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Natal no Sul da França

Natal no Sul da França

Dina, eu, Bernard e Marcius fomos passar o Natal em Bagnolssur-Cèze, no sul da França, com o Iuli e a Pitou, sua mulher. Bernard nos levou na sua Deux Chevaux, um carro popular e muito econômico, que começou a ser fabricado depois da Segunda Guerra. O do Bernard tinha cerca de 40 anos, uma peça de museu. Não tinha calefação. As portas e janelas não fechavam direito. O frio era uma constante.

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A cada 100 km, tínhamos que procurar uma oficina para reparar algum problema do carro. Mas ele conseguiu fazer bravamente 700 km, apesar dos percalços. Aquela foi sua última viagem, para nossa tristeza. Apesar de tudo, tínhamos nos afeiçoado àquela charanga pequena e barulhenta com seu ar retrô.

Passamos a noite de Natal na casa da Huguette, mãe da Pitou e do Antoine, seu marido. Eles eram pessoas muito religiosas e, antes da ceia, fizeram várias orações e cantos. Nós, como convidados, tínhamos que respeitar a cerimônia. Mas a Dina não aguentou, teve um ataque de riso e não conseguia parar.

Foram momentos de muito constrangimento. A família tentando disfarçar o mal-estar e nós tentando fazer a Dina parar de rir. A sua risada nos contagiou e foi difícil manter um ar sério.

Finalmente, Marcius conseguiu levar a Dina para a rua, depois de longos instantes de desconforto. As rezas continuaram. Ela voltou e pediu desculpas. A ceia foi servida, tentamos recomeçar a conversa normalmente, mas o ambiente ficou estranho.

Um pouco mais tarde, naquela mesma noite, descobrimos, na estrada, uma cabine telefônica que permitia fazer

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ligações para o exterior sem pagar. Nos anos 70, alguns telefones públicos franceses permitiam, por alguma falha no sistema, fazer essas chamadas. Naquela época, as ligações internacionais eram caríssimas.

Em Paris, essa prática se tornou popular entre os estrangeiros. Quando um estudante hábil conseguia fazer uma chamada gratuita, rapidamente a nova se espalhava. Quando estávamos andando em Paris e víamos uma fila numa cabine, sabíamos que dali era possível ligar para o Brasil sem pagar. Nessa noite, no sul da França conseguimos falar com as nossas famílias daquela cabine perdida na campanha francesa.

A Pitou, mulher do Iuli, era ceramista. O seu ateliê, em Pouzilhac, na estrada Nationale 20, era passagem para as praias do Mediterrâneo. Por essa razão, nas férias, era muito visitado. Lá, podíamos vê-la no torno, dando forma aos objetos e tirando-os do forno. Ela fazia lindas peças.

Passamos os próximos dias andando pelas cidadezinhas das redondezas. Conhecemos Montpellier, Avignon, a bela cidade dos papas, Aix-en-Provence e os desfiladeiros do Ardèche. Foram dias agradáveis, ensolarados, regados a vinho, que acompanhavam os gostosos quitutes do Iuli.

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