2016 Ed 14

VAI TER ÁGUA? OS PL ANOS DO RIO PARA DRIBL AR A SECA NOS JOGOS

EXCLUSIVO

www.istoe2016.com.br • ABRIL/MAIO 2015 • Edição 14 • Ano 6 VENDA PROIBIDA • EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ

NOSSO REPÓRTER VIAJA À UCRÂNIA E MOSTRA COMO A GUERRA TAMBÉM DESTRÓI O ESPORTE

O MELHOR E MAIS CARISMÁTICO TENISTA DO PAÍS NA ATUALIDADE REACENDE O ORGULHO DE TORCER PARA O BRASIL E LUTA AGORA PARA SE GARANTIR EM 2016

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João Souza, o Feijão, disputou a segunda partida mais longa da história do tênis

CHEGA DE MACHISMO ASSÉDIO SEXUAL, SALÁRIOS MENORES, FALTA DE RECONHECIMENTO: O LONGO CAMINHO DAS ATLETAS PARA ACABAR COM O PRECONCEITO

SINTONIA FINA POR QUE LUISA BORGES E DUDA MICUCCI SÃO AS ÚNICAS BRASILEIRAS GARANTIDAS NO NADO SINCRONIZADO NA OLIMPÍADA

índice SEçõES

REPORTAgENS

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AQUECIMENTO As novas estratégias do COI para combater o doping e fazer dos próximos Jogos os mais limpos da história ENTREVISTA Carioca de corpo e alma, o tremendão Erasmo Carlos fala de seu entusiasmo pela Olimpíada PAINEL Confederação de Atletismo contrata ex-técnico do medalhista olímpico Robson Caetano para acelerar a preparação do time nacional PágINA DOURADA O bicampeão mundial de basquete Rosa Branca recusou convite para jogar nos Harlem Globetrotters.

O motivo: continuar defendendo o Brasil

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AFINADAS Amigas dentro e fora das piscinas, Luisa Borges e Duda Micucci levam o Brasil a um novo patamar no nado sincronizado FEIJÃO NO FOgO O tenista João Souza, o Feijão, se consagra com uma derrota épica, vira ídolo do esporte brasileiro e luta agora para se garantir em 2016 TALENTO NA MESA Por que o carioca Hugo Calderano caminha para se tornar o melhor mesa-tenista brasileiro de todos os tempos RIO 450 ANOS Para homenagear a cidade olímpica, preparamos um roteiro com os melhores e mais surpreendentes passeios da cidade PELO FIM DO MACHISMO NO ESPORTE Chega de assédio sexual e de salários mais baixos que os dos homens. Atletas como a nadadora Flávia Delaroli hasteiam a bandeira contra o preconceito TIROS CONTRA O ESPORTE Repórter de 2016 vai à Ucrânia e revela como a guerra aniquila o projeto olímpico do país ágUAS PASSADAS O que as autoridades planejam fazer para evitar que a ameaça da crise hídrica afete os Jogos do Rio

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editorial

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FEIJÃO E O bOM COMbATE No esporte, há três tipos de derrotas. A primeira é fruto da incompetência e contra ela não há força capaz de lutar. Na segunda, mais comum do que deveria ser, perder é resultado da preguiça, do desleixo, da falta de ambição. Se você torce, no futebol, para uma equipe inimiga da vibração, que flerta com o ridículo, que é uma tristeza de se ver, sabe exatamente do que estou falando. O terceiro tipo de derrota mais enobrece do que apequena.

Nela, o perdedor se entrega ao jogo do começo ao fim, enfrenta o que for preciso, lança o melhor de suas habilidades, persegue o oponente como um predador atrás da presa. Ele, enfim, trava o bom combate – e sai de cena com a dignidade intacta. É neste último caso que se enquadra o tenista João Souza, o Feijão, personagem de capa desta edição da 2016. Perder para um argentino, em território inimigo, depois de quase 7 horas de jogo é coisa para poucos. Sair derrotado do jeito que ele saiu – se você não viu, vá ao YouTube e dê uma olhada no final do jogo – soa ainda mais extraordinário. A derrota épica fez de Feijão um atleta melhor, um exemplo a ser seguido. Ser superado no esporte é banal, acontece o tempo todo. Mas, como na dura vida nossa de cada dia, é preciso ter aquela centelha que faz o sujeito lutar sempre, mesmo que ele esteja a um passo de perder.

Tomara que o espírito combativo de Feijão mova os atletas brasileiros nos Jogos do Rio. Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br

istoÉ2016 ABRIL/MAIO 2015

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LONGO CAMINHO CONTRA O DOPING

COMO O COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL INVESTIGA O USO DE SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS E AS NOVAS ESTRATÉGIAS PARA FAZER DOS JOGOS DO RIO OS MAIS LIMPOS DA HISTÓRIA 21

POR DANIELLE SANCHES

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IStOÉ2016 ABRIL/MAIO 2015

Os responsáveis Nas Olimpíadas, os responsáveis pelos exames são o Comitê Olímpico Internacional (COI) em parceria com a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) e o comitê organizador local. Em 2013, o LADEtEC, laboratório que faria os exames no Brasil, foi descredenciado pela Wada por errar os resultados em exames periódicos.

Agora chamado de Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), o novo instituto é vinculado à universidade federal do Rio de Janeiro (uERJ) e está pronto para operar, mas ainda precisa ser credenciado novamente pela Wada para de fato fazer parte da Olimpíada.

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Os escolhidos

todos os medalhistas são obrigados a fornecer uma amostra de sangue ou urina para análise. um segundo grupo, composto por diversos atletas selecionados de forma aleatória, também participa do exame. todo mundo é obrigado a fornecer duas amostras, que funcionam como prova e contraprova.

Sem vergonha

A maior parte dos exames hoje é feita por meio de amostras de sangue, já que seus resultados são mais precisos. Para detectar hormônios sintéticos que melhoram o desempenho do atleta, o exame de urina ainda é o mais recomendado. Aí não tem choro: pelo menos um representante do COI deve olhar o atleta enchendo o frasco (mínimo de 65 ml). O esportista pode levar outro acompanhante.

aquecimento

4 5 6 Transporte rápido

Guardadas a sete chaves, as amostras são enviadas rapidamente para o laboratório credenciado dos jogos e são analisadas no mesmo dia. O transporte deve ser feito por uma empresa especialmente contratada para o trabalho. Essa companhia fica responsável pela segurança das amostras até o destino final.

Sem identificação

Chegando ao laboratório, cada amostra é analisada sem que se identifique o atleta.

As amostras recebem um código de barra e um número de controle únicos. Só então os exames são feitos.

Olhar clínico

A estimativa do COB é que sejam realizados 6.250 testes durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do rio

Diversos aparelhos hipersensíveis são utilizados na análise de sangue e urina.

O exame fica pronto em 24 horas. O resultado segue direto para o presidente do Comitê Antidoping do COI – só ele tem acesso aos dados para relacionar cada amostra ao atleta. Se o primeiro exame acusar o doping, o segundo teste é realizado com a contraprova. Se o resultado for positivo de novo, o atleta é punido. A pena varia de acordo com a gravidade do caso: além da desclassificação, ele pode ser suspenso temporariamente e até banido do esporte. É o caso da ex-nadadora Rebeca Gusmão, que em 2007 teve cassadas as quatro medalhas (duas de ouro) que conquistara no Pan do Rio de Janeiro e, dois anos depois, foi expulsa do esporte por reincidir no uso de testosterona.

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Os donos da verdade

Além de ser o primeiro a saber, o COI é também responsável por armazenar todas as amostras dos Jogos em local seguro por até oito anos.

InDEx ProHIbItorum A lista de substâncias proibidas pela Wada é atualizada anualmente no site oficial da entidade – e cabe aos atletas ficar de olho para não cair em ciladas. Confira as mais comuns: _Estimulante: disfarça o cansaço e dá mais gás para o atleta. Exemplos: anfetaminas e efedrinas. _Anabolizante: aumenta a força e a massa muscular. Exemplos: esteroides e nandrolona. _Calmante: importante para atletas que precisam de concentração e precisão. Exemplos: formoterol e salbutamol. _Diurético: elimina a água do organismo e reduz o peso total do atleta em pouco tempo, além de mascarar outras substâncias proibidas. Exemplos: furosemida e clortalidona. _Hormônio: eleva a taxa de hemoglobina no sangue, aumentando a resistência do atleta.

Exemplos: eritropoietina (EPO), darbopoietina (dEPO) e hematide.

DoPIng AnImAl Não são apenas os atletas humanos que passam pelo exame. Os cavalos usados nas provas de hipismo também devem se submeter a testes para rastrear qualquer substância proibida que melhore o desempenho. Um dos casos mais famosos de doping animal acabou sendo bom para um brasileiro. Em 2004, nos Jogos de Atenas, o irlandês Cian O’Connor levou o ouro na prova individual, mas seu cavalo, Waterford Crystal, foi pego no antidoping. A medalha ficou com Rodrigo Pessoa, que havia terminado em segundo lugar.

fOtOS: ShuttERStOCk

GOLPE DE AZAR A venda de ingressos para a Olimpíada de 2016 ainda não começou efetivamente, mas os espertinhos de plantão estão tentando faturar em cima da ingenuidade alheia. O COI (Comitê Olímpico Internacional) já identificou pelo menos um caso em que golpistas tentaram vender ingressos inexistentes. Por e-mail ou por telefone, pessoas comuns receberam a oferta de entradas VIPs – elas viriam com pacote de hospitalidade e dariam direito a entrada em camarote e bares nas arenas, além de “alimentação Premium”. tudo lindo, não fosse um detalhe: os ingressos – com ou sem pacote VIP – ainda nem estão disponíveis para o público em geral. O COI informou a polícia brasileira sobre o golpe e aguarda as investigações. Para não cair em cilada, lembre-se:

PARA OS JOGOS DE 2016, toda a comercialização de entradas será feita apenas pelo site oficial dos Jogos (www.rio2016.com/ingressos). ___ SE RECEBER E-MAIL, SMS, MENSAGEM DE WhAtSAPP Ou LIGAÇÕES tELEfÔNICAS oferecendo entradas, ignore. ___ A OfERtA DE INGRESSOS POR E-MAIL tAMBÉM PODE SER uM ChAMARIZ para que criminosos roubem dados privados (senhas de banco, por exemplo). Por isso, nunca clique em links suspeitos e apague qualquer mensagem de remetente desconhecido. ___ POR fIM, uSE O BOM SENSO. SE VOCÊ NÃO SE INSCREVEu PARA COMPRAR INGRESSOS nem se cadastrou no site do COI, por que os organizadores entrariam em contato?

CALENDÁRIO CONCORRIDO Imagine um tie-break na final do vôlei entre Brasil e Estados Unidos.

Nervos à flor da pele, unhas roídas e toda a tensão típica da partida estão no ar. O saque decisivo acontece, a bola viaja para o outro lado da quadra e... a partida é interrompida pela tela nada simpática da propaganda eleitoral gratuita obrigatória. Para evitar essa cena – e qualquer chance de panelaço nas varandas Brasil afora –, o secretário-executivo de Coordenação de Governo da Prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo, apresentou uma proposta ao governo federal para que as propagandas políticas sejam iniciadas depois do dia 21 de agosto, quando os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, já terão terminado. A proposta também prevê que a publicidade de candidatos e partidos em ruas e avenidas da cidade seja adiada. As mudanças, aliás, devem se encaixar em uma das exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI), que, durante a Olimpíada, permite divulgação em espaços públicos apenas da própria marca e de parceiros ou patrocinadores.

PUNIÇÃO EXEMPLAR A FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE HIPISMO (FEI, EM FRANCÊS) suspendeu a federação Nacional de hipismo dos Emirados Árabes unidos de todos as competições por tempo indeterminado. O motivo: investigações do órgão revelaram casos de doping, maus tratos e até mortes de cavalos em competições patrocinadas pela entidade árabe. Com a sanção, o país não pode participar de nenhuma reunião da fEI, competir em provas internacionais ou organizar campeonatos e eventos de hipismo.

A decisão veio após imagens de um cavalo se arrastando com as duas patas dianteiras fraturadas rodarem o mundo, causando indignação em atletas e fãs do esporte. O caso ocorreu em janeiro, durante a Al Reef Cup, em Abu Dhabi – na prova, três cavalos morreram, incluindo o animal que aparece no vídeo. Na mesma prova, 70% dos animais inscritos simplesmente não foram capazes de completar o percurso.

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aquecimento

E POR FALAR EM COMIDA...

GASTRONOMIA VERDE-AMARELA O Comitê Paralímpico Internacional publicou em seu site um guia com as 16 delícias da culinária brasileira que todos os gringos precisam provar. A lista inclui uma breve explicação de cada quitute e até uma tentativa de pronúncia do prato.

O pão de queijo, por exemplo, deve ser pedido como “paun dee kaydjo”. Já o quindim virou “keen deen”. O brigadeiro também está na lista e é descrito como “doce tipicamente brasileiro”. Confira acima a lista completa: 24

IStOÉ2016 ABRIL/MAIO 2015

As estrelas do rúgbi britânico Chris Robshaw (foto) e Mike Brown tiveram suas dietas reveladas pelo nutricionista David Dunne, que cuida da alimentação dos atletas do harlequin – time pelo qual os dois jogam. Segundo o especialista, eles precisam de muita, mas muita proteína para construir e manter os músculos. De acordo com Dunne, o ideal é que os jogadores consumam entre 2,5 e 3 gramas de proteína por quilo corporal. Com 110 kg, Robshaw deve, portanto, ingerir 330 gramas de proteína por dia – quantidade presente em 91 ovos cozidos ou 16 bifes de alcatra (de 100 gramas) ou 14 filés de salmão (de 100 gramas). Para criar bons hábitos de alimentação em seus pupilos, Dunnan recomenda alimentos como leite e derivados, clara de ovos (para evitar o colesterol), peito de peru, frango, shakes e smoothies proteicos e até panqueca – feita com whey protein e acompanhada de bananas e mirtilos. tudo dividido em quatro refeições ao dia. Além disso, pede que eles usem óleo de coco no preparo das refeições e que busquem aumentar a ingestão de frutas e legumes. tudo, segundo ele, para garantir que os jogadores tenham uma performance sustentável pelos próximos dez anos.

fOtOS: ShuttERStOCk

“bicho, o carioca fascina” erasmo carlos

por tom cardoso

foto carlos stefano martini

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istoÉ2016 abril/maio 2015

Olha só, bicho: o eterno e fiel parceiro de Roberto Carlos é, ao mesmo tempo, o seu maior antípoda. Enquanto o Rei esteve sempre refém de suas manias e reducionismos, Erasmo Carlos, de peito aberto, curtiu a vida – e continua curtindo. Recentemente, gravou um disco só de canções sobre sexo. Justo e legítimo: ele foi o primeiro pop star brasileiro a levar, segundo alega, mil mulheres para a cama – e isso até os anos 80. “Eu continuo na ativa”, garante. “Atualize os números, por favor”, pede o Tremendão, 73 anos, que se prepara para lançar, pela própria gravadora, um novo disco, com músicas desconhecidas do seu repertório, que provavelmente não vão tocar no rádio (ele se recusa a pagar jabá), mas que darão imenso prazer. “O meu maior luxo é fazer só o que eu quero, bicho”. O hedonista Erasmo, nascido na Tijuca, zona norte do Rio, está otimista com o futuro de sua cidade, sede da Olimpíadas de 2016. Ex-campeão de salto triplo no Exército, o cantor não acredita em vexame. “O carioca vai perceber uma porrada de erros durante o evento, mas os turistas nem vão notar.”

_Você participou das comemorações pelos 450 anos do rio. está cético ou otimista com o futuro da cidade?

Bicho, sou um otimista, sempre acho que tudo vai melhorar, mesmo sabendo que, em alguns casos, até pode parecer ingenuidade ter esperanças. Mas eu tenho. Mesmo que não melhorasse, eu não sairia. Sou muito urbano, gosto da confusão de uma cidade como o Rio. _o rio vai fazer bonito na olimpíada?

Nós temos problemas, mas que não são exclusivos do Rio e sim de todas as grandes cidades brasileiras.

O fato é que temos grandes virtudes também – e que nem toda metrópole tem. O modo de viver, o conceito de ser carioca fascinam o mundo inteiro. Durante a Olimpíada, muitos problemas vão passar despercebidos pelos turistas. Só a gente, que é daqui, vai perceber. Nos meus shows, é a mesma coisa. Às vezes, internamente, a gente sabe que houve um monte de falhas técnicas, mas a plateia nem se tocou. Queria apenas se divertir e nem percebeu. Vamos fazer uma grande Olimpíada, tenho absoluta certeza disso. _Você praticou algum esporte na juventude?

Pratiquei basquete, futebol de salão. Quando entrei para o Exército, virei campeão de salto triplo. Ganhei até medalha de honra ao mérito, sem merecê-la. Aliás, nem sei como saí cabo. _por que não merecia?

Os caras me deram medalha de bom comportamento, mas eu aprontei muito, sem que eles soubessem, claro. Fugia do acampamento para namorar as meninas da cidade, mas nunca me pegavam. Eu tinha os meus truques. Coisa de malandro da Tijuca. _lembra de algum truque?

Eu deixava a luz do meu quarto acesa de propósito.

No meio da madrugada, o sargento entrava no quarto, puto da vida, e ia me sacudir – e eu fingindo que estava dormindo profundamente. Eu abria o olho, imitando cara de sono, levava a bronca, e virava para o outro lado, “desmaiado”. Quando o sargento saia, eu pulava da cama, já arrumado, e ia para farra. _a turma da tijuca, formada por você, roberto carlos, Jorge Ben Jor e tim maia, marcou a história do rio.

entrevista

erasmo carlos

como é a relação com o bairro em que nasceu? ainda frequenta a zona norte?

