Folha Diocesana - 281

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Editorial

DE OLHO NA URNA, DE OLHO NO PROCESSO ELEITORAL !!!

“O Brasil vive uma grave crise – sanitária, econômica, social e política – exigindo de todos, especialmente de governantes e representantes do povo, o exercício de uma cidadania guiada pelos princípios da solidariedade e da dignidade humana, assentada no diálogo maduro, corresponsável, na busca de soluções conjuntas para o bem comum, particular mentedos mais pobres e vulneráveis.” (Pacto pela Vida e pelo Brasil p. 1)

S

“ e a política é o meio mais nobre de fazer caridade”, como nos alerta o papa Francisco, é necessário acompanhar de perto o processo eleitoral. Já estamos em pleno período da propaganda eleitoral, após a homologação das candidaturas na justiça eleitoral. E, neste clima, segue nosso primeiro comunicado às nossas paróquias, comunidades, pastorais, grupos e movimentos no desejo de ajudar nosso povo a viver este período com responsabilidade e compromisso. Até o dia das eleições, marcadas para 15 de novembro – primeiro turno - e 29 de novembro – segundo turno em algumas cidades - vamos destacar ações com o intuito de contribuir para “votar e votar bem”, pois sabemos que “voto

Enfoque Pastoral Enviados a anunciar

O

(Conf. Mc 3,13-15)

mês de outubro é tradi-

cionalmente conhecido como mês missionário. A Missão ocupa um lugar central na razão de ser da Igreja. Os doze apóstolos escolhidos e enviados por Jesus para levar o Evangelho “a toda as nações” (Mt 28,19) cumpriram sua missão e constituíram uma Igreja toda

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não tem preço, voto tem consequência” A partir de agora, recomendamos intensificar a reflexão sobre a importância das eleições municipais e de uma escolha consciente sobre em quem votar, assim como, apresentar critérios para que nossas irmãs e nossos irmãos possam discernir e fazer uma escolha consciente. Dentre algumas iniciativas importantes relembramos: examinar a atuação do partido político e a vida pregressa do/a candidato/a; orientar a não se manter alheio, indiferente, acomodado ao processo eleitoral; seguir o horário gratuito de modo a conhecer as posições e promessas de cada partido e de seus candidatos/as; combater a desinformação e a fake News–notícia falsa. Como Pastoral Fé e Política, Regional Sul I da CNBB, nos propomos a colaborar no indispensável processo da formação da consciência crítica diante dos fatos sociopolíticos, e oferecer dicas úteis para o exercício de uma cidadania destemida, a serviço do humanismo integral e edificação de uma sociedade fraterna e pacífica. Pedimos a gentileza de disponibilizarem este e os próximos comunicados nas redes sociais da paróquia e comunidades – Facebook, Instagram, quadro de avisos etc. Certos da sua compreensão e ajuda, reiteramos nossos votos de elevada estima e distinta consideração. Até o próximo comunicado.

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Dom Luiz Carlos Dias

Bispo referencial da Pastoral Fé e Política do Regional Su1 da CNBB

Pe. Antônio Carlos Frizzo

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Voz do Pastor

A diversidade de opinões e opções políticas

Falando da Vida 12 de Outurbro Dia das Cranças

Especial

Mensagem do Papa Dia Mundial das Missões

Vida Presbiteral Porque há padres que se suicidam?

Aconteceu

Romaria Diocesana a Aparecida -Virtual

Semana Diocesana de Formação - 2020

Assessor Eclesiástico da Pastoral Fé e Política do Regio-

nal Sul 1 da CNBB

Mônica de Cássia Vieira Lopes

Coordenadora Estadual da Pastoral Fé Fonte: cnbbsul1.org.br/eleicoes-2020_pastoral-fe-e-politica

Pe. Marcelo Dias Soares Coord. Diocesano de Pastoral

missionária. “Enviada por Deus às nações para ser ‘o sacramento universal da salvação.” (CIC 849). Aos poucos nossa Diocese retoma suas atividades nas paróquias, pastorais e movimentos diocesanos. A pandemia do Covid-19 não paralisou a evangelização. Neste mês de outubro, entre tantas atividades, destaco a Semana Diocesana de Formação Online. Quero convidar todos a se organizarem em pequenos grupos presenciais (respeitando os

Folha Diocesana de Guarulhos

Nesta Edição

protocolos diocesanos) e também online para acompanhar e aprofundar a temática proposta este ano: ‘Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023’, que será base para nossa 11ª Assembleia Diocesana em 2021. Roguemos a Imaculada Conceição Aparecida que interceda por nós junto ao seu Filho Jesus e nos guarde sob a proteção de seu manto sagrado.

Expediente Jornalista Responsável PE. MARCOS V. CLEMENTINO MTB 82732

Orientação Pastoral PE. MARCELO DIAS SOARES Editoração Eletrônica LUIZ MARCELO GONÇALVES Tiragem: ON-LINE CÚRIA DIOCESANA DE GUARULHOS Av. Gilberto Dini, 519 - Bom Clima, Guarulhos CEP: 07122-210 | 11 2408-0403

www.diocesedeguarulhos.org.br folhadiocesana@diocesedeguarulhos.org.br

Outubro de 2020


Agenda do Bispo - Outubro 2020 01

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15h00 - Missa paróquia Santa Terezinha Abertura do Mês missionário 09h30 - Atendimento Cúria 19h30 - Missa Par. São Francisco – Uirapuru 18h00 - Missa Paróquia Santa Mena 11h30 - Iniciação Cristã – Par. São Paulo 18h00 – Missa Par. São Francisco - Gopouva

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09h00 – Gravação PASCOM 20h00 – “LIVE” Novena NS do Rosário – Paróquia NS Rosário 09h30 - Codipa e 14h30 - Atendimento Cúria 12h00 - Missa na Catedral - Dia do Nascituro 19h30 – Missa Paróquia São Francisco – Nações – Tríduo de NS Aparecida 09-12h - Presidência do Regional 20h00 - Missa Comunidade NS Aparecida Paróquia Santo Alberto 10h00 - Iniciação cristã – Par. Santo Alberto 07h30 - Missa Par. NS Aparecida - Cocaia 11h00 - Missa Par. Sag. Cor. de Jesus - Normandia 09h30 - Colégio de Consultores 20h00 - Missa comunidade Santa Teresa Paróquia Santo Alberto 09-12h - Reunião Bispos do Regional Sul1 14h30 - Atendimento Cúria 07h00 - Seminário Propedêutico

