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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 13 de junho, 2020

JOSÉ CARLOS ROLO:

“NESTA ALTURA, O ESSENCIAL É SERMOS TODOS TOLERANTES, COMPREENSIVOS E SOLIDÁRIOS”. «AMAZÓNIA» | «CARDEAL» | ÉPOCA BALNEAR ARRANCOU NO ALGARVE 1 ALGARVE INFORMATIVO #252 SANTOS POPULARES DE QUARTEIRA | «SÃO BRAZ D’ALPORTEL 1914»


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58 - Marchas dos Santos Populares de Quarteira

10 - Época Balnear 2020 arrancou na Praia da Rocha ALGARVE INFORMATIVO #252

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OPINIÃO 112 - Paulo Cunha 114 - Paulo Bernardo 116 - Mirian Tavares 118 - Ana Isabel Soares 120 - Adília Céar 122 - Fábio Jesuíno 124 - Nuno Campos Inácio 126 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 130 - Augusto Pessoa Lima

46 - Cardeal Suites & Apartments

100 - «Amazónia»

36 - Rotunda da Ribeira em Alvor

78 - São Braz d’Alportel 1914 7

24 - José Carlos Rolo ALGARVE INFORMATIVO #252


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ANTÓNIO COSTA VEIO À PRAIA DA ROCHA DAR O «PONTAPÉ-DESAÍDA» DA ÉPOCA BALNEAR 2020 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina rrancou, no Algarve, no dia 6 de junho, a Época Balnear 2020, com a abertura oficial a ter lugar, na Praia da Rocha, numa cerimónia presidida pelo PrimeiroMinistro António Costa e que contou igualmente com as intervenções do Ministro da Defesa Nacional, João Gomes ALGARVE INFORMATIVO #252

Cravinho, e do Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes. A comitiva integrou ainda os Secretários de Estado das Pescas, do Turismo, do Ambiente, da Saúde e da Descentralização e Administração Local, bem como de várias autoridades civis e militares, atestando, assim, a importância deste ato simbólico. Uma abertura de época balnear que gerou na presidente da Câmara Municipal de 10


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Portimão, Isilda Gomes, “algumas dúvidas”, reconheceu a própria, “ao

postura dos autarcas, dos cidadãos e das autoridades de saúde, “uma rede

que o Primeiro-Ministro respondeu que não devíamos ser tão alarmistas ou pessimistas”. “De facto, o seu otimismo, a sua determinação e força, e a forma como tem trabalhado com o seu governo, fez com que fosse possível chegarmos aqui”.

de sinergias que fez com que Portugal saltasse para a ribalta dos melhores países onde se pode gozar férias e que tornou o Algarve na região turística mais segura para esse fim”. Mas a edil

Perante muitos veraneantes que aproveitaram o bom tempo para rumar à Praia da Rocha, Isilda Gomes enalteceu a ALGARVE INFORMATIVO #252

não esqueceu também a resiliência e capacidade dos empresários para se reorganizarem perante o mundo novo que se vive mercê da pandemia da covid-19. “Hoje estão aqui, com

toda a sua força, para lutarem 12


para não se afundarem ainda mais, num momento da história que, certamente, todos nos vamos recordar para o resto das nossas vidas, mas que também iremos fazer tudo para nos esquecermos dele”, afirmou Isilda Gomes. Porque os cidadãos precisam de descansar, de ter os seus momentos de lazer, a abertura das praias assume-se ainda mais importante, na opinião da autarca portimonense. E para isso são determinantes as regras criadas e implementadas pelos Ministérios da Defesa Nacional e do Ambiente e Ação Climática, em parceria com a tutela da Saúde. “Quando se começaram a

pelo nosso turismo, por Portugal, pelo Algarve, por Portimão. Duvido que alguma vez tivéssemos festejado a abertura da época balnear com o entusiasmo com que o estamos a fazer hoje, porque se trata da abertura de uma porta para o futuro, representa uma nova vida para todos, sobretudo para os nossos empresários, que estão a passar por uma fase muito má. O governo tem tentado, e conseguido, de alguma forma, dar-lhes a mão 13

discutir as regras para se puder usufruir das praias, tive muitas dúvidas se seria possível colocálas em prática. Contudo, houve sempre uma abertura e diálogo permanente para se chegar a um entendimento que está agora bem visível para todos. E os autarcas, os empresários e os cidadãos portimonenses tudo farão para acolher da melhor forma possível quem optar pelo nosso concelho para vir descansar, para gozar as suas merecidas férias, e apenas precisamos, da parte deles, que olhem para as regras e que as cumpram”, frisou Isilda Gomes. “Não queremos que alguém saia da praia doente. Desejamos que ALGARVE INFORMATIVO #252


Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão

passem aqui momentos de verdadeira felicidade, porque isso é algo que todos merecemos”,

de 850 mil habitantes, em simultâneo, das quais 114 estão no Algarve”, indicou o vice-presidente da

reforçou.

APA, Pimenta Machado.

Peça importante para que tudo decorra dentro da maior normalidade possível na presente época balnear será a aplicação «Info Praia», da Agência Portuguesa do Ambiente, que disponibiliza um conjunto de regras e procedimentos para que as praias possam ser desfrutadas em segurança. Uma app que já existia e que informava da qualidade das águas balneares, mas que, em 2020, tem como grande novidade a taxa de ocupação das praias portuguesas. “Temos 552 praias

De uma forma bastante simples e interativa, o cidadão coloca na aplicação qual a praia que deseja frequentar e fica de imediato a saber qual o seu estado de ocupação, de acordo com as tradicionais cores verde, amarelo e vermelho. Ao mesmo tempo, pode ficar a saber quais as praias que existem em cada concelho, como chegar até elas, por carro, a pé ou de bicicleta, devendo, de preferência, optar sempre por uma praia que ostente a cor verde. Outras

cuja capacidade máxima é de cerca ALGARVE INFORMATIVO #252

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Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente informações importantes disponibilizadas pela aplicação são se a época balnear já abriu naquela praia, isto é, se já está vigiada, qual a qualidade das águas, quais os serviços existentes, se tem apoio balnear, posto de socorros, sanitários, balneários, tudo isto em português e inglês. “Na APA fazemos, todos os

matemático que é determinada a ocupação atual de cada praia”, explicou Pimenta Machado. “Vamos instalar 77 câmaras por todo o país, em parceria com a Fundação Vodafone, a que se somam as 80 beachcam da MEO”, acrescentou o

anos, mais de seis mil análises à qualidade das águas balneares, são mais de 150 mil euros investidos, porque há mais preocupações a ter para além da covid-19. E a informação contida na aplicação chega de várias fontes, entre elas os assistentes de praia e as imagens captadas pelas câmaras de vigilância. E é a partir dessas imagens e de um algoritmo

vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente.

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LIBERDADE TOTAL PARA SE IR À PRAIA Na ocasião, João Gomes Cravinho lembrou que, todos os anos, a Defesa Nacional contribui, de várias maneiras, para que os portugueses possam desfrutar das praias e gozarem a época ALGARVE INFORMATIVO #252


João Gomes Cravinho, Ministro da Defesa Nacional balnear em total segurança. Um trabalho que, este ano, é reforçado, pelo que o governante agradeceu o empenho das Capitanias e Portos que cobrem 2.500 quilómetros de costa portuguesa, incluindo os Arquipélagos da Madeira e Açores. “Temos o Instituto de

Socorro a Náufragos, a Autoridade Marítima e a Marinha a colaborarem de forma muito intensa para que esta preparação seja bem conseguida e este ano houve uma particular atenção para que as praias não vigiadas beneficiassem de alguma fiscalização para que possam ser utilizadas em segurança. Em 2020, atendendo às circunstâncias ALGARVE INFORMATIVO #252

particulares que vivemos, houve uma maior intensidade de trabalho conjunto entre as entidades, para além de um reforço do pessoal – 169 efetivos da Marinha que vão apoiar a Autoridade Marítima”, declarou o Ministro da Defesa Nacional, na Praia da Rocha. “Portugal tem dos

melhores índices de segurança do mundo no que diz respeito às praias e, ao contribuirmos para esses números, estamos a ajudar a que os turistas escolham o nosso país para as suas férias. Os portugueses sabem que podem contar com a Defesa Nacional para os desafios que o país 16


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João Pedro Matos Fernandes, Ministro do Ambiente e da Ação Climática

enfrenta e esta época balnear será bem-sucedida se houver uma convergência do governo, das autoridades locais e dos cidadãos. Temos, cada um de nós, uma responsabilidade cívica pessoal e intransmissível e o seu exercício será a chave do êxito desta época balnear”, avisou João Gomes Cravinho. O outro Ministério diretamente envolvido na preparação da época balnear foi o do Ambiente e da Ação Climática, e João Pedro Matos Fernandes assumiu, de imediato, que era fundamental para o país que as praias abrissem em segurança, devido a todas as atividades económicas que, direta ou indiretamente, lhes estão ligadas.

