2016 Ed 13

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THIAGO PEREIRA, MEDALHISTA DA NATAÇÃO: “A FAMA DE AMARELÃO INCOMODA”

ISTOÉ 2016 JUNHO/JULHO 2015

MENINA FANTÁSTICA AOS 15 ANOS, FLÁVIA SARAIVA LIDERA A NOVA – E MAIS PROMISSORA – GERAÇÃO DA GINÁSTICA BRASILEIRA

TRABALHA, FORMIGA A JOGADORA DA SELEÇÃO DE FUTEBOL PODE SER A PRIMEIRA BRASILEIRA A DISPUTAR SEIS OLIMPÍADAS. O QUE EXPLICA A LONGEVIDADE?

GI GAN TE

O ARREMESSADOR DE PESO DARLAN ROMANI FAZ UMA DAS MELHORES MARCAS DO MUNDO E PODE AJUDAR A TRANSFORMAR O ATLETISMO BRASILEIRO

www.istoe2016.com.br • JUNHO/JULHO 2015 • Edição 13 • Ano 6 VENDA PROIBIDA • EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ

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índice SeçõeS

RePoRtAgenS

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Aquecimento Rebeca Gusmão, a maior decepção da natação feminina do Brasil, dispara: “Os traíras serão desmascarados” entReViStA “A fama de amarelão incomoda”, diz o nadador Thiago Pereira, prata em Londres-2012 PAineL O mais completo balanço das vagas (garantidas ou não) para nossos atletas na Olimpíada de 2016 PáginA DouRADA A história de Larry Bird, o melhor jogador branco da história do basquete

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BRiLhA, meninA A pequenina Flávia Saraiva lidera a mais promissora geração da ginástica artística desde Daiane dos Santos PeSADo Um dos melhores arremessadores de peso do mundo é brasileiro. Saiba por que Darlan Romani pode ajudar a transformar o atletismo nacional excLuSiVo: mito eteRno Do Boxe Éder Jofre diz que, aos 79 anos, ainda sonha em subir nos ringues tRABALhADoRA incAnSáVeL Formiga, da seleção de futebol, pode ser a primeira brasileira a disputar seis Olimpíadas. Mas ela ainda não acha isso grande coisa LutADoR AfiADo O sucesso de Renzo Agresta na esgrima contrasta com a falta de relevância do País nesse esporte eScoLhA imPoSSíVeL Para poder competir, o bicampeão paraolímpico da bocha Dirceu Pinto decidiu parar o tratamento e acelerar o desenvolvimento de sua doença BuBkA, o humAno A lenda ucraniana do salto com vara Serguei Bubka diz que a pressão psicológica prejudicou sua carreira: “Não sou máquina”

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editorial

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SALVem o futeBoL BRASiLeiRo No dia 8 de julho, o massacre de 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil (como esquecer?) completará um ano.

Apesar de ser o resultado mais extravagante da história do futebol – talvez de qualquer esporte –, não demos, desde então, um passo adiante, ou pelo menos um pontapé no traseiro de nossas deficiências. Continuam as mazelas de sempre, o mesmo marasmo, a eterna paralisia, a irritante soberba, a incapacidade de promover transformações.

Bastar atentar ao Campeonato Brasileiro para perceber que sepultamos nosso passado glorioso no futebol. Os jogos são horríveis. Os estádios estão às moscas. Os treinadores se tornaram burocratas milionários, sem ideias e sem inspiração, mas, principalmente, hostis a mudanças, porque mudanças implicam necessariamente em abrir espaço para novos profissionais. Hoje um técnico está num time para amanhã trocar de lado com um parceiro que parecia rival. São sempre os mesmos. Iguais.

E o mais triste de tudo: sumiram os craques. Onde é que foram parar? Uma explicação razoável pode ser a expansão de mercados. Agora até a China arranca nossos talentos, e não há como competir com a torrente financeira do outro lado do mundo. No Brasil, cedo ou tarde, só fica quem não é muito bom de bola.

Mas isso é pouco para explicar o deserto de excelência nos campos brasileiros. A dura realidade é que, hoje, produzimos pouquíssimos craques. E ninguém, seja gestor esportivo, dirigente de federação, técnico ou professor, parece ter disposição para mudar o triste cenário.

Há um ano perdemos de 7 para a Alemanha e estamos a 14 meses da Olimpíada. Os Jogos do Rio poderiam representar a redenção para um futebol profundamente deprimido. E lembremos que o Brasil jamais ganhou o ouro nesse esporte.

Se a medalha vier, será graças ao gênio solitário de Neymar. E apenas isso.

Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br

istoÉ2016 JUNHO/JULHO 2015

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expediente

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aquecimento

por tom cardozo

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istoÉ2016 junho/julho 2015

A ex-nAdAdorA rebecA Gusmão, um dos maiores fenômenos e uma das maiores decepções a sair das piscinas brasileiras, vencedora de duas medalhas de ouro no Pan-Americano do Rio, em 2007 – ambas cassadas –, ainda sonha em provar sua inocência. Banida do esporte após ser flagrada duas vezes no exame antidoping, a esportista alega haver evidências fortes de que o frasco com sua urina foi trocado durante a competição na capital carioca. Rebeca espera reunir provas que farão parte de um livro bombástico, que ela já começou a escrever. “Todos os traíras serão desmascarados”, diz. Internada na UTI em 2013, ela atribui a quase-morte a uma tentativa de suicídio, mas afirma que deu a volta por cima. Hoje, a ex-nadadora, atualmente funcionária da Secretaria de Esportes em Brasília, segue uma rotina de treinos puxados, mas nem tanto, para cultivar o físico. De uma atleta de corpo musculoso, “masculino”, emergiu uma balzaquiana sensual, de curvas femininas, desejada pelos homens – e, como ela conta no depoimento exclusivo à 2016, também pelas mulheres.

ilustração de bruna esteves sobre foto de adriano machado

aquecimento

E

“Estou decidida, depois do fim da tempestade, a escrever um livro contando tudo o que eu passei. Sou jovem, mas, aos 30 anos, envolvida desde criança com o esporte – e com uma vida pessoal também muito precoce – me sinto uma veterana, uma mulher madura.

Parece que vivi cinco vidas.

Quero mostrar para as pessoas que até alguém como eu, que foi impedida, injustamente, de exercer a sua profissão, que sempre foi julgada, desde a adolescência, por ter um corpo “diferente”, pouco feminino, pode dar a volta por cima. Hoje os meus ensaios sensuais provocam desejos nos homens, eu tenho um corpo superfeminino. Eu sempre fui muito feminina, mas fui obrigada, por sempre competir no alto nível, a ser mais forte, a tomar suplementos, mas nunca me dopei.

E um dia vou provar a minha inocência.

Quero contar tudo no livro, inclusive sobre a minha depressão – foi a primeira vez que eu senti medo de morrer. Nas minhas tentativas de suicídio, no fundo, eu sabia que não ia morrer. Mas na internação foi barra

De fenômeno das piscinas, campeã panamericana em 2007 (abaixo), Rebeca Gusmão virou pária do esporte. Alvo de constantes comentários depreciativos por causa do corpo, acabou banida por doping. hoje, cultiva uma imagem “menos musculosa” e diz fazer sucesso com homens e mulheres

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pesada: achei que tinha chegado a minha hora. Mas levantei, deixei o abismo. sempre gostei de superar desafios. Coloquei na minha cabeça que ia sair dessa. Eu tenho uma frase, na verdade um parágrafo, que eu repito sempre para mim mesma como uma espécie de mantra: “Eu não vim para esse mundo para competir com ninguém. Quem competir com Rebeca Gusmão vai perder tempo. Estou aqui para competir comigo mesma”.

Vou mostrar no livro documentos que comprovam a minha inocência e o quanto eu fui perseguida. Eu fui absolvida da acusação de falsidade ideológica por utilizar urina de outra pessoa – ficou comprovado que o meu frasco nem chegou ao laboratório. Foi trocado. Por quem? sei quem é, mas não posso provar.

Dizem que essa pessoa, que me perseguiu durante muitos anos, tinha interesses econômicos, era sócio de um laboratório...

Ele jogou baixo. o mundo do esporte é tão sujo quanto o mundo da política. As pessoas precisam saber disso.

Mas quem sabe, até o livro ficar pronto, eu consiga reunir todas as provas. Quero também recorrer ao supremo tribunal Federal suíço para ser absolvida lá fora. o problema é conseguir grana para a defesa: um advogado suíço cobra em torno de R$ 13 mil por mês. Eu continuo trabalhando, na luta. sei que posso contar só com a minha família. Durante todo o processo que me tirou da natação, lutei sozinha. Várias pessoas que prometeram me ajudar pularam fora. o (Carlos Arthur) Nuzman (presidente do Comitê olímpico Brasileiro) na época se mostrou indignado com as falcatruas contra mim, mas quando o bicho começou a pegar, pulou fora, não quis se comprometer. Fui traída por quase todo mundo.

Hoje eu nado só para aliviar o estresse do dia a dia. Mas podia muito bem nadar profissionalmente. sou ainda muito forte fisicamente. tanto que, quando deixei a natação, recebi um monte de convites para competir em outras modalidades. Fui convidada pelo pessoal do boxe, do levantamento de peso, da luta livre, do arco flecha, do tiro... Mas não queria voltar à rotina de treinos. Eu comprometi toda a minha adolescência e juventude para virar uma atleta de alto nível. Hoje eu quero só curtir. Minha mãe diz que estou em busca do tempo perdido. Não que eu não tenha “aprontado”, me divertido durante a minha vida de atleta.

Vou contar no meu livro as minhas grandes aventuras. sempre gostei muito de sexo e, mesmo quando fui privada pelo esporte de alto rendimento, quando fui obrigada a ter uma vida mais regrada, eu não deixei de aproveitar. Cheguei a transar, depois de uma prova em Mônaco, com uma nadadora olímpica, muito conhecida, durante uma festa de confraternização de atletas. Adoro exibir meu corpo. Posaria nua numa boa, desde que pagassem bem para isso. Mas filme pornô jamais faria, nem pela fortuna do Bill Gates.

E vou seguir vivendo. tenho minha consciência que fiz sempre o melhor de mim, de uma forma justa, para alcançar os meus objetivos.

Eles anularam os meus resultados, mas não conseguiram pegar minhas medalhas.

Elas estão lá em casa, bem guardadas.

E aí de quem tentar tirá-las de mim.”

fotos: reprodução • orLANdo KIssNer (Afp)

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MeMórias OlíMpicas pOr atletas BrasileirOs por Katia rubio*

a OrigeM dO Basquete nO Brasil O Brasil foi o primeiro país da América do Sul e o quinto do mundo a conhecer o basquetebol.

O responsável por isso foi August Shaw, que trouxe uma bola dos Estados Unidos e iniciou a prática no Mackenzie College de São Paulo, em 1896. Pouco depois, a modalidade se estabeleceu na ACM da capital paulista, no Rio de Janeiro e em outras cidades. o

Armando Albano (ao centro), atleta do Botafogo, teve um infarto fulminante em quadra, em 1942

_Foi nos Jogos olímpicos de Londres-1948 que o lance livre, com a bola arremessada na altura da cabeça, começou a ser executado.

Até então, a bola partia da altura dos joelhos do arremessador. _Foi também em Londres que, pela primeira vez, se viu uma equipe de basquete fazer aquecimento com uma bola para cada atleta.

Enquanto isso, a equipe brasileira aquecia com duas bolas para toda a equipe. _Não estranhe se o nome de Guilherme Rodrigues aparecer em algum documento como integrante da seleção brasileira de basquete de 1948. Escalado como membro da titular da equipe, Guilherme treinou e integrou o grupo olímpico até o dia do embarque. Mas a miopia que o obrigava a usar pesados óculos o impediu de ler corretamente a hora exata do embarque. Quando chegou ao porto, o navio já havia partido.

primeiro torneio disputado na América do sul foi organizado pela ACM do Rio, em 1915. Duas décadas depois, o basquete brasileiro estreou nos Jogos olímpicos de Berlim, em 1936. Fizeram parte da equipe Aluízio Freire Ramos Accioly Neto (apelidado de Baiano), Américo Montanarini, Armando Albano, Ary dos santos Furtado (conhecido como Pavão), Carmino de Pilla, José oscar Zelaya Alonso, Miguel Pedro Martinez Lopes, Nelson Monteiro de souza (que, além de jogador, foi também o médico da delegação brasileira) e Waldemar Gonçalves (chamado de “Velho” porque tinha 30 anos quando foi à competição). As duas edições seguintes da olimpíada foram suspensas por causa da segunda Guerra Mundial. Em 1948, o basquete brasileiro voltou aos Jogos de Londres para conquistar a primeira das 3 medalhas de bronze de sua história.

Armando Albano foi atleta do basquete do Botafogo Football Club e defendeu a seleção brasileira em três campeonatos sul-americanos.

No dia 11 de junho de 1942, entrou em quadra para uma partida do Campeonato Carioca contra o Club de Regatas Botafogo. Durante um intervalo do jogo, ao se abaixar para pegar uma bola, teve um infarto fulminante. A tragédia levou os presidentes dos dois Botafogos a se associarem, levando à criação do Botafogo de Futebol e Regatas, um dos times mais tradicionais do País. *Katia Rubio é professora da EEFE-USP e autora do livro Heróis Olímpicos Brasileiros

aquecimento

a (segunda) cOrrida pOr ingressOs Depois dos 5,2 milhões de ingressos solicitados na primeira fase de reservas online para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, começa agora a segunda corrida por entradas, desta vez para os Jogos Paraolímpicos. A primeira “lista de solicitação” para o evento será aberta no dia 7 de setembro. Em outubro serão divulgados os sorteados. Em setembro as vendas se iniciam efetivamente. No total, serão disponibilizados 3,3 milhões de tíquetes para os Jogos Paraolímpicos, que acontecem entre os dias 7 e 18 de setembro do ano que vem. Os preços para assistir às competições variam de R$ 10 a R$ 130. As entradas para as cerimônias de abertura e encerramento vão custar entre R$ 100 e R$ 1.200. A expectativa é que o Brasil consiga superar o recorde de 2,7 milhões de entradas vendidas nos Jogos Paraolímpicos de Londres-2012.

atletisMO BrasileirO JÁ supera lOndres-2012... eM nÚMerO de classiFicadOs Trinta e sete. Esse é o número de brasileiros que já têm índice para as disputas de atletismo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. No total, o País levou 36 representantes da modalidade ao torneio na capital britânica, de onde saiu sem nenhuma medalha, pela primeira vez em 20 anos. E a quantidade de atletas que disputarão a Olimpíada do Rio “em casa” deve crescer ainda mais, já que falta mais de um ano para a competição e a temporada de obtenção de índices mal começou. Entre os que garantiram presença no evento estão Fabiana Murer, do salto com vara, Marilson Gomes dos Santos, da maratona, e Keila Costa, do salto em distância. A maioria dos lugares assegurados, no entanto, vem das provas de revezamento (24 no total). Cada uma delas garante seis convocações para o Brasil na Olimpíada. Os nomes dos representantes, no entanto, serão definidos apenas mais tarde, de acordo com as melhores marcas obtidas até 11 de julho de 2016. Saiba tudo sobre a guerra por índices no Brasil em nossa reportagem especial na página 74.

JuliO delaMare FOra As provas preliminares de polo aquático na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, estão temporariamente desabrigadas. O Parque Aquático Julio Delamare não deverá mais fazer parte das instalações dos Jogos, uma vez que nem o Estado nem a Concessionária Maracanã querem arcar com os custos de reforma do local, estimados entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões. A mudança, que já vinha sendo especulada, foi confirmada pelo secretário da Casa Civil do Estado, Leonardo Espindola, após reunião com a Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional (COI), no dia 20 de maio. “Não faz sentido um investimento tão alto para apenas o inicio do polo”, afirmou o gestor. De acordo com Espindola, as provas iniciais da modalidade devem ser realizadas no complexo de Deodoro ou no Parque Aquático Maria Lenk. Enquanto isso, o Delamare e também o estádio de atletismo Celio de Barros, situados no mesmo local, ficam praticamente sem uso e se deterioram cada vez mais.

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istoÉ2016 JuNHo/JuLHo 2015

IMAGeNs: sHuttterstoCK

a Farra diMinui nO BOlsa atleta seis meses depois da 2016 denunciar a “Farra no Bolsa Atleta”, o gasto indiscriminado de dinheiro público no esporte parece estar mais perto do fim.

No primeiro edital do programa após a publicação da reportagem, o governo federal mudou a interpretação da própria legislação e passou a adotar critérios mais rígidos para aceitar a indicação de eventos elegíveis a receber o benefício. Um dos exemplos dados pela 2016 em outubro foi a vela. A revista mostrou que a Confederação Brasileira de Vela (CBVela) burlou a lei ao criar o Campeonato Brasileiro de Vela, com 32 etapas. os medalhistas de 60 classes poderiam requerer a Bolsa Atleta na categoria Nacional, restrita às modalidades olímpicas.

Na época, a denúncia quase derrubou o presidente da CBVela, Mauro Aurélio sá Ribeiro. os irmãos Lars e torben Grael sentiram-se traídos pelo dirigente que levaram ao poder. o Conselho técnico, do qual fazem parte, havia decidido que a vela só indicaria eventos das classes olímpicas e pan-americanas, mas sá Ribeiro não levou a decisão a cabo.

A situação piorou quando veio a público que Peter siemsen, milionário e octagenário pai do presidente do Fluminense, recebia Bolsa Atleta. sá Ribeiro se segurou no cargo e prometeu mudanças.

Neste ano, indicou o Campeonato Brasileiro de apenas sete classes, todas olímpicas. De tão radical, cortou todos os eventos para as categorias de base. se no ano passado foram concedidas 246 bolsas para a vela, agora não serão mais do que 40.

Na canoagem, a mudança também foi drástica. Afinal, o governo considerava que rafting e caiaque polo, entre outras, eram modalidades olímpicas por fazerem parte do esporte, mesmo

apÓs rEportaGEM Da 2016, GoVErNo FEDEral aDota CritÉrios Mais rÍGiDos ao iNVEstir o DiNHEiro pÚBliCo No EsportE

estando fora do programa dos Jogos. Em 2015, passou a aceitar apenas a canoagem de velocidade e a canoagem slalom. se no ano passado foram 440 contemplados com a bolsa, este ano o número não deve chegar a 100. Nove modalidades foram excluídas.

Para os atletas que faturaram medalhas em eventos internacionais, a mudança é mínima. Um campeão sul-americano de rafting continuará tendo direito ao mesmo benefício, porque a modalidade pode ser incluída no edital do segundo semestre, para as não-olímpicas. os medalhistas em campeonatos nacionais, porém, perdem o direito.