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09h30 - Formadores da Esc. Diaconal - Cúria 20h00 - Missa Paróquia São Geraldo

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09h30 - Atendimento Cúria

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19h - Iniciação Cristã - Santo Antônio Parque 11h00 - Missa Catedral

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A diversidade de opiniões e opções políticas não ferem o Evangelho

19h30 - Missa Par. São Francisco – Nações

07h30 - Missa Par. NS Aparecida - Bela Vista 04

Voz do Pastor

16h00 - Iniciação Cristã - Par. NS Fátima 19h00 - Crisma Adultos – Par. Sto Antônio Maria Claret

20 a 23 às 20h - Semana Diocesana de Formação 21

09h30 - Economato e 14h30 – Atend. Cúria

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09h30 - Reunião do Clero - Seminário Lavras

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15h00 - Seminário Lavras

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19h30 - Missa Par. Sagrada Família – Paraíso

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11h00 - Missa Catedral

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20h00 - Missa Com. São Judas – Par. S. Mena

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10h00 - Missa Santuário São Judas 14h30 – Atendimento Cúria

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09h30 - Atendimento Cúria

Outubro de 2020

+Edmilson Amador Caetano, O.Cist. Bispo diocesano

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essência. Caso contrário, os cristãos eses atrás fiz uma reflexão na estariam ainda mais divididos. Os ca“Voz do Pastor” sobre a riqueza do rismas e expressões de vivência da período de propaganda eleitoral e o vida cristã são os mais variados, mas discernimento e participação que nós, sabemos que são frutos do mesmo como cristãos, precisamos ter. Esta- Espírito. Precisamos também viver mos neste mês de outubro em cam- este espírito sinodal quando articulapanha eleitoral. Saibamos viver na fé mos fé e política. Não é fácil. Temos este período. No entanto, desta vez, ainda muito que aprender. Quero partilhar um texto que quero refletir sobre o interior das nos- recebi tempos atrás. É de um docusas comunidades. Tem acontecido nos últimos mento que os bispos estão preparanperíodos de propaganda eleitoral do sob a coordenação da Presidência -principalmente por causa da prati- da CNBB: “Em nossos dias, muito se tem falado da imagem das redes, camente recente como tradução ferramenta das da sinodalidade. redes sociais – diA rede é um conRespeitar a visão do visões em nossas junto de nós intercomunidades. outro, não significa conectados, nós Acontecem até concordar, mas dar que se articulam mesmo “fofocas” entre si através de espaço à liberdade e criam-se inimifluxos e conexões. zades e, logicae trabalhar para Ela possui caracmente, fica em construir fraternidade terísticas bem esfalta a fraternidapecíficas: dinamina diversidade. de e a caridade. cidade, abertura, A mesma coisa geometria variátem acontecido vel, assimetria, capacidade de adapno interior das famílias. A diversidade de opiniões e op- tação , inovação e descentralização, ções políticas, que não ferem o ideal entre outras. Não se trata de um nó do Evangelho, longe de ser fraqueza, imperando sobre os outros, mas dié riqueza. Respeitar a visão do outro, versos nós que mantendo identidade não significa concordar, mas dar espa- própria, sabem que só sobrevivem se ço à liberdade e trabalhar para cons- articulados com os outros nós, fortruir fraternidade na diversidade. O mando a rede.” A sinodalidade não é “descaimportante é não distanciar-se do es- beçada”. No seu emaranhado positisencial: os valores do Reino de Deus e a verdade (ortodoxia) da nossa fé. vo e articulado, os pastores da Igreja, Os irmãos da comunidade, enquanto que fazem presente o “Cristo Cabecomunidade dos discípulos de Jesus ça”, são chamados a fomentar a coCristo, comunidade eclesial missio- munhão, seja na colegialidade episconária, não são adversários políticos e pal, na comunhão do presbitério com seu bispo, na comunhão presbiteral e muito menos inimigos. Atualmente fala-se muito na si- na comunhão das expressões laicais e nodalidade da Igreja: caminhar juntos. da vida consagrada . A Igreja é sinodal. Sempre foi na sua Folha Diocesana de Guarulhos

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Liturgia A

Padre Fernando Gonçalves

Comissão Diocesana de Liturgia

Ite, missa est – Termina a missa, começa a missão

Eucaristia está de tal modo ligada à Missão que o final da celebração constitui o início da Missão. O Jesus que convida para a Eucaristia é o mesmo que convoca para a Missão. O Jesus que alimenta com o Pão é o mesmo que alenta para a Missão. O “fazei isto em memória de Mim” (1Cor 11, 24) e o “ide por todo o mundo” (Mc 16, 15) são, por isso, indissociáveis. Como sabemos, em Latim, a celebração termina com “ite, missa est” (ide, a Missa acabou). Acontece que este “ide” do celebrante retoma o “ide” de Jesus (cf. Mc 16, 15). Trata-se de um envio, não de uma despedida. O “ide”, além de uma fórmula de envio, é uma forma de presença. E tal como Jesus está presente na missão dos Seus enviados, a Eucaristia continua presente na vida dos seus participantes. Esta ligação entre Missa e Missão sinaliza que nunca deixamos de estar em Eucaristia. A Eucaristia é geradora da Missão. O Papa Bento XVI também abordou essas

palavras na sua encíclica Sacramentum Caritatis, confirmando este envio missionário num profundo significado espiritual. Ele escreveu: “Depois da bênção, o diácono ou o sacerdote despede o povo com as palavras “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”, tradução aproximada da fórmula latina: Ite, missa est. Nesta saudação, podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Na antiguidade, ‘missa’ significava simplesmente ‘despedida’. No uso cristão, porém, adquiriu gradualmente um significado mais profundo. A palavra ‘despedida’ chegou a envolver o sentido de ‘missão’. Estas poucas palavras expressam, sucintamente, o caráter missionário da Igreja. O Povo de Deus pode ser ajudado a compreender mais claramente esta dimensão essencial da vida da Igreja entendendo a despedida como ponto de partida”. Em vez de ver nas palavras do sacerdote ou do diácono uma conclusão da celebração, portanto, o nosso Papa Emérito as vê como um começo.