Menos do que eu gostaria. Mudou muito, né? Eu subia muito o Morro de São Carlos, no Estácio, para curtir os blocos de carnaval. Hoje, eles não existem mais. Todos ali vivemos a Tijuca intensamente, mas éramos jovens, loucos. Hoje eu gosto de ficar no meu canto. _o mais louco de todos era o tim maia. Você acompanhou a polêmica em torno da cinebiografia sobre ele, dirigida pelo mauro lima (no filme, roberto, já no auge da carreira, humilha o jovem e ainda desconhecido tim)?

Eu vi o filme. Não estava ao lado do Roberto nesse dia, na TV Record, mas, sinceramente, duvido que o Roberto tenha se comportado daquela maneira. Não é o do estilo dele. Ele não faria isso com ninguém, muito menos com o Tim, que era nosso companheiro de muitos anos. Os dois tinham estilos diferentes, claro, seguiram caminhos opostos, mas daí exibir, sem provas, uma cena em que o Roberto humilha o Tim é forçar a barra. Quando o diretor e o roteirista começam a pensar num filme, eles precisam enfatizar um lado, normalmente o que seja mais atraente para o púbico, para dar mais bilheteria. E polêmica vende, né, bicho? _Você gravou três discos de inéditas em menos de cinco anos. Qual é o segredo para se manter tão produtivo?

O segredo é ser independente. Eu tenho a minha própria gravadora, a Coqueiro Verde, posso fazer o que quiser sem precisar dar satisfação para executivo de gravadora, sem ter pressão para vender ou não, para tocar no rádio. Acabei de gravar um disco só com canções do meu lado B. Vai sair no meio do ano. Músicas que as pessoas não conhecem, mas que tem grande importância para mim. Não vai tocar no rádio, eu sei.

Minha gravadora é pequena, não tem grana para pagar jabá (espécie de propina paga para rádios para que elas toquem determinada música).

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_então o jabá, mesmo com a crise da indústria fonográfica, continua a todo vapor?

Mais do que nunca. E de forma descarada. Antes era meio por baixo do pano, a galera tinha certa vergonha de assumir o jabá. Hoje, não. Já está tudo institucionalizado. É por isso que artistas mais tradicionais, como eu, e outros nomes da MPB, não tocam no rádio. Se tocam, são apenas os sucessos de sempre. Mas as canções novas, dos discos novos, as chamadas “músicas de trabalho”, não vão tocar. _enquanto o roberto carlos, seu eterno parceiro, proíbe a publicação de biografias e vive mergulhado em um sem-número de manias, você parece estar sempre de bem com a vida. como figuras tão antagônicas conseguem ser amigas por tanto tempo?

Somos pessoas diferentes, mas essas diferenças não são capazes de nos separar. Na polêmica sobre as biografias, eu fiquei do lado do Roberto, porque também penso da mesma maneira. Nós artistas temos direito à privacidade. Mas, no geral, eu e o Roberto encaramos a vida de maneiras diferentes. O romantismo dele não é o meu. Quando compomos juntos, um cede um pouco, ele fica mais ousado e eu um pouco romântico.

Só dá briga quando eu decido matar alguém na letra.

Aí ele fica puto. _Isso já aconteceu?

Sim, uma vez, na letra de Cachaça Mecânica. O personagem da música morre no fim, de “cachaça e folia”.

O Roberto não queria, ele tem as manias dele, mas eu matei sem dó. Foi a única vez que eu consegui. _reza a lenda que você e o roberto, para driblar a censura, mudaram em cima da hora a letra de o terror dos Namorados, canção que está no seu primeiro disco solo, de 1964. a estrofe “eu beijo as loirinhas/ eu beijo as moreninhas/ eu beijo, eu beijo, eu beijo, eu beijo” era para terminar de outro jeito...

“Exibir Num filmE, sEm prOVas, uma CENa Em quE O rObErtO humilha O tim maia É fOrçar a barra.

O rObErtO NãO faria issO COm NiNGuÉm. NãO É O EstilO dElE” Não é lenda. Em vez de “Eu beijo, eu beijo, eu beijo, eu beijo” terminaria assim: ‘Eu fodo, eu fodo, eu fodo, eu fodo’. Mas é claro que não passaria na censura e, no fundo, ficou melhor assim. Nas entrelinhas, todo mundo sabe o que eu queria dizer. Menos a censura. _Você aproveitou bem os tempos de Jovem Guarda.

Numa entrevista, nos anos 80, chegou a dizer que havia transado com mais de mil mulheres... Esse, pelo jeito, era o seu esporte preferido É preciso fazer justiça. Muito antes de eu ficar famoso, já tinha um índice respeitável. E essa entrevista faz mais de 30 anos. Você precisa atualizar os números... Eu era mulherengo, mas hoje vale mais a qualidade do que a quantidade. _O Caetano Veloso, um ano mais novo do que você, disse que está “na infância da velhice”. É isso mesmo?

Para mim, não tem essa história de infância ou velhice. Eu sou eternamente jovem, meu espírito é jovem. É claro que sinto as minhas limitações, a capacidade física não é mais a mesma. Mas por dentro eu ainda quero destruir.

Até no porte físico elas se parecem. Duda tem 19 anos e pesa 55 kg. Luisa tem 18 e pesa 53 kg.

Ambas medem 1,67 m. Isso quer dizer que, além de tudo, também dividem roupas

S i n t o n i a f i n a AmigAs Até debAixo d’águA, LuisA borges, 18 Anos, e dudA micucci, 19, têm A responsAbiLidAde de LevAr o nAdo sincronizAdo brAsiLeiro A outro pAtAmAr nos Jogos oLímpicos de 2016

nado sincronizado

por Flávia RibeiRo

fotos joão castellano/ag.istoé

istoÉ2016 abril/maio 2015

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nado sincronizado

DuDa começa a falar. luisa completa.

Duda deixa uma pergunta no ar. Luisa responde. “A gente já teve problema de lombar, joelho, ombro”, diz a primeira. “Descobrimos que até creme de depilação é doping. Não pode depilar com creme”, fala a segunda.

“Pois é, nós estamos sempre nos salvando”, completa a amiga. A sintonia entre Maria Eduarda Micucci e Luisa Borges é tão grande que elas falam o tempo todo assim, no plural. Não tem “eu”, apenas “a gente” e “nós”. Até no porte físico elas se parecem. Duda tem 19 anos e pesa 55 kg. Luisa tem 18 e pesa 53 kg. Ambas medem 1,67 m.

Isso quer dizer que, além de tudo, elas também dividem roupas. E mais importante: dividem sonhos e uma rotina pesada de treinamento para alcançá-los. O maior deles? Fazer história no nado sincronizado brasileiro.

Duda (à esq.) e luisa formam uma dupla com “simbiose única”, segundo a treinadora maura Xavier

Duda e Luisa são a dupla que representará o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, na categoria dueto. São ainda parte da equipe brasileira, que contará com mais seis atletas, além de uma reserva. Esses sete nomes ainda não estão escolhidos. No momento, 14 meninas treinam com a seleção brasileira na Escola Naval, no Rio, que serve de base para o nado sincronizado. Do grupo, apenas Duda e Luisa já estão garantidas. A técnica Maura Xavier explica o porquê.

“A simbiose entre as duas é única”, diz. “Elas são extremamente sincronizadas, o que obviamente é um ponto fortíssimo dentro da água. E isso se fortalece por meio da amizade delas.”

A sintonia fora das piscinas faz com que uma tome conta da outra. Luisa não tem a tireoide desde os 12 anos, quando retirou a glândula cirurgicamente por causa da suspeita de um câncer – que não se confirmou. Por isso, precisa tomar hormônios todos os dias. Hoje, não esquece mais. Mas, por via das dúvidas, Duda sempre tem uma caixa do remédio da amiga na bolsa. No passado, isso foi fundamental. “A gente ia viajar, passar um mês fora, e eu esquecia o remédio em casa”, diz Luisa. “Quando percebia e ia entrar em desespero, a Duda me salvava.

Ela sempre me salvou.” A amiga protesta, afirma que os “salvamentos” são mútuos. “Só não estou lembrando agora de um exemplo em que eu tenha livrado a cara da Duda”, diz Luisa, rindo largamente. As duas se olham e, mais uma vez, caem na gargalhada.

Estudante de jornalismo, Luisa é a engraçada da dupla. Duda, mais séria, acaba de trancar a faculdade de estatística para cursar engenharia. Na hora do treino, a concentração das duas é total – algo absolutamente necessário diante da imensa quantidade de trabalho até a estreia na Olimpíada de 2016. A técnica Maura Xavier detalha o que é preciso melhorar: “Hoje, nosso foco está voltado para o ganho de vigor e altura na execução dos movimentos na água”, explica. Para isso, além de uma equipe multidisciplinar sempre presente, as meninas têm, há pouco mais de um ano, a colaboração da técnica canadense Julie Souvé. Ela trabalha com Maura como consultora e é dona de oito medalhas olímpicas à frente da equipe do Canadá: duas pratas em Los Angeles-1984, dois ouros em Seul-1988, um ouro e uma prata em Barcelona-1992, uma prata em Atlanta-1996 e um bronze em Sydney-2000.

Com a chegada de Julie, conta Maura, houve uma transformação na filosofia de treinamento. Mudaram as coreografias, mudou o treinamento físico, mudou a

dinâmica de correções de coreografias. “Todas essas novidades nos estimulam para esse trabalho com objetivo nas Olimpíadas”, afirma a treinadora. “Com esse novo formato de treino, espero evidenciar nas competições a nossa melhora e conseguir assim o reconhecimento da arbitragem.” A meta olímpica é, segundo a treinadora, ficar entre as seis primeiras equipes – são oito, no total.

No dueto, o objetivo é chegar à final, feito não alcançado nas duas últimas edições dos Jogos. As meninas sonham ainda mais alto. O Brasil sempre brigou para ir à final, com os 12 principais duetos, e conseguiu duas vezes, ficando em 12º lugar (em Sydney-2000 e Atenas-2004).

“Agora, a gente quer ficar em oitavo”, diz Luisa. Não seria suficiente para uma medalha, mas representaria um passo gigantesco, um resultado histórico para esse esporte praticamente desconhecido no País.

Para isso, as meninas treinam de segunda a sábado, das 6h45 às 14h. A rotina inclui musculação, exercícios de fortalecimento, fisioterapia, circuito, treino de fôlego, marcação – quando elas repassam a coreografia fora d’água, para aumentar a sintonia – e coreografia com peso no pé e na cintura, para dar mais velocidade e altura. Além disso, praticam a zala, ginástica de movimentos rápidos, que trabalha força e flexibilidade, trazida para a equipe pela técnica russa Tatiana Pokrovskaya, que foi consultora da seleção brasileira antes de Julie. Antes, explica Duda, o objetivo da dupla era ser magra. A especialista canadense trouxe outro conceito: pernas finas e braços fortes. “Porque perna fina fica esteticamente mais bonito fora d’água, para as coreografias”, diz a atleta. “E a gente precisa de braços fortes para segurar tudo com mais velocidade e altura.”. Duda ainda luta com a balança: quer perder 2 kg, para ficar como Luisa. Mas, como elas nunca estão satisfeitas, Luisa também quer afinar mais as pernas. Como?

“Vai correr, vai com Deus! Corre que afina!”, brinca ela.

Luisa vem de uma família ligada às águas. O avô, Coaracy Nunes, é presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) desde 1988. A mãe foi atleta de nado sincronizado e o irmão, de polo aquático. “É bom porque minha família entende minha vida”, diz.

Duda, por sua vez, é filha de militar. Passou a infância se mudando de base em base pelo Brasil. Descobriu o nado quando morou em João Pessoa (PB), por causa do clube perto de casa que ensinava o esporte. Agora, vê a irmã mais nova, Laura, de 14 anos, mostrar seu valor na seleção brasileira de base de nado sincronizado. Atletas do Fluminense, as duas se conheceram em 2009, treinando no clube, e desde então formam um dueto inseparável. “Nós istoÉ2016 abril/maio 2015

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nado sincronizado

temos os mesmos amigos, então saímos sempre juntas”, diz Luisa, que namora um estudante de direito.

A Paraíba, onde Duda descobriu o nado, está se tornando um polo do esporte. Este ano, o estado inaugura o parque aquático da Vila Olímpica Ronaldo Marinho, que recebeu investimento de R$ 30 milhões e onde haverá a primeira piscina só para nado sincronizado do País. No Rio de Janeiro, cidade que sediará os Jogos de 2016, pequenos passos têm sido dados. A vila olímpica de Vila Isabel – um dos 21 espaços mantidos pela prefeitura que oferecem atividades esportivas para a comunidade próxima – tem 35 crianças matriculadas na aula de nado sincronizado. É pouco, mas mostra uma tentativa de popularização de um esporte que cresceu lentamente nas duas últimas décadas.

A supervisora de nado sincronizado da CBDA, Sônia Hercowitz, conta que, quando entrou na entidade, em 1996, havia 250 atletas praticando a modalidade em quatro estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. “Eu tinha pesadelos”, afirma. “Dizia que um dia ia dormir e, quando acordasse, receberia a notícia: acabou, não tem mais nado”. Hoje, são 1.100 atletas em 17 estados – um belo salto, mas ainda pouco diante dos 7 mil praticantes do Canadá, sexta força mundial no esporte atualmente.

O ingresso de rapazes na modalidade talvez ajude a dar novo fôlego? Os Jogos de 2016 continuarão exclusivamente

femininos no nado, mas podem muito bem ser os últimos nesse formato. Os ventos de mudança têm soprado a favor dos duetos mistos. Tanto que no 16º Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, que acontece entre 17 de julho e 2 de agosto deste ano em Kazan, na Rússia, o dueto misto já valerá medalhas. “Acho que será bonito, um pas de deux nas águas, balé clássico na piscina”, diz Sônia, que foi bailarina clássica e atleta de “balé aquático” (confira box). Hoje, ela é professora na única faculdade de educação física do País que oferece a matéria Nado Sincronizado: a UFRJ. A modalidade recebe 25% do investimento da CBDA, cujo orçamento não é pequeno. Entre 2012 e 2014, por exemplo, a confederação arrecadou cerca de R$ 75 milhões, recursos vindos de convênios com o Ministério dos Esportes, da Lei de Incentivo ao Esporte, da Lei Agnelo Piva e, principalmente, do patrocínio dos Correios, responsável por R$ 46 milhões. A caminhada para 2016 tem, portanto, investimento financeiro e em pessoal qualificado, além de boas condições materiais.

Tem também a aposta em duas meninas ainda muito jovens, que disputarão sua primeira Olimpíada, mas que têm um entendimento que muitos duetos formados por atletas veteranas não têm. No primeiro semestre do ano passado, Duda e Luisa tiveram que treinar separadas, por contingências da seleção. Foi uma experiência interessante, comentam. “Mas só quando estávamos juntas éramos realmente nós”, diz Luisa.

De balé a esporte as regras do esporte que distribui 72 medalhas olímpicas Em 1892, uma apresentação de balé aquático para o rei Eduardo 7º e sua corte, na inglaterra, marcou as origens do esporte que ficaria conhecido como nado sincronizado a partir de 1934, quando recebeu esse nome na 1ª Feira mundial de Chicago. Nos anos 1940, a modalidade se popularizou com os filmes de esther Williams. Começou a ser praticada no rio de Janeiro em 1943, por iniciativa da nadadora maria lenk. Daí até 1967 expandiu-se para outros estados brasileiros, com o país começando a participar de sul-americanos e pan-americanos – chegou a ganhar medalha de bronze nos Jogos pan-americanos de são paulo, em 1963. entre 1968 e 1977, então, houve uma estagnação. em vez de competições de nado sincronizado, havia apresentações de balé aquático. só a partir de 1978 o esporte foi retomado no brasil, crescendo após 1997. o brasil esteve em sete das oito edições dos Jogos olímpicos desde que o nado sincronizado foi incluído no programa, em los angeles-1984. sempre com duetos e, no início, quando havia essa categoria, solo – em 1996, só houve competições por equipe, e o país não se classificou. os Jogos do rio serão os primeiros em que o brasil competirá com uma equipe, beneficiado por ser o país-sede e ter, portanto, vaga garantida. entre os duetos brasileiros em olimpíadas, o destaque fica com as gêmeas Carolina e isabela de moraes, as únicas a fazerem uma final olímpica até hoje. aliás, duas: ficaram em 12º lugar nos Jogos de sydney-2000 e atenas- 2004.

No ano passado, o novo dueto brasileiro, formado por Duda micucci e luisa borges, conquistou o 7º lugar na Copa FiNa. Nas equipes, o brasil ficou em 5º. a melhor participação do país na história da competição é um prenúncio de que a corrente pode estar a favor das atletas nacionais.

no balé aquático do nado sincronizado, a beleza dos movimentos é tão importante quanto a precisão técnica

A PArAíbA, onde dudA descobriu o nAdo, está se tornAndo um Polo do esPorte. em 2015, o

estAdo inAugurA um PArque Aquático olímPico que recebeu investimentos de r$ 30 milhões fonte de recursos da cbda

(2012-2014)

as regras _o nado sincronizado é disputado apenas por mulheres. _Para a olimpíada, classificam-se 24 duetos e oito equipes. _cada equipe tem nove atletas, mas uma é reserva: apresentam-se oito. _equipes e duetos fazem, cada um, duas apresentações: rotina técnica e rotina livre. _na técnica, os duetos têm 2 minutos e 20 segundos e as equipes têm 2 minutos e 50 segundos para apresentar movimentos obrigatórios. _na livre, os duetos têm 4 minutos e as equipes têm 5 minutos para apresentar uma coreografia sem restrições. _Há duas bancadas de juízes, uma avaliando a parte técnica e a outra, a parte artística das apresentações. _as piscinas oficiais devem ter 20 metros de comprimento, 30 metros de largura e três metros de profundidade. _Mais importante: precisam ser equipadas com alto-falantes especiais, para que as atletas possam ouvir a música embaixo d’água. istoÉ2016 abril/Maio 2015

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tênis

por RodRigo CaRdoso

fotos daRyan doRnelles Feijão, o tenista brasileiro mais bem ranqueado no mundo, tenta ficar entre os 60 melhores para garantir de vez a vaga em 2016

o sonho do feijão

João souza, o melhor tenista do país na atualidade, não tinha dinheiro para os torneios e dormia no depósito de uma academia de tênis. agora, vira ídolo do esporte brasileiro da maneira mais improvável possível: com uma derrota épica

São raríssimos os casos de atletas ou equipes que entram para a história do esporte com uma derrota.