A lista de eventos válidos para este primeiro edital, entretanto, ainda tem incoerências, especialmente no tiro esportivo. A modalidade tem 15 provas olímpicas e 29 mundiais, mas a CBtE indicou mais de 50 provas do ranking brasileiro. o governo ainda aceita resultados por equipes em modalidades individuais (badminton, tênis de mesa, tiro esportivo) e eventos de nível inferior como “Mundiais”. No tênis, por exemplo, a CBt indicou três Challenger e uma etapa de segundo nível da série Future, apenas porque tinham vencedores brasileiros. o Ministério do Esporte explicou, em nota, que as normas do programa vêm sendo aprimoradas “de acordo com a evolução dos esportes, das modalidades e das provas realizadas” e que a resolução número 41 do Conselho Nacional do Esporte (CNE) aponta que “as provas esportivas não-olímpicas, vinculadas a modalidades olímpicas, são válidas para as regras da primeira fase de inscrições do programa”. o ministério diz que já questionou a CBtE sobre a indicação das 50 provas para o programa.

dOis anOs depOis, HaBeMOs antidOping O Brasil voltou a ter, em maio, um local capaz de realizar exames antidoping de acordo com os padrões internacionais. o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD/Ladetec) foi reacreditado pela Agência Mundial Antidopagem (Wada), depois de ter a licença cassada em 2013, por ser incapaz de atender às exigências mínimas de controle feitas pela entidade. A pouco mais de um ano da olimpíada, a notícia foi um alívio para o governo federal, que investiu R$ 188 milhões na reestruturação do laboratório e na construção de uma nova sede.

Mas a batalha ainda não está totalmente vencida. segundo o Ministério do Esporte, a Wada ainda cobra a criação de um tribunal de apelação e o “fortalecimento” do Ladetec, instalado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e único responsável pelo controle de dopagem no Brasil. Durante o período em que o País ficou “à deriva”, todas as amostras colhidas aqui eram mandadas para análise no exterior, em laboratórios na Colômbia, nos Estados Unidos ou na Espanha.

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entrevista

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istoÉ2016 junho/julho 2015

“A fAmA de AmArelão incomodA” thiago pereira

por Por rodrigo Cardoso

foto rogério Casimiro

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istoÉ2016 abril/maio 2015

O senhor dos recordes não vê a hora de cair na piscina de Toronto. Nesta cidade canadense, em julho, o nadador fluminense Thiago Pereira vai buscar uma marca histórica: se tornar o maior medalhista dos Jogos Pan-americanos. Com 18 pódios em três participações, ele está a quatro do recordista, o ex-ginasta cubano Eric Lópes Ríos.

Em 2015, Thiago ainda disputará o sexto Mundial de piscina longa da carreira, algo que só ele, entre os homens, terá no currículo. No Brasil, detém uma marca extraordinária: não perde uma prova dos 200m medley no Troféu Maria Lenk, a principal competição do País, há 13 anos. Casado desde 2013 com a advogada Gabriela Pauletti, com quem mora em Los Angeles, o atleta, que mira uma segunda medalha olímpica, explica por que se considera o terceiro maior nadador da história do Brasil e revela como superou a fama de amarelão.

_o atual time de nadadores do Brasil é melhor do que o que disputou os Jogos olímpicos de 2012?

O time atual teve melhores resultados, considerando Mundial e Pan Pacífico, mas isso é indiferente. Para estar no pódio olímpico, o que vale é o momento. Depende muito do dia de cada um. Em se tratando de um esporte individual como a natação, você precisa estar muito bem no minuto exato, nem antes, nem depois. Muitas vezes a gente vê acontecer o impossível em uma Olimpíada.

Depende também do controle emocional do competidor. Os Jogos do Rio vão ser um grande divisor de águas para o esporte olímpico nacional. _por quê?

A competição vai trazer o mito da Olimpíada para perto dos brasileiros. Como nunca, as pessoas vão sentir o gosto dos Jogos. Vai ficar um baita clima na cidade, com gente de vários países. Os torcedores assistem às competições pela tevê e ficam com a sensação de ser algo muito distante, inatingível, impossível de participar. Com os Jogos aqui, eles vão ter o sonho de praticar esporte de alto nível. _o que foi fundamental para você ter conseguido superar Michael phelps, o maior nadador de todos os tempos, na prova dos 400 medley na olimpíada de Londres (thiago foi prata e phelps terminou em 4º)?

_Não sei, cara. Era para ser. Naquele dia, eu fiz uma parcial no nado peito que ainda hoje é a melhor do mundo na prova dos 400 medley. No estilo peito, ninguém nunca nadou tão rápido como eu naquela Olimpíada. Foi uma prova perfeita, era para ser ali.

Eu achava que a minha maior chance seria nos 200 medley, mas o pódio saiu nos 400. Essa medalha de prata é a única que está comigo nos Estados Unidos.

Vira e mexe rola um evento por aqui e é legal mostrar para as pessoas. Todas as outras medalhas estão em Volta Redonda, com a minha mãe. _Contra você pesou por muito tempo a fama de amarelar em competições olímpicas. Você tinha noção desse estigma e até que ponto ele o incomodava?

O que é ser amarelão? Fui o quarto melhor do mundo durante 10 anos. E mais: os três caras que me venceram somaram juntos, nas últimas três edições olímpicas, 38 medalhas. Me refiro a Michael Phelps, a Ryan Lochte e a Laszlo Cseh. Nas mesmas três Olimpíadas, o Brasil conquistou 42 medalhas, considerando todos os esportes. Esses são os três monstros contra quem eu sempre nadei e a galera dizia que eu amarelava.

Jamais existiu uma geração tão forte em um mesmo estilo. Nunca aconteceu em Jogos Olímpicas os mesmos quatro atletas repetirem a final em três edições

entrevista

thiago pereira

diferentes, como houve com nós quatro em 2004, 2008 e 2012 . Se bobear, vamos fazer isso de novo em 2016. _foi azar fazer parte desta geração? _Pelo contrário. Sei quanto tive que batalhar para conseguir a minha medalha em cima desses três caras. É isso o que me deixa satisfeito. Se você analisar numa outra dimensão, enxergar que esses três atletas ganharam apenas quatro medalhas a menos do que o Brasil inteiro, a pecha de amarelão não cola. Vai falar que a Seleção de futebol de 82 é amarelona? Não era, cara. É que o outro time (o italiano) também era uma puta seleção. _esse assunto ainda o incomoda bastante, não? _Pode ter certeza que quem perde nem sempre é amarelão. Essa fama incomoda. Escutar que eu sempre serei o quarto colocado é difícil. Você pensa: ‘Mas quem é você para estar falando isso?’. Por outro lado, me dou conta que sou o quarto melhor do mundo na atividade que escolhi fazer. Tem de aprender a lidar com isso. Foi bom ter passado por isso, foi um aprendizado, porque hoje dou mais valor ainda à minha prata em 2012. Natação não é o que você fez um, dois anos atrás, mas o que fez ao longo de uma vida, na carreira toda. _Qual é o seu objetivo no pan-americano do Canadá, em julho? _Quero ser o maior medalhista da história dos Jogos Pan-americanos. Tenho 18 medalhas, o Gustavo Borges (ex-nadador e ídolo de Thiago) tem uma a mais e o cubano Eric Lópes Ríos (ex-ginasta) tem 22. Esse é o meu grande foco. Vou competir em cinco provas individuais e alguns revezamentos. O Pan é uma miniolimpíada, tem grande visibilidade, grandes atletas já competiram ali. Ter oportunidade de fazer história é importante, algo único. Eu tive de me manter no auge por muito tempo para ter a oportunidade de lutar para ser o maior medalhista dos Jogos.

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_acha possível ser campeão mundial? _Sim. Por muito pouco, bati na trave em 2013 nos 400 medley, em Barcelona. Peguei bronze, mas apenas a cerca de 60 centésimos de segundo do primeiro colocado, o que nessa prova não é nada. Mas ser campeão olímpico vale mais. É mais difícil. Todo mundo sabe que aquilo ali só ocorre de quatro em quatro anos e a visibilidade é muito maior do que um campeonato mundial de esportes aquáticos. _Você se colocaria em qual posição entre os maiores nadadores da história do Brasil? _Eu me colocaria em terceiro. Hoje, em ordem, seriam o Cesão, o Gustavo e eu. Tenho um pódio olímpico.

O Gustavo tem mais do que eu e o Cesão tem ouro. Eu tenho uma prata, igualando com o Ricardo Prado, mas, como desempate, sou campeão mundial de piscina curta, e ganhei 18 medalhas de Jogos Pan-americanos.

Poxa, eu não perco os 200 metros medley no Maria Lenk há 13 anos, tenho mais de 80 medalhas em campeonatos nacionais absolutos, recordes sul-americanos. Mas coloco o desempenho em Olimpíada como o maior fator para dizer que me considero o terceiro maior da história do Brasil _Considerando o fato de a equipe de velocistas do Brasil ser a mais forte dos últimos anos, seria surpreendente para você se o Cielo ficar sem medalha na rio-2016? _Não seria surpresa para mim, mas não só pela geração do Brasil e sim pelo simples fato de se tratar de Jogos Olímpicos. Quem falaria que o Phelps ficaria fora do pódio nos 400 medley, em Londres? Ou que ele perderia os 200 metros borboleta? Sei o valor do Cesão, do que é capaz. Mas é uma Olimpíada, cara. Não é só ele que vai estar 100% preparado. Espero que ele consiga mais uma medalha, o que vai somar para o nosso esporte. Quanto mais ídolos a gente formar dentro da natação, mais pessoas futuramente vão querer defender o Brasil, como eu comecei vendo o Gustavo e o Xuxa.

autorretrato na piscina do minas Tênis

_Você é um atleta experiente, vai para a quarta olimpíada.

Mesmo assim, competir em casa será um peso adicional? _O frio na barriga sempre vai existir. Nos Jogos do Rio, essa sensação será multiplicada. Há uma grande diferença entre torcer para o futebol e para esportes olímpicos. A gente não vai assistir a muitas medalhas olímpicas do Brasil. No futebol, quando a Seleção entra em campo, o que vale é só a vitória. Em Olimpíada, a vitória não é só o que importa. Há muita coisa envolvida dentro dos Jogos. _Qual é a sua maior preocupação? _Me preocupo com os atletas mais novos. Dependendo da pressão que se exerce sobre eles, a Olimpíada pode até prejudicar futuros campeões. A gente ainda não está em um nível para competir com Estados Unidos, China, Grã-Bretanha. Consigo ver a melhora do esporte nacional, mas temos muito a evoluir. O futebol pode ser campeão da Copa, mas a gente não vai vencer a Olimpíada. É uma realidade, não tem por onde correr. Nossa meta, do Comitê Olímpico, é ficar no top ten no ranking de medalhas. Na cultura brasileira, que desvaloriza até o vice-campeão, isso pode ser um pouco complicado. Só que em Olimpíada as medalhas de bronze e de prata valem muito. _É possível fazer o torcedor entender isso? _Em uma Olimpíada, cada atleta tem um objetivo, está em um estágio. Há o moleque de 17 anos que está lá e, se ele entrar em uma final, já é a conquista dele.

Mas o torcedor que está vendo a prova pela tevê vai achar uma porcaria. Ele não enxerga que o moleque tem 17 anos, que é uma promessa, que está crescendo.

São poucos os brasileiros que conseguiram ir a uma Olimpíada. Só por esse pressuposto, competir nos Jogos já é muita coisa. A gente precisa enxergar por outro ângulo. Um quinto lugar, que poderia parecer ruim, representa que o atleta está atrás de apenas quatro no mundo. Se o cara é o quinto melhor do mundo na atividade que desenvolve, a história já começa a mudar.

“sou o terCeiro MeLhor nadador da história do BrasiL, atrás do CieLo e do gustaVo Borges. CoMo o riCardo prado, tenho uMa prata oLíMpiCa. Mas, aLÉM disso, taMBÉM sou CaMpeão MundiaL eM pisCina Curta” _em se tratando de grandes medalhões, como você e Cielo, a cobrança será maior. ela é justa? _Estou preparado para isso. Eu já tenho a minha autocobrança. Isso ninguém me tira. Mas não sou eu apenas que treino pacas. É uma Olimpíada. Não é fácil estar em uma final e é isso que a gente precisa mostrar para os brasileiros.

Aqui nos Estados Unidos, quando digo para alguém que fui para uma Olimpíada, o cara reage com admiração. No Brasil, o cara pergunta se eu ganhei. É falta de cultura, de conhecimento. No Brasil, você liga a televisão e vê o mesmo gol umas dez vezes em canais diferentes. Não passa outra coisa a não ser futebol. Em qualquer outro país, a tevê mostra futebol, mas também vôlei, basquete, natação. _Você estará com 31 anos, em 2016. a idade avançada já faz pensar em aposentadoria? _O meu foco agora é 2016 e depois vou ver os tempos, os resultados e decidir se vou tentar disputar os Jogos de 2020. O que sei é que logo depois do Rio vão vir as férias.

ginástica

por Mariana Queiroz BarBoza fotos stefano Martini

As sucessoras de DAiAne

Ginasta da seleção feminina treina no CT do Rio

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ginástica

Após fiAsco em Londres, ginásticA femininA se renovA e ApostA nos tALentos de fLáviA sArAivA e rebecA AndrAde pArA fAzer dessA A meLhor gerAção que o pAís já teve O Ginásio do Ibirapuera vibrou quando o locutor

anunciou o nome da carioca Flávia Saraiva. Era a final nas barras assimétricas da etapa São Paulo da Copa do Mundo de Ginástica Artística, disputada no início de maio. Em sua estreia como adulta numa competição internacional, a atleta de 15 anos deu início à série na barra mais alta e, em poucos segundos, a euforia do público brasileiro, desacostumado a eventos do tipo, dava lugar a um lamento coletivo. Flávia caiu. A interação entre plateia e ginastas provocou dúvidas na comissão técnica sobre o impacto que teria nas apresentações. “Eles gritavam e eu só pensava no que poderia acontecer”, diz Georgette Vidor, coordenadora da seleção feminina. No dia seguinte, Flávia voltou com a frieza que lhe é particular e enfrentou mais duas finais. Na trave, levou a prata.

No solo, consagrou-se com o ouro, superando com folga duas alemãs. No total, o Brasil obteve nove medalhas – a equipe feminina também ganhou prata com Rebeca Andrade no salto. É nesse grupo de meninas entre 15 e 17 anos que se concentram as melhores chances de a ginástica brasileira conseguir medalhas na Olimpíada do Rio de Janeiro, daqui a pouco mais de um ano. É o tempo de libertá-las da inexperiência e transformar promessas em campeãs.

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No Centro de Treinamento no Rio, inaugurado em janeiro dentro do HSBC Arena, não há muito espaço para comemoração. Para Georgette, a seleção poderia ter ido melhor. Lorrane Oliveira, medalhista na etapa da Eslovênia, acabou fora da final no solo, e Letícia Costa ficou em quarto no salto. A perspectiva inicial era de que o Brasil tivesse disputado mais três medalhas. “Elas melhoraram muito, mas ainda falta um pouco para chegarem à plenitude”, afirma Georgette. Sobre Flávia, que se tornou o principal nome da nova geração, a coordenadora, que também fundou o projeto Qualivida, responsável por tê-la descoberto, é categórica. “Não acho que ela seja um fenômeno”, diz. Para Georgette, fenômenos mesmo só Daniele Hypólito e Luísa Parente, primeira finalista olímpica.

“A Flávia é uma menina extremamente focada, que treina muito e faz sacrifícios”, diz. “Nisso ela é excepcional e quase imbatível. Mas também tem carisma, classe, um sorriso que cativa e uma disciplina que poucas vezes vi na vida.” Ex-auxiliar de Georgette no Flamengo, o treinador de Flávia, Alexandre Cuia, segue a mesma filosofia do morde-e-assopra.

“Ela começou bem nessa categoria, mas isso não significa nada”, diz.

No CT da seleção no Rio, as meninas chegam às 7h e só saem depois das 19h. O treino inclui ensaio das séries, musculação e preparação física

Com 1,33 m, Flávia (ou Flavinha, como é chamada pelos colegas de seleção) tem a altura de crianças entre 8 e 9 anos, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Só que, na ginástica, isso é uma vantagem. Seu centro de gravidade é mais próximo do chão, o que lhe dá mais equilíbrio. Ela é leve e isso reduz o impacto e risco de lesão.

Além disso, um raio menor ajuda no eixo de rotação, permitindo que seu giro fique mais rápido. Os treinadores garantem que tudo é uma questão genética. Os pais dela são mais baixos que os de Daniele e Daiane dos Santos. “Podem ficar tranquilos porque ela não vai ficar assim para sempre”, diz Georgette, para quem Flávia deverá alcançar o 1,50 m em breve.

A menina costuma chegar ao CT às 7h e só sai às 19h, depois de duas sessões de treinos, preparação física, musculação e fisioterapia, além de um período de ensino à distância numa sala especial dentro do próprio ginásio. “Ela é uma das primeiras a chegar e últimas a sair”, afirma Alexandre, que a acompanha há quatro anos. Forte em qualidade artística, Flávia ainda se aproveita do fato de que, desde o último ciclo olímpico, os jurados têm valorizado mais a dança do que a dificuldade das acrobacias no solo.

As novas ginastas são de uma geração que cresceu vendo Diego e Daniele Hypólito e Daiane como ídolos consagrados. “É bem engraçado (treinar com Diego e Daniele)”, diz Flávia, que, no ano passado, foi ouro no solo e prata na trave nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim. “Eu via todos na tevê e agora eles me dão conselhos, me ajudam.” Diego diz ser fã dela. “Tenho vontade de levar para casa”, afirma.

Julie Kim Sinmon tem no currículo um bronze na trave conquistado em abril, na Eslovênia. “Desde pequenininha, olhava a Dani treinando, a Dai aparecendo na tevê, e sonhava em ser igual a elas”, diz. Em 2006, quando a capital paulista sediou uma etapa da Copa do Mundo pela primeira vez, Julie estava na plateia para vê-las de perto. Não imaginava que, um

ginástica

dia, os momentos registrados nas fotos que tirou naquela ocasião se tornariam tão banais.

Com o sonho de participar da Olimpíada se aproximando, Julie faz esforço extra para seguir a rígida rotina longe da família. “Quero ser determinada igual à Flávia, segura igual à Dani, forte igual à Jade”, afirma, com a convicção de que pode subir ao pódio. “Eles estão investindo muito.”

Lorrane também é otimista: “Nós temos chances de conseguir uma classificação bem melhor que nossas antecessoras.” Rebeca não esconde que, depois de tanto esforço, ficar sem medalha olímpica seria uma enorme frustração.

“Vencer no individual geral é o meu maior sonho.”

Treinadora da seleção por 15 anos, Georgette acompanhou as principais transições pelas quais a ginástica brasileira passou. Com Luísa Parente, que chegou à final nos Jogos de Seul, em 1988, abriu as portas para a profissionalização do esporte no País. Em seguida, preparou Soraya Carvalho para Atlanta, em 1996. A ginasta se classificou, mas não competiu por causa de uma lesão. Então surgiu Daniele Hypólito, primeira brasileira a conquistar medalha em mundiais, em 2001. “A Confederação teve sorte de encontrar uma geração com grande potencial, como a Dani, Daiane, Jade (Barbosa) e Laís (Souza)”, diz Georgette. “A prioridade do orçamento foi o desenvolvimento da ginástica feminina.”

Sob a gestão do treinador ucraniano Oleg Ostapenko, entre 2001 e 2008, a seleção feminina viveu sua melhor fase. Chegou às finais em Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008. Daiane dos Santos foi campeã mundial no solo em 2003, Daniele e Jade foram medalhistas em Copas do Mundo e Pan-Americanos. Os patrocinadores se multiplicaram, a visibilidade também. Para o público em geral, o salto de qualidade ficou mais evidente na época em que Daiane, em pouco mais de um minuto, fazia o mundo admirar um espetáculo que começava com o som de uma bateria de escola de samba e só acabava quando a ginasta cravava os dois pés no chão com segurança, dentro dos limites do tablado azul, e inclinava os braços para o alto.