“Quero acreditar que fomos bemsucedidos no exercício que é ALGARVE INFORMATIVO #252

combinar a vontade que tomos sentimos de ir para a praia e a necessidade de garantirmos segurança para quem vem para a praia. O acesso à praia é livre, com regras são muito simples”, manifestou o Ministro, recordando que Portugal é, desde os tempos do Rei D. Carlos, um dos poucos países da Europa que não possui nenhuma praia privada. “Temos é que cumprir

regras básicas de afastamento: 1,5 metros entre cada grupo; 3 metros entre cada guarda-sol ou toldo, nas concessões; 1,5 metros entre as pessoas quando se entra e sai da praia; todo o lixo tem que ser posto no sítio certo, com as luvas e as máscaras descartáveis a serem colocadas no lixo 18


O Primeiro-Ministro António Costa

diferenciado; usar máscara e calçado quando se vai aos apoios de praia”, descreveu João Pedro Matos Fernandes. “Regras que foram criadas, pelo governo, com um enorme bom-senso e que terão que ser cumpridas com um enorme bom-senso por todos os utentes das praias. Ainda estamos a afinar estes processos, porque não podíamos fazer testes com as câmaras das praias quando a época balnear ainda não tinha arrancado. Também não podíamos pedir aos concessionários que estivessem a carregar informações para a aplicação, quando ainda não havia pessoas no areal. Oxalá já haja 19

muita gente nas praias em junho, mas é sobretudo em julho e agosto que isso vai acontecer e, nessa altura, esta afinação estará concluída. Portanto, podem vir à praia com toda a segurança, bastando, para tal, que cumpram com as regras”, apelou o Ministro do Ambiente e da Ação Climática. A cerimónia de abertura da época balnear 2020 terminou com as palavras do Primeiro-Ministro, que garantiu que, apesar da pandemia que se vive, “a

praia continua a fazer bem à saúde”. “Este ano podemos ir à praia, da mesma maneira que podemos trabalhar, estudar, andar na rua, frequentar os ALGARVE INFORMATIVO #252


centros comerciais, percorrer o país de norte a sul, desde que o façamos com segurança. E, nas praias, houve sempre normas de segurança. Se as águas estivessem poluídas, não as podíamos utilizar. Se a bandeira estivesse vermelha, podíamos frequentar a praia, mas não podíamos nadar. Este ano, temos algumas regras novas, do afastamento, da higiene respiratória e da higienização. E, se o fizermos, as praias vão fazer tão bem à saúde este ano como sempre o fizeram no passado”, assegurou António Costa. Praias que são, sem dúvida, indissociáveis da cultura de férias dos portugueses, com Portugal a ter uma oferta bastante diversificada e com as épocas balneares a abrirem, de forma progressiva, nas várias ALGARVE INFORMATIVO #252

regiões, até ao final de junho. “A

partir de hoje, é bom que se possa ir à praia, com segurança. Na totalidade das praias portuguesas temos capacidade para mais de 850 mil pessoas em simultâneo. É evidente que elas não cabem todas na Praia da Rocha, apesar do seu enorme areal, pelo que é muito importante que, antes de escolhermos a praia que vamos utilizar, tenhamos o cuidado de verificar qual é a sua sinalética da ocupação e procurar as praias e os horários que tenham menor ocupação. Se todos o fizermos, continuaremos a gozar da liberdade de ir à praia, porque a nossa saúde também precisa de praia neste Verão de 2020”, rematou António Costa .

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“NESTA ALTURA, O ESSENCIAL É SERMOS TODOS TOLERANTES, COMPREENSIVOS E SOLIDÁRIOS”, DEFENDE JOSÉ CARLOS ROLO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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om 80 casos confirmados até à data de covid-19, entre os quais dois óbitos a registar, Albufeira tem sido um dos concelhos algarvios mais afetados pela pandemia, uma situação que José Carlos Rolo justifica pelo seu forte pendor turístico, mas também por ter residentes de múltiplas nacionalidades. Apesar disso, o presidente da Câmara Municipal de Albufeira esclarece que a situação nunca foi tão grave como se anunciou, ou fugiu ao controlo, como se chegou a temer em determinada altura. “É natural que

Albufeira tenha mais probabilidades de ser afetado por um problema destes do que um concelho do interior e tivemos, de facto, uma grande preocupação com os residentes de origem asiática, porque normalmente vivem todos muito concentrados e têm o hábito de andarem em grupo pela cidade. Por isso, tivemos uma ação imediata nessas comunidades e até contratamos um tradutor para que a mensagem fosse devidamente transmitida e para que eles sentissem maior confiança naquilo que estavam a ouvir. Produzimos também flyers com informações e recomendações, em inglês e na sua língua materna, e tivemos um carro com aparelhagem sonora a percorrer essas zonas para desmotivar grandes aglomerados de pessoas, para incentivar ao ALGARVE INFORMATIVO #252

distanciamento social”, recorda o entrevistado. Fruto da rápida ação da Câmara Municipal de Albufeira, a situação foi rapidamente controlada, o que não significa que José Carlos Rolo esteja menos preocupado, dando como exemplo o recente aumento de contágios na Grande Lisboa e Vale do Tejo. “Vivemos tempos

completamente inesperados e imprevisíveis e certamente que ninguém ainda sabe muito bem quais serão as consequências reais desta pandemia. Aquilo que é hoje, amanhã provavelmente será diferente, e não haverá grande estabilidade enquanto não for descoberta uma vacina”, reconhece o autarca, acrescentando que boa parte do que estava pensado para 2020 teve que ser reequacionado.

“A prioridade passou a ser o combate ao coronavírus, mas não podíamos descurar o resto do trabalho. Aliás, houve obras na malha urbana que se tornaram mais fáceis de realizar devido ao menor movimento de pessoas. Mas verificou-se, de facto, uma concentração de esforços no apoio social e económico às famílias e empresas do concelho”. Despesas extraordinárias que, apesar de avultadas, não colocam em causa a sustentabilidade financeira da Câmara Municipal de Albufeira, garante José Carlos Rolo. “Convém lembrar que 26


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existe aqui uma quebra de receitas em paralelo com as verbas despendidas nos apoios. Ao isentarmos as tarifas da água, resíduos sólidos e saneamento até 30 de julho, deixamos de receber mais de um milhão de euros. Neste momento, em números redondos, a ALGARVE INFORMATIVO #252

autarquia já «investiu» cerca de quatro milhões de euros para fazer face ao covid-19, o que ultrapassa, em muito, o que se poderia gastar nas festas e eventos culturais que foram cancelados ou adiados”, esclarece José Carlos Rolo. “Já fizemos uma 28


encarado com preocupação, porque as receitas vão cair bastante, principalmente as de IMT”, avisa. Independentemente destas considerações, José Carlos Rolo afirmou, desde a primeira hora, que não iria faltar dinheiro para se combater o coronavírus e para ajudar os mais afetados. “Havia uma folga

orçamental que nos permitiu enfrentar a situação com alguma serenidade. Sobretudo na fase inicial, quando não existiam máscaras, viseiras ou álcool gel desinfetante, nem sequer para os profissionais de saúde, para as forças de segurança, para os bombeiros, agentes da proteção civil, autoridades marítimas. Se não fossem as câmaras municipais a agirem rapidamente, teria sido complicado conter a propagação do covid-19”, entende o entrevistado.