A seleção de futebol que representou o Brasil na Copa de 1982, na Espanha, é o exemplo mais pulsante desse fato. Eliminado pela Itália, aquele time até hoje é mais cultuado do que muitos campeões (pouca gente lembra do meio-campo que venceu a Copa de 1994, mas ninguém esquece de Zico, Sócrates e Falcão, o trio mágico que brilhou no Mundial em gramados espanhóis). O tenista paulista João Olavo Soares de Souza, conhecido como Feijão, acaba de entrar para esse seleto grupo. Mesmo ao ser derrotado em uma partida de quase sete horas de duração válida pela Copa Davis, uma espécie de Copa do Mundo do tênis, ele foi reverenciado ao provocar no público brasileiro um sentimento adormecido desde os tempos de Gustavo Kuerten: o orgulho de torcer por um conterrâneo.

tênis

“AgorA, sei que o meu

limite é o céu.

nem imAgino

Aonde posso

chegAr depois

de jogAr doze

horAs de

tênis em um

intervAlo de dois diAs”

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istoÉ2016 abril/maio 2015

Era 8 de março, um domingo ensolarado em Buenos Aires, capital da Argentina. Tenista número 1 do Brasil e 75º do mundo, Feijão fazia sua segunda partida contra o argentino Leonardo Mayer, 29º do ranking, que jogava em casa apoiado pela barulhenta torcida portenha. Naquele Dia Internacional da Mulher, o brasileiro perdeu o jogo e não conseguiu classificar o País para a próxima fase. Sorte a dele que, no esporte, o resultado apontado pelo placar – Mayer venceu por 3 sets a 2 – muitas vezes não mede outro tipo de conquista. Na partida contra Mayer, Feijão, que dois dias antes havia vencido o argentino Carlos Berloq em cinco sets após 4h56 de jogo, reagiu quando o adversário vencia por dois sets a zero e tinha a vantagem de 4x1 no terceiro set. O brasileiro empatou o jogo em 2x2, salvou dez match points de maneira impávida e só sucumbiu após 6h42 de partida, em impressionantes 15x13 no quinto set.

Em duelos disputadíssimos assim, nada tem mais valor do que o esforço, nem mesmo a vitória. O que consagra o atleta é a entrega do melhor de suas habilidades. E foi isso que o tenista brasileiro, nascido em Mogi das Cruzes (SP) vinte e seis anos atrás, experimentou na capital argentina. Antes mesmo do fim do embate épico – a partida se tornou a mais longa da Davis e a segunda mais longa de toda a história do tênis mundial –, Feijão já havia percebido que o que estava em jogo ali não se media pelo placar. Foi o capitão da equipe brasileira, João Zwetsh, que o orientava na quadra, quem traduziu a ele o momento histórico. “É um orgulho estar aqui com você nesse momento”, disse Zwetsh. “Não estou me importando se você vai ganhar

ou perder este jogo. Você já está sendo um vencedor. É um orgulho para mim, para o nosso time e para o Brasil.” Na conversa com a 2016, Feijão – apelido inspirado no arroz com feijão preparado pela avó Jaciara – contou essa e outras histórias com a mesma empolgação que demonstra numa quadra de tênis. Ele é um sujeito naturalmente animado, de bem com a vida, que não precisa fazer esforço algum para transmitir simpatia. Tem, enfim, aquela centelha que diferencia os atletas comuns dos que possuem carisma de verdade.

Depois de nove anos como profissional e sete títulos de torneios Challengers, como o Aberto de São Paulo, em 2014, ele percebeu que atingiu um patamar de equilíbrio mental que o permite acelerar na carreira.

“Agora, eu sei que o meu limite é o céu”, afirma. “Nem eu imagino aonde posso chegar depois de jogar doze horas de tênis em um intervalo de dois dias.” O técnico Ricardo Acioly, que treina Feijão há dez anos, reforça: “Agora começam os melhores quatro ou cinco anos da carreira dele”. Os piores, Feijão diz, não devem ser esquecidos, porque foram eles que o trouxeram até aqui e o fazem acreditar que pode ir mais longe.

O tenista é o caçula de dois filhos de uma professora, que atualmente trabalha em um berçário, e de um químico aposentado. Passou a infância cabulando aula na escola para frequentar o Clube de Campo de Mogi das Cruzes. Ali, ganhava R$ 10 para apanhar as bolas em torneios internos de tênis. Com o dinheiro, comprava pão de queijo, comia misto quente e bebia Coca-Cola, já que, dentro de casa, sabia que a situação financeira não era boa. Foi a avó paterna quem praticamente sus-

oS JogoS MaiS longoS da hiStória do tÊniS John iSner (eua) x niColaS Mahut (Fra) duração: 11h05 Competição: Wimbledon (2010) VenCedor: isner, Com 70X68 no 5º set

FabriCe Santoro (Fra) x arnaud ClÉMent (Fra) duração: 6h33 Competição: roland Garros (2004) VenCedor: santoro, Com 16X14 no 5º set

João Souza, o FeiJão x leonardo MaYer (arg) duração: 6h42 Competição: Copa daVis (2015) VenCedor: maYer, Com 15X13 no 5º set

tênis

RAI O

X

João olavo SoareS de Souza apelido: FeiJão Cidade natal: Mogi daS CruzeS (SP) idade: 26 anoS altura: 1,92 M peso: 90 kg mania: não entra eM quadra Para treinar ou Jogar uMa CoMPetição SeM anteS eSCovar oS denteS Curiosidade: aSSina CoMo FeiJão oS autógraFoS diStribuídoS no braSil e João Souza no exterior ano de proFissionalização: 2006 melhores resultados: Sete títuloS de torneioS Challenger

no alto, Feijão é reverenciado pela equipe brasileira da Copa davis após a derrota no segundo jogo mais longo da história. no meio, posa com os xeques de doha, no primeiro torneio de 2015. acima, recebe cumprimentos do espanhol rafael nadal

tentou a família durante um bom tempo. Feijão passou a fazer aulas de tênis aos 10 anos, no mesmo período em que os pais se separaram.

A mãe, com quem ele e a irmã passaram a viver, fazia rifas e pedia dinheiro emprestado a amigos para comprar passagens de ônibus para o filho competir em outros Estados. “O perrengue era tão grande que eu chegava a torcer para o meu filho perder jogos, porque não tinha dinheiro para ir junto nos torneios”, afirma Maria Ângela Lima, 50 anos. “Mas ele sempre ia passando de fase.” Com 15 anos, Feijão desembarcou sozinho em São Paulo para morar e treinar na academia do ex-tenista Jaime Oncins. Por seis meses, o futuro número 1 do Brasil dormiu no depósito do local. “Havia ali redes, bolinhas, uma beliche caindo aos pedaços e o Derlei, o caseiro com quem eu morava”, lembra. “E tinha mosquito pra caralho, goteira. O colchão ficava molhado toda vez que chovia.”

Foi nessa época que o atleta conheceu Ana Paula Barros, uma arquiteta de Brasília que abriu a casa para hospedá-lo. O tenista havia desembarcado de ônibus na capital federal para um torneio, mas não tinha onde dormir. “O pai dele estava desempregado e a mãe ralava muito como professora de escola primária. “O Feijão passou 15 dias em casa e logo nos afeiçoamos. Hoje, nos tratamos como mãe e filho”, conta ela, hoje com 45 anos. Ana Paula é uma espécie de anjo da guarda do tenista de Mogi das Cruzes. Desde que se conheceram, ela passou a comprar passagens aéreas para Feijão poder competir em países da América do Sul. Também enviava tênis, roupas e dava dinheiro. “Lembro de um Carnaval em que ele me ligou chorando da academia onde morava em São Paulo dizendo que não tinha o que comer”, diz a arquiteta.

Feijão confirma as histórias da segunda mãe, que também se emocionou com a participação dele na Davis. Ao final da partida do brasileiro contra o argentino Mayer, a arquiteta publicou uma foto de Feijão no Instagram com a seguinte legenda: “Esse é João Souza, meu filho preto. Hoje, o meu João Souza é o Feijão do Brasil”. O atual número 1 do Brasil divide um apartamento alugado com a irmã e a filha dela, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Faz dez anos que ele mora na capital fluminense e foi ali que o treinador Acioly, ex-capitão do Brasil na Davis na época de Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni, preparou o então garoto de 1,92 m e 90 kg, que batia na bolinha com força descomunal, para um novo padrão de jogo.

Pardal, como Acioly é conhecido, viu no atleta o perfil ideal de jogador que suporta partidas de longa duração. “O tênis do Feijão vai crescendo durante a partida, mas a ansiedade o fazia jogar muito acelerado, abusando da potência e da força”, analisa. “Hoje, ele fotos: Gabriel rossi/stf • reprodução

já sabe baixar a ansiedade para jogar com tranquilidade.” Muito do equilíbrio de Feijão, como ficou claro na Davis, é fruto do auxílio de um psicólogo do esporte, com quem ele se consultou por quatro anos, e de treinos específicos que simulavam partidas de cinco sets.

Para Paulo Cleto, comentarista e ex-capitão do Brasil na Davis, Feijão empolga até quando perde. “Fiquei extremamente orgulhoso durante o jogo dele contra o Mayer, fazia muito tempo que não sentia isso”, diz.

“Me envolvi, torci e mandei uma mensagem para ele agradecendo por isso, depois que ele perdeu.”

Durante o jogo contra o argentino, um mantra era repetido pelo brasileiro a cada match point a favor do adversário. “Esse jogo é meu, não vou desistir nem fodendo. Fica no jogo até o último ponto, mete a mão na bola e coragem.” A garra de Feijão foi exaltada por fãs nas ruas. “Orgulho”, “parabéns” e “obrigado” foram as palavras que ele mais ouviu de quem o cumprimentava, ao retornar ao Rio. “A galera apertava a minha mão e dizia que eu era motivo de orgulho para o Brasil”, diz.

O assédio feminino também aumentou. O tenista se diverte ao revelar o que uma fã escreveu em uma rede social ao lado de uma foto dele: “Feijão, posso ser seu arroz?”

Solteiro, o atleta teve de ser monitorado por um bom tempo por Acioly e pela mãe para não desviar o foco do esporte. “Até os 22, 23 anos, o Acioly não me deixava namorar”, conta. “Dizia que eu era novo, que a mulher ia dividir a minha atenção”, completa o atleta, que acumula US$ 111 mil em prêmios em 2015 e US$ 911 mil na carreira. Feijão não é um jovem que curte ostentar. “Não penso em ser milionário, mas viver legal, comprando a roupa que acho bonita e comendo a comida que gosto.” Ele adquiriu um apartamento em Mogi das Cruzes, para onde a mãe deve se mudar em breve, e pensa em investir em outro no Rio. É nessa cidade que ele adotou e de onde não pensa em sair que o paulista de Mogi das Cruzes espera fazer história nos Jogos Olímpicos, em 2016. “Ir bem na Olimpíada é meu objetivo” diz. “Espero terminar este ano perto dos 60 melhores do mundo para, em 2016, garantir a minha vaga.” Ele terá a participação carimbada se estiver entre os 56 primeiros tenistas do ranking. Também há a chance de ser um dos oito tenistas a receber um convite para a competição. Feijão já tem a simpatia e o reconhecimento do público. É o número 1 do ranking nacional. Se competir em casa e vencer nos Jogos Olímpicos, é bem capaz que conquiste também o simbólico título de novo ídolo do esporte nacional. Na derrota ou na vitória, Feijão jamais abandona o sonho.

istoÉ2016 abril/maio 2015

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O GÊNIO

Em 2014, Calderano derrotou o ex-número 1 do mundo, um dos maiores feitos da história do tênis de mesa brasileiro

DAS BOLINHAS HUGO CALDERANO APRENDEU A LER SOZINHO, MONTA O CUBO MÁGICO EM MENOS DE DEZ SEGUNDOS E SE VIRA EM CINCO IDIOMAS. MAS ISSO NÃO É NADA PERTO DE SUAS FAÇANHAS NO TÊNIS DE MESA

novos talentos

POR MARIANA LAJOLO

FOTOS STEFANO MARTINI

Quando tinha 12 anos, o carioca Hugo Calderano fez um exame de idade óssea. O resultado do teste (ele descobriu que chegaria no máximo a 1,86 metro de altura) enterrou o plano de ser jogador de vôlei, mas abriu uma imensa janela de oportunidades. “Para o vôlei, eu era baixinho, mas dava para continuar no tênis de mesa”, diz.

Nesse esporte, afinal, já havia dado ótimas raquetadas. Estava começando a defender a seleção juvenil e participar de competições internacionais. Hoje, aos 18 anos (e com 1,83 m de altura) é a principal promessa do tênis de mesa brasileiro. Há algumas semanas, conquistou, ao lado do paulista de 29 anos Gustavo Tsuboi, a medalha de prata no Aberto do Qatar, o maior feito recente de mesa-tenistas das Américas. Pela juventude e pela velocidade do aprimoramento de seu jogo, Calderano tem potencial para ir longe – para muitas edições olímpicas, pelo menos.

A aventura começou cedo. Aos dois anos, já brincava com o pai Marcos em cima de uma surrada mesa de ping-pong no sítio de Teresópolis, no Rio. Depois, ingressou em uma escolinha de esportes e dividiu as atenções do tênis de mesa com o vôlei e o atletismo. Mas o caminho que deveria seguir parecia bem definido.

Aos 11, já era observado pelos dirigentes. Depois de jogar pelo Santo Inácio, foi levado pelo pai ao Fluminense. Logo, a estrutura do clube se tornou pequena para o talento do jogador. Com apenas 14 anos, saía de casa para iniciar uma carreira meteórica em São Caetano, na Grande São Paulo. “Eu sabia que, se quisesse ser um jogador de verdade, teria de treinar fora do Rio.” istoÉ2016 AbRIl/mAIo 2015

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novos talentos

Trocar a vida familiar no Rio para viver na cidade da Grande São Paulo foi um choque. Os pais Marcos e Elisa resistiram o quanto puderam. Professores, eles se preocupavam com os estudos do então aluno do tradicional colégio carioca Santo Inácio. Desde os 12 anos, o garoto era sondado por clubes e pressionado pela confederação da modalidade para fazer a mudança, que propiciaria maiores avanços no esporte. “Você planeja ver o seu filho terminar a escola, fazer uma faculdade, crescer ao seu lado”, diz Elisa. “Mas chega uma hora que a gente percebe que seria uma injustiça impedir a realização de um sonho.” O técnico cubano Francisco Arado, o Paco, foi um observador atento desse período.“Para um menino, ele foi muito maduro”, diz Paco. “Além da distância da família, de estar em uma cidade que não conhecia, tinha de treinar com um grupo muito forte, porque a maior parte da seleção adulta estava em São Caetano.”

O tempo mostrou que a decisão de mudar de cidade foi correta. Apesar da juventude, Calderano coleciona feitos impressionantes. No ano passado, se tornou o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha olímpica no tênis de mesa, um bronze nos Jogos da Juventude da China, e venceu o Brasileiro adulto com apenas 17 anos. Em 2013, passou a ser o mais jovem campeão de uma etapa do Circuito Mundial. Atualmente, está entre os 60 melhores do ranking internacional. Entre os juvenis, é top ten. “O auge no tênis de mesa começa por volta dos 24 anos”, diz o presidente da confederação brasileira (CBTM), Alaor Azevedo. “O Hugo tem uma força mental incrível. Acreditamos que ele será uma pedra no sapato dos chineses no futuro.” A China, lembre-se, é o rival a ser batido nesse esporte.

A rápida evolução o estimulou a tentar voos mais altos. Em 2012, foi convidado para treinar na França, terra natal do atual treinador da seleção, Jean-René Mounie. Os treinos na Europa, no entanto, duraram pouco. Lesionado, Calderano voltou ao Brasil, no início de 2013, para se submeter a uma cirurgia no músculo adutor da coxa direita. A nova aventura no exterior só foi se concretizar em setembro do ano passado. Dessa vez, desembarcou na Alemanha, outra potência do esporte.

O destino foi Ochsenhausen, município de 10 mil habitantes, onde defende o TTF Liebherr, três vezes campeão alemão.“Ficar longe da família é o mais difícil”, diz o mesa-tenista. “Quando eu morava em São Caetano, podia ir para o Rio aos fins de semana. Agora, a distância é maior. Às vezes tenho vontade de voltar correndo.”

Ele e a mãe se falam todos os dias, principalmente pelo Facebook. Já que não consegue livrar o filho de tarefas como fazer faxina e lavar a roupa, Elisa tenta ajudar como pode. Paga contas pela internet, cuida dos vistos para

viagens e resolve outras burocracias. Quando o cansaço ou a saudade apertam, faz as vezes de motivadora do filho.

