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Um congresso sui generis em Atenas, 2006

Um congresso sui generis em Atenas, 2006

Fui apresentar um trabalho em Atenas, em agosto de 2006. O congresso, apesar de internacional, tinha cerca de dez pessoas, todas palestrantes e alguns alunos que pareciam ter sido recrutados na última hora.

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Os gregos estavam tentando divulgar a pesquisa em Ciência da Informação no seu país e aquela foi a primeira tentativa. Foi muito agradável participar de um congresso “internacional-doméstico”.

Nosso grupo se compunha de uma sul-africana, um nigeriano, um inglês, uma francesa, uma holandesa, duas norte-americanas, dois gregos e eu.

Ouvimos a nós mesmos todos os dias de manhã. Cada trabalho era seguido de pouca discussão. O melhor, como em quase todos os congressos de que participei, eram as conversas na hora do café, onde conheci um pouco das discussões da minha área em vários países, mas principalmente a vida dos professores que ali estavam.

Todas as tardes fazíamos um passeio pela cidade com um historiador. Andávamos a pé conhecendo as muitas preciosidades de Atenas. Subimos na Acrópole, tomamos deliciosas retzinas em Plaka, o bairro dos deuses, o mais antigo e boêmio da cidade.

Em todos os lugares, conhecemos um pouco da história daquela cidade milenar, que nos foi apresentada pelo nosso excelente guia. Foi uma delícia caminhar pelas ruas da cidade, parar num dos muitos anfiteatros, entrar no Partenon, caminhar pelas ruínas da Acrópole, com aquela vista fantástica da cidade ao redor da montanha. Imaginei a Dety, minha irmã, que foi apaixonada pela vida dos gregos antigos, andando ali comigo.

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No último dia do congresso, um sábado, faríamos uma excursão pelas ilhas próximas. Como iríamos visitar três ou quatro ilhas numa tarde, descendo e saindo de um barco, sem poder olhar as coisas devagar, desisti de ir.

Passei o dia caminhando pela cidade à toa, uma das melhores coisas a se fazer num lugar que a gente conhece pouco. No final da tarde, quando eu voltava para o hotel, encontrei um senhor, de cerca de 60 anos, que tocava um violão maravilhoso numa praça. Ao seu lado, um chapéu para moedas. Parei para ouvir a música. No final do recital, ficamos conversando.

Ele trabalhava numa orquestra e tinha sido despedido. O concerto diário nas ruas era o seu ganha-pão naquele momento. A Grécia vivia mais uma de suas muitas crises econômicas, consequência das absurdas regras de austeridade da União Europeia, que levaram o país ao desemprego e à ruína de muitas pessoas.

Depois do congresso, eu queria passar uns dias numa das ilhas, para olhar aquele mar azulão devagar, andar à toa, mergulhar, ler. Uma pessoa que trabalhava no hotel me indicou a ilha de Agistri, perto de Atenas e relativamente calma.

Estávamos no mês de agosto, o mês de maior turismo na Grécia e eu temia as hordas de viajantes. A indicação foi perfeita. Fiquei numa pousada, numa pequena colina ao lado do mar. A ilha era pequena e dava para fazer quase tudo caminhando.

A grande maioria dos turistas era grega. Estavam espalhados pelas muitas praias da ilha. Passei cinco dias de sol e mar, caminhando, visitando alguns monumentos, conversando com algumas pessoas, lendo e fotografando.

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Lembro de uma praia que ficava numa pequena enseada ao sul da ilha, no meio das árvores. Um pequeno quiosque, mesinhas de madeira e um cartaz enorme: “Desligue o seu celular. Converse com as pessoas, aproveite este instante.” Passei ali uma tarde tranquila, lendo, entrando e saindo da água.

Por todo o lado, as conversas e os risos naquele cenário bucólico. A milenar arte do bem viver.

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