Direito e Família Cristã C

Marcos Antônio Favaro Procurador Jurídico, pós-graduando em Teologia, mestre em Direito pela PUC-SP

Educação dos Filhos: Missão e Direito dos Pais

erta vez um dos alunos de Michelangelo, escolhendo com seu mestre, pedras a serem esculpidas nas montanhas, perguntou-lhe como que, de forma mágica, tais pedras se transformavam em santos, anjos, papas. Respondeu-lhe apontando uma pedra: “aí dentro tem um anjo, basta tirar os excessos que estão sobrando”. Eis a sublime missão de educar, que requerer paciência e amor, entregues no tempo, para eliminar os bons hábitos e descobrir as virtudes dos nossos filhos. Os governos civis podem e devem amparar nossas famílias para prover educação aos nossos filhos. Aliás, a Constituição Federal que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família (art. 225). Todavia não podemos delegar integralmente a educação de nossos filhos à escola, pois a ela cabe complementar os pais em sua missão, na qual são insubstituíveis. A Igreja nos recorda, na Encíclica Divini Illius Magistri, que os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de prover a educação religiosa, moral e civil da sua prole, e, por

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Quando termina a Missa, começa a Missão. E a Missão consiste precisamente no testemunho do que vivenciamos na Missa. O Pão que nos alimenta na Missa continua a alimentar-nos na Missão. Os participantes da missa são enviados ao mundo, sustentados pela Eucaristia que acabam de receber. A missa é um ponto de partida para a jornada vital do testemunho cristão. O sacerdote, representando a Cristo, envia os fiéis ao mundo para serem faróis de luz na presença de todos. À semelhança do envio após a Ressurreição, também o envio no final da celebração é marcado pela bênção (cf. Lc 24, 50). Os fiéis recebem a bênção para levarem a bênção, são receptores da bênção para serem portadores de bênçãos.

Folha Diocesana de Guarulhos

isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores. Portanto, a primazia da educação dos filhos é dos pais. Nesse sentido é a Declaração Universal de Direitos Humanos que estabelece que os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos (art. XXVI) e o Código Civil brasileiro, que determina que cabe aos pais dirigir a educação dos seus filhos (art. 1.634). Por isso, em primeiro lugar, é necessário que cada família, em sua realidade, invista tempo em educar os filhos nas formação das virtudes e do bom caráter. Além disso, é necessário acompanhar com proximidade a educação ministrada aos filhos na escola, que não tem o direito de, em desserviço à família, desconstruir os princípios e valores transmitidos no lar. Sabemos que nas últimas décadas, por diversas razões históricas, o ambiente escolar viu-se invadido uma crescente hostilização à religião. Não apenas no Brasil. E o que se percebe, em verdade, é uma postura falsamente laica que, de um lado, proíbe manifestações religiosas, e, de outro, promove va-

lores que contrariam os princípios cristãos, que são os da maioria da população do nosso país. Sábias as palavras do Papa Pio XI, que ensinou que “a escola, considerada até nas suas origens históricas, é por sua natureza instituição subsidiária e complementar da família e da Igreja, e portanto, por lógica necessidade moral deve não somente não contraditar, mas harmonizar-se positivamente com os outros dois ambientes, na mais perfeita unidade moral possível, a ponto de poder constituir juntamente com a família e com a Igreja, um único santuário, sacro para a educação cristã, sob pena de falir no seu escopo, e de converter-se, em caso contrário, em obra de destruição”. Nesse mês missionário peçamos, como pais, que Nosso Senhor Jesus, Mestre Divino, nos dê a ousadia de renunciar aos bens que passam, para abraçar os que não passam, entre eles, nossos filhos, criando-os e educando-os para a eternidade. E nos dê a coragem de, cumprindo fielmente essa missão, nos opormos com firmeza àqueles que pretendam roubá-los do caminho da virtuoso que os conduzirá ao Céu.

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Bíblia

Padre Antônio Bosco Pároco da Catedral Nossa Senhora da Conceição

A Palavra de Deus perto de nós

“Lancei raízes no meio de um povo glorioso, cuja herança está na partilha de meu Deus; e fixei minha morada na assembleia dos santos.”

A

passagem bíblica acima (Eclesiástico 24, 16) está no contexto do discurso da Sabedoria personificada, pleno de imagens muito viva e sugestivas. Ela sai da boca do Altíssimo, antes de toda criatura, habita nos lugares mais altos, anda sobre as ondas do mar, penetra nas profundezas dos abismos, percorre toda a terra, lança sobre o universo uma luz sem defeito, procurando um lugar para repousar. Deus, então ordena: “Habita em Jacó, possui tua herança em Israel, estende tuas raízes entre os eleitos” (v.13). A vivacidade da Sabedoria é expressa em imagens de árvores e plantas de inigualável beleza, exuberância e nobreza: como o cedro do Líbano, as palmeiras frutíferas do deserto, o cipreste no monte Sião, as roseiras de Jericó, a formosa oliveira nos campos, um plátano no caminho à beira das águas. Cresce como a vinha de frutos de agradável odor, e suas flores são frutos de glória e abundância. As delícias da Sabedoria aparecem simbolizadas pelo perfume de canela, bálsamo e mirra escolhida, como a

gota de incenso que escorre das árvores. Na Sabedoria se acha toda a graça do caminho e da verdade, toda a esperança da vida e da virtude. “Tudo isso é o livro da vida, a aliança do Altíssimo, e o conhecimento da verdade.” (v.32) A lei do Senhor faz a sabedoria transbordar como os rios vivificantes: “Eu, a sabedoria, fiz correr os rios. Sou como o curso de água imensa de um rio, como o canal de uma ribeira, e como um aqueduto saindo do paraíso. Eu disse: Regarei as plantas do meu jardim, darei de beber aos frutos de meu prado; e eis que meu curso de água tornou-se abundante, e meu rio tornou-se um mar. (v. 41-43) A Sabedoria convida para a participação na sua mesa, e adverte: “Aqueles que me comem terão ainda fome, e aqueles que me bebem terão ainda sede.” (v.30) Numa perspectiva cristã, a Sabedoria que vem da boca do Altíssimo e fez sua habitação em meio ao povo de Deus, é imagem de Cristo, Palavra eterna do Pai, que faz sua tenda em meio as nossas (cfr João 1,14: O Verbo se fez carne e habitou entre nós). A Palavra estava com Deus, a Palavra era Deus.

