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Aprendendo que nem tudo deve ser publicado �����������������������������������������������������������

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Vou esclarecer no início. O que deve ser publicado é aquilo que temos segurança de que a pergunta é relevante, que o dado foi bem coletado, bem analisado, que contribui científica ou socialmente, independentemente de corroborar ou refutar nossa hipótese inicial.

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E então por que vou escrever sobre o que se segue aqui? Porque, apesar de não ser relevante cientificamente, me mostrou a importância das análises simples, confirmou que matemática é uma linguagem e que, por mais que coloquemos energia em algo, nem sempre teremos um produto e esse é o risco de ser pioneiro e inovar.

No Projeto de Doutorado estava prevista a avaliação polissonográfica e, com isso, surgiu a necessidade de compreender a análise que poderíamos desenvolver, o que me levou a cursar a disciplina de Cálculo I e II no Campus do Vale e a tentar uma aproximação com a Física a fim de compreender o que era uma série temporal

PARTE III TEMPO VI - Formação Stricto Sensu

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Junto com a Física veio a análise do caos, e é assim que entra Amsterdam. Na revisão de bibliografia, vimos que, em Amsterdam, existia um centro de estudo dos sinais por análise complexa. Entramos em contato por e-mail. Como o Professor não respondia os e-mails, decidi que era importante ir até seu Laboratório para conversar com quem estava realizando essa análise. Infelizmente, o matemático que fazia as análises tinha tido um infarto e estava sendo buscado um outro colaborador. Para nossa surpresa, começamos conversando em Inglês e terminamos em Português. Ele era de Portugal. Sem bolsa era muito difícil manter-se por muito tempo no exterior. Assim, fazíamos viagens curtas que precisavam ser muito produtivas. Foi quando escutei pela primeira vez as expressões como atrator de Lorenz, expoente de Lyapunov e fractais.

Mas nada disso viríamos a publicar em jornais ou revistas, apresentamos em congressos para poder ter o feedback do que estávamos fazendo. Porém não tínhamos segurança para publicar. A análise das fases do sono nos trazia pouca informação relevante.

Até agora vejo que o estudo polissonográfico precisa sair dos estágios para ser compreendido como um ritmo ultradiano. Quem sabe o que nos falte seja desenvolver técnicas que avaliem esses ritmos e analisem estruturas ao longo do sono. Naquela época, para mim já era uma novidade perceber que existia uma área que estudava os ritmos biológicos. Aprendi a analisar uma polissonografia, identificar visualmente os estágios. Perdi o resto de medo dos números que me restava e compreendi uma linguagem matemática relacionada à complexidade que me foi muito útil na proposição de análises em outras situações.

PARTE III TEMPO VI - Formação Stricto Sensu

No Brasil, fui descobrindo que existiam grupos de Cronobiologia, a maioria em São Paulo, e junto a eles mais viagens para buscar compreender que as análises que poderíamos realizar eram muito mais simples, como a do cosinor.

Nessa rede de colaborações me foi apresentado o Prof. Antoni Diez Noguera, Toni, e a parceria se solidificou em uma FeSBE onde ele nos apresentou um programa que usamos até agora no Laboratório. Um pouco ultrapassado pela liberdade que o R e o Python nos proporcionam, mas, além de realizar a análise nesses programas, sempre fazemos o double check no El Temps.

Assim, a conclusão era clara: quanto mais simples a análise que fizéssemos nos nossos dados, mais fácil explicar o fenômeno e melhor compreender os dados. Aos poucos fui compreendendo que existia uma área da ciência chamada Cronobiologia. Com isso ficou tudo mais fácil, pois, procurar por algo na internet, tornava o mundo mais próximo; foi assim que comecei com os primeiros contatos, as primeiras perguntas e a formar uma rede com a qual conto até agora.

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Parte IV