“AS PESSOAS NÃO PODEM PREVARICAR E PISAR O RISCO” revisão orçamental e irá ser feita outra dentro de alguns dias para ir a aprovação à Assembleia Municipal, por causa de alguns rúbricas que não estavam previstas. A Câmara Municipal de Albufeira tinha uma situação financeira bastante favorável, mas o futuro tem que ser 29

Apesar da pandemia que se vive, as obras não pararam um pouco por todo o concelho de Albufeira, e mais teriam avançado se os próprios empreiteiros tivessem capacidade para tal. E isso foi importante, na ótica de José Carlos Rolo, para a sobrevivência dessas empresas e para a manutenção dos seus postos de trabalho. “Ainda há

poucos dias foi lançada a primeira ALGARVE INFORMATIVO #252


pedra de um novo equipamento social nos Olhos d’Água, uma obra de vários milhões de euros, o que demonstra que mantemos o nosso olhar no futuro. E a construção civil impulsiona toda a economia local, desde os cafés, restaurantes e supermercados ao alojamento”. O estado de emergência já lá vai, vive-se agora um estado de calamidade e o desconfinamento, mas Albufeira atravessou três meses bastante cinzentos, com as suas ruas vazias de turistas, com bares, restaurantes e hotéis fechados, com praias desertas. “As

consequências reais na economia local são imprevisíveis, mas já assistimos a uma grande carência de emprego, de apoio alimentar, de ALGARVE INFORMATIVO #252

ajuda no pagamento das rendas. Os clubes desportivos, as associações culturais e as instituições particulares de solidariedade social do concelho também aproveitavam a Primavera e Verão para promover uma série de eventos que lhes permitia amealhar verbas para financiar o seu plano anual de atividades”, aponta José Carlos Rolo, motivo pelo qual a Câmara Municipal de Albufeira aumentou o apoio às associações, IPSS e clubes do concelho.

“A seguir a este mini Verão vamos ter um longo Inverno e ainda nem se fala da abertura ou não dos bares e discotecas, que empregam muita gente em Albufeira. É uma situação 30


preocupante”, desabafa o edil albufeirense. “Até dia 30 de setembro estão suspensas uma série de atividades e depois disso não sabemos o que irá suceder, porque nestes três meses e meio muito pode acontecer. Esperemos que seja para melhor, que permita uma maior abertura, mas não há certezas”. Incertezas que aumentam com o arranque da época balnear e com a abertura para breve das fronteiras e ligações aéreas, com o natural influxo de turistas em Albufeira, com tudo o de bom e de mau que isso pode originar. “Penso

que as pessoas, grosso modo, estão sensibilizadas para os cuidados que devem ter no que toca à segurança, higienização e distanciamento social, mas é algo que, sem dúvida, nos inquieta. Contudo, se fecharmos as fronteiras, não morremos da doença, morremos da cura. As entidades devem continuar a apostar na sensibilização, mas depois tudo depende do bom-senso de cada um”, salienta José Carlos Rolo. “Há pessoas que não ligam nada ao coronavírus, outras estão no extremo oposto, completamente confinadas. Temos uma campanha de sensibilização no terreno, essencialmente por causa da frequência das praias. O caso dos restaurantes é mais pacífico, no entanto, se abrirem os bares, é 31

possível que apareçam algumas situações mais complicadas de gerir. De qualquer modo, com o apoio e colaboração dos empresários, acredito que tudo seria resolvido. Certo é que as pessoas não podem prevaricar nem pisar o risco, caso contrário, corremos o perigo de haver um retrocesso, um segundo surto, e então ficaremos ainda pior”. José Carlos Rolo adverte, entretanto, que o governo e as autarquias não podem manter estes apoios à economia e às famílias por tempo indeterminado, acreditando que algumas câmaras municipais já estarão a sentir as dificuldades advindas da quebra de receitas e do aumento das despesas para enfrentar o covid-19.

“Por acaso, a pandemia veio encontrar a generalidade das câmaras municipais numa situação económica favorável, mas, como se costuma dizer, «bom saco de onde só se tira, vai desaparecendo». Convém que a comunidade científica internacional se apresse a encontrar um antiviral e uma vacina para que possamos todos ficar mais descansados e encetar o caminho da retoma. Em três meses parece que passou por aqui um grande tornado que deitou tudo abaixo”, afirma, preocupado. “As reservas estão a definhar e algumas entidades vão ter que ALGARVE INFORMATIVO #252


deixar de apoiar os mais necessitados”. Por entre as desgraças facilmente percetíveis, José Carlos Rolo encontra, todavia, dois fatores positivos advindos da pandemia, o primeiro deles a revolução digital que se assistiu no mercado de trabalho e no relacionamento entre as pessoas. “Antigamente, só se

falava em videoconferências nos tribunais, para se ouvirem testemunhas em julgamentos, e nem isso funcionou na perfeição. De repente, surgiram uma série de plataformas e toda a gente faz ALGARVE INFORMATIVO #252

reuniões de trabalho pela internet, evitando-se todas as deslocações e perdas de tempo desnecessárias. Ao mesmo tempo, veio ao de cima a importância da investigação científica. Já apareceram outros coronavírus no passado, todos eles oriundos de animais, outros irão surgir, e os governantes finalmente compreenderam que é fundamental estudar-se a sério estes assuntos”, entende o presidente da Câmara Municipal de Albufeira. 32


Autarquia de Albufeira que apoiou os profissionais de saúde, até final de maio, com um serviço de refeições; que ainda disponibiliza instalações para que eles possam ficar, ao invés de irem para suas casas e assim colocarem em risco os seus familiares; e que lançou, por exemplo, um projeto para recuperar sem-abrigos. “Não se

trata apenas de lhes dar roupa lavada e uma refeição por dia, o nosso objetivo é tirálos dessa vida. E já tivemos sucesso em alguns casos”, destaca José Carlos Rolo. E, como na sua juventude, sentiu na pele as dificuldades de estudar, não hesitou em emprestar 800 tablets e 110 computadores portáteis a alunos do ensino básico e secundário para puderem acompanhar o ensino à distância. “Avançou-se com a

telescola sem se pensar que há inúmeros alunos sem acesso à internet, sem terem equipamentos informáticos. Eu fiz o 7.º ano em 1974, depois andei três anos a trabalhar e, quando entendi candidatar-me à universidade, tive que realizar um exame de admissão. Mas, se não entrasse naquela altura, também já não entrava, porque, no ano seguinte, apareceu o 33

propedêutico, um género de telescola. Ora, na minha aldeia, não havia eletricidade, quanto mais televisão”, recorda o edil albufeirense. Em pleno mês de junho, a vida começa a regressar, a pouco e pouco, a Albufeira e José Carlos Rolo adianta que, salvo algum retrocesso inesperado, o plano de investimentos da Câmara Municipal de Albufeira para 2020 irá cumprir-se na sua maioria. “É

possível que alguma obra possa ser diferida para mais tarde, devido à quebra de receitas fiscais, mas a autarquia também tem uma boa capacidade de endividamento. O essencial nesta altura é sermos todos tolerantes, compreensivos e solidários. Mas esses valores devem ser mesmos praticados, não serem usados apenas em termos de palavreado e retórica. Se cada um fizer o seu trabalho e se responsabilizar por si e pelo seu semelhante, de certeza que vamos «chegar a bom-porto». É evidente que não vai ficar tudo bem, já muitas coisas más aconteceram, mas acredito que vamos ultrapassar este período negativo, até porque o Algarve tem transmitido um clima de segurança para os nossos visitantes nacionais e internacionais” .

