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Lúpus Eritematoso Sistêmico, um lobo a enjaular
Por Leci da Silva
OLES (Lúpus Eritematoso Sistêmico), ou simplesmente Lúpus (de lobo, pelas manchas na face), é uma doença inflamatória crônica de causa desconhecida. Não sendo contagiosa ou infecciosa, até o momento os cientistas ignoram como o sistema imune trabalha de forma incorreta para trazer as manifestações clínicas da enfermidade. Com um número cada vez maior de casos no Brasil, a doença lúpica vem preocupando de forma crescente a pesquisadores, médicos e pacientes.
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Vitimando, em maior índice, as mulheres em idade reprodutiva - entre os 20 e 40 anos, a doença parece ter como fator desencadeante o contato com agentes externos, tais como vírus, bactérias, agentes químicos e a radiação ultravioleta, os quais agiriam em contato com o sistema imune de um indivíduo geneticamente predisposto a produzir anticorpos que agridem o organismo. Estes anticorpos são dirigidos contra constituintes normais - autoanticorpos - provocando lesões nos tecidos e também alterações nas células sanguíneas.
O Dia Mundial do Lúpus é 10 de maio, tendo como finalidade principal reacender a esperança de pacientes e familiares e, sobretudo, intensificar os esforços na conquista de melhor diagnóstico, tratamento e cura desta enfermidade. O Lúpus vem sendo tratado por reumatologistas especializados que, diagnosticando-o através de exames laboratoriais, têm propiciado o alívio dos sintomas da doença, trazendo uma melhora significativa e uma qualidade de vida digna às pessoas acometidas.
Segundo o médico reumatologista Dr. Carlos von Mühlen, as primeiras manifestações da doença lúpica variam muito de paciente para paciente, sendo as mais frequentes e significativas um mal-estar pelo corpo, febre, cansaço, artrite de várias juntas, emagrecimento, perda do cabelo, depressão e úlceras da boca ou na mucosa do nariz. “Podemos observar, ainda, pacientes manifestando dor nas articulações, na musculatura e apresentando manchas vermelhas na pele, manchas estas que, em boa parte dos casos, são confundidas com urticária, atrasando assim o diagnóstico,” explica o especialista.
Para a paciente Vera dos Santos, portadora de Lúpus desde 1998, o diagnóstico rápido e correto da doença foi fundamental para o sucesso do tratamento. As primeiras manifestações em seu caso foram de fraqueza no corpo e inchaço nas articulações. Procurou logo um especialista que, após inúmeros exames, confirmou o diagnóstico de Lúpus e prescreveu medicamentos adequados. “Atualmente mantenho a doença sob controle, mas, para isto, considero de suma importância às visitas periódicas ao reumatologista e a dedicação ao tratamento indicado por ele”, informa.
Inúmeros são os sintomas e tipos de lesões manifestadas pelo Lúpus. Um dos casos mais comuns de lesão cutânea é aquela conhecida como lesão “em asa de borboleta”, que se caracteriza por uma erupção avermelhada que atinge as bochechas e o dorso do nariz. No entanto, manchas eritematosas podem se manifestar em qualquer parte do corpo. Uma outra característica dos pacientes com LES é a sensibilidade ao sol (fotossensibilidade). Assim, estas manchas podem ser proeminentes ou unicamente localizadas em áreas expostas à luz solar. Outras vezes, são mais profundas e deixam cicatriz, o que chamamos de “lúpus discóide”.

Para o Dr. von Mühlen, o aparecimento de feridas dentro do nariz, na língua e na mucosa oral, associado a dores nas juntas e manchas na pele, são forte indício de o paciente estar desenvolvendo o Lúpus. “Nestes casos, o diagnóstico é feito por um especialista, através da associação de dados clínicos e laboratoriais”, afirma o reumatologista.
Ainda segundo o Dr. von Mühlen, existem mais de 120 tipos de reumatismos, tais como artrose, microcristalinas (gota), partes moles (tendinites, bursites), infecciosas e autoimunes. Os sintomas podem variar de pacientes para paciente. “O uso de medicamentos à base de antiinflamatórios e imunossupressores é o mais comum e efetivo no tratamento das doenças reumáticas, porém o diagnóstico diferencial correto é de suma importância. O uso de cortisona hoje em dia se faz de forma bem mais parcimoniosa que antigamente e nem todos os pacientes têm necessidade de recebê-la”, declara.
De acordo com nosso entrevistado, outras manifestações podem evi- denciar o diagnóstico do LES, tais como: neurite periférica (com ardências, formigamentos, queimação e perda de força); distúrbios do comportamento, como irritabilidade, choro fácil, quadros mais graves de depressão e mesmo psicose; cefaleia constante e sem causa aparente; convulsões, que podem ser a primeira manifestação em crianças; fotossensibilidade (pelo sol ou lâmpadas fluorescentes); úlceras orais e nasais; artrite e desordem renal. “Um detalhe importante, que deve ser observado nos pacientes com Lúpus crônico, é o fator emocional, com ansiedade ou depressão, que podem ser oriundos de problemas estéticos, provocados pela dermatite ou por uso de corticóides. Na maioria dos casos, uma descompensação emocional pode levar a nova crise da doença, merecendo atenção redobrada, pela potencial gravidade da situação”, revela.
O exame mais preciso para o diagnóstico do LES é o FAN (fator antinuclear), o mais sensível para detectar uma anormalidade imunológica no indivíduo doente; o anti-DNA, que sinaliza doença ativa, geralmente acompanhado de doença renal, e o anti-Sm. Este último não é muito frequente, mas, quando positivo, praticamente confirma o diagnóstico, devido a sua grande especificidade. “Confirmado pelos exames o diagnóstico, o tratamento do Lúpus é realizado de acordo com as características de cada caso ou paciente, com inúmeros recursos à disposição do médico”, conclui o reumatologista.