Os bons resultados e a leveza no ginásio cheio encobriam a tensão que ocupava as cadeiras vazias nos treinos. No fim de 2008, Jade, Daiane e Laís foram a público denunciar o tratamento que recebiam, com treinos puxados até a exaustão, privação de água, dietas hiper-restritivas e negligência médica. Depois de 17 anos, Vicélia Florenzano deixava a presidência da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) para ser substituída pela vice, Luciene Resende. Nessa troca, a principal medida da nova diretoria foi acabar com a seleção permanente, que se concentrava em Curitiba desde 2001. “Isso nos afetou dentro do treinamento e da competição”, 24

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diz Daiane. “Foi uma decisão política, não financeira.” À época, a narrativa oficial dizia que o modelo estava esgotado. Keli Kitaura, que hoje treina Rebeca Andrade e Julie Kim no Flamengo, concorda. “Os clubes estavam ficando enfraquecidos sem suas principais atletas”, diz.

“As pequenas precisam de alguém para se espelhar. Não há como manter um clube se não há uma história ali.”

Enquanto as meninas se lesionavam e sofriam com a ausência de renovação, os ginastas começaram a se destacar. Em Londres, Arthur Zanetti levou o ouro nas argolas e Sérgio Sazaki terminou em 10º no individual geral masculino. Abatida, a equipe feminina ia para o lado oposto. Em três Olimpíadas, aquela era a primeira vez que as brasileiras voltavam para casa sem disputar nem mesmo uma final. Para Daiane, o resultado não foi uma decepção, porque lhe faltava um elemento fundamental: a expectativa. “O objetivo da seleção de 2012 era entrar para a Olimpíada”, diz, exibindo um cabelo cacheado, comprido e orgulhosamente volumoso, já sem a rigidez do coque com gel. A equipe só conseguiu se classificar para os Jogos sete meses antes numa repescagem e ficou com a última das 12 vagas reservadas à elite do esporte. “Foi um feito termos entrado”, afirma Daiane. Para a atual geração, a ex-ginasta, agora com saudade de competir, mas genuinamente feliz por não ter mais que treinar, vislumbra um horizonte mais promissor do que enxergava para si mesma. “Seria o natural. A gente sempre quer que a próxima geração seja melhor do que a nossa.”

Em janeiro de 2014, a angústia tomou o lugar da frustração. Num acidente de esqui em Salt Lake City, Laís Souza ficou tetraplégica. A tragédia reacendeu a lembrança do acidente de ônibus sofrido pela equipe do Flamengo, em 1997, que matou seis pessoas e deixou Georgette paraplégica. Laís havia se aposentado da ginástica e estava treinando para competir no esqui aéreo na Olimpíada de Inverno de Sochi, na Rússia. Em Miami para um tratamento experimental com células-tronco, a ex-ginasta recebeu a visita da antiga chefe. “Ela é muito jovem e ama viver, mas agora está caindo a ficha dela”, diz Georgette. De seu próprio acidente, ela saiu um tanto mais ácida. “Eu não tive muita escolha na vida.

Fui à luta”, afirma. “Precisava trabalhar e não queria perder meu lugar. Tomava antidepressivo para dormir e acordava linda e loura.” Antes disso, porém, a coordenadora parou por três meses e viajou pelo mundo em busca da esperança que só as pesquisas científicas podiam alimentar. “Corri atrás e vi que elas não estavam tão avançadas assim. Tive que entender que era uma cadeirante e ponto final.”

Estreante na categoria adulta, Flávia Saraiva, 15 anos de idade e 1,33 metro de altura, é a ginasta mais promissora istoÉ2016 JUNHO/JULHO 2015

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ginástica Foi só em 2004 que Georgette parou de treinar o time do Flamengo para se dedicar integralmente a projetos sociais amparados por leis de incentivo. Sem eles, ginastas de origem pobre, como Flávia, Rebeca e Lorrane, talvez nunca fossem descobertas e incentivadas a permanecer no esporte. A renovação estava a caminho. Georgette e Alexandre reuniram as melhores e montaram uma equipe juvenil, que foi campeã brasileira. Flávia foi quem mais se destacou do grupo. Há dois anos, o Comitê Olímpico Brasileiro deu um empurrão para o amadurecimento das atletas ao contratar o russo Alexander Alexandrov como técnico da seleção feminina. Em seus 40 anos de experiência, ele conquistou mais de 20 medalhas olímpicas. Só em Londres, foi o responsável por seis medalhas da Rússia, grande campeã na categoria. Ainda sem falar português, Alexandrov não se esforça para ser compreendido. Espera que as meninas o entendam mais por gestos e expressões do que pelo inglês improvisado. “Quando ele chegou, mudou tudo, até o humor no treino”, diz Rebeca. “Antes eu só ria.”

Essa característica talvez seja a que mais aproxima atletas que saíram cedo de casa de crianças bem mais novas do que elas. Em sua primeira coletiva de imprensa, na véspera da competição em São Paulo, Flávia e Rebeca compartilharam cochichos e risinhos contidos como duas meninas autorizadas a viver no mundo adulto por mera curiosidade. Pouco antes da primeira pergunta, uma assessora apareceu com bonecos de pelúcia do mascote de um patrocinador. Flávia cutucou Rebeca e esticou o braço, transformando os dedos em garras inofensivas, para tentar pegá-los. A assessora os entregou para Diego e Zanetti. Flávia exagerou uma expressão de tristeza. “Eu quero!” Enquanto isso, Rebeca brincava com o microfone. “Canta, Rebeca!”, disse Diego. “Eu não”, ela respondeu, aos risos. “Os atletas de alto rendimento têm certa infantilidade”, diz Georgette. “Mesmo adultos, eles não são livres, dependem de seguir regras e obedecer a alguém.” A caminho dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, a nova geração não se importa em acelerar o passo para a liberdade adulta, desde que, ao final desse processo, seja o hino brasileiro que toque no pódio.

ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: EDSON COELHO

“FLÁVIA NÃO É UM FENÔMENO”

georgette vidor, coordenAdorA tÉcnicA dA seLeção femininA, quer reduzir eXpectAtivAs que pesAm sobre suAs pupiLAs

_2016 Qual é o balanço que você faz da etapa da Copa do Mundo, em são Paulo? _Georgette Vidor A equipe tinha chances de ter um resultado melhor.

A Lorrane poderia ser finalista no solo e na trave. Esperava que a Rebeca não falhasse nas (barras) paralelas e disputasse pelo menos o bronze.

Fora isso, foi ótimo. o que mais gostei foi a nota da Flávia na trave (15.100). só as melhores do mundo conseguem. Foi importante elas terem competido com toda aquela euforia do público gritando. _Muitas meninas da nova geração vêm de famílias pobres.

Como as dificuldades financeiras afetam a vida das atletas? _Elas vêm de classe mais baixa, mas só a Flávia vem de um projeto social. Existem muitas meninas boas que não têm mãe para levar nos treinos, a alimentação em casa não é adequada. Às vezes, perdemos talentos porque eles não tiveram condições de pagar a passagem para ir treinar. No Brasil, o esporte de alto nível é feito por pessoas de baixa renda que procuram os clubes para conseguir bolsa numa faculdade, numa escola melhor. o pessoal que tem dinheiro quer ficar na internet.

E os pais não querem sacrificar o fim de semana na praia para levar o filho no treino de sábado. É a geração da preguiça, que toda hora vai para a Disney. Parece que é o único lugar do mundo que lhes atrai.

_Como surgiu a ideia do projeto Qualivida? _Em 2002, montei a oNG para popularizar o esporte. Dois anos depois, saí do Flamengo e me dediquei só a isso. trabalhei com crianças em escolas públicas de vários municípios e comecei a descobrir meninas boas. Capacitei professores e fiz parcerias com leis de incentivo. _o que mudou com a inauguração do Ct no rio, em janeiro? _Mudou tudo. Lá temos a estrutura que o Brasil sempre quis, com sala de fisioterapia de alto nível, sala de aula, o Comitê olímpico presente.

Em Curitiba, não era tão boa quanto essa. _a flávia já é considerada um fenômeno na ginástica. o que ela tem de especial? _Quem disse? Não acho que ela seja um fenômeno. A Flávia é uma menina extremamente focada. É artisticamente lindíssima, por isso é tão cativante. A Daniele e a Luísa Parente, sim, são fenômenos. A Flávia treina muito e faz bastante sacrifício para conquistar resultado. Ela tem carisma, classe, um sorriso que cativa e uma disciplina que poucas vezes vi na vida.

A novA gerAção cresceu vendo diego e dAnieLe hypóLito como ídoLos consAgrAdos. hoje, treinAm LAdo A LAdo nA prepArAção pArA A oLimpíAdA No chão, Julie Kim Sinmon (à esq.) e Flávia Saraiva.

Em pé, Rebeca Andrade segura Lorrane Oliveira istoÉ2016 JUNHO/JULHO 2015

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atletismo

por Bruna EstEvanin

fotos frEdEric jEan/ag. istoĂŠ

q O catarinense Darlan, melhor atleta do arremesso de peso do Brasil, nĂŁo foge do trabalho duro

Muita lenha para queimar um arremesso de 20,90 metros coloca darlan romani entre os

candidatos ao pódio na olimpíada do rio. mesmo que a medalha não venha, a evolução deste atleta de apenas 24 anos mostra que ele tem muito a conquistar

istoÉ2016 junhO/julhO 2015

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A atletismo

Alguém que dividisse 150 kg pelo quadrado de 1,88 m chegaria a um índice de massa corporal de 42,44 e tiraria a conclusão que Darlan Romani, 24 anos, é um obeso mórbido que precisa de ajuda nutricional e médica urgente. Que engano. O fato é que um dos melhores atletas do Brasil na atualidade tem bem pouca gordura na barriga verde (é natural de Concórdia, Santa Catarina), mas ostenta músculos dignos de Hulk, que lhe conferem um aspecto que o irmão sabiamente classificou de “meio reforçado”. Boa definição. Tudo isso porque, no caso de Darlan, o peso que realmente importa é o que ele profissionalmente arremessa. Uma simples bola de aço de 7,260 kg que, dependendo da distância atingida, leva a ligas metálicas mais nobres, como ouro, prata ou bronze. Daqui a um ano, ele quer uma delas em forma de medalha, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Quando Darlan voltou ao Brasil após ganhar o ouro nos Jogos Mundiais da Juventude Italiana, com apenas 14 anos, a família ficou orgulhosa. A população de Concórdia saiu às ruas em carreata e a comemoração foi grande. A surpresa, nem tanto. Darlan sempre foi “meio reforçado”. Nos primeiros anos da adolescência, já via a balança marcar três dígitos quando se pesava. Na infância, desafiava primos e amigos nas clássicas lutinhas. A regra era simples: vencia quem levasse o oponente ao chão. Darlan era imbatível. Darlan sempre ganhava. Não demorou para que treinadores percebessem que aquele seria um esportista acima da média. Foi ainda criança, portanto, que o catarinense que descobriu na força o dom que hoje o faz o melhor arremessador de peso do

País, dono da sexta melhor marca do mundo – e ainda com muita lenha para queimar.

Darlan não se recorda ao certo do ano em que começou a treinar. Tampouco guardou os meses das competições ou das conquistas mais importantes.

Mas gravou na memória o dia exato em que se mudou para Uberlândia (MG): 3 de março de 2010. Foi lá, longe da família e da pacata Concórdia, no Centro Nacional de Treinamento Caixa/SESI, que se tornou um atleta, sem ainda saber que era um. O processo de transformação não foi fácil. O ritmo puxado dos treinos de segunda a sábado, em horário integral, exigia em excesso de um Darlan de 19 anos que, até então, treinava apenas duas vezes por semana durante uma hora. A rotina intensa, a alta carga da musculação e o impacto do próprio peso corporal resultaram, ao longo de dois anos, em uma lesão nos dois joelhos que por muito pouco não o fez desistir do atletismo. “Não dá mais, você vai ter que parar de treinar”, foi o que ouviu do técnico cubano Justo Navarro, que o acompanha desde o início da carreira. Foram meses de sessões diárias de fisioterapia e um pedido oficial de dispensa do Centro de Treinamento. Um ano depois, Darlan faria as melhores marcas da vida.

Hoje em dia, os joelhos não incomodam mais. Darlan convive em paz com a osteocondrite e a tendinopatia, doenças crônicas nos ossos e nos tendões causadas pela sobrecarga de peso e pela falta de preparação física do tempo em que treinava no interior de Santa Catarina. Recuperado, de 2010 para cá acumula vitórias em competições expressivas e tem grandes chances de ser o responsável pela guinada do arremesso de peso no País. Só em 2015, bateu o recorde brasileiro – de novo, já que o anterior também era seu – e, com um arremesso de 20,90 m, chegou a subir de 200 para a 60 no ranking mundial. É como se Darlan arremessasse a bola de metal de 7,260 kg (peso oficial) a uma distância que corresponde à altura de um prédio de oito andares.

Uma marca e tanto para um atleta tão jovem e para um esporte em que a maturidade chega, geralmente, por volta dos 30 anos. E não é apenas o nome entre os melhores do mundo e a distância do arremesso que impressionam. Com a lesão, Darlan foi obrigado a adaptar sua técnica e reaprender o esporte. “Tive que treinar os arremessos do zero porque a técnica muda tudo”, diz, enquanto faz gestos comedidos com as mãos imitando os movimentos das pernas durante a prova.

Darlan explica: agachado e de costas, costumava empunhar a bola grudada ao pescoço, logo abaixo da orelha. Saltava com a perna direita para trás e, com o impulso, se virava já pronto para o arremesso. Foi com essa técnica que começou a treinar, sem grandes pretensões, em 2002. Para diminuir o impacto sobre

DArlAn teM A forçA Os númErOs ImPrEssIOnAnTEs DA PrEPArAçãO DO ArrEmEssADOr DE PEsO na foto maior, o menino Darlan posa em frente a um dos ônibus da empresa da família, em Concórdia (SC). Acima, faz graça no cavalinho, para deleite da mãe: “um piá nota dez”

os joelhos, mudou os movimentos, agora feitos com um giro. Também de costas, mas agora de pé, Darlan roda em cima da perna esquerda e, dois giros depois, arremessa. O terceiro e último giro, já sem a bola, ele usa para se equilibrar dentro da circunferência que delimita a área de locomoção na prova. “Fiquei quatro meses parado, só fazendo fisioterapia”, diz. “Quando voltei, não aguentava o peso, não tinha forças nem motivação”, descreve, com os olhos furtivos de quem não gosta de tocar no assunto. Quando se conhece um pouco da história do atleta, é possível entender o porquê. Enquanto se recuperava e se adaptava à nova técnica, Darlan teve que se adaptar também a uma vida sem o pai.

Em janeiro de 2012, ainda lesionado, Darlan passava as férias com a família em Concórdia. O irmão mais velho, Vinícius, levaria uma excursão de idosos a Três Arroios (RS) no ônibus da empresa de turismo da família, mas a data coincidia com o casamento de um amigo. O pai, preocupado, decidiu fazer a viagem no lugar do filho. “Vai ao casamento com o Darlan,

> Supino: Deitado no banco, Darlan levanta uma barra com 250 kg. Esse peso o colocaria na 50ª posição do ranking mundial de levantamento, com a diferença que, em vez de apenas sustentar a barra, Darlan repete o exercício dez vezes a cada série. > ArrAnco: Darlan levanta uma barra de 135 kg em um só movimento, desde o chão até a completa extensão dos braços acima da cabeça. Como comparação, é como se ele erguesse 60 tijolos ao mesmo tempo. > AbDoMinAl: A série de dez abdominais é acompanhada por pesos de 40 kg e repetida três vezes por treino.

Isso equivale a levantar, com o abdômen, 1.200 kg ao final dos exercícios. > ArreMeSSo: Para treinar o arremesso de peso em si, Darlan usa bolas que pesam de 5 kg a 10 kg – as mais pesadas para treinar força; as mais leves, para exercitar ritmo e velocidade.

Toda a técnica chega a ser repetida até 60 vezes por dia.

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atletismo

deixa que eu levo a excursão e vocês vão à festa mais tranquilos”, disse, com a segurança de quem conhecia há mais de 20 anos as estradas do sul do País. No sábado, 14 de janeiro, Moacir Romani levava o grupo de 33 idosos pela BR-153 quando um caminhão que viajava no sentido oposto invadiu a pista.

O motorista transportava madeira de Porto Velho (RO) a Canela (RS) e perdeu o controle da direção sobre o asfalto molhado. A carreta rodopiou e bateu no ônibus. Moacir morreu na hora. A perda abrupta e o condicionamento físico debilitado fizeram Darlan hesitar. Decidir se deveria ou não voltar ao Centro de Treinamento de Uberlândia foi mais difícil que encarar todas as finais de competições juntas. “O pai era tudo pra ele”, diz a mãe Ivanir, que chora ao contar essa história.

“Ele morava fora há dois anos, não queria mais ficar longe da família.

Mas aí conversamos muito, os colegas do arremesso conversaram também e ele voltou”, relembra a mãe, que hoje se diz orgulhosa – e impressionada – diante do rumo que a carreira do filho tomou.

Isso porque o esporte, na verdade, começou como brincadeira. Era o irmão Vinícius quem treinava no centro esportivo de Concórdia.

“Nunca me imaginei sendo atleta”, diz Darlan. “Queria tocar os negócios lá de casa mesmo, fazer logo 21 anos para poder pegar um ônibus, um caminhão. Amo dirigir.” Darlan acompanhava da arquibancada o trabalho do irmão até que, um dia, por incentivo do pai, que se juntava aos dois regularmente, começou a treinar. “Vem, Darlan, tenta arremessar também”. Foi o impulso que fez o menino tímido se levantar da cadeira, começar a arremessar e não parar mais. Os sonhos, então, se inverteram. O irmão trocou o esporte

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“Meu treinADor SeMpre fAlA que não SoMoS peSSoAS norMAiS”

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pela empresa de transportes da família, mas deixou de legado, em sua breve e modesta passagem pelo atletismo, o recordista brasileiro de arremesso de peso.

No começo, o atletismo não era uma carreira, mas uma maneira fácil de viajar, conhecer novos países e cidades durante as competições. “Imagina: um menino novo de cidade pequena que, de repente, viajava para outros países. Ficava deslumbrado”, diz o esportista.

O apoio da família veio aos poucos, mais precisamente em 2009, durante os Jogos Abertos em Chapecó, quando a equipe da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) o convidou para fazer um teste em Uberlândia.

O esporte, então, se tornou assunto sério. Apesar de apresentar bons resultados desde cedo, foi somente em 2010, quando disputou o Mundial Juvenil de Moncton, no Canadá, que Darlan se reconheceu como atleta.

“Olhei aquele estádio cheio de gente, com um monte de câmeras e de repórteres e pensei: ‘Isso é de verdade, tá acontecendo mesmo comigo, não é coisa de televisão.’”