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ROTUNDA DA RIBEIRA PRESTA HOMENAGEM AOS PESCADORES E MARISCADORES DE ALVOR, MAS TAMBÉM ÀS SUAS MULHERES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina vila de Alvor assinalou o 10 de junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com a inauguração, em plena zona ribeirinha, da Rotunda da Ribeira, um conjunto escultórico do artista Carlos de Oliveira ALGARVE INFORMATIVO #252

Correia alusivo ao homem do mar, ao mariscador e à mulher que trabalha em terra a safar e a iscar o aparelho. Um momento que estava previsto acontecer, a 11 de março, para registar o 32.º aniversário da elevação de Alvor à categoria de vila, mas que foi adiado devido à covid-19. Mas a cerimónia, mais do que o simples inaugurar de uma rotunda, foi “uma sentida 36


Ivo Carvalho, presidente da Junta de Freguesia de Alvor

homenagem a todos os homens e mulheres que dedicaram as suas vidas a estas atividades”, sublinhou Ivo Carvalho, presidente da Junta de Freguesia de Alvor. “Desde que me

lembro que a Rotunda da Ribeira sempre foi o palco da azáfama de quem se ia fazer ao mar para pescar ou ao rio para mariscar. Mas não podíamos deixar de reconhecer o papel da mulher que, em tenra, jogava a mão ao trabalho enquanto, muitas vezes, o marido descansava após o almoço para preparar mais uma jornada”, acrescentou o autarca. Em tempo de pandemia, Ivo Carvalho apelou a que as entidades responsáveis 37

estejam ao lado das famílias e da economia local, mas também que

“continuem a olhar pela nossa Ria e pelos homens que saem todos os dias para o mar, porque se vivem momentos extremamente complicados”. “Esta rotunda marca a génese da vila de Alvor e, se uma imagem vale mil palavras, a partir de hoje, em Alvor, três imagens valem pelas nossas origens”, destacou, antes de passar a palavra ao autor, Carlos de Oliveira Correia, que tem mais peças patentes noutros pontos da vila de Alvor, mas também de toda a região. “A arte

pública não é pública só porque está ao ar livre. É pública porque é ALGARVE INFORMATIVO #252


Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão

uma manifestação de atitudes e atividades artísticas que utilizam o público como génese. É pública por causa do tipo de questões levantadas, pela história que conta. Neste conjunto escultório formado por três elementos, num estilo figurativo utilizando o ferro como material, representei: uma mulher sentada num banco, com lenço, chapéu, avental e saia, debruçada sobre um aparelho a colocar o isco nos anzóis; um homem robusto e jovem, com botas de água, casaco e ALGARVE INFORMATIVO #252

cesto com a merenda, a dirigir-se para o mar; um mariscador, um homem idoso, com boné, descalço e com as calças arregaçadas, segurando numa mão a adiça, na outra, um cesto com uma chaçola, usada para a apanha da amêijoa”, descreveu. “A importância das «gentes do mar» remonta aos primórdios da Civilização, pois já nos anos 400 A.C. o filósofo grego Platão dizia que, no mundo, existiam três espécies de homens: os vivos, os 38


José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas

mortos e os que andavam no mar”, lembrou o escultor. Presente na cerimónia esteve José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas, que nesse dia visitou várias praias do concelho de Portimão para certificar do cumprimento das medidas sanitárias e de segurança que estão a ser levadas a cabo no âmbito do combate à covid-19.

“Os tempos mais recentes têm sido desafiantes para todas e todos os portugueses e em que a capacidade de resposta coletiva tem sido colocada à prova. Perante esta 39

pandemia, os portugueses têm sabido juntar forças e vontades e isso deve ser saudado neste Dia de Portugal”, referiu. Quanto ao conjunto escultório agora inaugurado, elogiou a sua referência identitária em relação a Alvor e às suas origens.

“Nestas comunidades mais piscatórias, o homem vai à pesca, corre, porventura, mais riscos, traz o peixe, depois vai descansar, o marisqueiro vai à ria e traz o marisco. A mulher ajuda no aparelho, mas também nas contas ALGARVE INFORMATIVO #252


e na lida da casa, faz parte, como nos ensinou Raúl Brandão no seu «Os Pescadores», de toda a vida da comunidade. Quero saudar o autor porque tem procurado desenvolver, um pouco por todo o Algarve, imagens que reforçam a nossa ligação com o mar”, apontou José Apolinário. “No que toca ao futuro, desejo que, todos juntos, consigamos vencer os desafios que nos estão colocados, nomeadamente neste procurar de equilíbrio entre a saúde pública e a atividade económica, enquanto não ALGARVE INFORMATIVO #252

houver uma vacina para este vírus «escondido». Sem turismo e gastronomia, temos menos emprego e os próprios pescadores não veem o seu trabalho devidamente valorizado”. Antes do descerrar da placa que assinalou a inauguração da Rotunda da Ribeira, Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão, voltou a reforçar a importância de se homenagear, neste Dia de Portugal, os homens do mar, mas também as suas mulheres. “Muitas vezes, quando 40


se fala do pescador, a mulher fica esquecida, relegada para segundo plano. Se é difícil ir ao mar, imagino o sofrimento de quem fica em casa à espera que o barco chegue novamente. Perpetuar nesta imagem o trabalho da mulher tem um significado bastante especial”, considerou a autarca, recordando que foi o mar que deu vida ao Município de Portimão e à vila de Alvor. “A pesca é a

base da história deste concelho e prestar esta homenagem a quem tanto fez pela sua terra é uma obrigação nossa. Um povo que não tem memória, também não tem futuro. Um povo que não preza a 41

história, não consegue construir um futuro com dignidade. Não podemos começar a construir uma casa pelo telhado, temos que começar pelos alicerces. E é por isso que acredito tanto nos homens e mulheres de Portimão, de Alvor, da Mexilhoeira, porque têm por detrás a herança genética de uma gente com imensa força e dignidade. Este vírus pode-nos fazer tremer e passar por algumas fases mais complicadas, mas todos juntos vamos conseguir dar conta do covid-19”, declarou Isilda Gomes. ALGARVE INFORMATIVO #252


Uma batalha que será mais fácil de vencer se todos cumprirem com as regras estabelecidas, salientou a presidente da Câmara Municipal de Portimão.

“Queremos turistas, esperamos pelos turistas, precisamos dos turistas, caso contrário, a nossa economia fica reduzida ao mínimo e não queremos gente desempregada. Estamos prontas para receber quem nos vista, cumprindo com as regras e esperando que eles também assim o façam”, pediu a autarca. “O nosso povo está pronto para lutar contra ALGARVE INFORMATIVO #252

um vírus que não vemos, que não sabemos onde está, portanto, temos que nos resguardar e preservar. Durante estes três meses temos passado um mau bocado, mas a força que nos foi transmitida pelos homens e mulheres que estão simbolizados nesta rotunda ajudará a que esta sociedade cresça e seja mais feliz”, acredita Isilda Gomes. Seguiu-se a abertura ao público do Páteo do Palácio Abreu, onde foi apresentado o livro «Alvor com História», da autoria de Fernando Santos Graça . 42


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CARDEAL SUITES & APARTMENTS INAUGUROU EM TEMPO DE PANDEMIA, MAS CHEIO DE CONFIANÇA NO FUTURO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e «Cardeal» 47

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briu portas, no dia 5 de junho, Dia Mundial do Ambiente, o Cardeal Suites & Apartments, em Faro, um edifício totalmente reconstruído que permitiu dar uma nova vida a um espaço que pertence à família de Nuno Graça desde 1941. Situado a 500 metros do porto de recreio e perto da Igreja do Carmo, um dos locais mais visitados da capital algarvia, o edifício conserva a sua identidade regional e desenvolve-se a partir de um pátio central, onde se pode repousar ao som da água e das cores do jardim, recordando o jardim da casa que ali perto possuía o então Bispo do Algarve, o Cardeal D. José Pereira de Lacerdaque, no início do século XVIII, e que viria a dar nome à Rua Jardim do Cardeal e a inspirar ALGARVE INFORMATIVO #252

a designação desta nova unidade de alojamento local. Há cerca de três anos, Cláudia Ruivinho e Nuno Graça decidem então recuperar os antigos armazéns que não estavam a ser utilizados, dar-lhes uma nova vida, e a escolha foi avançar para um alojamento local o mais fiel possível à arquitetura tradicional da casa térrea que existia na esquina da Rua Dr. Coelho de Melo. E assim nasceu uma unidade com nove apartamentos – com os nomes das várias plantas que se podem encontrar no jardim –, de características modernas e elegantes, a pensar em famílias, empresários, turistas, com padrões de exigência mais elevados. “Foi um grande

desafio construir praticamente tudo de raiz, mas isso permitiu48


nos ter um conjunto de valências que, se tivéssemos reaproveitado algo já existente, se calhar não seria possível possuirmos. Quisemos desenvolver um negócio economicamente viável e que assentasse nos princípios do turismo responsável”, explica Cláudia Ruivinho. “Apostámos muito na qualidade e utilizamos principalmente materiais feitos no Algarve, também uma forma de ajudar a fomentar a economia local e a economia circular”, acrescenta. De facto, assim que passamos o portão, apercebemo-nos que não estamos num

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típico hostel urbano. Aqui as áreas são amplas e convidativas, divididas por dois pisos, mesmo que isso implique um menor número de apartamentos.