Falando da Vida E

Romildo R. Almeida Psicólogo Clínico

12 de Outubro - Dia das Crianças

stamos em outubro, mês muito importante para igreja católica visto que é dedicado às missões e também se festeja o dia da padroeira do Brasil. Infelizmente esse mês tão importante no calendário da igreja, fica ofuscado pelo dia da criança comemorado em 12 de outubro. Não quero dizer que comemorar o dia da criança não seja importante, mas o problema é a questão comercial que envolve essa data. O objetivo principal da data é simplesmente vender, o que dá muito resultado, pois por mais que o país esteja passando por uma situação difícil em termos econômicos, ninguém vai deixar de comprar um brinquedo. Por que comemoramos o dia das crianças em 12 de outubro? Tudo começou com uma campanha comercial da antiga Fábrica de

Outubro de 2020

O que já era inigualavelmente belo, revela-se definitivo em Jesus, que sacia definitivamente a sede do ser humano: “... Jesus de pé e clamava: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” (João 7, 37-38). Quem beber da água que ele der, nunca mais terá sede, como revelara à Samaritana (cfr Jo 4, 13-14). O Senhor Jesus também nos assegura: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede.” (Jo 6,35) Nós cristãos, aceitando a Escritura como fonte de Sabedoria, não somos, ,porém, uma religião do Livro, mas sim da Palavra viva de Deus, o próprio Cristo, Sabedoria eterna, que, habitando entre nós e em nós, nos associa a si, transformando-nos em santuários vivos da Palavra: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.” (Jo 14,23) Dedico essa reflexão a todos os grupos de reflexão da Palavra de Deus, especialmente aos grupos das Comunidades Eclesiais de Base com quem aprendi a ter familiaridade com a Sagrada Escritura.

Brinquedos Estrela juntamente com a Johnson & Johnson que em 1960 resolveram lançar uma campanha de vendas chamada “semana do bebê robusto”. A campanha foi um sucesso para as empresas e desde então se instituiu esse dia para presentear crianças. No entanto para a maioria dos países o dia das crianças é o dia 20 de novembro, data em que foi aprovada na ONU – Organização da Nações Unidas, a Declaração dos direitos das Crianças onde todas elas, independente de raça, credo, cor ou sexo têm direito a receber afeto, amor, compreensão, alimentação, cuidados com a saúde, educação gratuita e contra toda forma de exploração das mesmas. No dia 12 de outubro somos convencidos a deixar de lado nossa inteligência reflexiva, nossa consciência e somos jogados no

modo padrão de sentimento e emoção. Tudo o que vemos são apelos comerciais carregados de mensagens subliminares que nos induzem a comprar presentes para crianças. Se deixássemos o clima emocional e usássemos a consciência, perceberíamos a situação da infância em nosso país. Basta ler os relatórios da Unicef para ver que o que há de robusto são os altos índices de crianças fora da escola, crianças que vivem na rua, gravidez na adolescência, trabalho infantil, enfim números que deveriam envergonhar nossos governantes. Concluindo, padroeira significa aquela que protege, que defende. Lancemos com Nossa Senhora nosso olhar protetor para a infância no Brasil, para que possamos entender que nossas crianças estão precisando muito mais de respeito do que de brinquedos.

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Especial

18 de outubro de 2020

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8) Queridos irmãos e irmãs!

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esejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo». Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos to-

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Folha Diocesana de Guarulhos

dos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.

mente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 1617). Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos No sacrifício da cruz, onde se realiza a testemunhou. Mas, todos têm uma dignimissão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus dade humana fundada na vocação divina revela que o seu amor é por todos e cada a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacraum (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa mento do Batismo e na liberdade da fé, disponibilidade pessoal para ser envia- aquilo que são desde sempre no coração dos, porque Ele é Amor em perene movi- de Deus. mento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida. Por amor dos ho- Já o facto de ter recebido gratuitamente mens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. a vida constitui um convite implícito para Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: entrar na dinâmica do dom de si mesmo: a sua Pessoa e a sua obra são, inteira- uma semente que, nos batizados, ganhaOutubro de 2020


Especial rá forma madura como resposta de amor no matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e lugar. A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história. A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Outubro de 2020

A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário. Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta:

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10, 1-11). Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos. A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a amparar-nos e a interceder por nós. Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.

Francisco

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Vida Presbiteral Por que há Padres que se suicidam?

Querido Povo de Deus, como é fácil escandalizarmo-nos diante das mínimas falhas dos nossos Padres, vos peço de coração sincero: amem mais os vossos Padres.

N

este mês em que no Brasil se celebra o Setembro Amarelo, em prevenção ao suicídio, eis que nos deparamos com a notícia de dois sacerdotes franceses que tiraram a própria vida. Triste realidade que nos circunda e que pode acontecer a qualquer instante em realidades onde menos esperamos. Em meu percurso de Mestrado, escrevi sobre o tema: «Sacerdócio: do encanto ao suicídio». Este tema nasceu diante da inquietude gerada em mim ao saber da notícia dos 17 sacerdotes que entre os anos de 2017 e 2018 tiraram suas próprias vidas no Brasil. Aquele que segue a Jesus de modo pleno, sem reservas, nunca se arrepende. Aquele que foi chamado ao sacerdócio (de modo geral acontece assim) no dia da ordenação não consegue se conter de alegria. É o cumprimento de uma etapa de sua vocação. Agora se sente pronto para viver a pastoral, para doar-se na realidade vivencial da paróquia, junto ao povo que a ele será confiado, desenvolvendo o Ministério a ele confiado por Cristo. Jesus é sempre fiel, mas, infelizmente, nos caminhos humanos tantas vezes são