Competição após competição, Darlan melhorava as marcas. A mudança para São Paulo foi gradual – e inevitável. Em Uberlândia, só existia um torneio de atletismo por ano. Os arremessadores passavam grande parte do tempo dentro do ônibus, viajando, perdendo treinos, acumulando cansaço e dependendo da verba e da disponibilidade de transporte para competir. Em convênio com a CBAt, Darlan então se mudou para São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, em 2013, para se instalar no Clube de Atletismo BM&FBovespa e ficar mais perto do circuito de competições. Assim, ajudou também a fundar um novo polo de arremesso de peso no País.

Deste então, colocou a prova e o esporte em outro patamar. Hoje, nenhum outro brasileiro arremessa além dos 20 m. O talento é inegável, mas grande parte dos feitos se deve às táticas rigorosas e à técnica impecável de um treinador olímpico que o acompanha desde os primeiros arremessos da carreira profissional, o cubano Justo Navarro. “O Darlan é um atleta com um potencial enorme, mas quem explorou isso e o transformou no que ele é foi o professor Navarro”, afirma Jorge Barros, o Jorjão, assistente técnico que também acompanha o atleta. Navarro já treinou a campeã olímpica do arremesso do peso em Atenas-2004, Yumileidi Cumbá, e a campeã Pan-Americana no Rio2007, Misleydis González, ambas cubanas Agora, tem a chance de fazer um campeão olímpico masculino.

“Treinar o Darlan tem sido uma grande experiência e um desafio para mim”, diz Navarro, que ainda foi responsável pela preparação da brasileira Geisa Arcanjo,

a primeira brasileira do atletismo a ganhar o Mundial Juvenil, que depois testaria positivo no antidoping por uso de um diurético proibido.

No fim do ano passado, Navarro regressou a Cuba por problemas de saúde. Para manter o ritmo, Darlan passou o mês de janeiro treinando em Havana e, de volta ao Brasil, recebia as orientações do técnico por e-mail. O “olho vivo” em cima do atleta ficou a cargo de Jorjão. A rotina de treinos varia de acordo com o calendário das competições mais importantes, alternando exercícios técnicos com preparação física, e semanas de prática pesada com períodos de menor potência e intensidade. “Força não é um problema, mas às vezes ele perde ritmo na hora do arremesso”, diz Jorjão. “O Darlan ainda precisa conhecer melhor o ritmo do corpo e transferir toda a energia que tem para isso.” Para Navarro, a melhoria da técnica é apenas uma questão de tempo e de autoconhecimento.

Nada que impeça o atleta de chegar bem à Rio-2016.

Se tem algo que não falta a Darlan, além de força física, é a seriedade com que encara a carreira de atleta.

Seriedade é uma das marcas registradas também na vida pessoal. Darlan não tem apelidos. O nome é curto. A personalidade discreta e reservada não permite. “Quando o conheci, achei até que fosse mais velho. Às vezes chamo o Darlan para sair, fazer algo diferente, mas ele é muito focado e diz que tem que treinar, tem que ser comprometido”, diz Sara, a esposa, com quem está junto desde 2012. Abrir mão faz parte da vida de um esportista. “Meu treinador sempre fala que não somos pessoas normais. Isso eu já entendi. Se quero um bom resultado, preciso me preservar para isso”, afirma Darlan, com a consciência de quem ainda está se familiarizando com os louros e as frustrações da vida de atleta profissional.

Darlan se tornou adulto dentro dos centros de treinamento e, enquanto se transformava no principal nome do arremesso de peso nacional, também se tornou pai da pequena Alice. “A gente queria muito um bebê, mas quando fiz o teste e vimos que era real, ficamos um olhando para a cara do outro, numa mistura de medo com felicidade”, diz Sara, que também é atleta.

Recordista juvenil no salto com vara e contratada pelo Clube de Atletismo BM&FBovespa, Sara chegou a participar de competições sem saber que estava grávida.

De licença-maternidade, ainda não decidiu qual será o futuro no esporte, mas deixa pistas ao se referir à vida de atleta com verbos conjugados no passado. Quando questionado sobre como será a rotina de treinos com o bebê, a resposta de Darlan vem na ponta da língua: istoÉ2016 junhO/julhO 2015

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atletismo

união de força e técnica, num balé de gigantes, faz Darlan arremessar a bola de aço a mais de 20 m de distância

conquiStAS e MArcAS De DArlAn > Campeão do III Campeonato Paulista menor, Juvenil e Adulto/2015 > Campeão do Troféu Brasil/2014

(20,84 m)

> Vice-campeão do Ibero-Americano de são Paulo/2014 > Campeão do GP são Paulo/2014

(19,71 m)

(20,90m)

(19,64 m) (19,96 m) (20,08 m)

> Vice-campeão dos Jogos sul-Americanos de santiago/2014 > Campeão do Circuito nelson Prudêncio, Campinas/2013

(20,48 m) (18,46 m) > 7º lugar no mundial Juvenil de moncton/2010 (18, 58 m; alcançou 18,89 m na qualificação) > Vice-campeão sul-americano Juvenil/2009 (16,99 m) > Vice-campeão sul-americano menor/2008 (17,40 m) > Campeão estadual menor em santa Catarina/2007 (16,45 m) > Vice-campeão estadual menor em santa Catarina/2006 (15,02 m) > Campeão dos Jogos mundiais da Juventude Italiana, em riccione/2005 (16,24 m) > Campeão do Campeonato Brasileiro sub-23, em maringá/2012, com recorde brasileiro adulto > Campeão dos Jogos Abertos de santa Catarina/2011

“Ah, a Sara vai cuidar”, diz, sacudindo de leve a cabeça, como quem sinaliza brincadeira, num dos poucos momentos em que assume o tom mais divertido.

Embora tenha abraçado o esporte como profissão, a paixão de Darlan por dirigir continua existindo e é proporcional ao tamanho do veículo. “Você acredita que ele comprou um caminhão? Um dia apareceu com um Mercedes-Benz 1113B lá em casa e cismou que ia trabalhar com frete nas horas vagas”, conta Sara. O negócio não deu certo, mas foi preciso muita argumentação da esposa para convencer Darlan a vender o “bruto”. Vendeu, mas comprou uma van.

E já inventou uma nova ocupação para as horas fora dos treinos. Após o casamento, Darlan se converteu à Igreja Cristã Ministério Paz e Glória. O casal hoje é membro de uma congregação em São Caetano e, todas as quartas, sextas e domingos, Darlan busca e leva de van os idosos, as gestantes e as mães

com crianças pequenas que frequentam os cultos, carregando a fama de bom moço para além. Ou, nas palavras da mãe, Ivanir, “um piá nota 10”.

Em boa fase, Darlan acumula apoios. Além de ser contratado pelo BM&FBovespa, é patrocinado pela Nissan, pela Nike e, mais recentemente, entrou para o time esportivo da Força Aérea Brasileira, onde ganhou um título ainda inédito na carreira: o de 3º tenente. É nesse contexto que se prepara e sonha com uma medalha olímpica. O foco agora é participar do maior número possível de competições internacionais e se armar para a Olimpíada. Darlan se diz pronto. Os treinadores concordam, mas mantêm os pés mais no chão do que no pódio. “Os resultados são sempre próximos entre os oponentes, a prova é difícil e depende muito de como cada atleta vai chegar à competição”, diz Jorjão, que não titubeia ao afirmar, aí sim, que Darlan estará entre os oito finalistas dos Jogos Olímpicos Rio-2016.

foto: agência luz/bm&f bovespa • produção: cintia sanchez • agradecimentos: camisaria varca (www.varca.com.br); Kauê (www.Kaueplussize.com.br); niKe (www.niKe.com.br); aramis (www.aramis.com.br); calvin Klein (www calvinKlein.com.br); galpão 1416 (www.facebooK.com/galpao1416)

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por tom cardoso fotos frederic jean/ag. istoé

“EscrEvE aí: ÉdEr JofrE não vai cair ainda” O campeão em uma academia em São Paulo

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Éder Jofre não beijou a lona. O maior pugilista brasileiro da história só baixou a guarda temporariamente, mas nada impede que ele espante os demônios, com um de seus poderosos diretos (que o levaram a ser eleito, pela revista americana The Ring, a bíblia do esporte, o nono maior boxeador de todos os tempos) e dê a volta por cima. Não tem sido fácil. A cabeça não acompanha o corpo. Aos 78 anos, o “Galinho de Ouro” ainda se mantém bem fisicamente, apesar de ter perdido onze quilos, condição que ainda o permite fazer exercícios e até treinar boxe, duas vezes por semana, numa academia no bairro dos Jardins, em São Paulo. Mas a memória não é mais a mesma. Jofre se esquece de fatos recentes e, às vezes, se confunde com coisas bobas. Parte da família não aceita o diagnóstico preliminar de Alzheimer, feito recentemente por um hospital, e diz que o boxeador enfrenta uma forte depressão desde a morte da mulher, Maria Aparecida, a Cidinha, em maio de 2013. Estavam casados havia 52 anos. Tudo leva a crer que o boxeador sofra de encefalopatia crônica, conhecida como “demên-

jofre com a turma da Academia Garrido, que atende moradores de rua em São Paulo

cia pugilística”, que costuma afetar boxeadores, sujeitos a repetidas pancadas na cabeça durante a carreira. Adilson “Maguila” Rodrigues, outro célebre pugilista brasileiro, sofre desse mal.

Jofre, que se recupera na casa da filha Andrea, no bairro do Campo Limpo, zona sul paulistana, conversou com a 2016 e aceitou posar para um ensaio fotográfico na bela academia de boxe que fica embaixo do Viaduto do Glicério e que se tornou famosa na cidade por abrir espaço para moradores de rua. Para a surpresa do repórter, o pugilista passou boa parte da conversa fazendo trocadilhos, uma de suas especialidades, e em nenhum momento se queixou da vida.

boxe

Éder com os cinturões, símbolos de uma carreira brilhante

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“Nunca fui de reclamar, nem mesmo nos momentos de maior dificuldade. Os amigos e parentes ligam aqui

em casa, perguntando se estou bem. Costumo dizer que estou dormindo até a hora de acordar. Outro dia um jornalista também ligou e me perguntou se eu costumo sonhar que estou lutando. Nunca sonhei.

Nem mesmo nas vésperas das grandes lutas, quando a ansiedade era grande. Por que vou sonhar bem agora?

O meu tempo de ringue acabou faz tempo, não sou de ficar pensando no que não posso fazer.

O que posso falar sobre a morte da Cidinha?

Nocaute, nocaute, nocaute. Ficamos casados por mais de meio século. Não esperava a sua morte, quase morri junto. Mas vou me manter vivo, é a forma que eu achei para homenageá-la.

Não vejo mais lutas de boxe. Não passa em lugar nenhum. Agora está na moda aquilo (UFC), que eu prefiro não chamar de esporte. É muito violento, muito mesmo, não tem condições. No boxe, quando abria um supercílio, parava tudo. No máximo, saia um nariz quebrado. Lá pode tudo e a violência, para mim, não combina com o esporte.

Se os meus problemas de saúde tem alguma relação com a vida dedicada ao boxe? Não, nem pensar.

Tenho certeza que não. Não passei a vida tomando martelada na cabeça, sempre me cuidei. Não concordo com essa tese. O boxe é um esporte maravilhoso, devo tudo a ele. Voltem a colocar proteção na cabeça, se for preciso, mas não manchem a história do boxe.

Não sou de ficar recordando as minhas lutas. Foram tantas que, quando alguém me pergunta, eu me confundo. Tenho me esquecido de algumas coisas, mas vou levando. Tenho me recuperado bem, conto com o carinho dos meus filhos, dos meus familiares.

Sou espírita. Na verdade meio espírita e meio ‘espírito de porco’. Sempre conversei com o meu pai (o argentino Kid Jofre, pai e treinador de Éder), mesmo depois de sua morte, principalmente quando precisava de ajuda, de um conselho. Faz tempo que eu não falo com o velho Kid. Estou precisando. É um momento duro da minha vida. Sem a Cidinha ficou muito difícil. Ainda bem que não perdi o humor. Se perder, acho que vou a nocaute de vez.

Escreve ai: o Éder Jofre não vai cair ainda.”

produção: cintia sanchez • agradecimentos: academia garrido nike (www.nike.com.br) • adidas (www.adidas.com.br) • pretorian (www.pretorian.com) • c&a (www.cea.com.br) • armarinhos Fernando (www.armarinhos-Fernando.com.br)

Formiga, a meio-campista fundamental ao futebol brasileiro, no centro de treinamento da Seleção em Itu (SP)

A

o p e r á r i A futebol

t r A b A l h A

por RodRigo CaRdoso

fotos daniel kfouRi

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futebol igualdade

Com disCrição, muito esforço e litros de suor, a jogadora de futebol formiga Caminha para fazer história na olimpíada do rio de janeiro, em 2016, quando deverá se tornar a úniCa brasileira a Competir em seis edições dos jogos

Miraíldes Maciel Mota. É esse o nome – e

não Marta Vieira da Silva, eleita cinco vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa – da atleta mais cultuada da história do futebol feminino brasileiro. Ela não enverga nas costas a camisa 10 própria de craques como a colega de Seleção. Nem mesmo o peculiar apelido, Formiga, com o qual fez carreira de chuteiras, a tornou suficientemente popular para aproximá-la do grande público. É que Miraíldes escolheu ser uma jogadora do tipo que trabalha quieta, de forma incansável, sem se chatear com o brilho que recai sobre essa ou aquela rainha dos gramados. Mas o apelido que a acompanha desde a fase pueril, por causa da baixa estatura, não poderia cair melhor. Formiga é a operária da Seleção Brasileira, o motor do time ainda hoje, aos 37 anos, vinte e um depois de ter feito a estreia com a amarelinha.

Uma senhora jogadora, de talento, disposição e currículo muito maior do que seu 1,60 m.

Poucos imaginariam que a mirrada soteropolitana, nascida em um subúrbio de Salvador (BA) conhecido como Lobato, rodaria o mundo e se tornaria a única jogadora de futebol da história a ter participado de cinco Olimpíadas. Ou seja: de todas desde que a modalidade passou a fazer parte do cronograma olímpico, em Atlanta-1996. Vinte anos depois de sua estreia nos Jogos, Formiga caminha para fazer história na Olimpíada do Rio, quando deverá se tornar a única brasileira a competir em seis Jogos Olímpicos, superando Fofão, do vôlei, e Jaqueline Mourão, do mountain bike, ambas com cinco participações. “Vou me despedir da Seleção depois da Olimpíada”, anuncia. “Nunca poderia imaginar que iria me retirar em um evento como esse,

realizado no Brasil.”

Formiga é remanescente de uma época em que o futebol feminino no Brasil não contava com a chancela do profissionalismo. O amadorismo e a discriminação em torno da mulher que pratica o futebol, porém, ainda são latentes em muitos centros. Chegou à Seleção em 1995, quando, aos 17 anos, disputou sua primeira de cinco Copas do Mundo. Na ativa, treina com o time permanente que, desde janeiro, se prepara para o Mundial, em junho no Canadá. Fu, como é chamada pelas amigas, é titular, líder da equipe e só não veste a tradicional camisa 8 porque uma justa homenagem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a fez trocar pela de número 20, em comemoração às duas décadas de serviços prestados à Seleção.

“Fui homenageada em um amistoso, mas fiquei sem graça”, afirma ela, evidenciando uma humildade poucas vezes vista em jogadores de futebol. “Ser atleta da Seleção durante 20 anos é um feito extraordinário.

Ser titular nestes 20 anos é uma marca histórica que deve ser valorizada”, diz Oswaldo Alvarez, o Vadão, técnico do time brasileiro.

Formiga, no entanto, acha que não é hora para esse tipo de coisa. “Talvez, quando eu parar, lá na frente, a ficha do que representa essa homenagem e o que eu representei para o esporte caiam”, diz. “Como estou em atividade, essas coisas são como uma partida de futebol, normal para mim.” Anormal, por outro lado, é descobrir que uma atleta do quilate de Formiga – que tem no currículo duas medalhas de prata olímpicas (Atenas-2004 e Pequim-2008), três em Pan-americanos (duas de ouro e uma de prata) e um vice-campeonato mundial, em 2007, além de títulos estaduais, brasileiros, sul-americano e mundial de clubes – possua

no alto, Miraíldes, a Formiga, abre o característico sorriso. Acima, da esquerda para a direita, acompanhada das jogadoras Maurine, Ester e Cristiane. Ao lado, faz um samba com a mesma Cristiane e a craque Marta durante a Copa do Mundo de 2011 divulgação • Kevin C. Cox (getty)

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futebol

apenas um registro em carteira profissional nesses anos todos de dedicação ao futebol. “Só tive carteira assinada em 1997, quando atuei pelo São Paulo”, diz.

O esporte que ela escolheu praticar (desde criança, arrancava e petecava a cabeça das bonecas, ou saía bicando balde pelo quintal) ainda produz, no Brasil, atletas que só dão as caras nos clubes em jogos oficiais e deixam de treinar para trabalhar em outro ramo de atividade para complementar a renda mensal. O salário médio da jogadora de futebol no Brasil é de cerca de R$ 3 mil. “Muita gente acha que ganhamos dinheiro. Pode me sequestrar que vai passar fome, viu?”, brinca. Formiga recebe cerca de R$ 9 mil da CBF para atuar de forma permanente pela Seleção. Uma ninharia em comparação aos rendimentos de um atleta do sexo masculino que não tem um décimo das glórias da meio-campista do Brasil. Enquanto ela e as outras 26 atletas, remuneradas pela entidade com o mesmo valor, desfrutam de um salário maior, os clubes responsáveis por formar e revelar novos talentos não são valorizados na mesma moeda pela cartolagem que rege o futebol nacional.

E aí ocorre o que Formiga testemunha: “No clube não há salário, é ajuda de custo que recebemos. Eu ganhava pouco e recebia alimentação, moradia, vale transporte para colocar gasolina no carro”, diz ela, que, quando atuava na Suécia, ganhava R$ 12 mil mensais.

A atleta, ciente dessa realidade e da moral que tem para tocar nessa ferida, é atuante também fora dos gramados. Já bateu na porta de gabinete de políticos e autoridades ligadas ao esporte para brigar pelo crescimento do futebol feminino. “Eu sou de cobrar mesmo, não nego”, diz. Certa vez, em Belém (PA), a jogadora costurou com o presidente da federação local e amigos candidatos a cargos de vereador a criação de campeonatos locais. Em Ananindeua (PA), cidade onde mora, convenceu o prefeito a fazer um campeonato feminino em troca de presença em inaugurações de obras da administração municipal.

Formiga sugere, ainda, que os atletas da seleção masculina participem de ações ao lado das jogadoras do feminino. “Isso poderia nos ajudar, dar voz, visibilidade”, afirma. “No nosso País, que é machista, as coisas são mais difíceis para o futebol feminino.” Segundo a atleta, faltam oportunidades de ser realmente ouvida e ter ideias aprovadas. Chega a ser dolorosa a constatação da meio-campista frente a esse cenário. “Se não querem nos ajudar, não adianta a gente lutar muito e ficar dando murro em ponta de faca”, diz. “É acreditar

em Deus que um dia a nossa hora vai chegar.”

A religiosidade é um traço que a jogadora carrega do berço. Formiga perdeu o pai quando tinha 8 meses de vida. A mãe, católica, deixava ela e os outros quatro filhos aos cuidados de vizinhos para trabalhar como operária em uma fábrica de remédios. “Formiga só me deu trabalho com o pé em cima da bola”, conta Celeste Maciel Mota, 64 anos, mãe da jogadora. “Eu chegava em casa e ela não tinha tomado banho ainda. As canelas eram uma lama só.” Formiga jogava futsal em times femininos ao mesmo tempo em que praticava futebol de campo atuando por equipes masculinas. Nos fins de semana, a casa da mãe era frequentada por representantes de times de diferentes bairros, interessados no futebol da então promessa. Aos 13 anos, com o consentimento da mãe, Formiga saiu de casa para morar em uma casa de atletas não tão longe dos parentes.

Foi atrás do sonho, deixando no passado os bicos que fazia para ajudar em casa – carregava compras de supermercado e vendia geladinho – e um certo preconceito dentro da família. Manacés e Esdras, os irmãos, a proibiam de jogar futebol se um deles não estivesse acompanhando as peladas. “Eu apanhava do meu irmão Manacés quando ele me via jogando no meio de meninos”, diz. A justificativa? A garota era muito melhor de bola do que os irmãos, que ganharam fama de perna-de-pau entre os amigos. “Eles ainda me juravam me bater em dobro no outro dia, se eu contasse à mãe que apanhava deles.” Sobre a falta da figura paterna, a atleta conta que, aos 15 anos, bateu um certo desespero perto do Dia dos Pais quando a questionaram sobre o porquê de ela ser a única entre as colegas a não ter pai. Formiga se consultou com um psicólogo por alguns meses.

“Eu culpava o homem lá de cima pela falta do pai e ficava retraída, quieta, não queria papo muito prolongado com ninguém. Conversava com Deus do meu jeito.”

Hoje, a atleta é inquieta, a mais zombeteira da Seleção. Apesar da idade mais avançada em relação às companheiras, a soteropolitana não costuma perder a piada. “Ela sempre foi palhaça. Imitava o Zé Duarte (ex-treinador do Brasil) direitinho”, entrega a ex-camisa 10 da Seleção Sissi, 47 anos, que disputou ao lado dela dois Mundiais e duas Olimpíadas. “A Fu sempre corria pelo time todo. Nunca foi de fazer corpo mole em treino. Os testes dela sempre foram superiores aos de todas.” Na atual Seleção, Formiga se recusa a diminuir a carga de treino, como puxar menos peso ou fazer menos tiros de corrida, por causa da idade. Diz que

BoB thomas (getty) • doug Pensinger (allsPort) • daniel garCia (afP) • Pedro ugarte (afP) • Julian finney (getty)

5 momentos olí m picos

não tem tempo a perder, que descansará bastante quando morrer. “Eu devo estar na ativa até hoje porque nunca levei o futebol muito a sério. Jogo porque gosto de futebol e amo esse dom que Deus me deu.”

O dinheiro que ganhou com o esporte foi repassado para a mãe, investido em negócios aqui e acolá (ela não gosta de expor detalhes do patrimônio), em uma casa em Belém e em um carro. Fora do futebol, gosta de ir ao cinema, visitar familiares, estar entre amigos e viajar. “Viajar é comigo mesmo. No Brasil, já conheço quase tudo e tenho amigo para tudo quanto é canto.” Com as amigas, está programando uma viagem para conhecer Punta Cana, Bora Bora e Cancun. Casar está fora de cogitação, assim como ser mãe. Tem um pé atrás, porque acha difícil encontrar alguém que, de verdade, queira um relacionamento sério.

Formiga comenta com muita naturalidade a corriqueira especulação sobre a homossexualidade no meio do futebol feminino. “Para muitos, mulher que joga bola é mulher macho”, afirma. “Sofremos preconceito de todos os lados no futebol. Imagina, então, para uma jogadora assumir suas preferências? É muito mais complicado do que para os jogadores do masculino. Cada uma deveria se assumir e viver do jeito que quiser, mas não dá para isso acontecer.” A atleta diz estar solteira há dois meses, após um namoro de 5 anos com um rapaz. “Eu nunca tive relacionamentos com mulheres. Mas se eu quiser ser (homossexual), ninguém que me fará mudar, porque tenho uma família que me apoiaria se assim eu decidisse.”

Futebol é a paixão de Formiga desde os tempos de Miraíldes, a menina soteropolitana que fez capoeira, boxe e caratê, soltava pipa e fechava a cara quando ganhava bonecas de presente. Porque sempre gostou de uma bola.

“Quando ela via uma bola, soltava da minha mão e tomava a bola dos outros na rua. Me matava de vergonha”, lembra Celeste, a mãe.

Hoje, ela se orgulha da filha, que virou Formiga, craque de seleção sem vestir a 10 e mulher que faz história no futebol mundial.

1996

2000 2004 2008 2012

um por todos

esgrima

por Paula Rocha foto VíctoR Sokolowicz

por que renzo AgrestA, pAulistAno que chegou à elite dA esgrimA mundiAl, é umA rAridAde entre os poucos prAticAntes desse esporte no BrAsil

Renzo Agresta no Coliseu, em Roma.

Ele treina com a seleção italiana, uma das melhores do mundo

Renzo Agresta é um atleta essencial. Prestes a completar 30 anos, o melhor esgrimista brasileiro é também um dos mais experientes da delegação que buscará resultados inéditos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Na capital carioca, o legítimo paulistano disputará sua quarta competição do tipo (com apenas 19 anos, esteve em Atenas-2004 e participou de todas as Olimpíadas desde então). Está nos ombros, nas mãos e nas pernas dele a responsabilidade de buscar uma aguardada medalha para o País nessa modalidade pouco popular em terras nacionais, mas repleta de tradição no mundo todo. Em 2014, Renzo chegou ao 15º lugar no ranking mundial de esgrima, posição nunca antes conquistada por um brasileiro. Atualmente, ele treina em Roma com a seleção italiana, uma das melhores do mundo, graças a um convênio entre a Confederação Brasileira de Esgrima (CBE) e a Federação Italiana de Esgrima e ao apoio de parceiros e patrocinadores privados, como a Petrobras, o Esporte Clube Pinheiros e a PBT Fencing, marca de artigos esportivos da Hungria que fornece a roupa de competição.

Essa realidade é bem diferente da que Agresta conheceu quando começou a praticar o esporte, aos 12 anos, em 1997, no Club Athletico Paulistano, em São Paulo. “De 1997 a 2005 eu não tive nenhum retorno financeiro com o esporte, e só pude me dedicar à esgrima pela ajuda que recebi da minha família”, diz o octacampeão brasileiro, que já foi eleito oito vezes o melhor atleta da esgrima no País pelo Prêmio Olímpico Brasileiro. “Vejo que de lá para cá a esgrima no Brasil teve uma melhora qualitativa, mas não quantitativa.” E quantidade, no caso de um esporte pouco popular, é realmente importante. O número de competições e de

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esgrima igualdade

atletas brasileiros permanece o mesmo, o que diminui as chances de encontrar novos talentos, muito embora os atletas de ponta tenham melhorado seus resultados.

Segundo a CBE, apenas 2 mil pessoas praticam esgrima no Brasil. Destas, 500 são atletas inscritos na confederação. “Não existe essa coisa de esgrima ser esporte de elite. Isso é lenda”, diz Ricardo Machado, vice-presidente e coordenador técnico da CBE. “Ela não é popular porque não existe uma política de Estado para o desenvolvimento do esporte nas escolas.” Na Itália, para onde a confederação mandou o talentoso Agresta, todos os colégios públicos oferecem o ensino do esporte. De acordo com Machado, o principal entrave para a maior popularização da esgrima no Brasil é o fato de ela só ser praticada em clubes esportivos e academias privadas. “Esses clubes e academias são, em sua maioria, caros, o que impossibilita o acesso de grande parte da população”, diz. No País todo, somente 20 clubes oferecem aulas de esgrima. Eles estão concentrados em sete locais: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Recife e Distrito Federal. O treinador de Renzo Agresta e da seleção brasileira de esgrima, o russo Alkhas Lakerbai, possui uma academia em São Paulo, cuja mensalidade gira em torno de R$ 280. Ele diz acreditar, no entanto, que a baixa procura pelo esporte se deve à exposição diminuta da modalidade. “A esgrima não aparece na tevê, por isso as empresas não se interessam em patrocinar”, diz.

“Antes da escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, a esgrima não tinha nenhum patrocinador.”

A esgrima brasileira vive um paradoxo. De um lado, passa por seu melhor momento, atraindo investimentos inéditos e assistindo ao bom desempenho de alguns de seus atletas de ponta. De outro, encara os reflexos de uma crise gerada pela necessidade de devolver R$ 850 mil ao Ministério do Esporte, notícia que causou revolta entre os esgrimistas. Faltando pouco mais de um ano para os Jogos Olímpicos de 2016, a atleta Élora Pattaro, de 29 anos, integrante da seleção brasileira de esgrima, decidiu abandonar a equipe em razão da suposta falta de apoio da CBE. Em um desabafo postado em forma de vídeo nas redes sociais, Élora, primeira brasileira a conquistar uma medalha da modalidade em um campeonato mundial, criticou o que chamou de falta de transparência nas contas da confederação e chegou a dizer que sentia vergonha de competir pelo Brasil. A gota d’água que determinou a saída da seleção foi o fato da CBE ter devolvido ao Ministério do Esporte, em 64

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fevereiro de 2015, quase 70% de uma verba de R$ 1,1 milhão que havia sido aprovada para custear participações de esgrimistas brasileiros em competições internacionais, além de estágios.

O patrocínio da Petrobras à CBE começou em 2012.

O montante repassado anualmente pela companhia chega a R$ 2,3 milhões, que, segundo a confederação, são distribuídos entre comissões técnicas, atletas e o custeio de participações em competições internacionais. A entidade recebe ainda R$ 1,9 milhão por meio da Lei Agnelo/Piva. Em 2014, também teve o aporte dos agora agora famosos R$ 1,1 milhão do Ministério do Esporte, dos quais R$ 850 mil foram devolvidos, por iniciativa da própria CBE, garante o vice-presidente Machado. “Temos um planejamento bastante rígido e, infelizmente, parte da verba que havíamos conseguido do Ministério do Esporte não foi liberada a tempo de cumprimos nosso projeto”, diz. “Por isso, decidimos devolver essa quantia.” A notícia da devolução do dinheiro levou a Associação Brasileira de Esgrimistas (ABE), formada por 80 atletas, incluindo Agresta, a enviar um documento à CBE cobrando mais transparência nas contas. “Os atletas em geral não ficam sabendo como o dinheiro da CBE é investido”, diz Maju Herklotz, ex-esgrimista e diretora da ABE. “E não me parece que a confederação esteja preocupada em deixar isso claro para a gente.”

Maju também critica o fato da CBE investir quase a totalidade de seus recursos nos atletas de alto nível.

“Pode não ser uma obrigação investir na base, mas deveria ser uma escolha visando o futuro da esgrima no Brasil”, diz. Segundo a dirigente da ABE, a torcida dos jogos de esgrima é formada basicamente por parentes dos atletas. “É uma pena, porque é um esporte muito bonito, um combate que não precisa de força, mas sim de lógica e agilidade.” A CBE se defende com o argumento de que não dispõe de recursos para desenvolver o esporte de base. A entidade afirma que o dinheiro que recebe é “carimbado”, ou seja, tem um fim específico, que é auxiliar os atletas de ponta. “Adoraríamos poder investir mais na base, mas isso ainda não é possível”, diz Machado. De acordo com o vice-presidente da confederação, atualmente apenas 12 atletas são contemplados com o patrocínio da Petrobras, enquanto o ideal seria que esse número chegasse a pelo menos 24 - quatro atletas por arma e gênero. “Não tem mágica.

Nosso recurso é finito e limitado.”

Renzo Agresta é o único atleta que recebe 100% de apoio da CBE. “Pessoalmente, tenho um bom su-

Renzo é o único brasileiro a receber 100% de apoio da Confederação. “Medalhas geram verba”, diz

porte, mas entendo que muitos atletas não têm a ajuda que acreditam merecer”, diz. Ao mesmo tempo, o esgrimista brasileiro diz que o esporte é muito “meritocrático”. Quem consegue bons resultados acaba recebendo mais investimentos.

“Medalhas geram verba para a CBE e, por isso, os atletas que têm melhores resultados devem receber mais”, afirma. Em fevereiro de 2015, Agresta se tornou o primeiro esgrimista brasileiro a receber a Bolsa Pódio, auxílio financeiro cedido pelo Ministério do Esporte a atletas com chance de disputar medalha nos Jogos Olímpicos ou Paraolímpicos de 2016. Segundo o ME, o esgrimista foi agraciado por ter conseguido se posicionar entre os vinte melhores do ranking mundial, no ano passado, e pelo ótimo desempenho que teve nas últimas temporadas.

Em 2014, ele também conquistou outra marca inédita para o esporte no Brasil ao se tornar bicampeão individual dos Jogos Sul-Americanos.

O atleta ainda tem no currículo três medalhas de bronze em Jogos Pan-americanos, uma no Rio-2007, pelo sabre individual, e duas em Guadalajara-2011, pelo sabre por equipes e pelo florete por equipes. Resultados que podem ser creditados à dedicação total de Agresta ao esporte. Desde a adolescência, ele treina pelo menos cinco vezes por semana e nunca exerceu outra profissão além da esgrima. “Eu e o pai do Renzo fizemos todos os sacrifícios para que ele tivesse o mínimo necessário para poder se dedicar ao esporte. Não foi fácil, mas valeu a pena”, diz Denise Zeglio Agresta, mãe do atleta.

Com a saída de Élora da seleção e quase todas as esperanças de medalha em 2016 depositadas em Renzo, o futuro da esgrima no País é incerto. “Não temos a menor ideia do projeto governamental para a esgrima nos Jogos de 2020. Será que o patrocínio vai continuar? Não sabemos”, afirma o vice-presidente da confederação que, ao mesmo tempo, reconhece que o esporte evolui no País. “Isso é uma prova de que nós temos futuro.” Opinião compartilhada por Agresta, que pede uma política esportiva para expandir o esporte. “Precisamos de mais investimentos em viagens e na contratação de técnicos de alto nível. Precisamos rever como aplicamos a nossa verba caso a gente queira ser, um dia, uma potência na esgrima.”

DE ARMA A ESPORTE Apesar da baixa popularidade no País, a esgrima é um dos esportes mais tradicionais do mundo. Ela migrou do âmbito militar para o esportivo por volta do século XV, na itália e na Alemanha, primeiros países a organizarem associações de praticantes, geralmente da aristocracia. A esgrima chegou ao Brasil quando, em 1810, fundou-se a Academia Real Militar, que incluía a prática das armas. somente na virada do século XX, no entanto, a atividade ganhou caráter civil. Em 1927, foi fundada a CBE, e nove anos depois o Brasil estreava na esgrima nos Jogos olímpicos de Berlim, em 1936.

A modalidade está presente nos Jogos desde a primeira olimpíada da Era Moderna, realizada em 1896. Hoje, é dividida em seis categorias, de acordo com o tipo de arma e o gênero dos atletas: florete masculino e feminino, espada masculina e feminina, sabre masculino e feminino.

Há competições individuais e por equipes. Apesar dos fundamentos das três categorias serem semelhantes, as regras variam conforme a arma: _No florete, pontua quem tocar com a arma apenas o tronco do adversário, incluindo as costas. _Na espada, toda a superfície do corpo do oponente é válida, incluindo tocar na máscara, nos braços e nas pernas. _No sabre, é permitido tocar no tronco, cabeça e braços do adversário, e o toque com a lateral da arma também conta pontos.

paraolímpicos

Por NATHALIA ZIEMKIEWICZ

fotos PEDRO DIAS

A E S C O L H A M A I S D I F Í C I L

Dirceu parou de andar seis meses depois de abandonar a fisioterapia

Para ser autorizado a comPetir, dirceu Pinto, Portador de distrofia muscular, tomou uma decisão chocante: interromPeu a fisioteraPia e, assim, acelerou a PróPria deficiência. agora, é bicamPeão ParaolímPico

Meio-dia em Mogi das Cruzes, grande São Paulo.

As telhas que recobrem o Centro de Paradesporto fazem o suor escorrer pelas têmporas. A partida que se desenrola ali, no silêncio do ginásio, parece tão parada quanto o ar quente. Dirceu Pinto está em sua cadeira de rodas e balança o braço direito como um pêndulo antes do lançamento. É um dos poucos movimentos que consegue executar sem ajuda de terceiros. À primeira vista, a bocha adaptada é um esporte incrivelmente tedioso. Ele próprio, anos atrás, tivera a mesma impressão da modalidade: “Que coisa chata esse povo jogando bolinha”. Mas essas treze bolinhas de couro, com cerca de 300 gramas cada, mudariam para sempre a sua vida.

Filho de um caseiro e de uma empregada doméstica, Dirceu tinha dez anos quando a família se mudou para trabalhar em um sítio na cidade. Todos os dias caminhava uma hora de casa para a escola. Começou a se queixar de fortes dores nas pernas, mas os pais concluíram que era apenas cansaço. Logo seu corpo haveria de se acostumar ao esforço físico. E porque meses se passaram, mas a dor não, a mãe desconfiou que alguma coisa estava errada e levou o menino ao médico. “Distrofia muscular”, ouviu do doutor, sem a menor noção do que o diagnóstico significava. Descobriu que a doença “de nascença” atingiria os músculos do filho de forma progressiva, que a fraqueza aumentaria com o passar do tempo até que o tornasse totalmente dependente.

Naquela época, ainda não sabiam que, entre os 32 tipos de distrofia existentes, Dirceu sofria da “muscular de cinturas (pélvica e escapular)”. Ou seja, definharia especialmente na coxa, no abdômen e no bíceps. Diante da impossibilidade de cura, a família e o médico optaram por preservar a criança da gravidade da notícia. “Todo mundo escondeu de mim o que realmente ia acontecer”, afirma Dirceu, hoje, aos 34 anos. Parte do tratamento para retardar o desaparecimento da musculatura consistia em praticar natação e hidroterapia. O garoto não só ado-

rava os exercícios na água, mas queria ser como Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa, atletas que admirava pela televisão. Botou na cabeça que treinaria para um dia representar o Brasil nos Jogos Olímpicos.

Dirceu se inscrevia em pequenas competições pela academia, mas não tinha um bom rendimento. “O tempo dos outros atletas melhorava, o corpo deles se desenvolvia normalmente”, lembra. “Eu me dedicava muito mais e só regredia.” Então a professora, vendo a frustração do aluno, contou toda a verdade e lhe apresentou a natação paraolímpica. Ele nadava com amputados e continuava sem resultados expressivos. Afogou a veia competitiva: desistiu do esporte. Daria apenas algumas braçadas com finalidade fisioterápica. Aos 17 anos, já andava com dificuldade, temendo sair de casa para cair no meio da rua – o que de fato acontecia. Os amigos insistiam para que usasse uma cadeira de rodas. Assim poderia acompanhá-los nos passeios típicos da adolescência. Dirceu recusava, horrorizado com a ideia de ser carregado para lá e para cá por outras pessoas.

Além da escola e do tratamento, sua única atividade era soltar pipa na laje. O isolamento social, característica presente na rotina de muitos deficientes físicos, foi lhe deixando deprimido e revoltado. Culpava os pais e o mundo pela doença. Certo dia, na clínica de fisioterapia, foi convidado pelo professor de educação física Ronaldo de Oliveira para assistir ao treino de uma nova modalidade que ele acabara de implantar. Nunca ouvira falar em bocha adaptada, desconhecia as regras e achava “ridículo aquele cara com baldinho na mão”. Para Dirceu, aquilo era perda de tempo. Deu-se por convencido, até para não soar mal educado, e sentou na cadeira de rodas para lançar as tais bolinhas. “Foi paixão”, diz sobre o episódio no Clube Náutico Mogiano. “Quando soube que era um esporte paraolímpico, renasceu aquele antigo sonho.”

A bocha não só botou a autoestima de pé numa fase de tão frágeis perspectivas. Ela mostrou que a força interior evoluiria de forma inversamente proporcional à força física. Isso porque, assim como no xadrez, a modalidade requer concentração e raciocínio estrategista.

Se o tempo é algoz para o corpo que definha, é também aliado da mente cada vez mais experiente para jogar.

Havia, então, algo de bom num futuro cujas previsões eram exclusivamente terríveis. Dirceu não treinava para brincar e ocupar as tardes antes ociosas. Três meses depois de lançar a primeira bolinha, participou de um torneio regional no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.

Talvez mais valiosas do que as duas medalhas de ouro conquistadas foram os passeios pela Cidade Maravilhosa, a ida ao clássico Fla X Flu, a interação com outros atletas e companheiros de viagem. Enfim, ele estava levando a vida “normal” que sempre quis.

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paraolímpicos

Entre 2002 e 2005, Dirceu disputou dezenas de competições com a bocha adaptada, acumulando diversas vitórias. Estaduais, brasileiros e um Pan-americano em Mar Del Plata, na Argentina. No último ano desse período, foi chamado para uma “reclassificação”.

O procedimento serve para que uma banca (médicos, fisioterapeutas, professores de educação física) avalie se o atleta está “elegível” ou “inelegível” para praticar a modalidade paraolímpica. No caso dele, na categoria BC4 (leia o quadro). Os especialistas concluíram que Dirceu tinha força demais e, portanto, seus adversários estavam em desvantagem – decisão que contesta ainda hoje. Considerado inelegível, ele foi impedido de participar de qualquer torneio dentro ou fora do País.

O bloqueio valeria por dois anos.

Voltou para casa destroçado, ficou seis meses abatido tentando entender o que faria dali para frente. Depois de estudar muito sobre a distrofia, tomou uma decisão chocante: parar o tratamento até 2007 e acelerar o enfraquecimento dos músculos. Só assim estaria apto para o esporte em nível competitivo. “Descobri que eu andaria com extrema dificuldade até, no máximo, meus 35 anos”, diz. “De que valeria preservar a minha musculatura se eu não estaria feliz e me sentindo útil nessa idade? Preferi usar logo uma cadeira de rodas, realizar meu sonho, ter uma história de vida para contar.” Ciente de que ninguém apoiaria seus planos, resolveu guardar segredo. Foi enrolando a família, faltando aos poucos nas sessões de fisioterapia. Dizia que estava estudando a Bíblia porque queria ser teólogo – e ele é mesmo muito religioso.

Quando começaram a perceber suas reais intenções, já era tarde. Em seis meses, não estava mais andando.

Se o colocassem de pé, caía no chão. Antes conseguia caminhar a passos pequenos, escorado em alguém.

Sentava na cadeira de rodas apenas para treinar e competir. Agora não tinha jeito: seria refém dela e estava alegre com isso. Dirceu pensava: “Está dando certo.”

A família chorava, preocupada com a saúde mental do atleta. Um médico sugeriu que o proibissem de jogar por causa das fortes emoções – o coração, também um músculo, corria o risco de não aguentar. “Fizeram de tudo para que eu desistisse”, diz. “Mas eu não ia voltar atrás na decisão.” Os braços que conseguia estender ao alto da cabeça hoje não passam da altura da cintura – ao longo desta entrevista, pede que o irmão Alcides erga sua mão até os olhos para secá-los com um lenço.

A estratégia de ficar dois anos parado, embora questionável, o levou para uma nova banca de reclassificação em 2007. Nitidamente mais fraco, Dirceu foi tido como elegível. Sua meta eram Jogos Paraolímpicos de 68

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AS REGRAS Do joGo A BoChA ADAPTADA DIVIDE oS ATlETAS EM QuATRo CATEGoRIAS: BC1 Tetraplegia espástica severa, com pouca amplitude e

força funcional em todos os movimentos nas extremidades e no tronco. Precisam de ajuda para pegar a bola ou mexer a cadeira de rodas.

BC2 Tetraplegia moderada, usam a cadeira de rodas, mas não precisam da assistência de terceiros.

BC3 Maior índice de comprometimento motor, precisam

que uma pessoa atue como “calheiro”, direcionando a calha de acordo com a vontade do jogador. Só assim ele consegue lançar a bola na quadra (às vezes, com auxílio de um ponteiro na cabeça). É o caso de paralisia cerebral severa.

BC4 Diplegia de moderada a severa, com limitações no

tronco e pouca força funcional nos quatro membros. Têm controle mínimo nas extremidades das mãos e não recebem ajuda de terceiros. o jogo acontece na “cancha”, uma quadra com 12,5 m por 6 m. São treze bolinhas de couro pesando cerca de 300 gramas – seis vermelhas, seis azuis e uma branca. um sorteio define com que cor ficará cada jogador. A bola branca, ou “mestra”, é lançada primeiro. Em seguida, alternam-se os lançamentos entre os dois jogadores (ou duplas). De acordo com a categoria da bocha, há um tempo específico para executar a jogada. Basicamente, pontua quem conseguir aproximar o maior número de bolinhas da bola branca. Entre duas bolinhas adversárias, ganha aquela que estiver na menor distância da bola branca. São quatro parciais e, se houver empate de pontos, vai para o tiebreak. Existem uma série de estratégias para tirar a bola do adversário e evitar que ele consiga se aproximar da bola branca. na classe BC3, o calheiro deve ficar de costas para o jogo, obedecendo apenas os sinais do jogador para posicionar a calha de acordo com sua vontade.

Pequim, no ano seguinte. Somou aos treinos no clube uma rotina incessante na garagem de casa. Como não havia quem lhe trouxesse as bolinhas depois de lançadas, inventou de amarrá-las com um fio de anzol para poder recolhê-las e recomeçar as partidas. Finalmente foi convocado pela seleção brasileira ao lado de Eliseu dos Santos. Os dois atletas seriam os primeiros brasileiros na história da bocha adaptada a representar o Brasil numa Paraolimpíada. Dirceu aterrissou na China como o último colocado no ranking mundial.

Nem na mais delirante das fantasias podia esperar por uma medalha. Ganhou um ouro na disputa individual e outro por duplas, com Eliseu. “Somos muito entrosados

“ENQUANTO ESTIVER

VIVO, A ÚNICA COISA QUE ME IMPORTA É JOGAR”

e nos complementamos”, diz. “Eu sou bom de precisão e ele, de bola aérea.” Mogi das Cruzes parou para receber o campeão paraolímpico. “Eu não estava acreditando naquela festa.” Mas o reconhecimento demorou a chegar em forma de dinheiro. Em 2010, foi contratado pela prefeitura como coordenador do Centro de Paradesporto, que abriga diversas modalidade para atletas com deficiência. Lá ele também toca um projeto social com 248 cadeirantes praticantes de bocha adaptada. Graças ao salário como funcionário público, pôde investir em sua própria fábrica de bolinhas para vendê-las a preços bem mais acessíveis que os kits geralmente importados. Os patrocínios só vieram após a participação na Paraolimpíadas de Londres, quando Dirceu repetiu a dobradinha como campeão individual e por duplas.

Hoje, recebe o bolsa-pódio e tem apoio do time São Paulo Paraolímpico, da Nissan e da Caixa Econômica Federal. Solteiro e sem filhos, mora numa casa com os pais e tirou o irmão cozinheiro do emprego para ser seu braço direito. Ele teme o dia em que não puder mais mover o braço para lançar a bolinha na quadra? “Alguns atletas negam a realidade e não gostam de falar disso”, reflete sem nenhum pudor. “Eu não ligo se for para a BC3.”

Nesta categoria, em geral praticada por quem sofre de paralisia cerebral ou possui alto comprometimento motor, é permitido o uso de calhas e até uma espécie de capacete com ponteiro porque os atletas às vezes só conseguem mexer alguns dedos ou somente o pescoço. “Enquanto estiver vivo, a única coisa que me importa é jogar.”

A ClASSE BC3 E o AMoR DAS MÃES “CAlhEIRAS” No ginásio da AACD em São Paulo, Walda nogueira ajeita a cadeira de rodas do filho Marcos, um adolescente de 17 anos com paralisia cerebral. Senta-se ao lado dele, de costas para a quadra, na área delimitada para cada jogador. Quatro anos atrás, ela não entendia nada de bocha adaptada, prescrita para melhorar a concentração dele na escola. nem ela nem as outras mães ali presentes. Marcos tem um alto comprometimento motor. não fala, mas entende tudo. Walda fica atenta aos sinais sutis que ele emite com o olhar ou com a cabeça (esquerda, direita) para posicionar a calha de acordo com a estratégia do garoto. não pode opinar em nada. Ele é quem tem que empurrar a bola com o ponteiro preso à cabeça, movendo com muita dificuldade seu pescoço, o que pode levar quase um minuto. logo se debate mostrando empolgação com a jogada. “Ele provoca o adversário”, diz a mãe. “Se entendem do jeito deles.” Ela conta que ele compreende tudo e não joga para brincar. Marcos é competitivo como Dirceu Pinto, adoraria participar de uma paraolimpíada. Ele é um dos 16 alunos da bocha adaptada na AACD, modalidade coordenada pelo professor Gilberto nunes Aparecido. “não é porque você vê um atleta salivando que ele é louco, a maioria tem a inteligência preservada”, afirma. A prática semanal do esporte é uma das poucas atividades que esses meninos e meninas têm – e traz um benefício inimaginável para suas vidas. “A bocha treina a capacidade cognitiva, a coordenação motora e a concentração. Isso para não falar da importância psicossocial de sair de casa e do ócio”, afirma Giba.

entrevista Hoje em dia, Bubka é um executivo do esporte. Foi candidato à presidência do COI e, no momento, comanda a Associação Internacional de Atletismo

“Não sou máquiNa”

Lenda do saLto com vara, o ucraniano serguei BuBka diz que a pressão psicoLógica prejudicou sua carreira

por Yan Boechat, de Kiev

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Serguei Bukba é uma lenda viva do atletismo mundial. Conquistou todas as glórias possíveis, quebrou todos os recordes, venceu tudo que disputou. Foi o primeiro homem na história a ultrapassar a barreira dos 6 metros de altura no salto com vara e mantém o recorde de 6,14 metros há mais de 30 anos. Quem conhece a carreira de Serguei Bubka jamais imaginaria que este ucraniano de 51 anos teve seus momentos de fraqueza nas pistas e que sofreu com a enorme pressão que todos os atletas enfrentam ao competir em alto nível. “Sou humano, não sou máquina”, diz o hoje presidente do Comitê Olímpico Ucraniano ao explicar porque, apesar de ter vencido tudo na carreira, conquistou apenas uma medalha olímpica (ouro em Seul-1988). Nesta entrevista exclusiva concedida à 2016 em Kiev, Bubka revela que a pressão psicológica foi a principal responsável pelo fracasso em três das quatro Olimpíadas que disputou. Candidato derrotado à presidência do Comitê Olímpico Internacional, Bubka agora concorre à presidência da Associação Internacional de Atletismo. Integrante do Comitê Organizador Rio-2016, assegura não estar apreensivo com os Jogos. “Será uma grande Olimpíada”, diz.

“O espírito brasileiro vai criar uma atmosfera especial.” _estamos a pouco mais de um ano da abertura dos jogos do rio e ainda há muito a ser feito. o que o senhor espera da olimpíada carioca? _Pela primeira vez na história a Olimpíada ocorrerá na América do Sul. Isso é muito importante. Sou membro da Comissão de preparação e estive no Rio em fevereiro. Vi muito progresso nessa última visita. É claro que não temos tempo a perder. Serão grandes Jogos.

O espírito brasileiro vai criar uma atmosfera muito especial. _o senhor votou para que o rio fosse sede dos jogos? _Esse tipo de pergunta eu nunca respondo. Eu apenas sei que foi uma escolha fantástica.

Não considero que seja justo responder a essa questão. Se você puder eliminar essa pergunta, seria melhor. _o que o senhor espera da olimpíada no rio? _Será uma grande Olimpíada, tenho certeza. Ela deixará um legado muito importante de instalações, de infraestrutura e até para o meio-ambiente. Isso é muito importante de se destacar.

Os Jogos Olímpicos sempre trazem impactos positivos, sempre colaboram para unir o País, ajudam a colocar novos patamares para o desenvolvimento.

entrevista

_muita gente diz que o custo disso tudo é alto demais. _Quando você investe em um novo aeroporto, em estradas, tudo isso fica para o País. Os Jogos aceleram o desenvolvimento que demoraria 30 anos para acontecer. Eu vi no Parque Olímpico do Rio um grande legado. Ali, após os Jogos, quatro escolas serão construídas. Isso é algo único. _durante a organização da copa do mundo, tivemos uma série de casos de obras superfaturadas e mal planejadas, além de repetidas acusações de desvio de recursos públicos. Há uma preocupação do comitê olímpico internacional para que isso não aconteça na rio-2016? _Nós focamos e colocamos toda nossa energia na preparação dos Jogos, em como podemos ajudar, o que podemos fazer juntos. Afinal de contas, o COI e o país sede são um time, com um objetivo comum. Não queremos que os valores olímpicos se misturem com essa questão. Isso é algo que não queremos de forma alguma. _Há alguns anos, o atletismo era um esporte popular, com muitos ídolos, mas a realidade é bem diferente hoje em dia. o que aconteceu? _O mundo está mudando todos dos dias e a competição entre esportes é muito mais forte do que era há 30 anos.

Nós precisamos fazer mudanças, trazer novas ideias, ampliar nossa visibilidade. Como vamos apresentar o atletismo ao público para que ele seja visível, excitante, para que atraia atenção? Precisamos de competições nas praças, nas ruas, nos shopping centers, em locais em que estejamos próximos do público. O atletismo tem que ser um show, unir o esporte à música, ao espetáculo. _o senhor acredita que a atual guerra que divide a ucrânia vai de alguma forma afetar o resultado do país nos jogos do rio? _Nós estamos tentando manter tudo o que é necessário para que eles consigam se preparar da melhor forma possível. Se olharmos agora, por exemplo, classificamos 209 atletas para os Jogos Europeus, que ocorrem em junho em Baku, no Azerbaijão. Estamos conseguindo manter um bom nível até agora. _qual será o tamanho da delegação ucraniana na olimpíada do rio? _Normalmente nós enviamos cerca de 230 atletas para os 28

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Jogos Olímpicos. Essa tem sido a nossa média nas últimas edições e acredito que devemos mantê-la no Rio. _quantas medalhas o senhor acredita que trará do Brasil? _Como dirigente, jamais coloquei qualquer tipo de meta em relação a medalhas. Eu nunca disse a um atleta: “Você tem que nos trazer uma medalha, você precisa ser um campeão”. Sei como é difícil ser cobrado por resultados. Meu papel é fornecer a eles as melhores condições, os melhores locais para a preparação. Todos querem ganhar e meu papel é apenas desejar que possam se apresentar bem, dar o melhor. Se ganharem uma medalha, ótimo. Mas, para mim, eles já são heróis apenas por se qualificarem para os Jogos Olímpicos. _o senhor ganhou tudo. Foi várias vezes campeão mundial, bateu 35 recordes mundiais. mas só ganhou uma medalha olímpica. olhando para trás, consegue entender o que aconteceu? _É exatamente a isso que me refiro quando falo sobre pressão psicológica. A pressão de ter que ir lá e vencer a todo custo. Uma hora ela transborda. _o senhor sentiu isso nos jogos olímpicos de que participou? _Mas é claro. Eu queria tanto vencer, queria tanto aquelas medalhas, queria tanto quebrar o recorde mundial... Mas, no final, isso foi ruim pra mim, me fez mal. É preciso ter controle emocional. E então vem essa questão: quebrei tantos recordes, fui tantas vezes campeão mundial e ganhei apenas uma medalha olímpica. A resposta é que sou humano, não sou máquina. Eu posso ganhar, mas posso perder também. É claro que em todas aquelas vezes eu queria muito ganhar, mas fiz algo errado, coloquei muita pressão psicológica. A vida é assim. _o senhor mantém o recorde mundial de salto com vara em provas ao ar livre há 31 anos. o segundo homem a pular mais alto no mundo ainda hoje está nove centímetros abaixo de sua marca de 6,14 metros. o que há de tão especial na maneira como o senhor saltava para atingir esses resultados? _Quando alguém olha para a minha trajetória, com todas as conquistas, chega à conclusão de que foi uma grande carreira. Mas, ao mesmo tempo, não percebe como é duro seguir um caminho como esse. Houve um trabalho imenso para conquistar esses resultados. Eu comecei quando AgênCIA luz/Bm&F BOvespA

tinha 10 anos de idade. Com 12, já estava controlando a alimentação, fazendo dieta, lutando para me manter magro. Eu queria ser campeão desde aquela época.

Era uma motivação pessoal. Tive um treinador que me ensinou a técnica e eu busquei implementá-la. É preciso ser profissional para alcançar resultados. É preciso se empenhar, trabalhar duro. Sempre fui assim. _o senhor quebrou o recorde mundial 35 vezes. em boa parte deles, o avanço sempre foi centímetro a centímetro. Há uma lenda de que fazia isso para receber prêmios do governo soviético. É verdade? _Não, eram meus limites. Eu não fui pago pelos recordes que conquistei na época soviética. Depois de atingir os 6 metros, não há outra maneira. É centímetro a centímetro. Antes dos 6 metros, ok, é possível tentar subir dois, quatro, até cinco centímetros. Mas depois dos seis, não há como. Eu acreditava que conseguiria encerrar a carreira com 6,20 metros. E acho que, em alguns momentos, tive potencial para isso, mas nem sempre o tempo ajudava. Você está pronto, se sentindo no melhor dia de sua vida e pega um vento de frente. Pronto, acabou, não há chance. _quando batia um recorde, por que o senhor não tentava ir mais um centímetro no mesmo dia, não tentava melhorar a marca que tinha acabado de bater? _Para mim, era impossível. Após conseguir quebrar uma marca, eu estava acabado psicologicamente, vazio. Não era por dinheiro. _o senhor acompanha Fabiana murer e thiago Braz, os principais saltadores brasileiros? _Claro, e de perto. Eles são treinados por Vitaly Petrov, meu antigo técnico. São bons atletas e tenho visto o desenvolvimento deles ao longo dos anos. Vitaly os tem ajudado muito. E me lembro de Thiago ainda garotinho, quando ele ganhou a medalha de bronze nos Jogos da Juventude em Cingapura. Se você olhasse os movimentos dele naquele momento, já era possível ver Petrov trabalhando. Hoje em dia, o estilo dele é muito parecido com o meu. Quem olha para o Thiago saltando vê Serguei Bukba pulando. A mesma maneira de correr, o mesmo jeito de se movimentar. Ele faz tudo como eu fazia.

“Quem olha para o Thiago salTando vê serguei BukBa pulando. a mesma maneira de correr, o mesmo jeiTo de se movimenTar.

ele faz Tudo como eu fazia”

_estamos vendo novamente um crescimento de casos de doping. esse é o maior problema do atletismo? É possível fiscalizar os atletas de forma eficiente? _Isso não é novo e esse é um problema sério não apenas no atletismo, mas em todos os esportes. Por isso eu concordo com as palavras do ex-presidente do COI, Jacques Rogge, quando ele diz que o doping é a maior ameaça ao esporte no século 21. Precisamos reforçar nossa capacidade de educar os atletas e treinadores, além de punir severamente quem desrespeita as regras. _quando era atleta, o senhor viu de perto colegas ou treinadores se envolvendo com o doping? _Não. Na verdade, você nunca sabe até alguém ser pego.

E então você descobre que aquela pessoa estava agindo de má fé o tempo todo _em algum momento o senhor foi convidado ou pressionado a se dopar? _Nunca. Vitaly sempre foi muito honesto e tinha uma posição forte sobre isso. Ele dizia: “Nós vamos pelo jeito certo, pode ser mais difícil, mas não usaremos substância proibida.” Nós treinávamos cinco, seis horas por dia. Foi duro, mas sou orgulhoso de ter trilhado esse caminho.

Em busca da vaga

Levantamento detaLhado feito peLa 2016 expLica os critérios de escoLha dos atLetas brasiLeiros que participarão dos Jogos oLímpicos do rio de Janeiro, mostra quantas vagas o país Já tem garantidas e proJeta os cenários das disputas internas

Recebendo uma olimpíada pela pRimeiRa vez,

o Brasil já sabe que terá delegação recorde nos Jogos do Rio. Só os 331 convites dados ao país-sede tornam o grupo brasileiro de 2016 maior do que aquele que foi a Londres, em 2012, com 259 atletas. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) trabalha com a meta de que sejam 400 brasileiros no Rio de Janeiro, mas essa lista tende a ser maior.

Só no atletismo, o número de credenciais chegou a 37 após o Troféu Brasil, em maio. A tendência é que a natação também classifique todos os seus revezamentos pelo Mundial de Kazan (Rússia).

Em diversas modalidades, o convite é condicional. Depende do Brasil apresentar nível técnico mínimo ou participar de Mundiais neste ano pré-olímpico. Por enquanto, só o hóquei sobre a grama não atingiu o patamar exigido.

No feminino, o COB já desistiu de ter equipe no Rio. No masculino, a seleção precisa ficar entre as seis primeiras dos Jogos Pan-Americanos.

Na maioria dos esportes, o convite só será usado se o Brasil não conseguir a classificação pelos critérios universais – aqueles que valem para todos. Em outras modalidades, como o boxe, os donos da casa têm um mínimo de credenciais garantidas e podem ir somando novas conquistas.

Com a vaga garantida, caberá às confederações indicar os atletas que participarão dos Jogos. Posição em ranking mundial, resultado em eventos seletivos ou mesmo critérios técnicos subjetivos, dependendo da particularidade de cada esporte, serão utilizados.

Nas próximas páginas, a 2016 mostra um levantamento detalhado das regras para obtenção de vagas acessíveis ao Brasil, explica a real possibilidade de os brasileiros aumentarem a delegação no Rio e esmiúça os critérios que serão utilizados por cada uma das confederações olímpicas nacionais.

O jovem Matheus Santana, uma das apostas de medalha nas piscinas em 2016.

Equipe brasileira de natação deve ter entre 25 e 30 atletas

ESPORTES COLETIVOS

EquIPES COmPLETaS

Nas modalidades coletivas, as confederações internacionais e o Comitê Olímpico Internacional (COI) costumam garantir a presença da equipe da casa por meio de convite.

A Federação Internacional de Basquete (FIBA) reservou uma vaga ao Brasil nas chaves masculina e feminina, mas colocou um asterisco, afirmando que a decisão final será anunciada em 30 de junho.

A entidade não disse com todas as letras, mas cobra que a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) deposite o valor referente à “doação” oferecida pelo Brasil para receber convite para o Mundial Masculino do ano passado. O comitê executivo da FIBA vai tomar a decisão na sua próxima reunião, entre 18 e 19 de junho.

Na história recente dos Jogos, só uma vez um País não foi convidado para uma competição coletiva. Em 2004, a Grécia recorreu à Corte Arbitral do Esporte para ter um time no hóquei sobre a grama e saiu parcialmente vitoriosa. Precisava apenas ganhar do último colocado do Pré-Olímpico. Perdeu da Nova Zelândia e não conseguiu a vaga.

Agora é o Brasil que corre o risco de ficar fora do hóquei sobre a grama nos Jogos do Rio. O COI e a federação internacional da modalidade ofereceram convite, mas exigindo um nível técnico mínimo. No feminino, precisava fechar 2014 entre os 40 melhores do ranking ou ser top 7 dos Jogos Pan-Americanos. Não conseguiu a primeira meta e nem sequer se classificou para ir a Toronto.

No masculino, o time também não passou a linha de corte (ser top 30 do ranking), mas obteve a vaga para ir ao Canadá. A seleção só jogou o Pan em 2007, como convidada, e foi goleada em todas as vezes que entrou em campo.

O convite vai permitir ao Brasil voltar ao polo aquático masculino depois de 32 anos (a última participação foi em Los Angeles-1984) e estrear no feminino. O rúgbi sevens estreia nos Jogos Olímpicos, mas, se não fosse o convite, o Brasil só teria condições de se classificar entre as mulheres.

Só os esportes coletivos vão proporcionar ao Brasil 138 credenciais.

Outras 40 (do hóquei sobre a grama e do basquete) ainda precisam ser confirmadas. O basquete, se não receber convite, poderá obter a vaga na quadra. A FIBA, porém, não detalhou os critérios.

em alguns esportes, o coi já garantiu ao brasil o número máximo de vagas. Resta às confederações apontar os atletas escolhidos para ir à olimpíada

FuTEBOL 18 homens e 18 mulheres HANdEBOL 14 homens e 14 mulheres HóquEI SOBRE A GRAMA 16 homens (condicional) BASquETE 12 homens e 12 mulheres (condicional) RúGBI SEvENS 12 homens e 12 mulheres vôLEI 12 homens e 12 mulheres POLO AquáTICO 13 homens e 13 mulheres

> Tiro com arco 3 homens e 3 mulheres / A CBTArco ainda não decidiu os critérios

para distribuir as seis credenciais. A entidade afirma que existe a possibilidade de realização de uma seletiva, sem explicar os moldes. “Nada está descartado”. Marcus vinicius d’Almeida foi vice-campeão mundial no ano passado e é nome certo nos Jogos.

> canoagem Slalom 4 homens e 1 mulher / A CBCa prevê para março, já no Canal Olímpico, uma seletiva da qual participarão os melhores do País. Serão convocados, a partir de critérios técnicos, atletas que tenham ficado entre os três primeiros da seletiva em cada uma das quatro provas olímpicas.

A confederação admite que Ana Sátila (C1) e Charles Corrêa/Anderson Oliveira (C2) dificilmente ficarão fora da Olimpíada. Felipe Borges e Pedro Henrique Gonçalves, o Pepê, são os favoritos no C1 e no K1, respectivamente.

> HipiSmo 12 conjuntos / O Brasil foi convidado para ter equipe completa nas quatro disciplinas do hipismo: CCE, saltos e adestramento. A definição das equipes será feita pelos respectivos técnicos, todos estrangeiros, com base em avaliações em clínicas de treinamentos e competições.

Como o esporte é misto, só a convocação vai apontar o número de homens e mulheres.

> judô 7 homens e 7 mulheres / Se em 2012 o Brasil classificou o número

máximo de atletas, para o Rio as 14 vagas já vieram por convite. A CBJ vai utilizar o ranking olímpico da federação internacional para apontar os convocados, mas admite que, em casos extremos (atletas em péssima fase ou voltando de lesão), pode fugir à regra. quem abriu o ano na frente dos rivais locais saiu em vantagem, porque teve a chance de pontuar no Campeonato Pan-Americano e tem a preferência pela convocação para o Mundial.

> Vela 8 homens e 7 mulheres / Em cinco classes, os atletas já estão

convocados: Finn (Jorge Zarif), RS:X Masculina (Bimba) e Feminina (Patrícia Freitas), 470 Feminina (Fernanda Oliveira e Ana Barbachan) e 49er FX (Martine Grael e Kahena Kunze). Nas demais, o Conselho Técnico da CBvela vai avaliar os resultados de 11 eventos, dos quais sete já realizados, para definir os convocados. Robert Scheidt (Laser) está com um pé e meio na Olimpíada. Na 49er, Lars e Torben Grael não são votantes no Conselho Técnico, porque Marco Grael está na disputa.

Se não houver um vencedor claro em alguma classe, a disputa será na água, na Copa Brasil, em dezembro. Os convocados serão apontados no fim do ano.

> nado Sincronizado 9 mulheres / Apesar de o COI permitir a inscrição de nove atletas no

conjunto e duas no dueto, o limite de credenciais por país é mesmo nove. Luisa Borges e Maria Eduarda (duda) Miccuci formam o dueto olímpico e também precisam estar no conjunto – uma titular, outra FOTO: CAIO GuATELLI

ISTOÉ2016 junhO/julhO 2015

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reserva. A equipe hoje tem Beatriz e Branca Feres, Maria Bruno, Pamela Nogueira, Lara Teixeira, Lorena Molinos, Juliana damico e Maria Clara Coutinho, mas uma delas será cortada, para a entrada de Luisa ou duda.

A seleção permanente tem mais cinco atletas, que correm por fora por um lugar na Olimpíada.

> TêniS de meSa - 3 homens e 3 mulheres / dominante no continente, o Brasil tem tudo para obter na mesa de jogo as duas vagas por naipe para a chave de simples, seja fazendo campeão do Pan de Toronto, de um dos seis torneios do Pré-Olímpico Latino-Americano (o campeão do primeiro dia pega a vaga e sai da disputa, que começa do zero mais cinco vezes) ou pelo ranking mundial. A disputa interna acaba quando dois brasileiros garantirem credencial nominal. Aí, os técnicos da seleção masculina e feminina ainda convocarão mais um atleta cada para jogar apenas por equipes. Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi, Thiago Monteiro e Cazuo Matsumoto (que não vai ao Pan) brigam no masculino. Caroline Kumahara, Lin Gui e Lígia Silva disputam no feminino. > Vôlei de praia 4 homens e 4 mulheres / Como país-sede, o Brasil só tem garantida

hugo Calderano, do tênis de mesa, que deve ter equipe completa no Rio

uma dupla em cada naipe, mas outra vaga virá com tanta facilidade que a CBv já a considerou quando definiu que vai à Olimpíada a dupla de cada naipe que mais somar pontos nas nove principais etapas do Circuito Mundial deste ano, com dois descartes – o Mundial não será considerado. A dupla segunda colocada deste ranking tem preferência para a convocação. Ricardo/Emanuel, Alison/Bruno Schmidt, Larissa/Talita, Juliana/Maria Elisa e ágatha/Bárbara Seixas são os favoritos.

Só POR COnVITE nestas modalidades, os convites só valem se o brasil não obtiver vagas pelos critérios regulares. em todas elas, será muito difícil aumentar o número de credenciais

> BadminTon 1 homem e 1 mulher / Para ter uma segunda vaga em cada chave de simples na sua primeira participação olímpica, o Brasil precisa colocar dois atletas entre os 16 melhores do mundo, hipótese descartada pela CBBd. Como obrigatoriamente o convite é do melhor brasileiro no ranking em 5 de maio, daniel Paiola é favorito no masculino. Fabiana Silva e Lohaynny vicente disputam a credencial feminina. Nas duplas (masculinas, femininas e mistas), é bastante improvável a vaga para o Brasil, uma vez que só vai aos Jogos a melhor parceria do continente.

> golfe 1 homem e 1 mulher / Para ir além das credenciais obtidas por convite, o Brasil precisa colocar dois atletas entre os 60 primeiros de um ranking olímpico complexo. No masculino, Adilson Silva é o 56o, com ampla folga sobre os concorrentes. No feminino, Miriam Nagl (alemã que recentemente optou pela cidadania brasileira) está na zona de classificação, mas até a Olimpíada terá descartados os pontos anteriores a julho de 2014. depois disso, ela se afastou para ter bebê. Na prática, está praticamente zerada. Luciane Lee se profissionalizou este ano e já encostou na briga.

A convocação dos melhores brasileiros do ranking é mandatória.

> gináSTica ríTmica 6 mulheres / O conjunto, formado por cinco atletas, tem participação

garantida. A seleção realizou seletiva recentemente, mas pode sofrer

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ISTOÉ2016 junhO/julhO 2015

mudanças até os Jogos, de acordo com a CBG. “Tudo depende do desempenho e das condições físicas das ginastas.” No individual, o Brasil terá direito a convite se não classificar uma atleta pelo Mundial (15 primeiras, com limite de duas por país) ou pelo evento-teste (vagas para seis países), o que garantiria a credencial à atleta responsável pelo feito. Caso o convite seja necessário, ele será da melhor brasileira no Mundial. uma segunda vaga só virá se o Brasil colocar duas atletas no top 15 do mundo, algo distante do atual nível técnico do País. Hoje, Angélica Kvieczynski é a favorita.

> gináSTica de Trampolim 1 pessoa / Na modalidade olímpica mais atrasada do Brasil, os donos da casa só terão direito a uma credencial, que ficará com o brasileiro de melhor classificação no evento-teste, seja no masculino ou no feminino. Terão vaga no evento-teste, por sua vez, o melhor homem e a melhor mulher do Brasil no Mundial de 2015. No ano passado, Carlos Pala foi 36.º e Giovanna Matheus terminou na 27a colocação. Por isso é improvável que eles obtenham vaga pelos critérios universais: top 8 do Mundial ou top 5 do evento-teste.

> leVanTamenTo de peSo 3 homens, 2 mulheres / de todas as modalidades olímpicas, é a que mais foge do padrão. Cada país pode ter no máximo 10 atletas, sendo até dois por evento, mesmo a Olimpíada tendo 15 provas. As vagas vêm pelos resultados coletivos, não individuais, e são determinadas a partir de um ranking com os resultados dos últimos Mundiais. O Brasil, porém, não tem condições técnicas de obter mais credenciais além dos cinco convites que recebeu.

A convocação será definida pela comissão técnica, que promete levar em conta os resultados dos Mundiais de 2014 e 2015.

CRITéRIOS COmPLExOS aos convites que já recebeu, o brasil pode somar novas vagas. os critérios, porém, não são nada simples. primeiro, é preciso descobrir quantas serão as credenciais. depois, quais atletas serão escolhidos

> luTa 4 pessoas / Na primeira etapa do processo universal, os seis primeiros colocados

no Mundial em cada uma das 18 categorias olímpicas garantem classificação. depois, o Brasil ainda concorre a vagas pelos Pré-Olímpicos continental (duas por categoria) e Mundial (de quatro a cinco), com maior expectativa para o torneio regional, já que o caminho estará aberto em categorias em que cubanos e/ou americanos já estiverem classificados. No Campeonato Pan-Americano deste ano, o Brasil fez duas finais e ganhou quatro medalhas. Caso o total de classificados seja inferior a quatro, o País receberá convites até que tal número seja alcançado. a cbla vai aguardar o fim do processo de classificação para, se necessário, definir como utilizará os convites. A confederação tem meta

modesta: aumentar o número de classificações obtidas no tapete de lutas.

O recorde é uma atleta. Cenário otimista: 2 homens e 3 mulheres.

> TriaTlo 1 homem e 1 mulher / Com atletas dentro da zona de classificação do ranking

olímpico, o Brasil não deverá utilizar os convites a que tem direito – um por naipe.

Pelos critérios universais, pode chegar a até três credenciais nas vagas distribuídas no Pan de Toronto (o campeão), pelo ranking (39 vagas) ou pelo Pré-Olímpico (três). As credenciais são nominais. no masculino, diogo Sclebin está confortável dentro da zona de classificação, em 27o. Reinaldo Colucci passou por cirurgia e só esteou na temporada

em maio, mas tem potencial para também se garantir nos Jogos. Entre as mulheres, Pamella Oliveira, número 17 do mundo, muito provavelmente estará na Olimpíada.

As demais brasileiras, fora do top 100, precisam ganhar mais de 50 posições. cenário otimista: 2 homens e 1 mulher.

> cicliSmo de piSTa ninguém / É uma das modalidades com sistema mais complexo. As vagas, para

o Brasil, são viáveis em apenas duas provas. No Keirin, Flávio Cipriano precisa ficar entre os três melhores da América no ranking que fecha após o Mundial, em fevereiro. Hoje, ele é o quarto, pouco atrás de um canadense. No Omnium, vão à Olimpíada 18 países, com limites por continente. Número 33 do mundo, Gideoni Monteiro, com descartes, é o 19o dessa lista. cenário otimista: 2 homens fotos: stefano Martini • joão castellano ag. istoé

A pentatleta Yane Marques é nome certo na equipe brasileira em 2016, mas as outras vagas do esporte ainda estão indefinidas

> Boxe

> cicliSmo de eSTrada

5 homens e 1 mulher / No masculino, o Brasil pode utilizar os convites em cinco

2 homens e 2 mulheres / Para passar de duas para três vagas no masculino, o

das oito categorias mais leves. Nas outras duas, as mais pesadas, precisa obter a difícil classificação pelos critérios universais - são apenas 18 vagas, nove delas não acessíveis aos brasileiros. Como a CBBoxe precisa indicar o nome dos escolhidos entre o Mundial (outubro) e o Pré-Olímpico das Américas (entre fevereiro e abril), o ideal é que três atletas se garantam pelo ranking da APB ou pelo Mundial - Robson Conceição (60 kg), Patrick Lourenço (49 kg) e Robenilson de Jesus (52 kg) têm mais potencial. Aí, os convites ficariam com os titulares das categorias restantes. A CBBoxe vai esperar o Mundial para definir o que fazer. Eventuais preteridos brigarão por três vagas por categoria no Pré-Olímpico.

Brasil precisa ficar entre os três primeiros do ranking 2015 do América Tour. Até o quarto colocado, ainda ganha uma vaga no contrarrelógio. Excluindo a Colômbia (que deverá obter classificação pelo ranking mundial), o Brasil é o terceiro. No feminino, a meta é ficar entre o sexto e o 13º lugar do ranking mundial, mas a equipe hoje é a 17ª colocada.

Terminando entre as 15 primeiras, ainda obtêm vaga no contrarrelógio.

diferente do BMX e do mountain bike, o ranking não será usado como critério de convocação. “depende muito do circuito”, explicou a CBC. cenário otimista: 4 homens e 4 mulheres.

no feminino, o convite também precisa ser utilizado após o mundial, que dará classificação ao Rio às medalhistas. No Pré-Olímpico, só duas vagas

estarão em jogo. diferente do masculino, em que praticamente não há disputa interna, a seleção feminina tem duas atletas por categoria olímpica. Só em 2016 será apontada a titular, que disputará o Mundial buscando credencial nominal para os Jogos. cenário otimista: 10 homens e 3 mulheres.

> canoagem Velocidade 2 homens e 1 mulher / O Brasil tem três convites: K1 e C1 1.000 m no masculino e

K1 500 m no feminino, mas Isaquias queiroz deve garantir a vaga na raia no C1. Em outras duas provas, o País tem chances reais de classificação. Erlon de Souza e Ronilson Oliveira, do C2 1.000 m, precisam ser top 6 no Mundial/2015 (terminaram em oitavo em 2014) ou ficar entre os dois primeiros do Pré-Olímpico das Américas de 2016.

Já nivalter Santos, no c1 200 m, tem que ser top 7 no mundial (foi 14º em 2014) ou campeão continental. No feminino e no caiaque, novas vagas são

improváveis. A escolha dos convocados, de acordo com a CBCa, será técnica, sem utilização de seletiva. Ana Paula vergutz e Celso dias são os campeões sul-americanos do K1 e favoritos a serem beneficiados com o convite. cenário otimista: 5 homens e 1 mulher.

> Bmx 1 homem e 1 mulher / Para o Brasil, só o ranking mundial por países pode garantir novas vagas. No masculino, a meta é chegar em 30 de maio de 2016 entre o quinto e o sétimo lugares e garantir um atleta extra. Em oitavo, o Brasil disputa uma vaga com a Colômbia. No feminino, o país é 10º, mas uma segunda credencial só é dada até o terceiro colocado, algo hoje inalcançável. a cbc disse que “ainda” não vai revelar os critérios de convocação, mas que o ranking mundial é o “critério principal”. Responsável pela maior parte dos pontos brasileiros, Renato Rezende deverá ficar com uma das vagas. cenário otimista: 2 homens e 1 mulher

> SalToS ornamenTaiS 4 homens e 4 mulheres / Como país-sede, o Brasil está garantido nas quatro

provas sincronizadas. Novas credenciais podem ser obtidas nas quatro provas individuais, com vagas distribuídas entre Mundial (12), continentais (o campeão do Pan) e Copa do Mundo (18). Cesar Castro, Juliana veloso (trampolim) e Hugo Parisi (plataforma) têm boas chances de ir aos Jogos pela quarta vez. Ingrid Oliveira e Giovanna Pedroso (plataforma) também tiveram resultados recentes que as colocariam dentro da zona de classificação. a cbda utilizará uma ou duas competições nacionais, ainda não escolhidas, como seletiva para escolher as duplas. Juliana/Tammy Galera e Ingrid/

Giovanna são favoritas no feminino. Há grandes possibilidades de um mesmo atleta competir em duplas e no individual. cenário otimista: 5 homens e 5 mulheres.

> eSgrima 8 atletas / O Brasil pode utilizar como bem entender cada um dos seus oito con-

vites e participar normalmente das seletivas para obter vagas extras. A equipe de florete masculino (formada por três atletas), Nathalie Moellhausen (32ª na espada) e Renzo Agresta (23º no sabre) teriam prioridade nos convites, mas hoje estão na zona de classificação pelo ranking – o time de florete tem que se manter à frente do Canadá e torcer para que os EuA sigam no top 4.

Se esse cenário for mantido até 4 de abril, a cbe deve usar os convites para levar as equipes de espada feminina (mais dois atletas) e masculina

(mais três) e pelo menos uma esgrimista no sabre e no florete feminino, restando ainda uma credencial em aberto. Assim, o Brasil levaria 13 atletas de um máximo de 16. A meta é classificar entre 12 e 14 esgrimistas. cenário otimista: 7 homens e 6 mulheres.

> penTaTlo moderno > mTB 1 homem e 1 mulher / valem praticamente as mesmas regras do BMX. Entre os

homens, é possível obter a vaga extra terminando o ranking olímpico, em 24 de maio, entre o sexto e o 13º lugar por países. Em 13º, o Brasil vai atingindo a meta. No feminino, a linha de corte é o oitavo lugar, duas posições acima da atual posição brasileira. a cbc também não quis informar os critérios de convocação, novamente afirmando que o ranking é o “critério principal”. cenário otimista: 2 homens e 2 mulheres.

1 homem e 1 mulher / Os convites só valem se o Brasil não obtiver a vaga por

outros critérios. Se confirmar o favoritismo, Yane Marques carimba o passaporte como melhor sul-americana do Pan de Toronto. Aí restará a Priscila Oliveira tentar a segunda vaga, seja como top 5 do Pan, nos Mundiais ou pelo ranking. No total, 33 atletas vão para a Olimpíada, e ela é a 29ª do mundo, considerando descartes do ranking. no masculino, o melhor brasileiro foi apenas o 14º colocado do campeonato pan-americano do ano passado. Por isso, é bastante improvável que dois atle-

tas consigam classificação. A CBPM convocará o atleta mais bem colocado no ranking brasileiro de 1º de junho de 2016. cenário otimista: 2 mulheres e 1 homem.

> Tiro eSporTiVo

> TêniS

5 homens e 4 mulheres / Com 14 provas e 17 eventos classificatórios, é a mo-

3 homens e 3 mulheres / A classificação tem processo complexo, porque depende

dalidade que mais tem variáveis para definir a distribuição de suas 390 credenciais.

O Brasil recebeu nove convites, para pistola de ar 10 m, fossa olímpica, skeet (em ambos os naipes), carabina deitado 50 m, pistola de tiro rápido 25 m (masculino) e carabina de ar 10 m (feminino). A CBTE acreditava que, se obtivesse classificação nessas provas, poderia levar dois atletas, mas foi informada pela reportagem que não é isso que diz o regulamento. Agora, a entidade vai tentar “trocar” alguns dos convites, para provas com reduzidas chances de obtenção de vaga no estande de tiro.

No Campeonato das Américas, o Brasil não garantiu nenhuma vaga extra. Agora, tem nova chance no Pan, quando 20 credenciais estarão em jogo. Julio Almeida (39º do ranking mundial da pistola 50 m) e Bruno Heck (75º na carabina três posições) são os que têm maior chance de sucesso.

Para definir os convocados nas provas de carabina e pistola, está sendo utilizado um ranking que pontua o resultado final de cada brasileiro em 10 eventos, quase todos internacionais. Hoje, os líderes são Cassio Rippel (carabina deitado), Julio Almeida, Raquel Silveira (pistola de ar), Emerson duarte (pistola de tiro rápido) e Rosena Ewald (carabina de ar).

não apenas do ranking mundial, mas também de critérios subjetivos e da escalação das duplas de cada país. Em simples, como dono da casa, o Brasil terá seu melhor atleta nos rankings da ATP e da WTA de 6 de junho de 2016. uma segunda vaga só virá se dois brasileiros estiverem entre os 56 melhores do mundo, o que é viável apenas no masculino. Em 18 de maio, Bellucci era 51º da lista com descartes. Teliana (65º) e Feijão (66º) batiam na trave. em duplas, estarão garantidos os 10 melhores do ranking mundial de duplas, com seus parceiros. Bruno Soares e Marcelo Melo cumprem tal requisito e

vão jogar juntos. depois, os países apresentarão suas escalações e a ITF selecionará outras 14 duplas levando em conta a soma dos rankings (o menor numeral entre duplas e simples) dos atletas. Há possibilidade de André Sá jogar com Bellucci ou Feijão.

Nas duplas femininas, o Brasil deve se beneficiar de convite, desde que o ranking das atletas não some 500 e o total de credenciais para mulheres (86) não tenha estourado.

Por fim, nas duplas mistas, o Brasil irá usar seu convite, mas deve inscrever atletas que já tenham credencial. cenário otimista: 4 homens e 2 mulheres.

Já o tiro ao prato soma o número de pontos (pratos acertados) conquistados em cinco eventos internacionais. A disciplina confia em mais uma vaga,

com Jaison Santin, na fossa double. Seus principais rivais do Pan já estão garantidos na Olimpíada. Rodrigo Bastos, Janice Teixeira (fossa olímpica) e daniela Carraro (skeet) largam na frente pelos convites. No skeet masculino, não há favorito claro. cenário otimista: 8 homens e 4 mulheres.

> gináSTica arTíSTica 1 homem e 1 mulher / A meta do Brasil é bastante clara: levar equipe completa no

masculino e no feminino, com cinco atletas em cada naipe. Não à toa, a CBG vai priorizar a disputa por equipes no Mundial deste ano, que classifica oito times masculinos e oito femininos para a Olimpíada. depois, as equipes que ficarem entre o nono e o 16º lugar do Mundial ainda disputam quatro vagas pelo Pré-Olímpico. Se tudo der errado, o Brasil terá vaga para apenas um atleta por naipe, mais os eventuais medalhistas por aparelhos no Mundial deste ano. caso consiga a classificação por equipes, o Brasil deverá priorizar os especialistas na Olimpíada, para que possa brigar por mais medalhas nos aparelhos. Atletas generalistas vão ser preteridos. cenário otimista: 5 homens e 5 mulheres.

> maraTonaS aquáTicaS 1 homem e 1 mulher / O Brasil já descobriu na Olimpíada passada que não tem

conversa: se quiser ter duas atletas brigando por medalha no Rio, precisa que ambas sejam top 10 no Mundial de Kazan (Rússia). Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha foram ouro e prata em Barcelona (Espanha), em 2013, e são novamente favoritas. No masculino, Allan do Carmo e diogo villarinho também têm condições de chegar juntos ao top 10. as vagas são nominais e a disputa só segue para o evento-teste se a vaga não vier pelo Mundial. cenário otimista: 2 homens e 2 mulheres.

> Tae Kwon do 2 homens e 2 mulheres / O Brasil receberá quatro convites, independente de quantas vagas obtiver pelos critérios usuais, precisando utilizar dois no masculino e dois no feminino. Novas credenciais virão apenas para atletas que fecharem o ranking olímpico entre os seis primeiros de suas categorias, uma vez que os brasileiros não podem participar do pré-olímpico continental. A CBTKd já definiu que um dos convites vai para o peso-pesado masculino. As demais escolhas precisam ser informadas até o fim do ano. a entidade ainda não revelou como será a seletiva interna. Guilherme dias

(68 kg), Iris Tang (até 49 kg) e Raphaella Galacho (+76 kg) são os mais bem colocados no ranking olímpico. cenário otimista: 3 homens e 3 mulheres.

FOTO: PEdRO dIAS

> remo 1 homem e 1 mulher / O Brasil tem convite assegurado para o single skiff no

masculino e no feminino, mas deve garantir a classificação dos dois barcos no pré-olímpico continental, em novembro, no Chile, quando seis credenciais nominais estarão em jogo por prova. Na Olimpíada, cada país pode ter um barco por prova. O préolímpico das Américas também dará duas vagas por naipe no double skiff peso leve, com chances reais para o Brasil. Nas outras disputas, a classificação precisa vir pelo Mundial ou pelo Pré-Olímpico Mundial, algo bastante improvável.

Fabiana beltrame segue competindo no single skiff peso leve, que não é prova olímpica. Ainda não foi definido se ela migra para o single skiff, precisando

ganhar peso, ou se compete no double e busca uma parceira. Nayara Furtado, Steve Hiestand (brasileiro criado e radicado na Suíça) e Ailson Silva/Thiago Carvalho venceram a seletiva nacional de abril nas provas em que o Brasil tem chances de ir ao Rio. previsão otimista: 3 homens e 3 mulheres.

O boxeador Patrick lourenço: grande potencial de integrar a equipe que vai ao Rio em 2016

naTaÇÃO

aTLETISmO

A Federação Internacional (FINA) já anunciou os índices que exigirá dos atletas para cada prova, com limite de dois por país por prova. Mas a CBdA tem a prerrogativa de exigir marcas ainda mais fortes para convocar os atletas – nunca mais fracas. Essa decisão ainda não foi anunciada.

A entidade brasileira também não revelou quais eventos valerão para a tomada de índices. A Fina tem uma lista relativamente grande, que inclui oito etapas de Copa do Mundo e o Mundial de Kazan (Rússia), mas a CBdA deve aceitar apenas marcas feitas nos eventos nacionais.

Estão na lista da Fina o Troféu José Finkel e o Torneio Open de 2015, mas o Troféu Maria Lenk de 2016 também deverá ser incluído.

Nas provas de revezamento, classificam-se para os Jogos os 12 primeiros colocados do Mundial de Kazan, além de quatro equipes pelo ranking mundial entre 1º de março de 2015 e 31 de maio de 2016.

A CBdA acredita que o Brasil não terá problemas para classificar seus três revezamentos masculinos já em Kazan. No feminino, as vagas também devem vir, mas não necessariamente no Mundial. diferente do atletismo, a classificação de cada revezamento garante apenas a destinação de duas credenciais ao País. Os times devem ser completados por nadadores classificados para provas individuais.

Assim, se o Brasil classificar suas seis equipes, terá até 12 atletas convocados apenas para nadar os revezamentos. Eles, entretanto, têm que obrigatoriamente disputar a eliminatória ou a final, sob o risco de a equipe ser desclassificada. desconsiderando a convocação de eventuais reservas, se a CBdA adotar os mesmos índices que a FINA e o Brasil confirmar seus quatro revezamentos no Rio, a delegação deverá ter entre 25 e 30 atletas. um aumento considerável na comparação com Londres, para o onde o País viajou com 19 nadadores.

diferente de outros anos, para os Jogos do Rio a CBAt decidiu adotar os mesmos índices que valem para todo o mundo. Sem convites como país sede, o Brasil vai convocar quem fizer marcas abaixo do índice A da IAAF a partir de 1º de janeiro de 2015 nas provas mais cansativas (heptatlo, decatlo, marcha atlética, maratona e 10.000m) e de 1º de maio nas demais. O período de classificação vai até 11 de julho de 2016. Nas provas em que mais de três atletas fizeram índice, será chamado o campeão do Troféu Brasil 2016 e os dois melhores do ranking.

Finalista do 4 x 100 m e do 4 x 400 m no masculino e no feminino no Mundial de Revezamentos deste ano, o Brasil classificou as quatro equipes para a Olimpíada, tendo direito a utilizar 24 credenciais (seis por provas). diferente da natação, não há a obrigação de que todos corram.

Atletas que fizeram índice nos 100 m e 400 m rasos devem também fazer parte do revezamento correspondente. Por decisão da CBAt, a regra se estende aos 200 m com relação ao 4 x 100 m. depois de contabilizados os atletas com índice em todo o mundo, a IAAF fará convites até que todas as 2.005 credenciais do atletismo tenham dono. Em cada prova (exceto as de rua e combinadas), a entidade chamará os melhores atletas do ranking que sejam de países sem classificados para aquela prova. A CBAt não anunciou se aceitaria eventuais convites.

Ao fim do Troféu Brasil 2015, o País já tinha 20 atletas com índice olímpico, além de 17 credenciais restantes no revezamento. Assim, a delegação já soma pelo menos 37 nomes, um recorde (36 foram a Londres). A tendência é que entre 50 e 60 brasileiros disputem o atletismo dos Jogos do Rio. As mulheres devem ser em torno de 25, sendo os homens os responsáveis pela maior variação.

a aPOSTa da 2016 Contando com os convites no basquete e os índices no atletismo, o Brasil tem garantida a participação de 350 atletas nos Jogos do Rio. Caso o hóquei sobre a grama assegure a vaga pelo Pan, a delegação chegaria a 366 brasileiros.

A pesquisa da 2016 demonstra que o Brasil ainda disputa outras 47 vagas. Caso tenha sucesso para obter as oito posições extras na ginástica artística e a metade das demais, vai ganhar mais 28 atletas.

Na natação, o levantamento da 2016 aponta entre 25 e 30 brasileiros no Rio. Já no atletismo, a tendência é a delegação ter entre 50 e 60 atletas.

Se tudo der certo, com vagas por equipes no hóquei e na ginástica artística, o Brasil deve chegar ao Rio com uma delegação de até 469 atletas. Mesmo com as coisas dando errado, o Time Brasil não terá menos que 430 atletas. a aposta da 2016 é de uma delegação com 458 aTleTaS: 252 HomenS e 206 mulHeReS.

FOTO: ANdREAS HEINIGER

Ana Cláudia lemos, uma das velocistas da equipe de atletismo: 37 vagas já estão asseguradas, mas o número pode chegar a 60 ISTOÉ2016 junhO/julhO 2015

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página dourada

Conquistas que entraram para a história

larry bird

ilustração oliver quinto

por vera lynn

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istoÉ2016 junho/julho 2015

O melhOr jOgadOr brancO da história dO basquete larry Bird supera o suicídio do pai e, mesmo sendo lento e desengonçado, se torna campeão olímpico e um dos grandes ídolos da nBa Larry Joe Bird nasce em West Baden springs, indiana, nos estados Unidos, em 7 de dezemBro de 1956.

o aLa de 2,06 m É desengonçado e Lento, mas compensa isso com Uma incríveL agiLidade de raciocínio. sUa mira É certeira.

aos 7 anos, começa a praticar BasqUete nUm cLUBe perto de casa. grandaLhão, Joga com meninos Bem mais veLhos.

na nBa, se torna a referência dos ceLtics. o maior rivaL do time são os Los angeLes Lakers, comandados por magic Johnson, o mesmo qUe eLe enfrentoU na Universidade.

cresce nUm Lar vioLento e instáveL. aos 13 anos, vive Um pesadeLo. seU pai, Joe Bird, comete sUicídio.

Larry ganha três títULos da nBa (1981, 1984 e 1986) e É eLeito o meLhor Jogador da temporada em três ocasiões (1984, 1985 e 1986).

traUmatizado, Larry sai de casa para reaLizar o sonho de ser Jogador de BasqUete. aos 15 anos, estreia peLo springs vaLLey high schooL e prova ser Um fenômeno: faz 31 pontos e pega 21 reBotes. atÉ hoJe, É o maior cestinha da história da escoLa.

mas Logo É convidado para Jogar peLa indiana state University.

no draft para entrar na nBa, em 1978, É seLecionado na sexta posição e assina contrato com o Boston ceLtics.

para ganhar Uns trocados, traBaLha como coLetor de Lixo e gari.

em 1984, comanda a virada espetacULar dos ceLtics contra os Lakers e diz qUe se sente vingado da derrota sofrida para magic Johnson na Universidade, em 1979.

Lá, trava dUeLos memoráveis contra earvin “magic” Johnson, estreLa da michigan University.

em 1992, É convocado para a oLimpíada... ... e participa do “dream team”...

... qUe encanta o mUndo em BarceLona.

com dores nas costas, se aposenta poUco depois da oLimpíada.

É homenageado peLa nBa como o meLhor Jogador Branco da história do BasqUete.

hoJe em dia É execUtivo da Liga americana.

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THIAGO PEREIRA, MEDALHISTA DA NATAÇÃO: “A FAMA DE AMARELÃO INCOMODA”

MENINA FANTÁSTICA AOS 15 ANOS, FLÁVIA SARAIVA LIDERA A NOVA – E MAIS PROMISSORA – GERAÇÃO DA GINÁSTICA BRASILEIRA

TRABALHA, FORMIGA A JOGADORA DA SELEÇÃO DE FUTEBOL PODE SER A PRIMEIRA BRASILEIRA A DISPUTAR SEIS OLIMPÍADAS. O QUE EXPLICA A LONGEVIDADE?

O ARREMESSADOR DE PESO DARLAN ROMANI FAZ UMA DAS MELHORES MARCAS DO MUNDO E PODE AJUDAR A TRANSFORMAR O ATLETISMO BRASILEIRO

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