“Ele tem uma responsabilidade muito maior do que a média dos garotos da idade dele”, diz a orgulhosa mãe.

O isolamento de Ochsenhausen pode aumentar a saudade, mas ajuda muito na rotina de treinos: de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 16h às 19h. No intervalo entre os trabalhos com a raquete, ele faz musculação. Aos sábados, sua a camisa em um período, e compete aos domingos. “Não sobra muito tempo”, afirma o garoto. “Quando tenho folga, não há muito o que fazer na cidade. Eu jogo vídeo-game, monto o cubo mágico e passo o tempo com os outros jogadores. Às vezes, vou a restaurantes, mas é raro.” Os treinos técnicos não são muito diferentes do que ele fazia no Brasil, mas a preparação física ganhou atenção especial. Calderano tem um problema recorrente na virilha, cuja musculatura é muito acionada porque os atletas se movem com rapidez para os lados, com mudanças bruscas de direção. Melhorar a resistência física do pupilo é um dos focos do treinador francês Mounie.

Se o corpo precisa de ajustes, a mente parece estar muito mais pronta. Treinadores, cartolas, rivais, a mãe, todos se impressionam com a capacidade de concentração, o controle emocional e a inteligência do jogador.

“Ele é um gênio”, diz o presidente da CBTM ao citar as notas altas que o garoto tirava na escola e sua capacidade de montar o cubo mágico em 9.9 segundos – o recorde mundial é de 5.55 segundos. O quebra-cabeças tridimensional criado em 1974 é um dos passatempos preferidos do brasileiro. Durante a recuperação da cirurgia, virou quase um vício. O jogador tem um aplicativo no celular que ajuda a embaralhar o cubo de formas diferentes e compra adesivos em sites especializados para substituir os quadradinhos coloridos gastos pelo uso.

Calderano aprende fácil. Aos 4 anos, surpreendeu os pais numa visita ao shopping ao ler o nome de uma loja.

Mostrava, ali, que havia aprendido a ler sozinho. Hoje fala inglês, francês, espanhol e um pouco de alemão.

O treinador Paco já ficou impressionado em diversas ocasiões com a capacidade que o mesa-tenista tem para ler o jogo, traçar estratégias e achar caminhos. No tênis de mesa, o treinador só pode falar com o atleta rapidamente nos intervalos entre os sets ou se pedir tempo.

Não é possível dar orientações com a bolinha em movimento. “Muitas vezes, de fora, eu pensava nas jogadas que o Hugo deveria executar e, quando via, ele estava fazendo”, diz Paco. “Tinha a mesma leitura que eu, treinador, do lado de fora. Esse é um de seus grandes trunfos. Sua força psicológica é muito grande.”

A ida para a Alemanha, além de amadurecimento

Calderano brinca em uma mesa de cozinha improvisada no Réveillon de 2015 (à esq.) e aos 7 anos, no colégio Santo Inácio, no Rio: o aluno exemplar tentou ser jogador de vôlei, mas era baixinho demais. A saída foi o tênis de mesa

pessoal e conforto financeiro – um mesa-tenista em seu clube recebe entre R$ 150 mil e R$ 300 mil por ano – deu também a Calderano aa chance de se familiarizar com alguns dos melhores jogadores do mundo. Em 2014, o brasileiro derrotou o alemão Timo Boll, 33 anos, duas vezes medalhista olímpico e ex-número um do mundo.

Não à toa, Calderano é uma das prioridades da confederação. A entidade investiu cerca de R$ 300 mil em 2014 no atleta, entre viagens, bolsas e custeio de treinadores.

Ele é visto como um garoto-propaganda ideal para seduzir novos apoiadores e mais praticantes. Para Alaor Azevedo, o garoto tem mais atrativos do que os ídolos do passado. “Os orientais são muito fortes no tênis de mesa, e as pessoas aqui tendem a dizer que o esporte é coisa de japonês”, diz Azevedo. “O Hugo desmistifica isso. Temos o desafio de mostrar que é um esporte de alto nível, que exige muito treino, mas ao mesmo tempo é também o pingue-pongue que o neto joga contra o avô.”

Para ajudar na atração de atletas, a confederação montou o projeto “Diamantes do Futuro” nos moldes de um projeto realizado pela França. O consultor técnico da CBTM, o francês Michel Gadal, ajudou na criação do programa. Os números ainda são modestos.

Em 2014, 90 atletas foram avaliados. Desses, quatro vão passar por um intercâmbio na China. Na França, a peneira começa com 8 mil crianças. Numa boa safra, 10 são selecionadas e acompanhadas em seus clubes pela confederação, técnicos e professores. Se atingirem todas as metas, após alguns anos são levadas para viver

em um Centro de Treinamento. A França tem cerca de 240 mil atletas filiados e 4,6 mil clubes. É bem mais do que o Brasil (24 mil e 360, respectivamente). A confederação deve receber em 2015 R$ 3,2 milhões da Lei Piva, sem contar recursos provenientes de convênios com o Ministério do Esporte e outros apoiadores.

Um bom resultado de Calderano nos Jogos do Rio-2016 ajudaria a alavancar o tênis de mesa no País. Mas ele sabe que não está entre os principais candidatos ao pódio.

“Minha primeira meta é ser campeão do Pan de Toronto, em julho”, diz. “Mas meu maior objetivo na carreira é conseguir uma medalha olímpica. Não sei se no Rio já terei capacidade. Quando você joga em casa, se sente bem, tudo fica a seu favor.”

Calderano diz que preferia chegar à Olimpíada sem ser conhecido. Assim, poucos prestariam atenção nele e o fator surpresa seria maior. Diante dos resultados alcançados nos últimos dois anos, porém, o anonimato ficou quase impossível. Ele agora dá entrevistas, tira fotos, acumula seguidores nas redes sociais. É, enfim, um novo ídolo do esporte que abraçou. Calderano sabe que será cobrado em 2016 – e se prepara para isso. Sempre que encontram com o filho, os pais fazem questão de lembrá-lo que não tem obrigação nenhuma de seguir a vida de atleta e que ele pode desistir a qualquer momento. Esperam que, após as vitórias, Calderano sinta felicidade e não alívio por se livrar da pressão. No fim das contas, querem que as partidas de tênis de mesa continuem prazerosas como as brincadeiras de pingue-pongue em família. istoÉ2016 AbRIl/mAIo 2015

45

especial 450 anos 46

istoÉ2016 abril/maio 2015

a 2016 preparou um guia que mostra quem ĂŠ e como pensa o carioca e criou um roteiro de diversĂŁo imperdĂ­vel para turistas e moradores da cidade maravilhosa

especial rio 450 anos

Vida nas faVelas Quase

70% 70%

dos jovens entre 12 e 17 anos relatam pai ausente Mais de

25% 25% relatam mãe ausente Quase

20% 20% relatam mãe e pai ausentes

93% 93% gostam de morar no Rio de Janeiro

48

istoÉ2016 abril/maio 2015

Hábitos culturais

quem éo carioca Os indicadOres ecOnômicOs e sOciais que ajudam a cOnstruir a identidade dO mOradOr dO riO de janeirO

a origem da palavra carioca é do início do século XVi, quando índios tupis nomearam um tipo de casa próxima a um rio, no atual bairro do Flamengo, na zona sul do rio. oca significa casa e cari, homem branco (neste caso, os portugueses). agradavelmente sonoro, já naquela época o termo ficou tão forte no imaginário da população que o curso d’água , principal fonte de abastecimento no período da colônia, passou a ser chamado de rio Carioca.

Com o tempo, a designação passou a valer para todos que nasciam no rio de Janeiro. Hoje, o termo pode ser considerado um estado de espírito. o compositor aldir blanc lembra do caricaturista italiano lan, de 90 anos, cuja marca profissional são as mulatas da cidade. “Ele não nasceu no rio, mas não conheço ninguém mais carioca do que o lan”, diz blanc. Para a antropóloga alba Zaluar, da Universidade do Estado do rio de Janeiro, a enorme influência das escolas de samba e o gosto por folguedos no subúrbio contagiaram a cidade como um todo e trouxeram junto uma filosofia de vida: a de trabalhar para viver como contraponto à de viver para trabalhar. isso, porém, está longe de significar que o carioca é pouco afeito à labuta.

Em 2013, o ibGE informou que, entre seis regiões metropolitanas pesquisadas, o rio de Janeiro liderou o ranking de jornada média semanal de horas efetivamente trabalhadas (41,6 horas contra 41,3 dos paulistas). Confira a seguir alguns indicadores econômicos e sociais que ajudam a construir a verdadeira identidade do carioca.

95% 95%

Ouvir música

77% 77%

Ir a shopping centers

74% 74% Ir à praia

74% 74%

Praticar esportes

71% 71%

Acessar a internet

68% 68%

Ir ao cinema

64% 64%

Ler livros não didáticos

56% 56%

Ir a shows de música

54% 54%

Ir a festas populares ou típicas

54% 54%

Sair para beber com amigos

o perfil do carioca População

Raça/etnia (em %)

PoPulação total (2010): PoPulação estimada (2015): Homens: mulHeres: Brasileiros natos: estrangeiros: naturalizados Brasileiros: média de moradores Por domicílio:

6.320.446 6.527.441 2.959.817 3.360.629 6.251.144 55.531 13.771 2,93

Brancos: Pardos: Pretos: amarelos: indígenas:

51,8 36,5 11,5 0,7 0,1

Religião católicos: evangélicos: esPíritas:

3.229.192 1.477.021 372.851

educação

saude

PoPulação alfaBetizada:

5.707.871 5,52 anos, 8,45 anos

49,6%

nas favelas, a média de estudos é de

dos cariocas estão acima do Peso

16,5%

enquanto nos outros Bairros é de

estão oBesos

O Rio é a cidade com o maior número de idosos do País e tem 9 dos 10 bairros brasileiros com maior proporção de idosos

transporte ( f r o t a ) automóveis: motocicletas: caminHonetes: caminHões: micro-ôniBus: ôniBus:

qualidade de Vida Índice de desenvolvimento Humano municipal (idHm 2010):

0,799 para

58%

economia ( e m R $ ) PiB a Preços correntes (2012):

o idHm do brasil é 0,744

para

o que mais afeta a qualidade de vida no rio é a moBilidade

12%

é o saneamento Básico

entre 5.565 municÍpios brasileiros, o rio ocupa a

45a-

Posição no ranking idHm

1.824.803 238.855 107.097 39.624 17.352 17.298

PiB Per caPita a Preços correntes (2012): pib per capita 2011_ 32.942 2010_ 2009_ 2008_

30.052 27.562 25.122

2007_ 2006_ 2005_

22.991 20.863 19.325

2004_ 2003_ 2002_

18.620 15.935 15.263

o PiB Per caPita do Brasil é de

220.924.561 34.571

r$ 22.044

Fonte: ibGe, dataFolHa (“Hábitos culturais dos cariocas”, 2013), ministério da saúde, unesco, sindicato nacional de arquitetura e enGenHaria, tomtom, proteste, unicarioca, FGv, assert

especial rio 450 anos

o roteiro da diVersão PasseiOs de helicóPterO, caminhadas POr trilhas ecOlógicas, mergulhOs cOm gOlfinhOs, baladas de arrePiar. a seguir, OPções POucO cOnhecidas e algumas tradiciOnais Para aPrOveitar uma das cidades mais belas dO mundO

O RIO VISTO DE CIMA

Passeio de helicóPtero _ o que oferece: há diversas opções de roteiros, que variam de 6 a 60 minutos e percorrem pontos turísticos como as praias de Copacabana e ipanema, o Maracanã, o sambódromo, a Baía de Guanabara e o Parque Nacional da tijuca (onde se observa o Cristo Redentor à altura dos olhos) _ melhor horário: na parte da tarde, das 13 horas até o pôr do sol _ como chegar: na zona sul, saídas a partir Lagoa Rodrigo de Freitas, do Morro da Urca e do mirante Dona Marta. Na zona oeste, no Aeroporto de Jacarepaguá _ preço: de R$ 210 a R$ 1.210 por pessoa, dependendo do percurso asa delta e ParaPente _ o que oferece: a rampa da Pedra Bonita, em são Conrado, na zona sul, é o berço do voo livre no Brasil. são duas rampas de decolagem,

50

uma para asa delta e outra de parapente, ambas a 517 metros de altura. Menores de idade desacompanhados devem apresentar documentação de responsabilidade assinada pelos pais _ melhor horário: fim da tarde para pegar o pôr do sol _ como chegar: pela Estrada das Canoas, em são Conrado. A estrada começa a poucos quilômetros da praia do Pepino, no fim da orla do bairro. _ preço: de R$ 250 a R$ 350 Parque natural dois irmãos _ o que oferece: localizado no Leblon, o parque possui quatro mirantes de onde se tem vista privilegiada da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Corcovado e de ipanema. A trilha que leva ao sopé do irmão Menor tem 1,5 km de extensão e pode ser percorrida por iniciantes _ melhor horário: aberto de terça a domingo, das 8 às 17 horas, mas é recomendável realizar as trilhas na parte da manhã, quando o clima é ameno

_ como chegar: a entrada fica na Rua Aperana, no Leblon. A subida começa ao lado do canal da Avenida Visconde de Albuquerque, próximo à Avenida Ataulfo de Paiva _ preço: gratuito mirante santa marta _ o que oferece : na favela de mesmo nome, o mirante oferece vista que descortina do Pão de Açúcar ao Maracanã, a 360 metros de altura. o passeio permite conhecer a favela santa Marta, uma das mais tradicionais e pacíficas da zona sul. _ melhor horário: por volta das 9h _ como chegar : o acesso pode ser feito de carro, pela Estrada das Paineiras, ou por dentro da favela santa Marta. o bonde que sobe o morro é gratuito, tem cinco pontos e leva 15 minutos até o topo. Lá, pega-se uma trilha dentro da mata de aproximadamente 30 minutos.

Há guias no local _ preço: gratuito

istoÉ2016 abril/maio 2015

Foto: Cassio Vasconcellos

travessia mata atlântica _ o que oferece : na travessia do Parque Nacional da tijuca até a Reserva Florestal do Grajaú, ambos bairros da zona norte, o visitante passa pelo Pico da tijuca Mirim, o ponto mais alto do parque, onde é possível ter uma vista ampla de toda a cidade. A trilha não é para qualquer um. são 1022 metros de altura e 22 quilômetros de caminhada, que deve ser feita com auxílio de guias _ melhor horário: por volta das 8h, quando o clima na floresta é mais agradável _ como chegar: o Parque Nacional da tijuca é dividido em quatro setores. Para este passeio, é necessário entrar pelo setor Floresta da tijuca, na Praça Afonso Vizeu, na estrada do Alto da Boa Vista _ preço: gratuito escalada no Pão de açúcar _ o que oferece: não é necessário conhecimento prévio em montanhismo, apenas o acompanhamento de um instrutor. A primeira parte da subida é feita em trilha a partir da pista Cláudio Coutinho, na Urca. Depois, pequenos trechos inclinados de até 20 metros de altura precisam ser escalados _ melhor horário: por volta das 7h. Evite horários próximos ao meio-dia, quando o sol forte dificulta a travessia _ como chegar: a pista Claudio Coutinho começa na Praça General tibúrcio, 125, na Urca _ preço: a estrada é gratuita, mas os serviços de instrução em escalada custam, em média, R$100 por pessoa raPel na lagoa _ o que oferece: no Parque da Catacumba, nas margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, a plataforma de rapel se encontra no topo da Pedra do Urubu, a 130 metros do nível do mar. É necessário contratar empresas de turismo especializadas _ melhor horário: período da manhã _ como chegar: a trilha por dentro do parque leva aproximadamente 15 minutos. A entrada é pela Avenida Epitácio Pessoa, número 3000, na Lagoa _ preço: R$130 por pessoa

Foto: shutterstock

O RIO EM TERRA FIRME

Praia do Perigoso _ o que oferece: uma espécie de santuário para quem quer fugir do burburinho. Localizada na região de Grumari, na zona oeste, é uma das últimas praias selvagens localizadas no perímetro urbano. os frequentadores devem levar a própria comida, bebida e, claro, os sacos de lixo _ melhor horário: antes do almoço, quando o sol não está tão quente _ como chegar: de carro ou ônibus até a praia Barra de Guaratiba. De lá, o acesso é feito pela Rua Parlon siqueira, na Praia do Canto. A trilha, fácil, tem 1,5 km de extensão. também é possível fazer o trajeto de barco a partir de Guaratiba _ preço: o transporte de barco custa a partir de R$30 Prainha _ o que oferece: nomeada por conta de sua curta extensão – são apenas 700 metros – esse pequeno pedaço de areia próximo à praia de Grumari é um dos cantos favoritos dos surfistas cariocas _ melhor horário: antes das 9h, para conseguir um bom lugar e conseguir estacionar _ como chegar: o acesso só é possível de carro, pela Avenida Lucio Costa, na Barra da tijuca _ preço: gratuito

cachoeiras do horto _ o que oferece: as três mais famosas são a do Primata, do Quebra e do Chuveiro. são quedas d’água com pouca corrente, indicadas para famílias com crianças _ melhor horário: o parque funciona de 8h às 17h, mas aconselha-se a visita pela manhã _ como chegar: a entrada para as cachoeiras é pelo setor serra da Carioca, no parque Jardim Botânico, na rua Pacheco Leão _ preço: gratuito coPacabana e mis _ o que oferece: a praia mais famosa do Rio passou por uma modernização, concluída em 2014, e está prestes a ganhar um novo atrativo, o Museu da imagem e do som (Mis), que tem projeto arquitetônico assinado por Elizabeth Diller e Ricardo scofidio, também responsáveis pelo High Line Park, em Nova York _ melhor horário: o dia todo. À noite, o calçadão de Copacabana continua com seus quiosques e bares lotados _ como chegar: de carro, ônibus ou pelas estações de metrô Arco Verde, siqueira Campos e Cantagalo _ preço: gratuito

especial rio 450 anos iPanema _ o que oferece: na pequena faixa de areia que separa a Lagoa Rodrigo de Freitas do mar, encontra-se ipanema, quase colada ao Leblon.