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inúmeras as tentações e, basta por um instante não haver os olhos fixos nele, que tudo pode começar a perder o verdadeiro sentido da chamada e resposta vocacional. Aquele que aceitou seguir a chamada vocacional e se encantou por este Jesus pode, nos anos de formação, experimentar de modo contínuo o sonho do ideal: a espiritualidade ideal, a paróquia ideal, os fiéis ideais, o clero ideal, e, ao deparar-se com a realidade que oscila entre o espiritual e as realidades vivenciais quotidianas, entra em choque diante daquilo que sonhou e aquilo que a realidade é. Tantas vezes, ao longo do seu ministério, aquele jovem que aceitou seguir Jesus com tanto entusiasmo e encantamento, vai se frustrando com a impossibilidade de realizar os projetos que sonhou. Além disso, ainda há a possibilidade de se frustrar com as escolhas pastorais da diocese, com a falta de fraternidade de seu clero e até mesmo uma possível falta de paternidade por parte de seu Bispo ou Superior. Aqui entra a grande dualidade e a dificuldade de compreender que a singularidade do ser humano perpassa pelo fato de compreender o grande paradoxo do ser carnal e ao mesmo tempo espiritual. Ao se dar conta desta dicotomia, a lista dos problemas encontrados pode ser incomensurável: o sacerdote é inundado pelo cansaço físico e psicológico contínuo, além

de poder começar a desenvolver uma frieza no confronto do ministério que anteriormente exercia com tanto zelo. Na entrevista feita a Dom Marc Stenger (Bispo de Troyes), ele diz que ao saber da notícia do suicídio dos padres franceses se perguntou: «O que eu não fiz? Será que ouvimos o seu grito?’ (…) O que me leva à pergunta seguinte: não estamos tão preocupados com os problemas de administração da Igreja que já não estamos prestar atenção suficiente às pessoas?”. Diante das perguntas geradas por ele gostaria de refletir três pontos com vocês: primeiro mais diretamente voltado aos senhores Bispos, o segundo aos Sacerdotes e o terceiro ao Povo de Deus: Caros e amados Bispos, antes de mais nada devemos recordar que quem se suicida não deseja matar a si mesmo, deseja apenas matar a dor que o sufoca, porém, diante da impossibilidade de matar esta dor, não encontrando outra alternativa, ele tira a sua própria vida, resolvendo definitivamente aquilo que seria um problema passageiro. Mas antes de fazer isto ele com certeza pediu ajuda! Deu indícios, e é muito provável senhor Bispo, que quem se encontrava ao seu redor não soube entender os sinais e estes padres encontraram no suicídio o único modo para se libertar daquilo que os matava aos poucos interiormente. Portanto faz-se necessário recordar uma coisa fundamental que infelizmente ao longo dos meus estudos pude detectar como lamento de muitos Sacerdotes: Os sacerdotes não conseguem se sentir filhos, na grande maioria das vezes são tratados como empregados do Sagrado. E aqui creio que respondemos a segunda pergunta do senhor bispo. Tantas vezes a administração tem importado mais que a vida das pessoas! No dia da ordenação Sacerdotal são belíssimas as palavras com que a Igreja nos convida a dirigirmo-nos ao Bispo para a eleição do candidato: «Reverendíssimo Pai, a Santa Mãe Igreja pede que ordenes para a função de Presbítero este nosso irmão». Vejam, caríssimos, a Igreja exorta a chamar-vos

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Vida Presbiteral de Pai, não de administradores ou algo do tipo. Por isto a primeira coisa que os sacerdotes esperam de seus Bispos é a Paternidade! Quantas vezes nos últimos tempo o senhor ligou para os padres da sua Diocese e perguntou-lhes como ele estavam, de maneira despretensiosa? Creio que não existe algo mais belo para um Padre que receber a ligação ou a visita de um Bispo e antes de o escutar perguntar como estão as finanças da paróquia, ouvi-lo perguntar com sinceridade e não de maneira pró forme: Meu filho como você está? Tens rezado? Como vai a saúde? Tens se alimentado bem? Como vai o povo de Deus a ti confiado? E a pastoral? E só então depois chegar as finanças… Triste, mas real. Esta é a verdadeira situação de grande parte do Clero, que precisa, não apenas ser pastor de almas, mas pastor de negócios. Que se vê obrigado a produzir números. Caríssimos, os vossos sacerdotes não deixaram suas casas para serem administradores, mas para serem Pastores de almas. No número 1592 do catecismo diz: « Os ministros ordenados exercem o seu serviço junto do povo de Deus pelo ensino (munus docendi), pelo culto divino (munus liturgicum) e pelo governo pastoral (munus regendi). Sendo assim administrar finanças é algo a mais que eles fazem, não desejem que esteja em primeiro lugar na dimensão da vida de um Sacerdote. Caros irmãos Sacerdotes, é muito fácil colocar a culpa nos superiores e retirar a nossa ou fazer de conta que não temos nenhuma uma parcela de culpa. Justamente neste ano em que a campanha da fraternidade nos trazia como lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34) nós somos chamados a nos perguntarmos: Quem é o meu próximo? Com certeza muitos se perguntam como é possível analisar os casos do suicídio sacerdotal, uma vez que os padres deveriam ter uma consciência maior do ato suicida, das consequências que geram o fato de tirar a própria a vida. Deste pressuposto surgem inúmeros comentários e juízos. No entanto somos todos convidados a recordar que ninguém há o direito de condenar o fato de alguém que tenha cometido suicídio, até mesmo porque aquele que

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o cometeu poderia acreditar que tenha feito a coisa correta, acreditando que seu ato era justo; talvez porque estivesse passando por uma situação de extrema angústia moral que somente Deus pode conhecer e compreender o que se passava no coração daquele que o cometeu. Em nossas realidades sacerdotais precisamos estar mais atentos a nós mesmos e aos nossos irmãos. Também a nós foi dada a missão de cuidar do próximo. E quem é o meu próximo? Perguntou certa vez um doutor da lei para colocar Jesus à prova (Cf Lc 10, 29-37). Hoje também nós somos chamados à retomar às páginas do Evangelho e nos questionarmos, “quem é o meu próximo?” Somos chamados a viver a cada dia em nosso ministério a dinâmica do Bom Samaritano. Vivê-la com o nosso povo, mas em modo especial vive-la com nossos irmãos de ministério. Quantos irmãos abandonados, que não encontram apoio e estão fadados à solidão de seu ministério. Tantas vezes rodeados de pessoas, mas tão sós em seu mundo de anseios e angústias sacerdotais. Somos mais que nunca convocados a nos tornamos humanos, a reconhecer nossas necessidades reais e acolher as necessidades dos nossos irmãos. Precisamos sair de nossos mundos vazios e caminhar com o Outro que é tão diferente, compreendendo que apesar de tudo, é ele que é o meu próximo que Jesus tanto fala nos Evangelhos. Em um mundo tão vazio, com imensa perda de significado, com relações tão efêmeras, como posso dar significado à minha vida? Parece simples, mas verdadeiramente sabemos que não é. Faz-se necessário viver a dimensão da união sacerdotal, vivermos e lutarmos por ideais em comum. Até quando precisaremos chorar a perda de irmãos que tiraram a própria vida? Que sentido há em esperar que o próximo se mate para que voltemos outra vez a chorar e nos lamentar enquanto em um cortejo belíssimo e doloroso levamos seu caixão ao cemitério, nutridos de perguntas, de imensos porquês que talvez jamais serão respondidos. É chegada a hora de rever as nossas vidas e nos perguntarmos: Qual o sentido da minha vida? Onde e como posso reencontrar

