2 minute read

Cairo, dezembro 1980

Cairo, dezembro 1980

Fomos, eu, Lícia, Márcia, Beth, Fernando e Marçal passar os feriados do final do ano no Egito.

Advertisement

Quando chegamos no Cairo, nos instalamos numa pousada. Ficamos alguns dias lá, andando e conhecendo as pirâmides, o Vale dos Reis e o Museu do Cairo. Andamos de barco pelo Nilo. Descemos de trem até Assouan, passando por Memphis e Luxor.

Estávamos embevecidos com aquele mundo tão diferente do nosso, com o bazar, os homens fumando narguilés, as caras das pessoas, os templos, as tumbas, as muitas maravilhas daquele mundo milenar.

No dia 30 de dezembro, estávamos de volta ao Cairo. Saindo de um templo, Marçal achou uma nota de 100 libras e nos convidou para passar a noite do 31 em um cabaré, para ver as danças das odaliscas. Foi um espetáculo fantástico, com aquelas mulheres gordas, lânguidas e sensuais dançando. Os homens colocavam dinheiro no peito delas.

As ruas eram muito barulhentas, uma confusão de pessoas, carros buzinando em todas as direções, motoristas gritando, bicicletas.

As túnicas brancas e os turbantes. Os véus das mulheres. O bazar, na sua confusão colorida, o cheiro das especiarias e dos narguilés. O ritual lento das compras.

Um pouco de paz num dia barulhento. Uma casa de chá, doce de coco, cansaço. As mesquitas chamam para a reza das 3 horas.

Queria te contar do dourado das pirâmides no céu azul, da tempestade de areia, do menino desdentado, do inglês caipira, dos ônibus na madrugada. Dos véus das mulheres. Da

103

nossa chegada de bicicleta para ver as maravilhas do Vale dos Reis, da minha falta de ar, descendo a escada de um dos túmulos do Vale. Da confusão desordenada do Museu do Cairo.

Das viagens nos trens barulhentos. Da calma no passeio de barco pelo Nilo. Da majestade da esfinge de pedra com o nariz quebrado.

Um minuto quieto no meu canto. Sol e o barulho d’água, vento morno. Ilha Elefantina, Nilo. Ao longe, os gritos do mercado. Ruínas.

O barqueiro que nos leva até a ilha, um garoto magérrimo e lindo na sua túnica branca, nos convida para tomar chá na sua casa. Somos apresentados a seus pais, duas figuras serenas.

O seu pai nos pergunta sobre a França, quer saber o que fazemos. A mãe nos serve calmamente chá de menta, com doces de mel. A casa é modesta. Nos sentamos no chão com as pernas cruzadas. A conversa é difícil, o inglês deles é parco.

Depois da visita, saio caminhando sozinha pela ilha. De repente, começo a ser acompanhada por muitos meninos de olhos transparentes e sorrisos abertos. A meninada aumenta cada vez mais enquanto ando. Fico com um pouco de medo, mas me dou conta que eles querem só seguir caminhando comigo.

Quando encontro, aliviada, Lícia, Márcia e Marçal no outro lado da ilha, os meninos nos pedem bakshish insistentemente. Já estamos acostumados com esse pedido. É uma constante em todos os passeios pelo Egito.

Voltamos à tardinha com uma sensação da paz e do silêncio da Ilha Elefantina.

104

This article is from: