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Copel pode ter maior reajuste da história
TARIFA DE ENERGIA PODE FICAR 32,4% MAIS CARA
Copel fez pedido à Aneel para reajustar a tarifa de energia. Entre as distribuidoras, é o maior pedido até agora
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fará uma reunião, na próxima terça-feira (17), para avaliar o pedido da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), de reajuste da tarifa de energia. O pedido de 32,45% foi realizado no último dia 30 e, se aprovado, fará com que a tarifa residencial chegue ao maior valor da história, a partir do dia 24 de junho.
Entre as companhias que sofrerão reajuste em 2014, a Copel é a que fez o maior pedido. A AES Sul, empresa elétrica que distribui energia para o Rio Grande do Sul, pediu 28,86%, enquanto a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern) fez o menor pedido: 12,75%.
A Copel, que atende 395 municípios e 4,1 milhões de consumidores, explica que a demanda de energia no Estado está mais alta do que se pode gerar, pelo baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas e, por isso precisa recorrer ao mercado livre — que funciona como uma espécie de bolsa de valores — para atender a todas as cidades.
S e g u n d o a assessora de comunicação da Copel, Alina Prochmann, o custo da compra de energia está muito alto, devido ao uso das usinas térmicas. Este é o principal fator para a solicitação do reajuste. Alina afirma que o restante do percentual é composto por custos operacionais e componentes financeiros. “Do percentual de reajuste de 32,4% pleiteado junto à Aneel, apenas 1,5% são de custos operacionais da companhia, que podem ser gerenciados pela empresa. Todo o restante (30,9%) referese à energia cara que a Copel foi obrigada a comprar para fornecer aos paranaenses”, explica a assessora de comunicação.
Para o chefe do núcleo de pesquisas periódicas do Instituto Paranaense de
Uma família que hoje consome R$80,00 vai passar a gastar R$107,00 com o reajuste
Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Marcelo Antonio Treff, a Aneel não aceitará o reajuste, apenas parte “O GOVERNO GASTOU UM MONTE COM ESSA COPA, E SOMOS NÓS QUE VAMOS PAGAR AS CONTAS. OS PREÇOS E IMPOSTOS VÃO AUMENTAR POR CAUSA DISSO” dele. “Não creio que este percentual seja aplicado em sua integralidade ainda este ano. Historicamente a agência reguladora não tem aprovado o índice apresentado pelas empresas geradoras de energia elétrica”, conta. A auxiliar de serviços gerais Sandra Mara Azanbuja se diz indignada com a solicitação de aumento da tarifa feita pela Copel. “Com o salário que se ganha, e outras contas para pagar, esse aumento
é um absurdo”. Já para o comerciante Maycon José da Silva tudo tem a ver com a Copa do Mundo no Brasil. “O governo gastou um monte com essa Copa e somos nós que vamos pagar as contas. Os preços e impostos vão aumentar e esse reajuste já deve ser por causa disso”, relata. De acordo com Treff, os consumidores sofrerão grande impacto, caso ocorra o reajuste. “Se por exemplo, determinada família consome hoje R$ 80,00 por mês em energia elétrica, com este reajuste o consumo iria para R$ 107,00”, calcula. Adriana Barquilha e Gabriela Jahn / 1° Período
LADRÃO DE SACOLEIROS É PRESO COM DOCUMENTO FALSO
Acusado de assaltos a ônibus, indivíduo foragido da justiça paulista foi preso em Curitiba
Alex de Moraes Melo, 24 anos, foragido da Justiça de São Paulo, pelo crime de roubo a ônibus de sacoleiros, foi preso em flagrante na tarde de segunda-feira (09), no Sítio Cercado, durante abordagem realizada por policiais militares.
O indivíduo apresentou um documento de identidade no momento da abordagem e, durante a averiguação, ele foi desmascarado pelos policiais.
HISTÓRICO
Em cooperação com a Polícia Civil de Pirapozinho, no interior de São Paulo, o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) já havia prendido outros quatro assaltantes da mesma quadrilha em Curitiba, restando apenas um ainda solto.
“Havíamos começado as investigações em abril, até que na segunda feira, policiais do Cope abordaram o cidadão em questão numa rua do Sítio Cercado. O homem apresentou um RG em nome de outra pessoa e que claramente aparentava ser documento falso, tendo como objetivo de não ser identificado”, conta o delegado responsável pela sessão, Matheus Laiola.
O preso já tinha um mandado de prisão expedido em São Paulo, e tentou ludibriar os policiais. “No momento da abordagem, ele portava uma identidade falsa, justamente para não ser pego nos nossos registros por seu mandado de prisão, mas mesmo assim, isso atiçou a desconfiança dos policiais que acabaram por descobrir a verdade e prenderam em flagrante o meliante por porte de identidade falsa, que também é crime e irá se somar às acusações, junto com o mandado de roubo”, completa.
Alex segue detido na sede do Cope até definição do caso por parte da justiça, que decidirá se ele seguirá para o complexo penal em Piraquara, ou se será transferido para São Paulo. Pedro Giulliano / 3° Período
HISTÓRIAS CONTADAS POR QUEM CONHECE AS RUAS
Morador de rua relata suas experiências em um livro que pretende publicar em breve
Às vésperas de completar 50 anos, Eduardo (sobrenome preservado) não se lembra mais quantos anos fazem que chegou às ruas. Mas o motivo é difícil esquecer: drogas e desavenças familiares. Filho de família tradicional, pai, esposo e profissional bem sucedido, o então psicólogo viu a vida desmoronar pelo uso contínuo de drogas e álcool, sem poder atender os apelos de mudança da família, escolheu como lar as ruas da capital paranaense.
Nos primeiros anos, Eduardo dedicouse, como ele mesmo diz, à vida louca. Sem dinheiro para as drogas, entregou-se a bebida mais popular do Brasil: a cachaça.
Vez aqui, outra acolá, fumava alguma coisa ou outra. Como lar escolheu as marquises da Rua XV e como família um grupo de moradores de rua que costuma chamar de irmãos. Entre o grupo sobra alegria, organização e solidariedade para sobreviver à realidade das ruas. “Desde que cheguei aqui eles são a minha família. Então a gente está sempre junto, se protegendo. Tudo o que conseguimos, dividimos e não falta nada pra ninguém. Por isso que digo: com eles aprendi muito mais do que quando tinha um lar”.
A vida entre os irmãos de rua está sendo registrada num livro que Eduardo tem a esperança de lançar, em breve. Nas páginas que está escrevendo o morador de rua compartilha histórias que viu ao longo de quase 20 anos de idas e vindas pelas marquises. “Cada pessoa que encontrei é como uma pedra dessas calçadas. E elas, suas histórias, seus ensinamentos estão registrados neste livro. Meu objetivo é que isso não se perca na minha memória. Também desejo compartilhar a sabedoria que as ruas têm para ensinar”.
A exclusão social vivida pelos moradores de rua são um dos temas recorrentes da obra de Eduardo que não esquece agressões policiais, as medidas de limpeza do poder público e o desprezo de algumas pessoas que destratam moradores de rua.. “Muitos queriam que nós simplesmente não existíssemos para não sujarmos a cara da cidade. Por isso passam por aqui e tentam fingir que não existimos. Outros tentam fazer com que isso aconteça escondendo os moradores de rua em períodos de festa, de visitas de autoridades, no inverno ou agora, na Copa do Mundo”.
Em um dos episódios que não saem da mente de Eduardo, registados no Livro, está a lavagem da Rua XV, realizada no ano passado. “Era perto do natal. Então a Prefeitura resolveu higienizar, como eles gostam de dizer, a Rua XV. Acontece que, aqui na Rua XV moram a maior parte dos moradores de rua da cidade. Simplesmente, a Guarda Municipal chegou no meio da madrugada, batendo em todo mundo, recolhendo pertences pessoais e jogando como se fosse entulho num caminhão. Em seguida vinha o pessoal lavando e dizendo ‘circulando’. Foi assustador pra todo mundo. Tudo o que o morador de rua tem na vida é um cobertor pra se proteger do frio, uma mala, talvez com fotos e endereços da família e poucos pertences da família. E tudo isso se perdeu”, lamenta.
Quando o livro estiver totalmente pronto, Eduardo pretender revisar e procurar uma editora interessada em publicar suas histórias. “Estou com quase tudo pronto. Agora quero procurar alguém que queira compartilhar todos esses relatos com o público. Tenho certeza que as ruas têm muito a ensinar”.
REGISTROS QUE ALIMENTAM UM SONHO
Jeslayne Valente/4°Período

NÃO SE ESQUEÇAM DA ROSA DE FUKUSHIMA
O relato de alguém que sobreviveu a guerras, mas vê parte da família sofrer do outro lado do globo
Era junho de 1953. No porto de
Santos, um navio vindo atracava. Entre os passageiros, desembarcava a família Kambayachi, que fugia de seu Japão natal, castigado pela fome e pela guerra. A caçula dos seis filhos, Mariko, tinha sete anos.
Em terra firme, muitos beijos, abraços e lágrimas salgadas pela saudade. A família Kambayachi, cujo nome vem da geração dos samurais, estava há muito separada: os parentes da matriarca haviam partido rumo ao Brasil 20 anos antes.
Além da saudade, um Japão assolado por duas guerras mundiais também castigara a família, nativa de um vilarejo a oito quilômetros de distância do local onde hoje existe a usina nuclear Dai-ichi, em Fukushima.
Logo no começo da estadia, sustos. Era época de São João no Brasil, o que é sinônimo de muitas festas e fogos de artifício. Porém, para quem estava acostumado a brutais bombardeios quase incessantes, as explosões resgatavam o trauma de viver no olho do furacão da guerra.
No entanto, o Brasil foi uma mãe acolhedora para a família tão sofrida. Mariko nasceu em 1945, apenas nove meses depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Não havia comida disponível. A solução? Comer o que conseguiam. Durante este período amargo, a alegria da família era quando uma de suas irmãs mais velhas conseguia achar uma lagarta para servir de refeição.
Além de comida, as terras brasileiras também ofereciam paz. A família não precisaria perder mais membros no fogo cruzado da guerra além de um irmão do patriarca. Os filhos de quinze anos de seus vizinhos não se tornariam pilotos de aviões kamikaze. As crianças não mais precisariam ter treinamento de combate com bonecos e lanças de bambu na escola. Suas brincadeiras não mais seriam imitar o barulho da sirene que avisava sobre os bombardeios e logo em seguida se esconder.
O ano, desta vez, era 2011. O dia, 11 de março.
em uma tranquila rua sem saída no Bom Retiro. Não era mais uma criança: era casada, tinha filhos e assinava Mariko Chikude. Já era brasileira naturalizada.
Neste dia, uma de suas irmãs fazia aniversário. Logo cedo, ligaria para ela para parabenizá-la. Mas antes, habitualmente ligou a televisão no canal japonês NHK. Viu a usina Dai-ichi, que havia visitado em 1994, sendo afogada pelo tsunami. Sua cidade natal sendo balançada pelo implacável terremoto. No telefonema com a irmã, o aniversário foi quase para o segundo plano.
Do outro lado do globo, a família de Mariko que continuava no Japão fugia às pressas, sem levar nada consigo. Suas casas não foram destruídas, continuam firmes, sem uma única rachadura. No entanto, como são próximas da usina, foram contaminadas pela radiação. Nas poucas vezes que as visitam, é pouquíssimo tempo e usando uma roupa protetora contra a contaminação.
Esta virou a grande sina de todos os que residiam na região. A população teme que a radiação seja contagiosa e prefere manter distância de pessoas vindas de Fukushima. A situação lembra a dos sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, que também foram marginalizados por medo do contágio. As crianças não brincam mais do lado de fora. Os trabalhadores da cidade, que um dia tiravam da estação seu sustento, foram por ela obrigados a largar tudo para se salvar.
Fukushima tornou-se uma cidade fantasma. A culpada foi a mesma que trouxe à ela o progresso: Dai-ichi. A família de Mariko partiu para áreas não contaminadas. Nem mesmo podem visitar os túmulos de seus pais e avós, pois estes estão na área crítica. Isto causa tremenda dor: os japoneses têm profundo respeito e honra por seus ancestrais.
As mudas telepáticas, cegas inexatas, rotas alteradas e rosas cálidas de Vinícius de Moraes, vistas pela última vez na Segunda Guerra Mundial, podem não retornar na mesma quantidade de antes, mas renascem. Mariko pensa que o povo japonês, um dia tão orgulhoso, aprendeu que a humildade é uma qualidade a ser exercitada. Também é agradecida aos países que, mesmo pobres, fizeram o que podiam para ajudar o Japão. Um raro resgate da humanidade do humano no mundo selvagem dos dias de hoje. Taís Arruda / 3o Período