o sentido de viver? Como ajudar o meu próximo que perdeu o sentido de viver? Querido Povo de Deus, como é fácil escandalizarmo-nos diante das mínimas falhas dos nossos Padres, vos peço de coração sincero: amem mais os vossos Padres, rezem por eles e ao invés de julgá-los procure entendê-los. Os sacerdotes não são anjos, não são seres apenas espirituais. Eles necessitam experimentar o afeto, a acolhida e o companheirismo. Nem de mais nem de menos, tudo na justa medida. Não será necessário nada além de uma acolhida verdadeiramente humana. Irmãos, que todos nós possamos despertar o quanto antes e enxergar com os olhos do coração, com os olhos da fé, do amor gratuito e da misericórdia aqueles que estão ao nosso redor. Sejamos sensíveis ao grito silencioso daqueles que tantas vezes se encontram ao nosso lado, mas que a nossa insensibilidade não nos permite perceber. Faz-se necessário ajudarmo-nos, antes que seja tarde demais. É de suma importância que nos tornemos mais humanos, que saiamos mais de nós mesmos e encontremos o sentido de nossas vidas nos humanizando cada vez mais à exemplo do verdadeiro humano por excelência, Jesus Cristo, que chorou ao saber da morte de seu amigo Lázaro e o ressuscitou (Cf. Jo 11,35). Nós não temos o poder de ressuscitar a ninguém que tenha morrido fisicamente, mas sem sombra de dúvidas temos o poder de com a nossa amizade e amor sincero, ressuscitar tantos corações que ainda vivem fisicamente, porém que já morreram porque perderam o sentido de viver, que vivem como se já não mais existissem. Que possamos chorar com os que choram e alegrarmo-nos com os que se alegram (cf. Rm 12,15). Que nossas vidas possam ser agradáveis perfumes que conseguem, junto com os nossos irmãos mais necessitados, reencontrar o sentido das suas vidas. É ajudando o outro a encontrar o sentido da sua vida que encontraremos o real sentido das nossas. Pe. Deivide Marcklai Rocha Cerqueira

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Missão “Fiz-me fraco com os fracos, com o fim de ganhar os fracos”.

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Igreja católica no Brasil é feliz por realizar, especificamente todos os anos no mês de outubro, uma forte animação e conscientização missionária em todo o território nacional, de modo que torna a identidade das comunidades mais amadurecida e compromissada com o Evangelho vivo de Cristo! Com muitíssimo apreço escrevo este artigo para partilhar, em sintonia com os leitores da nossa Folha Diocesana um pouco da atual conjuntura, onde estamos realizando a nossa missão e um pouco do duro calvário que se multiplica ao nosso povo daqui. O essencial que nós não podemos deixar de compreender é que, independentemente de como as coisas estão, nunca devemos cruzar os braços e desistir; para se evangelizar com firmeza, é necessário que se tenham três motivações bem claras dentro de nós: gratidão, responsabilidade e preocupação pelos outros! Pois a Missão deve acontecer dentro da vida. Neste momento, a nossa realidade missionária está acontecendo dentro de um cenário “complexo e misterioso”, além das realidades próprias que já eram um desafio enorme. A luz de Deus não pode estar apagada no coração do missionário, porque senão, ele não terá olhos abertos, e assim, poderá vir a cair nos escombros das armadilhas, daquelas situações que geram somente a morte. Dentro da minha realidade específica de missão, neste momento, tenho me deparado com tantas situações de doenças que muitas vezes, não tenho outra coisa a fazer, a não ser, alguma coisa tentar fazer, pois se Deus os trouxe até a mim, certamente, Ele deve me usar como um tipo de instrumento qualquer por mais ineficiente que seja eu, diante de

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situações que nossos olhos nunca viram. Mesmo com essa pandemia, nunca deixei de atender tantas crianças e também alguns adultos, em tratamentos de diversas situações de feridas gravíssimas, que somente pela força de Deus se pode encarar com fé! Muitas crianças sem ter aonde buscar socorro para tratamentos, muitas mortes de crianças doentes, desnutridas, por anemias ora por não ter remédio adequado para combater suas doenças. Outra chaga com que diariamente convivo é a falta de água em minha região, nesta época já acabou; tem três furos de água próximos para a população; nesta altura a fila permanece o dia inteiro no sol e muita briga por causa de água, e nesta fila interminável nós também entramos, porque na casa paroquial da nossa missão de Mazeze ainda não conseguimos abrir um poço porque é muito caro, custa $12. 500, 00 (doze mil e quinhentos dólares). E para fazer este tratamento com as nossas crianças usa-se bastante água, porque a primeira coisa é lavar as cabeças que estão tomadas de infecções para poder aplicar antibióticos. Mas com todos esses desafios, Deus tem me concedido fé e forças para cumprir minha missão, à qual tenho sentido o chamado. A fome neste tempo tem se multiplicado por todos os lados; como eu moro dentro das aldeias, é muito penoso de se ver no dia a dia; o coração da gente “sangra” muitas vezes, diante dessas misérias. Recentemente, eu estava voltando do terreno da missão e passei entre umas casas por volta das 12h, o sol muito quente, e um grupinho de seis crianças estavam em rodas e no meio, uma tigelinha pequena com um pouquinho de chima, somente isso, (farinha de milho escaldada) e elas ao me verem disserem: “Karibu”, que significa: servido? Meu Deus, eu as agradeci e segui meu caminho contemplando aquela gratidão advinda daquele grupinho de crianças pobres, e com um quase nada de comida, e ainda me oferecerem. A fome realmente é uma “doença também”, que pouco a pouco vai encurtando os dias de vida das pessoas aqui! E, por fim, creio que todos vocês estejam acompanhando a questão do terrorismo aqui em nossa província; além dos sofrimentos que já se faziam presentes, agora é o dobro. O terrorismo islâmico, praticamente até o momento já dominou uma parte de toda a província. No momento são mais de 08 paróquias fechadas porque as autoridades ainda não conseguiram controlar. Muitos mortos, inclusive soldados. Milhares e milhares de deslocados e so-

