe abraça seu filho; eu iria carecer dessa sensação. Meus músculos não mais doíam como já haviam doido. Cada gota espirrada era logo agrupada ao resto e nunca permanecia solitária.

Eu recuperei meu ar, cuspi algumas palavras e voltei a mergulhar a cabeça na água. Era a ausência de som, ou talvez, recusa do barulho. Nadei um pouco com a cabeça cheia de pensamentos, parei novamente e pude ouvir sua voz: palavras banais. Pela última vez ouvia esse timbre, ou pelo menos, a última vez que ouviria ele puro, sem o corrompimento da tela de um celular e quase 10 mil quilômetros de distância. A conversa constante, a incapacidade de parar e o assunto infinito me eram costumeiros; o cansaço físico, a falta de ar e a vontade de desistir me eram costumeiros. Não mais. O falatório se transformou no som de

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teclas, e as braçadas se dissiparam com o tempo. Me despedi, não para

sempre, mas: – Até algum dia. - E mais uma despedida.

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