“O nosso intuito nunca foi uma construção maciça, maximizar o espaço construído, porque queremos apostar num turismo de mais qualidade. Daí termos optado pela tipologia de apartamentos, algo mais do agrado das famílias, ao invés dos tradicionais quartos”, refere Cláudia Ruivinho. “Não pretendemos que o «Cardeal» seja mais um alojamento em Faro, mas que se distinga dos outros. Para já, é

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totalmente acessível, com um elevador que serve a cave, a garagem e os dois pisos, as casasde-banho são amplas para puderem ser utilizadas por pessoas com dificuldades de mobilidade. E os apartamentos estão equipados com tudo aquilo que uma família precisa para um período de férias, ou para alguém que venha em negócios a Faro”, reforça a entrevistada. Engenheira do Ambiente de formação e trabalhando há vários anos em planeamento, turismo de natureza e turismo sustentável na Região de Turismo do Algarve, Cláudia Ruivinho sabe bem o que é necessário para marcar a diferença ALGARVE INFORMATIVO #252

nos tempos modernos, de modo que o «Cardeal» é, por exemplo, bike-friendly, com acesso, parqueamento e, inclusive, uma zona para se lavar as bicicletas. Painéis solares no telhado também ajudam a poupar na conta da energia, numa unidade que tenta ir ao encontro de diversas motivações. “Os espaços

são confortáveis, mas decorados de forma despretensiosa, queremos que toda a gente se sinta aqui descontraída. Uma família pode ir a pé até ao cais e apanhar o barco para ir à praia, desfrutando igualmente da viagem pela Ria Formosa. Do mesmo modo, um empresário, um profissional liberal, até um 50


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professor ou aluno que precise tratar de alguma coisa na Universidade, tem aqui um espaço central para ficar”, sublinha Cláudia Ruivinho. Cardeal Suites & Apartments que implicou, como se adivinha, um grande esforço financeiro para o casal, um investimento que agora demorará mais tempo a ser recuperado face à situação de pandemia que se vive. “Desenhamos

o projeto e a parte da construção foi feita por administração direta, com pessoas de Faro ou das redondezas. Foi necessário fazer uma gestão bastante rigorosa, os

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procedimentos legais também são muitos, desde o licenciamento da obra ao próprio edifício e sua utilização. Foram dois anos e meio de obra”, conta Cláudia Ruivinho, adiantando ainda que o alojamento já tem o certificado «Clean & Safe» do Turismo de Portugal.

“Temos à entrada do edifício os meios necessários para a desinfeção, assim como nas áreas comuns. Depois, como se trata de apartamentos, não há muitos espaços onde as pessoas se cruzem. Aliás, se desejarem, os hóspedes entram pelo portão ou

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pela garagem e, como têm o código de acesso ao apartamento, nem sequer precisam ir à receção”. No espaço central do «Cardeal», com o pequeno jardim e a sua parede de água, terão que imperar as regras de distanciamento social, de conduta respiratória e higienização e o staff também está preparado para observar possíveis sintomas. “Caso surja alguma

situação de doença efetiva, todos os procedimentos estão preparados”, assegura Cláudia Ruivinho. Inaugurado há uma semana, o Cardeal Suites & Apartments já tem hóspedes, mas Cláudia Ruivinho e Nuno Graça sabem que o plano de negócios que tinham traçado já não se vai concretizar 53

na sua plenitude, devido ao coronavírus. “As nossas perspetivas

tiveram que ser ajustadas, porque tínhamos pensado em receber muitos turistas estrangeiros e, por agora, estamos mais dependentes do mercado interno. Mas esse constrangimento vai ser igual para todas as unidades hoteleiras”, reconhece a entrevistada, confirmando que as ações promocionais junto dos mercados externos estão, neste momento, em stand-by. “O nosso

foco inicial eram todas aquelas pessoas que, por norma, procuram alojamentos locais de maior qualidade. Contudo, face ao cenário atual, é possível que ALGARVE INFORMATIVO #252


alguns clientes dos tradicionais hotéis este ano façam outras escolhas e o «Cardeal» pode ser uma boa alternativa. Vamos prestar o melhor serviço que podermos com o objetivo de satisfazermos todos os nossos clientes. Hóspedes que, aqui, é como se estivessem nos seus próprios apartamentos. Existem fechaduras eletrónicas em todas as portas, as pessoas fazem a sua reserva, recebem os códigos de acesso, entram e saem à hora que querem e levam a sua vida normal”, descreve.

Suites & Apartments, mas que, em situação de pandemia e de distanciamento social, até se tornou uma mais-valia. “Estamos

orgulhosos do nosso trabalho e pensamos que o «Cardeal» pode corresponder às expetativas de quem nos escolhe para ficar alojado. Sabemos que os primeiros tempos vão ser mais calmos do que seria de esperar, mas, num futuro próximo, acreditamos que estaremos bem posicionados no mercado e que os clientes vão ficar satisfeitos e regressar” .

Uma rotina que pretendia apenas agilizar os processos dentro do Cardeal ALGARVE INFORMATIVO #252

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SANTOS POPULARES FICARAM EM CASA ESTE ANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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m virtude da pandemia que se vive, as habituais Marchas dos Santos Populares de Quarteira não se realizam este ano, mas não ficaram no esquecimento, pelo que recuperamos aqui os melhores momentos da edição de 2019. Ano em que, na noite de 12 de junho, saiu à rua um dos mais típicos e característicos acontecimentos culturais da cidade e uma demonstração do forte bairrismo desta antiga comunidade piscatória. As marchas em representação das principais ruas e bairros de Quarteira atraíram milhares de visitantes desejosos de apreciar esta verdadeira manifestação etnográfica ligada ao mar, como se observou facilmente pelos trajes, as músicas e as coreografias dos grupos ALGARVE INFORMATIVO #252

participantes. E na noite de Santo António foram várias as centenas de quarteirenses que desfilaram num dos maiores eventos do género no sul de Portugal e que já se tornou num dos principais cartazes turístico do Algarve nesta altura do ano. Pelo Calçadão Nascente de Quarteira passaram a Marcha Infantil da Fundação António Aleixo (com o tema «As Andorinhas»), as Florinhas de Quarteira (com o tema «Postais do Algarve»), Marcha Poeta Pardal (com o tema «Saudade de Portugal»), Rua do Outeiro (com o tema «Quarteira é Pescadora»), Rua Gago Coutinho (com o tema «As Peixeiras à Portuguesa»), Rua Vasco da Gama (com o tema «Uma Casa Portuguesa») e Rua da Cabine (com o tema «Quarteira às Flores») . 60


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SÃO BRÁS DE ALPORTEL EMBARCOU NUMA VIAGEM NO TEMPO RUMO A 1914 Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #252

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á há muitos anos que se tornou uma certeza, os eventos em São Brás de Alportel são sempre merecedores de uma visita ao coração da Serra do Caldeirão, e a terceira edição da recriação histórica «São Braz d’Alportel 1914» não foi exceção. Por isso, no dia 25 de maio de 2019, o Centro Histórico de São Brás de Alportel, sem dúvida um dos mais catitas e acolhedores da região algarvia, foi palco de uma formidável viagem no tempo com destino à data em que a freguesia foi elevada a concelho. ALGARVE INFORMATIVO #252