breviventes, histórias terríveis de passarem noites dentro das matas fugindo, sendo mordidos por cobras e picados por todos os tipos de insetos, mulheres que deram a luz dentro do mato, doentes que foram carregados e que morreram. Familiares que até agora não encontraram o resto da família, crianças perdidas nas matas. Vivemos a missão em um terreno conflituoso em todos os sentidos. Não sabemos ainda a origem e os objetivos claros de tudo isso. Contudo, a fome esmaga as pessoas por toda a província; os missionários, juntamente com a diocese e a Cáritas são, na maioria das vezes, referências para muitas pessoas. Na minha região, embora o povo esteja também nesta época comendo mandioca seca, eles doaram certa quantidade de mandioca seca para Caritas ajudar os deslocados na província; foi uma experiência forte; eu fui dentro das comunidades pobres e mesmo assim, cada uma doou um saco de mandioca seca para os deslocados pilarem e comerem, ou seja, pra nossa realidade, um sinal forte de caridade cristã evangélica. A única certeza e conclusão que tenho é que a Igreja é o coração de Deus para às nações, que dá vida ao mundo; enquanto esta Igreja estiver no mundo, o coração de Deus estará pulsando sangue, dando vida. Se a Igreja desaparece, o coração deixa de existir, então não haverá mais vida. Deus abençoe a todos que rezam e fazem a missão de Deus acontecer no mundo e na história! Cada um de nós neste momento pode fazer uma oração, seja pedindo perdão pelo nosso orgulho e vaidade fazendo uma ação de graças a Ele. Província de Cabo Delgado, Diocese de Pemba - Missão de Mazeze

Pe. Salvador Maria Rodrigues de Brito 24 de Setembro de 2020 Memória de Nossa Senhora das Mercês!

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Aconteceu 15º Viva a Vida - 2020 N

o dia 06 de setembro, vivenciamos o 15o VIVA A VIDA. Desta vez de uma maneira inovadora, totalmente online. Foi um momento de grande celebração no qual pudemos nos recordar da importância das vocações. Nossa programação contou com entrevistas, animação, muita diversão, e oração. Tivemos a presença de padres, diácono, consagrados, consagradas, seminaristas, membros de novas comunidades,

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e fiéis leigos, também contamos com a presença de nosso bispo Dom Edmilson, que presidiu para nós a Santa Missa, e logo após nos presenteou com um lindo musical que ainda pode ser acessado em nossa página no Facebook. Louvamos a Deus que nos permitiu vivenciar mais uma edição do VIVA A VIVA. Que a alegria que tomou conta de nossos corações neste ano possa germinar e nos motivar para que no próximo ano celebremos com grande júbilo o 16o VIVA A VIDA!

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Aconteceu O

Romaria Virtual Diocesana

título desta matéria traduz a realidade que jamais esperávamos vivenciar e que marcou o dia 19 de setembro de 2020, a romaria diocesana exclusivamente virtual, que significou um convite para que os fiéis acompanhassem em casa, pelas redes sociais, a santa missa, algo que jamais faríamos nos anos anteriores, pois a motivação de participação presencial era o coração da romaria, com a mobilização de dezenas de ônibus e mais de quinze mil pessoas no santuário da Mãe Aparecida. De forma alguma, essa reflexão é para lamentação, pelo contrário, confirma que mesmo diante de toda situação de pandemia e desolação, Deus demonstrou o seu consolo e permitiu a romaria diocesana, de um novo modo, com a presença apenas do bispo, padres e alguns fieis na casa da Mãe. Alimentar a gratidão a Imaculada Conceição e a esperança em Deus, foram mais uma vez, as grandes motivações da Romaria deste ano tão complexo. Que venha 2021, e o normal seja a superação do anormal de 2020. Viva a Mãe Aparecida! Viva a Romaria Diocesana de Guarulhos, que mesmo virtual, não deixou de acontecer pelo poder da fé do povo de Deus.

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Aconteceu N

Pela Pátria e Grito dos Excluídos

o dia 07 de setembro às 12h, Dom Edmilson Amador Caetano, reuniu na Catedral Imaculada Conceição, sacerdotes e fiéis para refletirem sobre o Grito dos Excluídos que tem por lema permanente “Vida em primeiro lugar”. Neste ano, o lema: “Basta de Miséria, Preconceito e Repressão! Queremos Trabalho, Terra, Teto e Participação!”, e logo em seguida presidiu a Santa Missa.

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Vai Acontecer

Coleta Terra Santa

Padres Aniversariantes Outubro 2020

Nascimento 01 (1951) Pe. Valdocir Aparecido Raphael 06 (1988) Pe. Marcos José Pinto Correia 08 (1974) Pe. Francisco G. dos Santos 12 (1968) Pe. Jair Oliveira Costa 12 (1084) Pe. Cristiano Ap. de Sousa 26 (1977) Pe. Marcelo Dias Soares

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Ordenação 07 (1973) Pe. René Lima 19 (1986) Pe. Aparecido Gonçalves 19 (1986) Pe. Valdocir Ap. Raphael 25 (2013) Pe. Pedro Nacélio S. dos Santos 25 (2013) Pe. Cássio Fernando A. Farias

N.SRA.DA CONCEIÇÃO

R$ 1,693.00

N.SRA.DO BONSUCESSO

R$ 573.20

SÃO PEDRO APOSTOLO

R$ 850.00

SÃO GERALDO

R$ 598.60

S.FRANCISCO DE ASSIS- GOPOUVA

R$ 2,476.85

STO.ANTONIO.MARIA CLARET

R$ 245.90

NSRA.DE FATIMA V.FATIMA

R$ 1,906.30

STO.ANTONIO V.AUGUSTA

R$ 2,353.40

NSRA..APARECIDA - COCAIA

R$ 950.00

NSRA.APARECIDA-JD.V.GALVAO

R$ 320.00

N.S.LOURDES - ITAPEGICA

R$ 300.00

SÃO JUDAS TADEU-T.TIBAGI

R$ 2,161.05

STO.ANTONIO-PQ.STO.ANTONIO

R$ 1,627.00

NSRA .ROSÁRIO - V.ROSALIA

R$ 883.55

SANTA MENA

R$ 1,042.00

NSRA.DE FATIMA-JD.TRANQUILIDADE

R$ 1,022.70

STO.ANTONIO-GOPOUVA

R$ 800.00

S.TEREZINHA - CUMBICA

R$ 2,805.25

SÃO ROQUE - CECAP

R$ 910.00

STA.RITA DE CÁSSIA -JD. PALMIRA

R$ 450.00

SANTO ALBERTO MAGNO

R$ 1,651.10

SÃO JOSÉ - J.PAULISTA.