Destaque para os points Posto 9, Coqueirão e Arpoador _ melhor horário: o dia inteiro. Além de praia, bares e quiosques, o bairro tem o comércio mais sofisticado da cidade _ como chegar: bicicleta, carro, ônibus ou pela estação de metrô General osório _ preço: gratuito Parque madureira _ o que oferece: em uma área com mais de 90 mil metros quadrados, equivalente a 14 estádios do Maracanã, é possível desfrutar de atividades de lazer, cultura e esporte.

Equipado com quadras poliesportivas, ciclovia e a melhor pista de skate do País, o parque receberá, em 2016, uma pista de esqui com neve artificial de 125 metros de comprimento.

Possui um corredor verde com mais de 1,5 mil árvores _ melhor horário: o dia inteiro. _ como chegar: a melhor forma é de trem: a estação Mercadão de Madureira fica a 5 minutos de caminhada _ preço: gratuito Praia de nudismo abricó _ o que oferece: entre o mar e a montanha, foi escolhida pelos naturistas por sua localização, que permite um bom nível de privacidade. É legalmente reconhecida como ambiente de nudismo desde 2003 _ melhor horário: durante a semana, pela manhã.

Nos fins de semana, especificamente no verão, o número de vagas para automóveis é restrito _ como chegar: após a Prainha, seguindo pela Avenida Estado da Guanabara, é preciso caminhar 5 minutos pela areia para chegar à região onde o naturalismo é permitido _ preço: gratuito

O RIO SOB AS ÁGUAS

mergulho nas ilhas cagarras o que oferece : o arquipélago composto por sete ilhas pode ser avistado das areias de ipanema, a 5 km de distância, e visitado em passeios de barco ou lancha. Para quem não é adepto de mergulho o melhor ponto é a ilha Comprida, onde é possível aproveitar a parte rasa do mar e avistar a vida marinha apenas com o auxílio

Foto: João Castellano/Ag. istoÉ

de snorkel. se der sorte, você pode observar tartarugas, golfinhos e até baleias _ melhor horário: pela manhã, quando os ventos são brandos e as ondas mais baixas. ou de tarde, para ver o por do sol _ como chegar: os barcos saem da Marina da Glória, no bairro de mesmo nome, e levam cerca de duas horas (passeios tradicionais) e uma hora e meia (barcos para mergulho) _ preço: R$ 55 por pessoa (passeio tradicional) e R$190 (mergulho)

Até hoje é possível encontrar cacos de vidro de garrafas azuis e pedaços de louça trazidos pelo navio. Apesar de ser considerado um dos locais mais interessantes para mergulho na cidade, é aconselhado apenas para mergulhadores experientes _ melhor horário: Pela manhã, antes dos ventos mudarem as condições do mar _ como chegar: os barcos saem da Marina da Glória _ preço: Média de R$190 por pessoa para dois mergulhos

visita ao navio naufragado no recreio _ o que oferece: na praia do Recreio do Bandeirantes, farta vida marinha cerca o navio naufragado Workman. Atenção: trata-se de um roteiro indicado para mergulhadores experientes e é preciso ficar atento com as ondas e viradas de maré _ melhor horário: pela manhã, quando os ventos são brandos, as ondas mais baixas e não há grande movimentação na praia _ como chegar: o naufrágio fica a 150 metros a nado depois da arrebentação das ondas, na praia do Recreio dos Bandeirantes, na altura da Lagoa de Marapendi _ preço: R$190 por pessoa para dois mergulhos

mergulho noturno na Praia vermelha _ o que oferece: aos pés do Pão de Açúcar, na Urca, a Praia Vermelha é um atrativo não apenas para quem quer aproveitar o sol mas também para os amantes das scubas (mergulho autônomo). É preciso tomar cuidado com os pescadores, que frequentam o local à noite e usam redes que podem atrapalhar a prática _ melhor horário: depois das 20h. _ como chegar: o ponto de encontro dos mergulhadores é a Praça General tiburcio, em frente à praia _ preço: R$190 por pessoa para dois mergulhos

visita ao cargueiro naufragado na ilha rasa _ o que oferece: nos mares em torno da ilha, que se encontra a 7 km da Baía de Guanabara, está Buenos Aires, um cargueiro que naufragou quando trazia óleo de rícino ao País, em 1890.

banho noturno no arPoador _ o que oferece: o farol posicionado sobre a grande rocha entre as praias de ipanema e Copacabana tornou o Arpoador a principal alternativa para os banhistas que aproveitam as noites quentes de verão para um banho de mar com lua. Em noites de maré baixa é

possível ver as luzes do farol ultrapassarem as águas transparentes. Ali, a prática de stand up padle, usando pranchas iluminadas com mangueiras de LED, se tornou moda no verão de 2015 _ melhor horário: depois do pôr do sol como chegar : a praia do Arpoador fica na altura do Posto 7, em ipanema _ preço: o passeio na prancha com luz custa R$ 50

O RIO BY NIGHT

arvrão do vidigal _ o que oferece: a varanda do Hotel Mirante do Arvrão, na favela do Vidigal, virou ponto turístico graças à vista incrível das praias da cidade. No deck de madeira, durante o dia funciona o bar Belmonte e, à noite, o espaço é tomado por festas de música eletrônica e hip hop. A casa Alto Vidigal, na mesma área, nomeada por uma árvore tão grande que pode ser vista do asfalto, é uma opção para quem quer aproveitar a noite em um bar mais tranquilo, longe das picapes dos DJs _ melhor horário: no início da noite. o ponto alto é ver o sol se por e, depois, aproveitar as festas _ como chegar: a área do Arvrão fica bem no topo do morro. Para chegar lá, o ideal é pegar um mototaxi ou van, disponíveis no ponto mais baixo, na Avenida Niemeyer _ preço: o ingresso para as festas custa a partir de R$ 20. Contato pelo site http://goo.gl/DqDwW1

hotel fasano _ o que oferece: localizado em ipanema, a piscina do hotel mais badalado da cidade se tornou lugar concorrido depois que a gerência disponibilizou 60 lugares para reservas de clientes não hospedados. No melhor estilo dos pubs britânicos, o bar do hotel, chamado Baretto-Londra, recebe shows ao vivo e renomados DJs _ melhor horário: o espaço no terraço fica aberto para não hospedados apenas das 21h às 0h30. o horário de funcionamento do BarettoLondra é a partir das 20 horas, mas a noite só ferve depois das 23 horas _ como chegar: o hotel fica na Av. Vieira souto, 80, em ipanema. _ preço: A entrada é gratuita, mas feita apenas mediante reserva no endereço http://goo.gl/ANuxon festas na favela da babilônia _ o que oferece: comandado por uma colombiana e um belga, o hostel e bar localizado no morro da Babilônia abre as portas para festas todos os fins de semana. o deck da varanda tem uma vista exclusiva do Cristo Redentor _ melhor horário: para aproveitar melhor a paisagem, é bom chegar um pouco antes das 17 horas e ver o sol se pondo, e depois curtir as festas _ como chegar: a partir da Ary Barroso (principal rua do Babilônia), o bar fica em uma pequena via transversal (Rua Dona Alexandrina, 91)

Fontes: Prefeitura do Rio, Yelp, 360sports, Mar do Rio

_ preço: gratuito. Contato e reservas pelo site http://goo.gl/aoknps cave _ o que oferece: com jeito de inferninho, a casa tem programação voltada para a música eletrônica e se tornou conhecida pelas “afters” (a festa depois da festa). o melhor dia é a segunda-feira _ melhor horário: a partir da meia-noite _ como chegar: a boate fica próxima ao Forte de Copacabana, na Rua Francisco otaviano, 20 preço: os ingressos variam de acordo com o horário de entrada, a partir de R$ 30.

Contato e reservas pelo site http://goo.gl/giyysH bar semente _ o que oferece: tradicional endereço da Lapa, o bar é do violinista e compositor Yamandu Costa. Ali não é raro encontrar estrelas como Chico Buarque, que recentemente surpreendeu ao dar uma “palhinha” no meio da madrugada _ melhor horário: os shows começam em torno das 21 horas _ como chegar: fica perto da estação de metrô Cinelândia, na Rua Evaristo da Veiga, 149 preço: ingressos a partir de R$20. Contato e reservas pelo site http://goo.gl/30r5Hk

Foto: RAFAEL HANsEN / i HAtE FLAsH

70% 70%

93% 93% gostam de morar no Rio de Janeiro

educação PoPulação alfabetizada:

5.707.871 5,52 anos, 8,45 anos

Nas favelas, a média de estudos é de

eNquaNto Nos outros bairros é de

economia ( e m R $ )

aBaIXO incomodado com a marcação de um impedimento pela bandeirinha Fernanda Colombo, um dirigente do Cruzeiro disse que “se é bonitinha, que vá posar na Playboy”

igualdade

poR MARIANA QUEIROZ BARBOZA

ELAS AINDA gANhAm mENoS Do quE oS homENS, São ALvo coNStANtE DE ASSéDIo SExuAL E, muItAS vEzES, REcoNhEcIDAS ApENAS poR SEuS coRpoS E Não pELo tALENto. EStá NA hoRA DE ANIquILAR o DEpLoRávEL mAchISmo quE ImpERA No mEIo ESpoRtIvo

Co-fundador do Comitê Olímpico Internacional (COI), o historiador francês Pierre de Coubertin chegou a fazer a seguinte declaração: “Uma Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, antiestética e imprópria.”

Distante 100 anos no tempo, ele não viu Londres-2012 contradizê-lo e ficar conhecida justamente como a “Olimpíada da Mulher”. Com exceção de Barbados e Nauru, todas as delegações incluíram pelo menos uma atleta – Arábia Saudita, Catar e Brunei fizeram isso pela primeira vez. As mulheres, também pela primeira vez, puderam competir no boxe e, aos poucos, têm obtido mais oportunidades de subir ao pódio. Assim, é muito provável que, em 2016, consigam mais medalhas que os homens para o Brasil.

Mas, para isso, elas também querem ter voz.

Com o corpo sempre exposto, as atletas acabam muitas vezes reduzidas a uma categoria dos portais de notícias: a galeria de musas.

“Quando a gente começa a aparecer mais, já é tachada de musa”, diz Jaqueline Carvalho, bicampeã olímpica de vôlei, acostumada a con-

as musas

Fotos: Mauro Filho

igualdade

viver com cantadas. “Para mim, a preocupação com a beleza só vem depois da carreira.”

A ex-nadadora Flávia Delaroli, finalista nos 50 m livres em Atenas, sempre se incomodou com o rótulo de “musa da natação” e já perdeu as contas de quantas entrevistas deu sobre vaidade. “Nos colocam numa posição que, teoricamente, temos que aceitar”, diz.

“Me esforçava todos os dias, tanto quanto os meninos, mas não era para ser miss.”

Presidente da Comissão Mulher no Esporte do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e medalhista olímpica no vôlei de praia, Adriana Behar começou a notar diferenças nas propagandas das competições quando jogava. “As tevês sempre destacavam os braços dos homens, o rosto gritando, e das mulheres só aparecia a bunda”, afirma.

“O público não pode pensar que vai ver mulheres de biquínis, mas sim um campeonato de alto nível. Nosso grande desafio é buscar com que a atleta seja reconhecida não pela beleza, não pelo corpo, mas pela habilidade, talento e competência.”

O caminho para isso está cheio de obstáculos. No início do século 19, o esporte era identificado como um território masculino por ser uma atividade social e envolver, sobretudo, força e velocidade, características que reforçam a masculinidade. “Quando a mulher entra no campo competitivo, é como se ela fosse uma usurpadora desse território”, diz Kátia Rubio, autora da Enciclopédia Olímpica Brasileira. No Brasil, de 1941 a 1975, a lei que regia as bases da organização do esporte incluía um artigo exclusivo às atletas: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza.”

A ex-nadadora Flávia Delaroli foi assediada durante uma competição internacional. Quando levou o caso aos dirigentes, foi recebida com sarcasmo.

“Disseram que exagerei” Foto: Fred jean/ag. istoé

Na prática, segundo a pesquisadora, a legislação impedia o exercício de futebol, rúgbi e lutas, como judô e caratê, por equipes femininas em espaços públicos e escolas. “Isso retardou o nível competitivo dessas meninas brasileiras no cenário internacional”, diz. “Se as primeiras gerações de mulheres tivessem tido acesso adequado, a história do judô brasileiro seria outra.” A primeira medalha só foi conquistada pela judoca Ketleyn Quadros nos Jogos de Pequim, em 2008 – essa também foi a primeira vez que uma mulher ganhou uma medalha para o País em esportes individuais. Até o início dos anos 80, os treinos da modalidade feminina eram escondidos e as mulheres só competiam camufladas entre os homens.

A história do esporte feminino brasileiro começou a mudar com os Jogos de Moscou, na antiga União Soviética, em 1980. Um boicote liderado pelos Estados Unidos tirou mais de 60 países da competição e o Brasil pôde levar 109 atletas – entre eles, 15 mulheres. Na Olimpíada anterior, em Montreal, foram sete mulheres.

Isso deu espaço às atletas em modalidades em que elas ainda não tinham tido acesso, como o vôlei feminino, que terminou em sétimo lugar, e impulsionou o nível de treinamento e desempenho. Hoje, seis jogadoras de vôlei brasileiras são bicampeãs olímpicas. Em Barcelona, em 1992, as mulheres passaram a representar 25% da delegação brasileira, mas as primeiras medalhas só vieram na competição seguinte. Em Atlanta, o vôlei de praia feminino conquistou ouro e prata.

A noção de que o corpo feminino é frágil e concebido para a maternidade sustenta até hoje barreiras em diversas modalidades. “Dentro do esporte, a mulher é cobrada para ter características masculinas, como se os homens tivessem um tipo físico que favorecesse a performance”, diz Flávia Delaroli. “Somos cobradas desde pequenas a não fraquejar, porque isso é coisa de menina.” Na natação, às mulheres ficou decidido, sem nenhum argumento definitivo, que o limite de distância seria 800 metros, enquanto o dos homens se estende a 1500 metros. Na ginástica, homens e mulheres compartilham duas categorias: o salto sobre a mesa e o solo – na masculina, contudo, a apresentação é feita sem música. A justificativa é que as provas devem ressaltar as qualidades tidas como naturais de cada gênero. A força e o equilíbrio exibidos por um ginasta nas argolas ou nas barras paralelas, então, se oporiam à delicadeza, beleza e harmonia das mulheres nas paralelas assimétricas. O mesmo aconteceria com a ginástica rítmica e o nado sincronizado, que excluem os homens.

Uma realidade incômoda, que desencoraja a participa-

ção feminina, é a disparidade de pagamentos. De acordo com um levantamento da BBC, que analisou 56 modalidades, a premiação masculina é maior do que a feminina em 30% dos esportes. Para ficar só no futebol, na Copa do Mundo de 2014 a seleção alemã recebeu US$ 35 milhões pelo primeiro lugar. Em 2011, quando o Japão conquistou o título mundial com a seleção feminina, o prêmio foi de US$ 1 milhão. Nesse contexto, não é possível ignorar que o futebol masculino gera muito mais audiência e, com isso, atrai mais anunciantes. O que se questiona é se o interesse é menor porque o futebol feminino é menos competitivo ou porque, ao longo de todo o ciclo esportivo, recebe menos atenção da mídia. A ESPN Brasil transmite os campeonatos femininos de basquete, tênis, judô e golfe, além de algumas categorias dos X Games. A proporção é ainda muito menor se comparada ao espaço que os campeonatos masculinos têm na rede de tevê, com a exibição da Copa do Brasil, NFL, NBA e Champions League, para citar alguns exemplos. A 2016 não foge a essa regra.

Das 24 edições publicadas, apenas oito tinham mulheres na capa – metade do número de edições com homens.

Menos expostas por seu trabalho, as atletas dependem ainda mais da Olimpíada como principal vitrine para a assinatura de contratos de patrocínio e para inspirar outras mulheres. Maior pontuadora da história da seleção brasileira de basquete, Hortência foi dirigente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) de 2009 a 2013. Nesse período, participou de várias reuniões da federação internacional em que a entidade pedia que as mulheres recebessem, no mínimo, 30% dos investimentos das confederações. “Isso não acontece. Existe lugar em que o repasse é de 5%”, afirma. “Minha maior briga na CBB é que o dinheiro fosse investido de igual para igual.” Segundo a ex-jogadora, em momentos de redução de gastos, a primeira coisa que se cogita cortar são as viagens em classe executiva para a equipe feminina, enquanto para os homens se mantém o privilégio. “As condições têm que ser as mesmas. Todos devem viajar de executiva e ficar em hotéis da mesma categoria”, diz Hortência. “Por que essa diferença?”

Uma das explicações talvez esteja no topo da hierarquia. Há poucas mulheres trabalhando como técnicas e não é por acaso que elas sejam minoria também nos cargos administrativos. Há 15 anos, o COI estabeleceu como meta ter ao menos 20% de mulheres em posição de liderança em organizações internacionais de esportes.

O COI fracassou em atingir a proporção até 2005, mas chegou a 21% em 2013. Outras entidades ainda lutam para conseguir isso. No COB, a proporção de funcionáistoé2016 Abril/mAio 2015

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igualdade

rios corresponde a 51% de mulheres e 49% de homens.

Os cargos mais altos, como a presidência e as diretorias, entretanto, são dominados por homens.