Vivia-se o período áureo do setor corticeiro, era uma época de novas conquistas, nos primórdios da República, um tempo que enche de orgulho todos os são-brasenses. Não admirou, por isso, a adesão maciça da população ao evento, fosse em grupos ou individualmente, fossem as muitas associações existentes no concelho ou simples amigos da terra. Por isso, as ruas do Centro Histórico encheram-se de pessoas trajadas a rigor com roupas da época, os copos e petiscos tomaram conta das tascas e tabernas, a animação foi uma constante na rua, 80


fazendo jus aos divertimentos do início do século XX. Ao longo do dia assistiu-se a confrontos entre republicanos e monárquicos, escutou-se o discurso de Bernardino Machado e vibrou-se com um desafio de futebol entre malcasados e encalhados. Às 18h30 teve lugar o desfile com personagens da época e a arruada pela Banda Filarmónica de São Brás de Alportel em direção aos Paços do Concelho, onde se prestou homenagem aos homens de São Brás caídos em combate na Grande Guerra. João Rosa Beatriz anunciou a fundação do concelho da varanda do edifício da Câmara Municipal, houve muitas serenatas, um casamento às avessas da moça filha do fidalgo do barrocal com o moço da Carbonária, teatro de fogo, cantigas e

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mais cantigas, inclusive um duelo de pistolas entre cavalheiros desavindos por amor de uma taberneira. A par dos eventos com hora marcada, o programa estava recheado de acontecimentos inesperados, como uma simples porta de garagem que se abriu e, no interior, estava recriada uma cena doméstica do início do século XX. Não faltaram os artistas de circo, os acordes da música intemporal, as surpresas do teatro de rua e o mercado com produtos locais, numa Recriação Histórica onde até foi possível subir à Torre do Relógio da Igreja Matriz. O entusiasmo dos residentes era evidente nas ruelas e recantos de São Brás de Alportel, casas de portas abertas convidavam os visitantes a entrar, as montras estiveram adequadas à época

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e a qualquer momento podíamos ser interpelados por personagens que recriavam situações do quotidiano nos sítios mais inesperados, ou por artesãos a trabalhar ao vivo no seu ofício. O programa de animação contemplou o «Balho» à Antiga pela mão do Rancho Típico Sambrasense, do Grupo Folclórico da Velha Guarda e do Grupo Folclórico de Faro; um espetáculo pelo Grupo Jazz Band New Orleans; atuações da La Ideal, Orquestra Típica de Tango do Porto; e momentos de acordes tradicionais pelo Cante Andarilho e Conservatório d’Artes. Ouviram-se igualmente fados e serenatas pelo Grupo «Inversus», houve danças e contradanças pelos pés da Escola de Dança Municipal e do grupo «São Brás Bailando» e ainda a atuação do Circo Cardinali para delírio de miudos e graúdos. Os momentos de música e teatro de rua foram quase ininterruptos 83

ao longo de toda a tarde e noite, com a participação da companhia «Viv’arte –Laboratório Nacional de Recriação Histórica», do grupo de teatro da Sociedade Recreativa Bordeirense, do Clube do Museu, da Associação SãoBrazArte, da Banda Filarmónica de São Brás de Alportel, do Grupo Carolas... e nem faltaram o divertido Teatro de Robertos, a clássica concertina e o Realejo. Celebrar um século de progresso e a implantação da República foram a razão de ser desta terceira recriação histórica organizada pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel com o apoio técnico do Museu do Trajo e com a colaboração de associações, estabelecimentos comerciais, artesãos e produtores, artistas e grupos musicais, grupos informais e da comunidade em geral . ALGARVE INFORMATIVO #252


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«AMAZÓNIA» ABORDOU QUESTÕES ECOLÓGICAS NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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peça de teatro «Amazónia», com texto e direção de Jorge Andrade, do prestigiado coletivo portuense «Mala Voadora», subiu ao palco do Cineteatro Louletano, no dia 5 de outubro de 2018, numa estreia no sul do país que proporcionou um serão bastante inquietante e irónico aos muitos espetadores que não faltaram a mais este capítulo do «Estórias silenciosas». O ciclo dedica-se, desde 2016, à apresentação de propostas performativas ligadas a temas atuais nas áreas sociais, política e cultural, uma escolha programática do Cineteatro que está claramente alinhada com as ALGARVE INFORMATIVO #252

preocupações da autarquia louletana no que concerne à sustentabilidade do Planeta, patente na sua Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas. Um elenco de luxo personificou um grupo de artistas de vanguarda que vai para a Amazónia gravar uma telenovela ecológica e que esteve em constante interação com o público. E a sinopse da peça é bem ilustrativa do que nos espera: “O Planeta precisa, as

pessoas interessam-se, é ético, é urgente, vai ter audiências”. Por isso, em palco, os artistas procuram financiamento e as personagens da novela também, porque também elas 102


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querem empreender, isto é, querem civilizar a Amazónia, seguir o caminho universal da civilização. De acordo com o encenador, os artistas de «Amazónia» querem que a telenovela seja realista e que as ações das ALGARVE INFORMATIVO #252

personagens sejam levadas a cabo com verdade, porque o realismo é o futuro, daí o permanente diálogo com a assistência, que depressa aderiu a este formato diferente de peça de teatro. E, conforme explica o coletivo «Mala Voadora», não faria sentido tratar um 104


tema ecológico sem ser ecológico, pelo que a concretização deste espetáculo assenta na poupança de matéria-prima. Assim, o cenário é emprestado, o desenho de luz é reciclado, as músicas são de outros espetáculos da «Mala Voadora» e as cenas são copiadas de 105

espetáculos de outras pessoas. De modo que ninguém levou a mal que cada personagem estivesse, por exemplo, trajado com roupas de épocas diferentes. E o final, esse, foi realmente surpreendente . ALGARVE INFORMATIVO #252


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OPINIÃO Como avaliar à distância? Paulo Cunha (Professor) 12 de março, chegou o anúncio já esperado por muitos: o Governo decidiu encerrar as escolas como medida preventiva contra a propagação do novo coronavírus. Com o 2.º período a duas semanas do fim e o 3.º período ainda por cumprir, do que iriam depender as notas finais dos estudantes? A 27 de março de 2020, o Ministério da Educação publicou um roteiro com oito princípios orientadores para a Implementação do Ensino à Distância (E@D) nas Escolas. Referindo que a estrutura do roteiro seguia uma lógica sequencial de implementação do Plano E@D, apresentando um conjunto de orientações e recomendações para um contexto único, deixou às escolas (em função da sua realidade e da fase em que se encontravam) a reflexão sobre os princípios apresentados, bem como o desenvolvimento do seu Plano E@D, para que encontrassem assim as respostas mais adequadas e potenciadoras do sucesso educativo dos alunos. Apelando à sensatez, clarividência e inteligência, muitos Agrupamentos Escolares, através dos seus Conselhos ALGARVE INFORMATIVO #252

Pedagógicos, delegaram no seu pessoal docente a tarefa de implementar condignamente as orientações exaradas pelo seu Ministério. Mas será que tal aconteceu na generalidade do país? Alguns representantes sindicais de professores garantem que apenas «um nicho» recorreu aos tradicionais testes durante esta fase de ensino à distância, o que suscitou críticas de pais e doutros docentes, depois de constatarem que esta avaliação estava a ser feita com o apoio dos pais e/ou de manuais. A manifesta disparidade de oportunidades, potenciada pela falta de acesso por parte de muitas famílias à internet e aos meios tecnológicos, e a falta de controlo que os professores têm face à falta de recursos dos alunos, têm, neste período pandémico, acentuado ainda mais as desigualdades entre alunos. Felizmente, grande parte da classe docente considera que é preciso olhar para outras formas de avaliação que já existem, mas são regularmente subvalorizadas. Nesse sentido, só a avaliação contínua, adaptada às condições de cada um, permitirá equilibrar o ponto de partida e de chegada de todos os alunos. Para grande parte dos docentes, a «pressão da avaliação» ainda é um fator 112


condicionador e mobilizador para o trabalho. Aliás, no mercado de trabalho que aguarda os atuais alunos, muitos profissionais continuam ainda a fazer depender da avaliação o seu envolvimento e afinco no trabalho. É quase como se a avaliação fosse a cenoura que aponta o caminho aos nossos alunos. Ora, sendo eu um docente de uma área curricular maioritariamente prática e pai duma aluna que se viu, como eu, privada das aulas presenciais, naturalmente, «mandei a avaliação, comumente conhecida como sumativa, às urtigas». Num período atípico, é, para mim, mais importante avaliar as competências e capacidades de adaptação de cada um às novas contingências. Afinal de contas, não somos todos seres em constante mutação?

regras foram grandemente mudadas, pouco interessa a minha avaliação. Interessa-me muito mais a avaliação que os meus alunos irão fazer da forma como os estimulei a continuar a aprender, sem ter de os «ameaçar» com um teste final. Até porque a vida continuará a testá-los na forma como se entregam ao prazer de aprender!.