R$ 2,725.00

STO.ANTONIO - PIMENTAS

R$ 2,163.60

STA.CRUZ - TABOÃO

R$ 1,020.55

S.FRANCISCO DE ASSIS-UIRAPURU

R$ 410.00

SÃO JOÃO BATISTA

R$ 1,640.00

S.FRANCISCO ASSIS - PQ.NAÇÕES

R$ 385.00

STA.CRUZ NSRA.APARECIDA -P.DUTRA

R$ 1,677.95

S.RITA DE CÁSSIA – J.CUMBICA

R$ 1,390.15

NSRA.DE FATIMA-JD.ARACILIA

R$ 350.45

SÃO VICENTE DE PAULO

R$ 620.00

NSRA.DO LORETO

R$ 736.00

SANTA LUZIA – PQ.MIKAIL

R$ 711.45

SANTA LUZIA –PQ. ALVORADA

R$ 812.50

S.JUDAS TADEU – JD.ALICE

R$ 1,100.00

SANTA ROSA DE LIMA

R$ 786.90

SAG. CORAÇÃO DE JESUS-S.DUMONT

R$ 550.35

SAGRADA FAMILIA-JD.PARAISO

R$ 354.00

NSRA.DE GUADALUPE

R$ 549.60

NSRA.APARECIDA-JD.AMERICA

R$ 380.00

SAG. CORAÇÃO DE JESUS-JD.NORMANDIA

R$ 1,045.95

SAGRADA FAMILIA-JD.CARMELA

R$ 379.00

N. SRA. APARECIDA INOCOP

R$ 1,367.50

SÃO PAULO APÓSTOLO

R$ 2,117.35

SANTO ANDRÉ APÓSTOLO

R$ 581.25

CAPELANIA STELLA MARIS

R$ -

TOTAL ARRECADADO

R$ 49,474.45

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CNBB Mensagem sobre as queimadas em território brasileiro

“As feridas causadas à nossa mãe terra são feridas que também sangram em nós.

(Papa Francisco – Mensagem do presidente da Colômbia, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente).

A

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acompanha indignada a devastação causada pelas queimadas nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal. Une-se às diversas manifestações de entidades católicas feitas nos últimos dias e enaltece todos que cuidam, com esmero, da Casa Comum, de modo especial os que bravamente combatem os focos de incêndio e trabalham pela preservação da vida nas áreas afetadas. A CNBB se solidariza com todos os voluntários que arriscam a própria vida, atuando com poucos recursos no combate ao crime socioambiental que está ocorrendo e na tentativa de salvar a fauna restante que não foi consumida pelo fogo. Mesmo diante de tamanha destruição, o Governo Federal paradoxalmente insiste em dizer que o Brasil está de parabéns com a proteção de seu meio ambiente. Esta atitude encontra-se em nítida contramão da consciência social e ambiental, na verdade beneficiando apenas grandes conglomerados econômicos que atuam na mineração e no agronegócio. O Ministério Público mostrou ao Gover-

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no Federal os lugares mais sensíveis onde o desmatamento e a queimada aconteceriam de forma mais evidente. Até mesmo ações judiciais foram propostas. Nada, entretanto, surtiu efeito que evitasse essa tragédia socioambiental. Não é possível permanecer em silêncio diante, por exemplo, dos cortes orçamentários no Ibama e no ICMBio, bem como do sucateamento dos órgãos de combate e fiscalização. O orçamento liberado para fiscalização do desmatamento no ano de 2019 foi de 102 milhões de reais e ainda sofreu um bloqueio de 15,6 milhões. Neste ano de 2020, o recurso foi ainda menor: conforme o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA), aprovado, foram previstos 76,8 milhões para as ações de controle e fiscalização ambiental do Ibama. Isso significa ter 25,2 milhões de reais a menos! De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza – WWF-Brasil, apesar da criação do Conselho da Amazônia, com a promessa de melhor controle no bioma por parte das Forças Armadas, agosto deste ano repetiu e mesmo superou a tragédia vivida em 2019, com um pico assustador no número de focos de incêndio. Essa agressão à Casa Comum, teve como resultado, nos anos de 2019 e 2020, recordes na quantidade de focos de queimadas no Cerrado (50.524 e 41.674), no Pantanal (6.052 e 15.973) e na Amazônia (66.749 e 71.499), totalizando, segundo dados do INPE, 123.325 focos em 2019 e 129.146 até 20 de se-

tembro de 2020, correspondendo a um aumento de 5.821, destruindo grande parte da biodiversidade nestes biomas, ameaçando povos originários e tradicionais. Tudo isso se constitui num processo de verdadeiro desmonte das leis e sistemas de proteção do meio ambiente brasileiro. Em meio a toda essa devastação – cujas consequências chegam aos países vizinhos – também o bom senso é agredido tanto pelo o negacionismo explícito e reincidente por parte de nossas lideranças governamentais, quanto pela acusação de que povos e grupos seriam os responsáveis por algumas das queimadas. Esta criminalização, feita perante o mundo, camufla, na fumaça das fake-news, o esforço desses povos por sobrevivência, além de trazer o caos da desinformação. Não basta, porém, apenas constatar com tristeza a destruição ambiental e o desrespeito ao ser humano. Por isso, a CNBB convoca a sociedade brasileira a se unir ainda mais em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil, reforçando a voz dos que desejam um país mais justo e solidário, empenhados na proteção da Casa Comum, partindo dos mais vulneráveis. A efetiva superação dessa caótica situação só se dará por meio de forte fiscalização, investigação e responsabilização dos culpados, obrigação de reflorestamento, recuperação integral da natureza devastada e reorganização da estrutura econômica. Em meio a nossas diferenças, permaneçamos firmes na esperança e na união, solidificados na certeza de que a vida, em especial a vida humana, é o valor maior que nos cumpre preservar. Brasília, DF, 23 de setembro de 2020 Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo de Belo Horizonte, MG Presidente Jaime Spengler Arcebispo de Porto Alegre, RS 1º Vice-Presidente Mário Antônio da Silva Bispo de Roraima, RR 2º Vice-Presidente Joel Portella Amado Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ Secretário-Geral

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