Hilde Van Malderen é uma estrela solitária na cobertura do futebol na Bélgica. A jornalista de 36 anos trabalha para o canal de tevê 2BE e, no ano passado, lançou um livro sobre os bastidores do esporte no país. O capítulo mais polêmico, no entanto, era bem mais pessoal do que as brigas de poder relatadas e as críticas que ela teceu sobre os cartolas. Hilde decidiu publicar as mensagens de celular que recebia de jogadores, treinadores e colegas de trabalho. Alguns exemplos: “Hoje no Aeroporto de Bruges. Eu e você no banheiro. Você topa?”, “Ouvi dizer que você tem um grande desejo de fazer sexo”, “Eu acho que você é uma grande puta.” Uma vez, ela recebeu uma foto do pênis ereto de um comentarista. Hilde ficou tão chocada que jogou o celular para longe. Mais calma, respondeu: “Deixe isso para a sua fantasia.” O comentarista disse que era só uma brincadeira. “Imagino que ele faça isso com outras pessoas também, então deve achar que não é nada de mais”, diz. Quando as mensagens são educadas, Hilde costuma rejeitar as propostas e dizer que prefere manter trabalho e vida privada separados. “Tenho a impressão que muitas pessoas do futebol se perguntam: ela é um objeto sexual ou uma jornalista séria?”

No início da carreira, há dez anos, a repórter chegou a se envolver com um jogador. Mas, três meses depois, ele foi transferido para a Ucrânia e o namoro acabou porque ela não quis segui-lo. “Eu era muito nova e acho que foi um grande erro”, diz. “Foi difícil me impor, porque os homens não sabiam reagir ao fato de eu ser uma mulher.

Eles queriam me testar e faziam piadas. Tive que provar minhas qualidades duas vezes.” Durante uma entrevista com o técnico de um time local, ele perguntou a Hilde quem tinha escrito sua pauta. As perguntas eram, afinal, boas demais para terem sido feitas por ela mesma. Ao escrever Speelgoed, Hilde preferiu não identificar os homens que a assediaram, porque não é vingança o que a move. “São homens casados e não quero destruir famílias nem causar problemas. Só queria mostrar a forma como sou tratada”, afirma. Speelgoed foi o segundo livro de esportes mais vendido na Bélgica em 2014.

Com o sucesso, Hilde recebeu a solidariedade de outras jornalistas europeias que se identificaram com o relato. Na Itália e na Alemanha, elas disseram sofrer com os mesmos problemas. A Bélgica, segundo Hilde, é um país extremamente conservador quando o assunto é futebol. Para ela, isso reflete a imagem dos presidentes dos clubes e ligas. “Quem está no poder são homens 58

istoé2016 Abril/mAio 2015

muito velhos”, diz. Mas sua perspectiva é otimista. Após ter o fim da carreira decretado por críticos, ela viu o país discutir a sub-representação das mulheres no esporte.

Agora, ela recebe menos mensagens no celular e mais convites de trabalho. Neste ano, virou a apresentadora do troféu dos melhores jogadores no país. “Espero que possa inspirar mais garotas a não ter medo”, afirma.

“Não vou escrever um segundo livro, já passei minha mensagem e agora as pessoas sabem como é difícil ser mulher no meio do futebol.” Hilde pondera que a análise dos jogos ainda é tarefa exclusivamente masculina.

No Brasil, os exemplos de machismo no futebol são muitos. Formada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina, a auxiliar de arbitragem Fernanda Colombo conheceu a fama no ano passado, num clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro. Fernanda levantou a bandeira para marcar o impedimento ilegítimo de um jogador cruzeirense, que poderia ter mudado a trajetória do time, que perdeu de 2 a 1 para seu maior rival. “Se ela é bonitinha, que vá posar na Playboy”, disse o diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos, logo após o erro. “Se eu fosse homem, a maneira como ele falaria seria diferente”, diz Fernanda. “Fiquei mal, porque não fui julgada só pela minha competência, mas pela minha aparência. Me senti injustiçada.” A bandeira cogitou processar o dirigente, mas acabou aceitando suas desculpas públicas. Fernanda passou por um curso de reciclagem e recentemente foi transferida para Pernambuco. “Depois do que me foi falado, tive tudo para largar a arbitragem”, diz. “Mas resolvi ser teimosa.”

Informalmente eleita “Musa da Copa”, a apresentadora da TV Globo Fernanda Gentil permanece sob o escrutínio das câmeras até nos momentos de lazer. Em janeiro, Fernanda foi fotografada de biquíni numa praia do Rio de Janeiro e as imagens foram publicadas por um portal com críticas ao corpo da jornalista. “Expectativa X Realidade! Veja o que acontece quando Fernanda Gentil tira a roupa”. Nas legendas, a explicação. “Fernanda Gentil virou a repórter queridinha na época da Copa. Um fator que ajudou muito foi a sua aparência. A jornalista é loira e, teoricamente, tem um corpão. Teoricamente.” O texto seguiu com uma análise sobre as curvas (“mais do que as roupas revelam”), as celulites, o bumbum (“meio reto”) e as “gordurinhas”, e uma congratulação à figurinista da Globo “por conseguir disfarçar as imperfeições tão bem.”

Fernanda aceitou um pedido de desculpas do portal não sem antes dizer que sentiu “vergonha de ser tão falada.”

Se beleza e corpo são tão falados, o mesmo não se pode dizer do assédio sexual. Os relatos de atletas e ex-atletas Foto: reprodução

A jornalista esportiva belga Hilde Van malderen recebeu a seguinte mensagem de um jogador de futebol: “Eu acho que você é uma grande puta”

indicam que o tema, apesar de tabu, é mais comum do que se imagina, principalmente entre técnicos e profissionais da saúde que acompanham clubes e seleções. Para Hortência, as pessoas ultrapassam o limite. “Às vezes o cara vai fazer uma massagem, manda tirar a roupa toda e coloca o dedinho. Você fala: ‘Opa, o que está acontecendo?’ Eu dizia: ‘Não quero mais esse cara fazendo massagem em mim’.”

Flávia Delaroli diz que já passou por isso no meio de uma competição internacional. “Ele passou a mão em mim, colocou a mão no meu peito, como se fosse parte da terapia, mas aquilo foi uma invasão do meu espaço.”

Para não causar alarde, ela se reuniu com as outras meninas do grupo e contou o que estava acontecendo.

Quando levou a história aos dirigentes, foi recebida com sarcasmo. “Disseram que exagerei, era ‘a pudica que viu pelo em ovo’, ninguém levou a sério”, diz Flávia. “Só que todas as meninas tinham alguma história estranha para contar daquele sujeito.” Admirado pelos meninos da seleção, o profissional não foi demitido. “Me falaram: ‘Por que você não gritou na hora?’ Mas eu estava em choque.” Analisando pesquisas da Comissão da Mulher do COB, Adriana Behar diz que o assédio é um fator que limita a permanência da mulher no esporte. “Não podemos simplesmente ignorar esse problema.” Enquanto os mecanismos institucionais não favorecem a informação, a denúncia e a punição dos agressores, as mulheres seguem a travessia rumo à elite do esporte.

Sem atalhos, mas sem volta.

Evolução da participação fEminina brasilEira Em Jogos olímpicos antuérpia (1920)

los angeles (1932)

0

21 66

1 londres (1948)

70 11

tóquio (1964)

67 1

moscou (1980)

94 15

atlanta (1996)

159 66

londres (2012)

136

homens mulheres

123

istoé2016 Abril/mAio 2015

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ENTRE guerra

TEXTO E FOTOS YAN BOECHAT, DE DONETSK

MÍSSEIS NAS RUÍNAS DA GUERRA SEPARATISTA NO LESTE DA UCRÂNIA, ATLETAS, TÉCNICOS E DIRIGENTES RESISTEM E TENTAM MANTER VIVA A ESPERANÇA DE DISPUTAR OS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO DE JANEIRO

E TIROS, O ESPORTE

atleta-mirim da ginástica artística treina no complexo esportivo Dynamo, em Donetsk. Crianças são as únicas que permanecem no local, uma vez que os esportistas de ponta foram obrigados a se mudar para Kiev, longe dos tiros que viraram rotina no leste do país

istoÉ2016 abril/maio 2015

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guerra

O som abafado dos morteiros e das metralhadoras já não chama mais a atenção de Denys Yurchenko.

Sentado em um banco de metal simples à beira da pista de atletismo da Arena Atlética de Donetsk, na Ucrânia, ele está totalmente alheio aos estrondos dos projéteis disparados a poucos quilômetros dali. “Estão atirando de novo?”, pergunta. “A verdade é que já nem percebo mais quando estão distantes assim”, diz ele, com indisfarçável enfado. Vencedor da medalha de bronze no salto com vara na Olimpíada de Pequim-2008, Yurchenko está concentrado, nesta tarde chuvosa de março de 2015, em contar como a guerra que já matou mais de seis mil pessoas no Leste da Ucrânia matou também seu sonho de ir para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. “Estava me preparando para um novo momento em minha carreira e o Rio seria o grande teste”, diz.

“Agora, se eu conseguir ver pela televisão, já será muita sorte”, continua, enquanto dois jovens atletas tentam quebrar a modesta barreira dos quatro metros de altura.

Yurchenko se preparava para estrear como técnico da seleção olímpica de salto com vara da Ucrânia nos Jogos do Rio. Estava havia um ano à frente de uma equipe que contava majoritariamente com atletas de Donetsk. A principal cidade da região leste da Ucrânia, conhecida localmente como Donbass, se transformou em uma potência do esporte nas últimas décadas. Tudo por causa das centenas de jovens e crianças que, como ele, sonhavam em ser um novo Sergey Bubka, a maior estrela desta região colonizada por cossacos e que se transformou em um importante centro da indústria metalúrgica no último século. “Estávamos bem, nossos meninos estavam bem, tínhamos chances reais de trazer uma medalha”, diz ele, em um raro momento de empolgação. “Mas aí veio a guerra e tudo se acabou”.

Em agosto de 2014, logo após os separatistas próRússia terem sido acusados de abater o Boeing 777 da Malaysia Airlines e agravar ainda mais o conflito no Leste da Ucrânia, Yurchenko foi demitido do cargo.

Desde então, ele passa as tardes treinando jovens garotos que sonham um dia conseguir, como ele, disputar quatro Olimpíadas. “Me tiraram porque eu sou daqui”, diz. “Aconteceu com todos os técnicos da região e só não impediram os atletas de disputar os Jogos porque eles não têm ninguém melhor”. Oficialmente, o Comitê Olímpico Ucraniano afirma que a saída do time não teve relação direta com o fato de Yurchenko ser natural do principal polo separatista do país. Mas em uma guerra civil em que acusações mútuas de fascismo e terrorismo são a tônica, os ânimos exaltados pelas máquinas de propaganda contaminaram de forma profunda o esporte.

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Assim como Yurchenko, outros técnicos, alguns com fartas conquistas nas carreiras, estarão fora dos Jogos do Rio. Aos atletas que se preparavam para disputar a Olimpíada de 2016 nesta região separatista, o Comitê Olímpico Ucraniano fez uma dura exigência: todos precisariam abandonar seus centros de treinamento e se mudar para Kiev, a capital, se quisessem disputar a Olimpíada. Hoje, áreas de excelência como a Arena Atlética de Donetsk contam apenas com atletas amadores ou jovens que ainda estão sendo preparados para o futuro. “Todos se foram”, lamenta o medalhista olímpico.

A estimativa do Departamento de Preparação Olímpica de Donetsk é de que 50 atletas da região componham a delegação ucraniana que irá ao Rio no ano que vem. A maior parte deles estará nas equipes de ginástica, levantamento de peso e atletismo. Nos Jogos de Londres-2012, Donetsk enviou 39 atletas, que voltaram com cinco medalhas, todas de bronze. “É uma pena que a guerra interfira no esporte”, diz Andrey Aramenko, diretor do departamento. “Foi como se tivessem tirado nossas crianças de nós. Estávamos trabalhando com esses atletas por 10, 20 anos, e eles simplesmente se foram”, diz ele, que também ficará de fora dos Jogos do Rio no ano que vem. “Esta será a primeira vez em 20 anos que não estarei na vila olímpica.”

A situação é a mesma para Svetlana Dubova. Coreógrafa da equipe de ginástica feminina de Donetsk, ela foi uma das três treinadoras da super campeã Lilia Podkopayeva, vencedora de duas medalhas de ouro e uma de prata em Atlanta-1996. Lilia é a equivalente feminina de Bubka nesta região da Ucrânia. “Ela foi o nosso maior tesouro até hoje, mas trabalhamos todos os dias, mesmo sob as bombas, para encontrar outra como ela”, diz. Sem as atletas em nível olímpico para treinar, Svetlana e a equipe que transformou Lilia em multicampeã concentram forças em ensinar os primeiros saltos da ginástica artística para jovens meninas de Donetsk. “Não podemos parar: mesmo nos dias em que os bombardeios eram mais intensos, as meninas estavam aqui. Como podemos desistir delas?”, pergunta, sentada nas dependências do complexo de esportes Dynamo, mesmo local em que Lilia começou a carreira, no início dos anos 1990.

“Tivemos sorte até agora”, afirma Vitaly Kobrik, vicediretor do Dynamo. “Apenas tivemos as janelas destruídas por um míssil que caiu aqui do lado, mas nada de pior aconteceu.” O míssil incendiário disparado pelas forças ucranianas que combatiam os milicianos da República Popular de Donetsk, como essa região é chamada agora pelos separatistas pró-Rússia, atingiu um restaurante

a menos de 10 km do local onde as meninas treinam, os bombardeios deixam um cenário de terra arrasada (abaixo)

um míssil disparado pelas forças ucranianas que combatiam os milicianos da república popular de donetsk atingiu um restaurante ao lado do clube de ginástica, destruindo as janelas do ginásio

guerra

Denys Yurchenko (à esq.), bronze no salto com vara em Pequim-2008, viu se desmanchar o sonho de treinar a seleção ucraniana. oleg Stepanov (acima, à esq.) assumiu na base do rifle a direção do Complexo Esportivo Shakkter quando a revolução começou

a ucrânia ganhou 20 medalhas (6 ouros, 5 pratas e 9 bronzes) nos jogos de londres-2012 e terminou a competição em 14o lugar na classificação geral. para efeito de comparação, o brasil foi apenas o 22o, com 17 pódios flutuante que fica bem ao lado do clube. “Foi uma grande explosão, todas as janelas se quebraram e nossas meninas não se feriam por muito pouco”, conta Svetlana.

Antes de a guerra começar, o Dynamo funcionava como uma espécie de centro de formação de atletas olímpicos. Só podiam treinar lá aqueles selecionados por uma equipe de olheiros que mantinham uma rede de informação com as escolas das 52 cidades da região. Com as duras batalhas de artilharia que têm marcado este conflito, um grande número de cidades simplesmente perdeu toda a infraestrutura de esportes em que jovens atletas treinavam. “Costumávamos ter 1,5 mil jovens aqui e éramos rigorosos, só entravam os que tinham claro potencial olímpico”, conta Kobrik.

“Mas agora aceitamos qualquer criança que queira vir aprender. Temos 800 delas neste momento, em todos os nossos departamentos, e não vamos parar mesmo que os bombardeios mais intensos na cidade voltem a ocorrer.”

Após um inverno sangrento, com batalhas que dei64

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xaram centenas de mortos, as coisas foram relativamente tranquilas em Donetsk durante o mês de março. Com o cessar-fogo acordado no fim de fevereiro, a cidade deixou de ser bombardeada com frequência.

Apesar disso, a frente de batalha continua ativa e está a menos de 10 km do centro. Os confrontos têm se concentrado na área do Aeroporto de Donetsk, reformado para a disputa da Euro-2012 e hoje completamente destruído. Diariamente, as forças rebeldes e o Exército ucraniano trocam tiros de canhões, metralhadoras de grosso calibre e até disparos feitos com tanques. Também diariamente, homens dos dois lados morrem. Da região central da cidade é possível ouvir o som dos disparos e dos mísseis e morteiros atingindo alvos ou partindo em direção à frente inimiga, no vilarejo de Pesky, a apenas 2 km do aeroporto.

Apesar da aparente tranquilidade, com um cessarfogo tão violento, pouca gente na cidade tem dúvidas de que os combates agressivos voltarão.

Svetlana Dubova (ao lado), que treinou a campeã da ginástica artística lila Podkpayeva, pergunta: “Como podemos desistir dessas crianças?” À esquerda e abaixo, os treinamentos das meninas em Donetsk e patrulhas militares em meio aos escombros da guerra

É por isso que Oleg Stepanov anda excitado. Ex-soldado do Exército Vermelho da União Soviética, ele divide seus dias no comando do Complexo Esportivo Shakkter e de uma unidade de milicianos que dirige desde que a guerra começou. Assim como muitos moradores desta região da Ucrânia, Oleg, de 54 anos, se sente muito mais russo do que ucraniano. Como uma parte considerável da população mais velha, também tem saudades dos tempos soviéticos. “Está nos meus genes, sou um ser soviético, esta revolução foi como um respiro, estávamos sufocados”, conta ele, que, no lugar dos botões tradicionais do uniforme militar, colocou insígnias com a foice e o martelo. No coldre, carrega sempre uma pistola Makarov, um dos símbolos militares da extinta união de repúblicas comunistas.

Oleg aproveitou o início da guerra para fazer sua revolução particular no Complexo Esportivo Shakkter, um centro de preparação olímpica para ginástica masculina, boxe e levantamento de peso, do qual já saíram ao menos 10 medalhistas nos últimos 60 anos.