Quando me perguntam como irei avaliar os meus alunos, respondo que, nesta fase dum «campeonato» onde as 113

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OPINIÃO Hospital Central do Algarve, mais do que um hospital, um polo de desenvolvimento Paulo Bernardo (Empresário) ão sou conhecedor do mundo da saúde como gostava de ser, mas, como cidadão, tenho direito e o dever de falar sobre um tema que, se já fazia sentido, hoje ainda mais sentido faz: o Hospital Central do Algarve no Parque das Cidades. A região do Algarve historicamente sempre foi muito esquecida e pouco investimento se fez nela, basta olhar à nossa volta e o investimento que desenvolveu a região foi privado e sem qualquer tipo de estratégia. Para os mais esquecidos, a ligação por autoestrada só chegou em 2002. Quando a região de maior importância turística só tem uma autoestrada em 2002, dá para entender a falta de estratégia para a região. O maior hospital da região o Centro Hospitalar Universitário do Algarve Hospital de Faro, foi pensado em 1965 e inaugurado em 1979, ou seja, catorze depois. Como vemos, nada no Algarve é fácil. ALGARVE INFORMATIVO #252

O Hospital Central de que se fala foi pensado na primeira década do ano dois mil, e teve o seu funcionamento pensado iniciar-se em 2013, ou seja, já deveria estar a funcionar há sete anos. Contudo, não passa de um sonho que acredito que pode sair do papel em breve e estar a funcionar em finais desta década. No entanto, acredito que o que foi projetado hoje já estará obsoleto, pois várias premissas foram alteradas. Julgo que a que eu darei mais valor será o curso de Medicina no Algarve, que não existia na altura e agora pode ser um fator que influencie o desenho do novo hospital, bem como o surgimento de outras valências regionais públicas e privadas que podem ter alterado as necessidades regionais, bem como o envelhecimento da população. Todavia, eu vou juntar mais uma premissa, o contributo do hospital para o desenvolvimento de novas atividades na região. Para mim, o Hospital Central do Algarve, em grande articulação com a Universidade, tem que fomentar uma estratégia de desenvolvimento regional. 114


Com o tema do Covid–19, todos entendemos que economicamente o Algarve tem que ter outras atividades paralelas ao turismo. Hoje, a nossa maior fonte de recita regional é o alojamento e a restauração, correspondendo a cerca de 20 por cento das receitas. No resto do país, esta atividade representa apenas 5 cento, os outros 15 ficam na indústria. Assim, temos condições de ter um bom BIOPHARMA HUB, utilizando as valências, quer da Universidade, quer do Hospital, para além de que já conhecemos atratibilidade da região, para juntar um conjunto de empresas multinacionais de farmácia, onde, para além de terem uma grande área de produção, que podia ser criada junto à Via do Infante entre o nó de Loulé/Quarteira e o nó Estoi, poderia ser complementado com laboratórios de investigação da universidade financiados pelos privados. Podemos também desenvolver, mais uma vez associado ao Hospital e à Universidade, um HEALTHTECH HUB, que não é mais que um local onde se juntam empresas que produzem produtos para a saúde, podendo ser medicamentos, dispositivos, procedimentos e sistemas de organização. Para um mercado que se divide em três grandes blocos, sendo eles: prevenção, diagnóstico e tratamento. Dentro desse mercado, temos a educação da saúde, wearable, relacionamento com pacientes, gestão, farmacêutica, telemedicina e medtech. Outro tema que não podemos 115

esquecer é o Turismo de Saúde, que pode ser um complemento para a chamada época baixa. Por isso, e usando só estes três pequenos mercados, quer do medicamento, como dos produtos para a saúde e do Turismo de Saúde, podemos criar um grande polo de desenvolvimento regional onde, a par de melhorar os nossos números de receita regional, vamos criar mais emprego qualificado e fixar pessoas com maior rendimento. Assim, o Hospital Central do Algarve não pode ser só mais um hospital, mas tem que ser um grande aglutinador de uma nova visão para o Algarve. Um Algarve onde o trabalho qualificado seja uma realidade e que se deixe de viver apenas do turismo e passemos a ter pelo menos uma grande atividade, que se enquadra muito bem naquilo que queremos para o futuro do Algarve, uma região moderna, mas ambientalmente amigável. Não aceito como resposta que não se pode alterar o ordenamento do território, pois só não se altera se não quisermos . ALGARVE INFORMATIVO #252


OPINIÃO Manuel Baptista - o incansável fazedor de arte Mirian Tavares (Professora) “Prefiro as palavras obscuras que moram nos fundos de uma cozinha — tipo borra, latas, cisco Do que as palavras que moram nos sodalícios — tipo excelência, conspícuo, majestade”. Manoel de Barros onheci Manuel Baptista há muitos anos, quase tantos quantos tenho de Algarve. Uma amiga comum nos convidou a almoçar – tens de conhecer o Manuel, ela disse. Foi um almoço regado a muito vinho e a muita conversa. Deste dia lembro-me de um homem simpático, com uns olhos que brilhavam intensamente e uma vasta cabeleira, primorosamente penteada. Conversa fácil, muito afável. Pensei: estou diante de um dos marcos da Arte Moderna portuguesa e não me lembro sequer de termos falado de arte. Depois deste primeiro encontro, vieram muitos, somos quase vizinhos. Visitei a sua casa, algumas vezes, espaço mágico – paredes, chão, móveis – um museu da arte contemporânea portuguesa ali à mão de semear. ALGARVE INFORMATIVO #252

Dispostos de maneira despojada, mas com uma elegância discreta, as obras dos artistas contam-nos histórias de amizades eletivas e seletivas, contamnos histórias que o Manuel Baptista também gosta de contar. Trabalhei com ele por duas vezes, como co-curadora de exposições. E o que tenho a dizer é que a sua simpatia, paciência e extremo cuidado com tudo o que faz, transparece depois nas suas obras – peças vivas, dinâmicas. Manuel Baptista não parou no tempo, não se conformou em ficar numa posição confortável a fazer mais do mesmo, mais da mesma arte que o consagrou. Outro dia, recebo uma mensagem no Instagram – era o Manuel a enviar-me um desenho de uma série que ele andou a fazer no confinamento. Série que ando a acompanhar, à distância, pelas redes sociais. Tinta da china em papel – traços grossos, mas delicados. Imagens quase 116


Foto: Victor Azevedo

abstratas, mas sempre com traços do real que as impregna. Nesta série, ou em meio dela, desenhou um lindo avião para trazer de Paris um amigo que ficou lá confinado. Seu avião me remeteu imediatamente a um desenho do Paul Klee que vi, em tempos, exposto na 117

Calouste Gulbenkian. No caso do Klee eram barcos. Mas a leveza do desenho, uma espécie de alegria infantil que emana da imagem, estava lá no avião do Manuel Baptista. Que resiste ao tempo e ao confinamento fazendo aquilo que ele melhor sabe: fazendo Arte . ALGARVE INFORMATIVO #252


