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A Perfeição Existe; fotoentrevista Vitor Sousa _ _ _ _ _ _ _ pág
A Perfeição Existe/ Fotoentrevista Vitor Sousa
CSR - Conhecendo bem (há longos anos) o seu belíssimo Ferrari 456 GT, sempre impecável e em estado de concurso, porque sentiu necessidade de partir para um "desafio" de restauro tão abrangente?
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VS - Primeiro gostaria de agradecer a oportunidade que me deram para falar um pouco sobre o nosso 456GT.
Em 2013 compramos o Ferrari 456 GT #99595 de 1994 com a intenção de o usar em família com as nossas 2 filhas, Francisca e Catarina.
O carro foi vendido novo na Bélgica, através do concessionário Garage Francorchamps e aí ficou até ser importado para Portugal em 2010.
Após ter tido 2 proprietários no nosso país, fomos comprar o 456 a um stand em Lisboa. Nessa época o carro, com 107.000Km, já apresentava algumas marcas de uso, no interior e até mesmo corrosão no exterior.
Como tenho alguma experiência em acompanhar vários restauros de Ferraris clássicos, e conhecendo algumas casas de renome onde poderia pedir ajuda, decidimos (eu e a minha esposa -Carla-, que sempre me acompanha nestas aventuras) avançar para um restauro bem profundo.




No caso da carroçaria decidimos por uma pintura completa, e durante este processo toda a corrosão existente teria de ser eliminada, especialmente no fundo do carro e na traseira.
Em feliz momento, optamos por manter a cor original, denominada "Blu Scuro Micalizzato FER516/C " que pessoalmente acho ser uma cor perfeita para o 456GT, pois realça e enaltece as linhas clássicas da Pininfarina.
Mecanicamente o carro encontrava-se em bom estado, necessitava da manutenção regular como a mudança de correias e limpeza de radiadores. Neste caso mais uma vez fomos um pouco mais longe e com a ajuda do meu querido Amigo Rui Gigante, verificamos amortecedores, casquilhos de suspensão, apoios de motor, embraiagem, sistema de travagem, injectores, tubagem de água e tubagem de combustível.
Ficou para o fim a parte mais aliciante e que nos despertava maior abrangência e redobrados cuidados, o interior.
Sabemos que a pele dos Ferraris é frágil especialmente em cores claras. Decidimos então restaurar todo o interior, que neste caso é integralmente coberto em pele Connolly .
Fizemos pesquisas em várias empresas dedicadas ao restauro de interiores, apreciamos aturadamente vários tipos de pele, mas acabamos por recorrer à Connolly, com recurso a um amigo nosso, com bastante experiência no ramo do restauro de Ferraris, Keith Bluemel.
A pele foi encomendada e o interior foi restaurado em estabelecimento de especialidade em Braga. Bancos da frente, bancos traseiros, quartelas das portas, consola central, tejadilho, painel de instrumentos, tudo foi coberto em pele nova, excepto, pasme-se, as palas do sol que mantêm a pele original de 1994!!!
A montagem do interior foi confiada à qualidade de uma casa muito justamente prestigiada, sediada na Maia -Elonogueira - propriedade do Sr. Joaquim Nogueira.
Após esta aventura achamos que o carro ficou muito melhor e mais bonito!!

CSR - Qual foi a metodologia que achou por bem adoptar para o efeito e que escolhas elegeu, designadamente para aquisição de materiais?
VS- A nossa maior preocupação era manter o 456 o mais original possível, o que envolveu alguma pesquisa para encontrar referencias de materiais. A nossa intenção era admirar o 456 e contemplá-lo como saiu de fábrica, ou pelo menos quase como saiu de fábrica!!
Demos sempre prioridade à compra de material original, e por isso recorremos à ajuda da Ferrari UK, Ferrari Classiche em Maranello, Toni Auto em Maranello, Schedoni em Modena e claro, a Connolly em Inglaterra.






CSR - Durante toda a envolvência do trabalho, quais foram as principais dificuldades com que se defrontaram?
VS- Durante todo este projeto, a identificação de alguns materiais e suas referencias originais foram desafiadoras, por exemplo o fornecimento do vidro da porta do condutor que se partiu no processo, foi quase uma "missão impossível”!
A identificação da referência original da pele do interior e das alcatifas também foi desafiador, o que neste caso se resolveu com uma visita aos arquivos da Connolly e ao Ferrari Classique para prosseguir com o projeto.
Para carros - ilustres- desta idade, nem sempre é fácil encontrar adequação optimizada de algum material. Para bem dos proprietários, existem algumas empresas que se vão especializando no fabrico de material que a marca não tem em stock.
Esta é uma área onde a Ferrari ainda tem de percorrer um longo caminho para ajudar o restauro de carros mais antigos.
CSR - Conhecendo já a Excelência do resultado final, achou-o gratificante e como o classifica?
VS- Confesso que nos deu um enorme prazer passar por todo este processo, embora em algumas situações ficássemos com "os nervos á flor da pele". No caso do interior, nada como confiar nos instintos da esposa, para que tudo corresse bem com as opções do material.
Voltaríamos a fazer tudo na mesma, se necessário!!!!
CSR - Ao CSR cumpre, antes de tudo o mais, apresentar as mais elevadas felicitações ao Senhor Vítor Sousa & Esposa - Carla Sousa - e agradecer, uma vez mais, a preciosa e prestimosa colaboração, com que sempre incondicionalmente distinguem o nosso Clube Scuderia Rampante. Realmente, repete-se, A Perfeição Existe! Bem hajam!
Esperamos que a publicação deste artigo e respectiva entrevista desperte nos nossos sócios e amigos a vontade de connosco partilharem as experiências e emoções envolvendo os seus Ferrari, desde as histórias das aquisições, primeira vez ao volante, passeios memoráveis ou quaisquer outras que entendam partilhar. Venham daí esses relatos!
Fotografias: Vitor Sousa e Mário Nogueira Freitas
post-scriptum - As fotografias (não profissionais) não podem pretender, seguramente, fazer jus à Excelência dos trabalhos neste ilustre Ferrari.