“Meu pai dirigiu este lugar por 40 anos e há dois anos o aposentaram porque queriam fazer desse centro um ginásio para futebol de salão”, diz ele. “Meu pai, eu e todos os que amam o esporte éramos contra. Este é um exemplo para Donetsk, mas o poder do dinheiro falou mais alto e conseguiram tirar meu pai.”

Quando os rebeldes tomaram o prédio da Administração central da cidade, ainda em julho de 2014, Oleg não teve dúvidas: pegou seis amigos, colocou um AK-47 na mão de cada um deles e marchou em direção ao edifício de quase 70 amos anos que abriga o centro esportivo. “Não precisamos dar nem um tiro sequer. Entramos e assumimos o controle”, diz ele, entre gargalhadas. “A revolução é para todos e agora ninguém mais nos dirá o que fazer. Um dia estaremos disputando os Jogos Olímpicos como qualquer país.”

Oleg, no entanto, não sabe bem o que fará se a frente de batalha avançar em direção ao Oeste, como ele acredita que acontecerá. “Se nos deixarem, vamos até Kiev. Mas aí precisarei decidir se vou junto combatendo ou se fico aqui, tomando conta desta joia”, diz, soltando mais uma gargalhada barulhenta enquanto alguns garotos treinam nas argolas. istoÉ2016 abril/maio 2015

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O legadO da

รกgua

Enquanto o SudEStE braSilEiro amarga aS conSEquênciaS da pior SEca Em 84 anoS, a amEaça da criSE hídrica paira SobrE a olimpíada dE 2016. a boa notícia é quE o cEnário prEocupantE podE SErvir para iniciar uma crucial mudança na gEStão dE um doS maiS prEcioSoS rEcurSoS naturaiS

meio ambiente

por Bruna EstEvanin

Julho de 1964. Era verão em Tóquio e o tusyu, a estação chuvosa do Japão, chegava ao fim. Enquanto o Brasil vivia os primeiros meses da ditadura militar, a capital japonesa se preparava para sediar os Jogos Olímpicos que deveriam simbolizar o renascimento do país após a Segunda Guerra Mundial. Mas Tóquio enfrentava a pior crise hídrica em quatro décadas e as chuvas sazonais, mais fortes que de costume, deixavam milhares de feridos e milhões de ienes em danos materiais, em vez de encher os reservatórios da cidade. Faltavam apenas setenta e cinco dias para o grande evento e o nível médio de três dos principais sistemas de abastecimento de água da capital estava em apenas 7%.

O maior deles, o grande reservatório de Ogochi, operava com somente 1%.

O episódio entrou para a história japonesa como a “Grande Estiagem Olímpica”, mas os Jogos, apesar das adversidades, foram realizados com êxito.

Mais de cinquenta anos depois, as semelhanças entre a Tóquio olímpica e o Rio de Janeiro são mais profundas do que a distância e o tempo deixam transparecer.

Desde 2013, o rio Paraíba do Sul, principal recurso hídrico do Estado, vem recebendo chuvas muito abaixo das médias históricas. De sua bacia sai a água que é distribuída aos 9 milhões de habitantes da Região Metropolitana. A pouco mais de um ano de hospedar os Jogos Olímpicos, o Rio viu seu maior reservatório, o Paraibuna, atingir o volume morto pela primeira vez. Ao mesmo tempo, todo o Sudeste brasileiro amarga a pior crise hídrica dos últimos 84 anos, fruto de uma severa estiagem e da falta de investimento em obras de saneamento.

Até janeiro de 2015, os efeitos da estiagem no Rio não tinham sido tão duros quanto em São Paulo, mas a queda dos níveis de água nos reservatórios locais e um relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado em fevereiro, ligaram o alerta. Se a seca na região se repetisse e a vazão mínima de 190 m³/s da Estação Santa Cecília fosse mantida, o volume morto do sistema se esgotaria antes do fim de agosto, o que gerou dúvidas sobre a capacidade de abastecimento de água durante os Jogos Olímpicos de 2016. A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), responsável pela distribuição na maior parte do Estado, garante que este não será um problema. “Estamos passando por uma crise hidrológica, mas a vazão e o abastecimento público não estão ameaçados”, afirma o diretor de grandes operações da companhia, Edes Fernandes. “Não tem risco de faltar água neste ano nem na Olimpíada.” foto: Michael Blann

istoÉ2016 abril/maio 2015

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meio ambiente este sistema de reservatórios de águas e hidrelétricas é responsável por abastecer 66 municípios do Rio de Janeiro, além da região metropolitana.

Rio Paraíba do Sul

Rio de Janeiro Rio Guandu Rio Paraibuna Rio Paraitinga

oS NÍVEiS DaS rEPrESaS FlUmiNENSES

EStação Santa cEcília estação elevatória responsável por bombear e transportar água para o Rio Guandu

41,67%

rio guandu

Uma nova resolução da ana diminui a vazão mínima da santa cecília de 190 m³/s para 110 m³/s até 31 de junho de 2015

abastece cerca de 9 milhões de pessoas da região metropolitana do Rio de Janeiro

3,55% 14,16% 10,90% 4,91% -0,26%

Paraibuna

-0,81%

1,72%

Santa Jaguari Branca

3,49%

Funil Sistema

NÍVEL ATUAL DO SISTEMA, APÓS PERÍODO DE CHUVAS* PIORES NÍVEIS DO SISTEMA

Dados de 16/03/15

Dados de 26/01/15

Nos 17 dias de Jogos, 480 mil turistas devem passar pela cidade do Rio de Janeiro. Em termos hídricos, significa um aumento de 3% no consumo diário de água potável. Apesar do número proporcionalmente pequeno, para uma cidade que se recupera de uma rígida estiagem e que gasta, a cada dia, 329,78 litros de água por habitante – bem acima dos 110 litros recomendados pela ONU –, qualquer alteração de consumo merece atenção.

Além de reduzir a vazão da Estação Santa Cecília e monitorar diariamente a evolução dos reservatórios, as autoridades envolvidas na Rio-2016 têm tomado outras medidas para poupar o estoque de água. O governo estadual alterou o calendário escolar e decretou feriados durante o período dos Jogos, estimulando a evasão da população.

Em paralelo, a Cedae iniciou no ano passado a campanha “Toda Gota Conta”, com dicas de combate ao desperdício – e garante que o incentivo à diminuição de consumo não vai afetar o bolso dos cariocas.

O Comitê Organizador da Rio-2016 também assegura que faz a sua parte. Em 2012, a equipe montou uma estratégia de uso racional de recursos naturais e, desde então, a expressão de ordem é “consumo eficiente”. Estruturas como a própria sede do Comitê e o Campo Olímpico de Golfe utilizam um sistema de reciclagem de água da chuva para abastecer sanitários e irrigar o gramado, respectivamente. Foi pensando ainda em redução de consumo que os organizadores decidiram recalcular a quantidade de banheiros temporários para os Jogos. “Conseguimos reduzir o número para 1.774 e agora vamos investir em equipamentos mais econômicos, como torneiras de desligamento por sensor”, afirmaTânia Braga, gerente-geral de Sustentabilidade do Comitê Rio-2016. Somente com esses equipamentos, será possível economizar 230 milhões de litros de água durante os Jogos e R$ 970 mil nas faturas.

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istoÉ2016 abril/maio 2015

o reservatório do Funil, um dos que abastecem o rio de Janeiro, chegou a ficar com apenas 3,49% do nível de água. No dia 16 de março, após boas chuvas, registrava 41,67%

Apesar das medidas pontuais e das campanhas de incentivo à diminuição de consumo, nem o governo, nem a Cedae, nem o Comitê trabalham com planos de emergência em caso de agravamento da crise hídrica.

“Neste momento, trabalhamos com a hipótese de zero risco de falta de abastecimento”, diz Edes Fernandes, da Cedae. “À medida que a Olimpíada for se aproximando, os cenários podem mudar, mas, agora, não temos um plano.” A maior preocupação, contudo, não é com a disponibilidade de água durante os Jogos e sim com uma solução sustentável a longo prazo.

Décio Tubbs, geólogo e diretor executivo do Comitê Guandu, órgão colegiado e deliberativo que faz parte do sistema de gerenciamento hídrico, afirma que é preciso pensar na crise como um ponto de partida.

“Mostramos a vulnerabilidade da região metropolitana em relação ao Paraíba do Sul, tanto em qualidade como em quantidade, mas o que vamos fazer depois da Olimpíada? Essa é a pergunta central”, diz.

No Japão, a crise hídrica de 1964 teve um final feliz. O alerta ecológico às vésperas de um grande evento mundial levou as autoridades a criar planos de emergência para desastres naturais e a projetar alternativas sustentáveis para o abastecimento de Tóquio. A infraestrutura da cidade foi alterada e, hoje, sistemas de encanamento duplo permitem que toda a água utilizada por indústrias japonesas seja de reuso – medida que também é regulada por lei.

Para que algo semelhante aconteça por aqui, é preciso uma mudança drástica e imediata na gestão de recursos hídricos. “A situação é muito delicada e isso deveria servir para buscarmos uma solução”, diz Marcos Freitas. “Se não usarmos esse momento para criar oportunidades, só vamos adiar uma crise que, daqui algum tempo, vai acontecer de novo.” De adversidades, Marfoto: YasUYoshi chiBa

cos entende. Quando assumiu a direção da ANA, em 2000, atravessou logo de cara a crise de água e energia que atingiu o País no ano seguinte. Hoje, ele coordena um laboratório de pesquisadores na UFRJ que se dedica a monitorar os impactos ambientais da crise hídrica. Para Freitas, agora é hora de atuar na redução de perdas e começar as campanhas de redução de consumo.

Ainda que a intensa seca no Sudeste, em suas reais proporções, não pudesse ser prevista, os efeitos poderiam ter sido atenuados com a gestão mais eficiente dos recursos hídricos. “Há, definitivamente, um erro de governos, não só estadual, mas municipal e federal, que há décadas deixam a discussão sobre a água fora da agenda política”, afirma o diretor do Comitê Guandu, Décio Tubbs. Para ele, a academia também carrega sua parcela de culpa por não ter mostrado para sociedade e para os políticos que o assunto deve ser prioridade.

Com olhos postos no futuro, para os Jogos Olímpicos e além, as autoridades têm em mãos a chance de repensar o modelo de abastecimento brasileiro, desta vez com ênfase na demanda. Se hoje os governos se esforçam para distribuir água com base na disponibilidade, deveriam incentivar a diminuição do consumo. Em um cenário ideal, a redução de gastos é um esforço contínuo, intrínseco à sociedade, não um recurso emergencial e desesperado em tempos de crise. “Se, em cinco anos, você reduz 10% da demanda no Rio, consegue abastecer 1 milhão de pessoas só com essa economia”, diz Tubbs. Por ora, resta aos brasileiros torcer para que as medidas preventivas funcionem. Com bom planejamento, a história de sucesso de Tóquio pode se repetir em 2016. E o Rio pode deixar como legado um passo inédito para a sustentabilidade hídrica do País. istoÉ2016 abril/maio 2015

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BoXe ÉDER JOFRE, O MELHOR DA HISTÓRIA não teve a merecida repercussão uma premiação feita recentemente pelo Conselho Mundial de boxe (WbC, na sigla em inglês). Segundo enquete promovida pela entidade, o paulista Éder Jofre é o maior peso galo de todos os tempos. Campeão mundial em duas categorias (galo e pena) e com um cartel impressionante de 75 vitórias (50 por nocaute), Jofre representa, para o boxe brasileiro, o que Pelé foi no futebol e adhemar Ferreira da Silva, no atletismo.

Éder na capa da edição 500, ano 1963, da revista The ring: mito do boxe mundial

atletiSMo

BaSQUete

eSGriMa

REFORÇO NO TIME DE TREINADORES Se há um esporte no brasil que tem decepcionado nos últimos anos, este esporte é o atletismo. numa decisão tardia, embora necessária, o Comitê olímpico brasileiro reforçou seu time de treinadores. recentemente, contratou Carlos alberto Cavalheiro, ex-técnico de robson Caetano, medalhista olímpico em Seul1988 (bronze nos 200 metros rasos). Cavalheiro estava no Catar há 9 anos e, antes, treinou o ex-recordista mundial da maratona ronaldo da Costa. desta vez, o treinador vai preparar as equipes feminina e masculina de velocidade e revezamento.

QUE PENA, CABOCLO É mesmo um longo caminho até o topo da nba. apesar de ser querido pela torcida do toronto raptors e da boa presença nos três jogos que fez na temporada (foram 15 minutos em quadra, oito pontos e dois rebotes), o ala paulista bruno Caboclo, 19 anos, foi enviado para a liga de desenvolvimento da nba. Ele atua agora pelo Fort Wayne Mad ants, do Estado de Indiana.

Se brilhar no novo time, poderá ser chamado de volta pelo toronto ainda nesta temporada.

SÓ 21 CLUBES PARA TREINAR a esgrima quer deslanchar, mas tem muito a fazer. Só 21 clubes oferecem o esporte. Confira:

BadMinton HORA DE IR PARA A RUA talvez o badminton seja, entre os esportes olímpicos, o mais desconhecido do grande público. Para mudar esse cenário, a bWF (a federação mundial) trouxe para o brasil o “badminton nas ruas”, ação que promoveu partidas nas ruas de São Paulo e do rio de Janeiro. Participaram da exibição alguns dos principais atletas da seleção brasileira, como ana Paula Campos, Fabiana Silva, luiz henrique dos Santos, leonardo alkimine e alex tjong.

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IStoÉ2016 abril/maio 2015

cicliSMo É PRECISO PEDALAR MAIS o ciclismo brasileiro evoluiu nos últimos anos, mas é preciso pedalar mais. a Confederação brasileira comemorou a 15ª colocação de gideoni Monteiro na terceira e última etapa da Copa do Mundo de pista, realizada em Cali, na Colômbia. ok, trata-se de um bom resultado diante da qualidade do torneio (participaram 46 ciclistas, entre eles estrelas como o italiano Elia Viviane, 19º colocado). a questão é outra: o brasil ainda está distante do pódio nas principais provas do planeta. Já passou da hora de mudar isso.

rIo grandE do Sul __ Sociedade de ginástica de Porto alegre __ grêmio náutico união __ associação dos amigos do Casarão de Várzea __ lindóia tênis Clube Paraná __ Sociedade thalia __ Clube Curitibano __ Círculo Militar do Paraná __ associação Mestre kato Santa CatarIna __ Sociedade desportiva Vasto Verde São Paulo __ Sala São Jorge de Esgrima __ Club athletico Paulistano __ Esporte Clube Pinheiros __ Círculo Militar de São Paulo __ academia Paulista de Esgrima __ Escola de Esgrima abel Melián FoTo: GETTY

canoaGeM AS PRINCIPAIS COMPETIÇÕES DO ANO Saiu o calendário 2015 da Federação Internacional de Canoagem. Conheça os principais eventos do ano: Período

Modalidade

evento

local

15 a 19/4

Canoagem Velocidade / Paracanoagem

Campeonato Sul-americano

Ibarra (Equador)

15 a 17/5

Canoagem Velocidade

Copa do Mundo – Primeira Etapa

MontEMor (Portugal)

22 a 24/5

Canoagem Velocidade / Paracanoagem

Copa do Mundo – Segunda Etapa

duISburg (alEManha)

29 a 31/5

Canoagem Velocidade

Copa do Mundo – terceira Etapa

CoPEnhaguE (dInaMarCa)

19 a 21/6

Canoagem Slalom

Copa do Mundo – Primeira Etapa

Praga (rEPúblICa tChECa)

19 a 21/6

Canoagem Slalom

Copa do Mundo – Segunda Etapa

CraCóVIa (PolônIa)

3 a 5/7

Canoagem Slalom

Copa do Mundo – terceira Etapa

lIPtoVSky (ESloVáquIa)

11 a 14/7

Canoagem Velocidade

Jogos Panamericanos

WElland (Canadá)

18 a 19/7

Canoagem Slalom

Jogos Panamericanos

MIndEn (Canadá)

14 a 16/8

Canoagem Slalom

Copa do Mundo – Etapa Final

Pau (França)

19 a 23/8

Canoagem Velocidade / Paracanoagem

Campeonato Mundial

MIlão (ItálIa)

Canoagem Velocidade

aquece rio

rIo dE JanEIro

Canoagem Slalom

aquece rio

rIo dE JanEIro

4 a 6/9 26 a 29/11

rIo dE JanEIro __ Clube de regatas Vasco da gama __ real Sociedade Clube ginástico Português __ Clube Militar da lagoa braSílIa __ uniceub __ Colégio Militar de brasília bElo horIzontE __ barroca tênis Clube

FUteBol COMITÊ DEFINE TODAS AS SEDES o Comitê organizador anunciou os locais das competições de futebol masculino e feminino da rio-2016. de 3 a 20 de agosto de 2016, os 58 jogos serão disputados em seis cidades e sete estádios: belo horizonte (Mineirão), brasília (Mané garrincha), Manaus (arena amazônia), rio de Janeiro (Maracanã e Estádio olímpico), Salvador (arena Fonte nova) e São Paulo (arena Corinthians). Este último dependia de uma negociação com a prefeitura de São Paulo, que cobrava dívidas relativas à construção do estádio. no final de março, as pendências foram resolvidas.

GinÁStica zanEttI, SEMPrE no toPo Mais do que chegar ao topo, o grande desafio de um atleta é permanecer lá por muito tempo. desde a medalha de ouro nos Jogos de londres-2012, o paulista arthur zanetti jamais deixou o nível cair. Sua mais recente

façanha se deu na Copa do Mundo de Cottbus, na alemanha, no final de março. de novo, o brasileiro reinou nas argolas com uma apresentação quase perfeita. Faturou o ouro com 15.625 pontos, muito à frente do segundo colocado, o grego Eleftherios Petrounias.

GolFe braSIlEIroS dECEPCIonaM Feito sob medida para ajudar brasileiros a pontuar no ranking mundial de golfe, o brasil Champions, realizado em março, em São Paulo, não cumpriu o seu papel. o melhor do País no principal torneio de golfe da américa do Sul foi o paulista lucas lee, que somou 284 tacadas e terminou na 69ª posição. o vencedor foi o americano Peter Malnati, que embolsou uS$ 153 mil.

HandeBol dErrotaS quE PrEoCuPaM ok, era só um torneio amistoso, mas a performance da seleção feminina, atual campeã mundial, preocupou. Como parte dos preparativos para o Pan de toronto, no Canadá, em julho, e o Mundial da dinamarca, em dezembro, as meninas enfrentaram em março, na romênia, dois times de ponta. Foram duas derrotas por uma margem folgada. as romenas venceram por 27 a 19 e as alemãs, por 25 a 20. detalhe: com exceção da ponta duda amorim, lesionada, o time brasileiro estava completo.

HiPiSMo JoSÉ rEynoSo Salta na FrEntE a primeira etapa da principal competição do hipismo nacional, o Campeonato brasileiro Sênior top, foi realizada no final de março, em Curitiba. Sem cometer faltas, o cavaleiro paulista José roberto reynoso venceu o torneio, imediatamente à frente de Francisco Musa e tiago Mesquita. a temporada 2015 é composta por oito gPs. os participantes terão direito a dois descartes de resultados, com exceção da última etapa, que terá peso 1,5.

Cada gP terá premiação total de r$120 mil

HÓQUei SoBre a GraMa a luta Para Ir ao rIo ainda há esperança para a seleção masculina.

Com o time feminino sem chances de se classificar para a olimpíada, a responsabilidade agora está sobre os ombros dos homens. Para ir ao rio, o time nacional precisa ficar pelo menos em 6º lugar nos Jogos Pan-americanos de toronto, em julho. detalhe: vão participar do torneio apenas oito times. Parece uma tarefa simples, mas não é bem assim. um exemplo: na Copa Pan-americana 2013, o brasil ficou em 7º, só à frente do uruguai.

JUdÔ braSIl PodE CoMEçar bEM Em 6 de agosto de 2016, segundo dia das competições olímpicas, o brasil já terá boas chances de subir ao pódio. de acordo com a tabela de provas divulgada pelo Comitê organizador dos Jogos do rio, Sarah IStoÉ2016 abril/maio 2015

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Menezes, a medalhista de ouro no judô em londres-2012, entrará no tatame para defender o título na categoria até 48 kg.

Felipe kitadai, bronze nos Jogos da Inglaterra, buscará um novo pódio nesse mesmo dia. Isso, claro, se os dois confirmarem o favoritismo e se classificarem para a olimpíada carioca.

levantaMento de PeSo ElaS brIlhaM EM tornEIo IntErnaCIonal as brasileiras bruna Piloto e Jacqueline Ferreira faturaram dois ouros no torneio internacional Manuel Suárez In Memorian, no Chile, que contou com a participação de 70 concorrentes de nove países. bruna foi a campeã na categoria 63 kg e Jacqueline, nas provas para atletas com até 75 kg. além do brasil, o evento contou com representantes de aruba, república dominicana, argentina, nicaraguá, Canadá, El Salvador e Chile, além de Estados unidos e Cuba, duas das principais potências desse esporte.

lUtaS arMÊnIo quEr SEr braSIlEIro o armênio Eduard Soghomonyan tem um sonho na vida: disputar a olimpíada do rio pelo brasil. atleta da categoria 130 kg do estilo greco-romano, Eduard mora em São Paulo desde 2011. Enquanto a naturalização não sai, o armênio vive na capital paulista com o dinheiro cedido por amigos. Sem emprego e sem renda fixa, ele depende da generosidade de um dono de academia para continuar treinamento. Para o brasil, que não tem nomes fortes nesta categoria de peso, seria vantajoso contar com um atleta com boa experiência em competições na Europa.

nado SincroniZado hoMEnS EStão lIbEradoS Caiu uma das últimas barreiras de gênero. a Federação Internacional de natação (Fina) autorizou a presença de homens em campeonatos de nado sincronizado. Eles competirão nos duetos mistos (ao lado de atletas do sexo feminino), nas rotinas técnica e livre. as provas individuais e por equipes, porém, continuam vetadas. Por enquanto, a Fina não decidiu quando as novas regras começarão a valer. Com a mudança, a ginástica rítmica, praticada por mulheres, é o único esporte olímpico restrito a um gênero.

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nataÇÃo CIElo não VaI ao Pan Primeiro ele afirmou que estava tudo certo para disputar os Jogos Pan-americanos de toronto, em julho. depois, falou que estava pensando em economizar energia para participar somente do Mundial de kazan, na rússia. agora, é definitivo: Cielo não vai mesmo ao Pan, decisão anunciada no final de março. o principal nome da natação brasileira teme que o excesso de competições afete sua performance nas piscinas. o grande objetivo, não precisa nem dizer, é ganhar o ouro no rio, em 2016.

Pentatlo Moderno yanE dIStantE do PódIo não vai ser fácil a vida da pernambucana yane Marques nos Jogos do rio. a medalhista de bronze em londres-2012 tem enfrentado uma safra cada vez melhor de atletas. na segunda etapa da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno, realizada em março, no Cairo, Egito, yane foi apenas a 15ª colocada entre 36 finalistas. beleza, ela melhorou seu desempenho ante a primeira etapa internacional, em fevereiro, nos Estados unidos, quando ficou na 24ª posição. Mas a própria yane admite que precisa melhorar para chegar com força ao rio.

Polo aQUÁtico adEuS, trIatlo Isso que é versatilidade. atual bicampeã do troféu brasil de triatlo, Flávia Fernandes decidiu trocar de esporte. o negócio dela agora é o polo aquático. Com poucas chances de ir aos Jogos do rio como triatleta (apesar dos bons resultados nos últimos tempos, ela tem três concorrentes diretas à sua frente no ranking nacional), Flávia resolveu voltar à modalidade de origem. Ela já havia defendido a seleção de polo no Pan do rio, em 2007, e agora foi reintegrada ao time nacional. Se tudo der certo, realizará o sonho de disputar uma olimpíada em casa.

reMo o lEgado da lagoa a instalação de uma estrutura submersa na lagoa rodrigo de Freitas, na zona sul do rio, para receber as provas de remo e canoagem velocidade na olimpíada de 2016, vai permitir que o lugar entre no circuito das principais competições internacionais

desses esportes. a estrutura consiste em suportes metálicos colocados três metros abaixo do espelho d’água para sustentar os equipamentos e os sistemas de raia, cronometragem e cobertura televisiva. É o que há de mais moderno no mundo, devendo atrair grandes provas mesmo depois do fim da olimpíada.

rÚGBi aS MulhErES aVançaM na SÉrIE MundIal E não é que as meninas do rúgbi estão apresentando boa evolução? na etapa americana da Série Mundial de Sevens, as tupis, apelido pelo qual são chamadas, ficaram em oitavo lugar entre doze participantes. na classificação geral do campeonato, incluindo todas as etapas realizadas até agora, o brasil aparece em nono lugar, à frente de países como Espanha e China. Já é alguma coisa para um esporte sem tradição por aqui.

SaltoS ornaMentaiS MuIto longE daS MEdalhaS o brasil ficou longe do pódio na primeira etapa do grand Prix de Saltos ornamentais, realizada em rostock, na alemanha. hugo Parisi, a principal esperança nacional, ficou apenas em 18º lugar na plataforma. César Castro, que decidiu treinar nos Estados unidos com o objetivo de se preparar para os Jogos do rio, mostrou que a mudança foi positiva: ficou em sétimo na classificação geral do trampolim de três metros. na mesma prova, Ian Matos foi 19º.

tae KWon do ConquIStaS auMEntaM 500% a Confederação brasileira de tae kwon do fez um levantamento interessante. nos últimos 4 anos, o número de medalhas internacionais conquistadas por atletas brasileiros aumentou 500%. Entre 2011 e 2014, os pódios em eventos realizados no exterior subiram de 21 para 119. desse total, 52 medalhas foram de ouro, 42 de prata e 25 de bronze. o ano de 2015 também começou forte. o brasil conquistou oito vagas – o máximo possível – para os Jogos Panamericanos de toronto, no Canadá, em julho.

tÊniS duPla ESPErança teliana Pereira e bia haddad, as duas melhores tenistas brasileiras da atualidade, estão com uma dúvida saudável na cabeça: será que devem formar dupla para disputar os Jogos do rio? Juntas, elas chegaram à semifinal do aberto do rio, em fevereiro, mas a parceria acabou desfeita por diferenças no calendário das duas atletas. Se quiserem ter alguma chance na olimpíada carioca, precisam atuar lado a lado por um bom período – no mínimo, por um ano, segundo cálculos de teliana. no masculino, o brasil já está bem servido com bruno Soares e Marcelo Melo, candidatíssimos ao pódio em 2016.

tÊniS de MeSa SEM rIVaIS na aMÉrICa latIna a evolução do tênis de mesa brasileiro nos últimos anos provocou um efeito curioso. Pelos menos nos torneios continentais, não há mais rivais à altura do brasil. no Campeonato latinoamericano disputado em março, em buenos aires, na argentina, os brasileiros ganharam praticamente tudo o que estava em jogo. no masculino, hugo Calderano foi o vencedor ao bater o compatriota Cazuo Matsumoto. Entre as mulheres, o título ficou com lin gui (sim, ela é brasileira), ao superar uma mexicana. o brasil também foi campeão geral da competição.

tiro

tiro coM arco PRODÍGIO NO BRASIL E NO EXTERIOR que o garoto é um fenômeno, os brasileiros que acompanham o tiro com arco estão cansados de saber. agora, Marcus Vinícius d’almeida, o adolescente de 17 anos que no ano passado ficou em segundo lugar na final da Copa do Mundo do tiro com arco, também é reconhecido como um prodígio por especialistas estrangeiros. Em março, ele foi capa da revista da Federação Internacional do tiro com arco, que o considera candidato a ser um dos maiores da história desse esporte. tomara que as previsões otimistas sejam confirmadas.

Foto: daryan dornEllES

AJUDA DO BOLSA PÓDIO o paranaense rafael bastos tem bons motivos para ser preparar com tranquilidade para os Jogos de 2016. Em março, o diário oficial da união o incluiu na lista de atletas contemplados com a bolsa Pódio. Ele foi selecionado graças aos ótimos resultados conquistados recentemente. no ano passado, foi quinto colocado na etapa do Circuito Mundial de granada, na Espanha, a melhor performance de um brasileiro na história do tiro ao prato. atualmente, a bolsa Pódio é oferecida a 224 atletas (140 olímpicos e 84 paraolímpicos), que recebem entre r$ 5 mil e r$ 15 mil por mês.

triatlo ANO CHEIO PARA GARANTIR VAGA OLÍMPICA Principal triatleta do brasil, o carioca diogo Sclebin terá um 2015 agitado. Ele pretende participar de pelo menos 15 provas internacionais para somar o maior

número possível de pontos e, assim, garantir classificação antecipada para os Jogos do rio. atual 27º no ranking olímpico, diogo precisa ficar entre os 40 melhores do mundo para não correr riscos de perder a vaga na sua segunda olimpíada. nos Jogos de londres-2012, o brasileiro foi o 44º colocado.

vela OS PLANOS DE ZARIF o paulista Jorge zarif viveu nos últimos dois anos um turbilhão de emoções. Em 2013, com apenas 20 anos, foi campeão mundial da classe Finn, resultado inesperado até para ele. Em 2014, nem sequer ficou entre os 20 primeiros no Mundial. a montanha russa de resultados foi uma dura lição: para quem está no topo, a queda é ainda mais vertiginosa. agora mais maduro e já classificado para os Jogos do rio, zarif se prepara para uma temporada amena. quer reduzir o ritmo de competições e guardar energias para 2016.

vÔlei O PREFERIDO DOS BRASILEIROS Se a procura por ingressos para a olimpíada for um indicador da preferência esportiva dos brasileiros, o vôlei está muito bem cotado.

Segundo dados do comitê organizador, bilhetes para os jogos das seleções de bernardinho e José roberto guimarães são os mais cobiçados desde que a fase de cadastramento foi aberta, no início do ano. o vôlei, que coleciona mais de uma dezena de títulos nos últimos anos, está à frente até do futebol, o segundo colocado. na sequência aparecem a natação, que tem trazido vitórias para o brasil, e o atletismo, que vê cada vez mais longe os bons resultados.

vÔlei de Praia ALISON ESTÁ DE VOLTA uma das maiores esperanças de medalha do brasil em 2016, a dupla alison/ bruno Schmidt está de volta. a parceria foi interrompida por problemas físicos enfrentados por alison. Em outubro do ano passado, ele fez uma cirurgia no joelho. depois, durante a recuperação, passou por uma operação de emergência para a retirada do apêndice. resultado: mais 30 dias de molho. agora, enfim longe dos hospitais, ele e o companheiro precisam marcar pontos para se aproximar dos Jogos do rio.

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Conquistas que entraram para a história

ROSA BRANCA

ILUSTRAÇÃO OLIVER QUINTO

POR VERA LYNN

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ISTOÉ2016 ABRIL/MAIO 2015

ELE DISSE NÃO AOS AMERICANOS ESTRELA DA SELEÇÃO BICAMPEÃ MUNDIAL DE BASQUETE, ROSA BRANCA FOI CONVIDADO PARA JOGAR NOS HARLEM GLOBETROTTERS, MAS PREFERIU CONTINUAR A DEFENDER SEU PAÍS CARMO DE SOUSA NASCE EM ARARAQUARA (SP) EM 19 DE JULHO DE 1940.

AOS 12 ANOS, COMEÇA A PRATICAR ATLETISMO E VENCE CAMPEONATOS REGIONAIS DE SALTO EM ALTURA E DISTÂNCIA.

AOS 14, DESCOBRE O BASQUETE NO NOSSO CLUBE DE CESTOBOL, EM ARARAQUARA.

ANTES DE COMPLETAR 18 ANOS, OSTENTA, AGORA PELO SÃO CARLOS CLUBE, DOIS CAMPEONATOS PAULISTAS DO INTERIOR...

... E UM VICECAMPEONATO ESTADUAL.

A ASCENSÃO É FULMINANTE.

EM 1958, É CONVOCADO PELA PRIMEIRA VEZ PARA A SELEÇÃO. É O MAIS JOVEM DO TIME QUE SE CONSAGRARIA, POUCO DEPOIS, COMO O MELHOR DA HISTÓRIA DO BASQUETE BRASILEIRO.

NA SELEÇÃO, GANHA O APELIDO QUE O ACOMPANHARIA PARA SEMPRE: ROSA BRANCA. OS COLEGAS PASSAM A CHAMÁLO ASSIM PORQUE, DIZEM, É PARECIDO COM GREGÓRIO FORTUNATO, O SEGURANÇA DO PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS QUE USAVA UMA ROSA BRANCA NA LAPELA DO TERNO.

NO BRASIL, JAMAIS HOUVE UM JOGADOR TÃO VERSÁTIL QUANTO ELE. ROSA BRANCA ATUA COMO ALA, ARMADOR E PIVÔ E EXECUTA TODAS AS FUNÇÕES COM EFICIÊNCIA.

CONSIDERADO UM DOS JOGADORES MAIS TALENTOSOS DO MUNDO, SE TORNA O PRIMEIRO BRASILEIRO A RECEBER UM CONVITE PARA INTEGRAR O LENDÁRIO TIME DOS HARLEM GLOBETROTTERS. RECUSA A OFERTA PORQUE NÃO QUER DEIXAR A SELEÇÃO. EM 1970, VESTE A CAMISA DA SELEÇÃO PELA ÚLTIMA VEZ. DURANTE 12 ANOS, DEFENDEU O BRASIL EM 78 PARTIDAS E MARCOU 539 PONTOS. A CARREIRA É ENCERRADA EM 1971, NO CORINTHIANS. POR CLUBES, DETÉM OUTRA MARCA FANTÁSTICA: É DECACAMPEÃO BRASILEIRO (1960, 1961, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969 E 1970).

APOSENTADO DAS QUADRAS, SE TORNA DIRIGENTE DE CLUBES E DA FEDERAÇÃO PAULISTA DE BASQUETE. MORRE EM 22 DE DEZEMBRO DE 2008, EM SÃO PAULO, VÍTIMA DE PNEUMONIA.

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VAI TER ÁGUA? OS PL ANOS DO RIO PARA DRIBL AR A SECA NOS JOGOS

EXCLUSIVO

www.istoe2016.com.br • ABRIL/MAIO 2015 • Edição 14 • Ano 6 VENDA PROIBIDA • EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ

NOSSO REPÓRTER VIAJA À UCRÂNIA E MOSTRA COMO A GUERRA TAMBÉM DESTRÓI O ESPORTE

O MELHOR E MAIS CARISMÁTICO TENISTA DO PAÍS NA ATUALIDADE REACENDE O ORGULHO DE TORCER PARA O BRASIL E LUTA AGORA PARA SE GARANTIR EM 2016

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João Souza, o Feijão, disputou a segunda partida mais longa da história do tênis

CHEGA DE MACHISMO ASSÉDIO SEXUAL, SALÁRIOS MENORES, FALTA DE RECONHECIMENTO: O LONGO CAMINHO DAS ATLETAS PARA ACABAR COM O PRECONCEITO

SINTONIA FINA POR QUE LUISA BORGES E DUDA MICUCCI SÃO AS ÚNICAS BRASILEIRAS GARANTIDAS NO NADO SINCRONIZADO NA OLIMPÍADA

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