OPINIÃO Do Reboliço #88 Ana Isabel Soares (Professora) abes, Preguiçoso? A gente daqui vê o sol levantar-se por cima da seara. E ali daquele lado vê quando ele se deita quase atrás dos dois moinhos velhos”. O velho moleiro já não mói, o Moinho Grande descansa e ele faz o mesmo: trouxe para fora a banqueta baixa (feita pelas suas mãos), assentou-a ao lado da porta, à amparada do vento, amparou sobre o cajado o queixo quieto e sentouse a olhar para poente. O bicho está ao lado dele, o tronco sobre o chão, as patinhas da frente juntas, as de trás em descanso recolhidas, o focinho a virar entre a atenção ao dono, a atenção aonde esteve o outro sol, a atenção aonde estará. A luz do dia alaga ainda o céu inteiro – as sobras ajustam-se, demoradas. Se fosse de Inverno, estariam dentro de casa, ao lume, e nem da janela o sol se daria a ver. Agora, é esta exibição constante e alargada: lumaréu de manhã, ao longe, a aquecer o ar e a fazer despertar tudo o que é inseto: não tarda nada, os insuportáveis mosquitos ajuntam-se em nuvens – antes que aparecessem, o Reboliço fez a vistoria: foi ao jardim, visitou as framboesas que enegreceram de ontem para hoje, entristeceram-no as hastes agora despidas de flor – da roseira, da

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papoila dormideira – patinhou a horta acabada de regar, cheirou os coentros, a hortelã, o poejo que a mulher há de cortar para pôr na açorda, contornou o poço, a ruína em que ficou o arbusto das papoilas, subiu para o socalco pela escada virada a Sul e, descendo a que está do lado oposto, fechou o seu próprio círculo solar e regressou ao abrigo da casa. Durante a maior parte do dia, quem governa a rua são as moscas, os besouros, abelhas, a mosquitagem toda, a zumbir e a borboletar sem mercê, que nem os pássaros se atrevem a caçá-los. O canito recolhe-se no fresco, entre paredes. Só chegando a tarde ao fim, quando o moleiro abre a porta e cheira o ar, dizendo, “já se foram, anda”, é que se aventura. Sai da folga, sai do solo, espreguiça-se e lá vai, a abanar a cauda feliz, porque sabe que o resto do dia será em contemplação. “Anda, Preguiçoso”. “Estás a ver onde ele se põe agora? Ainda na outra semana dava por aqui,” faz o homem a apontar mais para Sul. É mais larga, é mais longa a viagem do sol no céu deste tempo. “Mas não queres lá ver uma coisa? A gente daqui vê o sol a rodar de um lado para o outro, ali da seara, para as árvores altas da estrada e depois para as casas dos moinhos velhos – mas é a gente que roda, Reboliço! 118


Foto: Vasco Célio

Estamos sentados no redondel da Terra e é ela que anda para trás e para a frente, mais se chega e mais se afasta do sol e é assim que nos parece que é ele a girar”. O bicho sobe mais o focinho – como se cheirasse o ar, mas é para subir o entendimento. Nada. “Parece mentira, não é?”. O velho resigna-se na inutilidade do gesto do cão e baixa ele o queixo até ao topo do cajado. Fecham119

se-lhe os olhos um instante, um instante mais, parece o dia a cair, a vida a querer descansar – e volta a abri-los: “É assim mesmo. As coisas que a gente vê e as coisas como elas são” . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo.

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OPINIÃO Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades* Adília César (Escritora) esde há Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muito tempo Muda-se o ser, muda-se a confiança; que o dia 10 Todo o mundo é composto de mudança, de junho está Tomando sempre novas qualidades. conotado com um Continuamente vemos novidades, sentimento Diferentes em tudo da esperança; português de celebração. Em Do mal ficam as mágoas na lembrança, 1925, a I República proclamou-o E do bem, se algum houve, as saudades. como Festa de Portugal. A mesma data foi seguida pelo Estado O tempo cobre o chão de verde manto, Novo, elevando-a à categoria de Que já coberto foi de neve fria, feriado nacional em 1929. No E enfim converte em choro o doce canto. entanto, só em 1952 é que o dia passa a denominar-se como Dia de E, afora este mudar-se cada dia, Portugal, uma vez que o Estado Outra mudança faz de mor espanto: Democrático instituído pelo 25 de Que não se muda já como soía. abril de 1974 assim o entendeu. Desde 1987 que o dia 10 de junho *Soneto de Luís Vaz de Camões se celebra como Dia de Portugal, (Lisboa[?], 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1579 ou de Camões e das Comunidades 1580) Portuguesas. O facto de a importância da data vir de longe é bastante original, sendo praticamente O Dia de Portugal personifica uma «caso único» no mundo segundo a identidade nacional enraizada na historiadora Maria Isabel João, consciência dos portugueses. É um lembrando que a “maioria esmagadora símbolo histórico-cultural do povo, um dos países do mundo escolhe uma data valor abstracto validado por uma que se relaciona com a fundação do convenção, algo que representa Estado ou do regime político vigente”. qualquer coisa para alguém, absolutamente essencial no processo de ALGARVE INFORMATIVO #252

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comunicação no seio de uma comunidade. Os símbolos funcionam como sinais que nos ajudam a chegar a um pensamento conceptual comum, neste caso, a assunção do conceito de portugalidade que é diferente do portuguesismo. Este último Dia de Portugal – 10 de junho de 2020 – celebrou-se em plena pandemia de coronavírus, a qual não pode ser ignorada. São tempos que vão ficar na história de toda a humanidade; estão a ser escritos neste preciso momento, também aqui neste pequeno país. É uma história que não sabemos como vai acabar. Quem dá voz aos tempos de inquietação e receio? Somos portugueses e estamos juntos. Temos sol, mar e esperança. Somos poetas e sabemos que o poema de Camões nos abre o caminho da resistência e da cura, através da mudança. Temos opinião, somos declamadores de alma e coração, e arranjamos sempre maneira de ficar tudo bem, encontrando soluções criativas para os problemas de todos os dias.

aguentarmos todas as mudanças, ainda que pandémicas. Também não será um vírus que nos vai derrubar, porque ser português é acreditar em tudo e duvidar de tudo. Entre a portugalidade e o portuguesismo, o nosso instinto individual e colectivo vai encontrar o caminho necessário à vida. E isso é Portugal .

Afinal, ser português é tudo valer a pena porque a nossa alma não é pequena, é 121

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OPINIÃO Chegou a era do TikTok, a rede social divertida Fábio Jesuíno (Empresário) mundo das redes sociais é impressionante, o seu impacto e a forma como influenciam os nossos comportamentos são cada vez mais intensos. As redes sociais são, acima de tudo, espaços de socialização, onde maioritariamente se partilham textos, fotografias e vídeos. O vídeo ainda não estava verdadeiramente explorado na sua totalidade, principalmente a componente do divertimento acessível a todos, algo que o TikTok veio colmatar essa lacuna com muito sucesso. Tudo começou na Musical.ly, uma rede social que foi muito popular entre os mais jovens através da criação de pequenos vídeos maioritariamente sobre músicas, desafios e experiências. O seu crescimento foi muito rápido, despertando o interesse de algumas empresas na sua aquisição, o que veio a acontecer, em 2018, pela startup chinesa ByteDance, que depois migrou todos os conteúdos e utilizadores presentes na ALGARVE INFORMATIVO #252

Musical.ly para a sua rede social TikTok, que tinha criado em 2016, mas sem grande sucesso. Foi nesse momento o ponto de viragem, com os novos utilizadores e conteúdos, permitindo destacar o TikTok em todo o mundo. O constante melhoramento das suas funções veio permitir a edição cada vez mais fácil dos seus famosos vídeos com duração até 15 segundos, ficando ao alcance de todos a sua produção. Durante a pandemia de Covid-19, a rede social TikTok tem apresentado taxas de crescimento muito altas em todo o mundo, ultrapassado as maiores redes sociais do momento, como o Instagram e o Facebook na maioria dos países. A febre do TikTok também chegou a Portugal, onde só nos últimos dois meses teve uma taxa de crescimento de 36 por cento, que corresponde a 500 mil novos utilizadores ativos. Esta rede social já era muito popular antes da pandemia entre os mais jovens, mas agora atrai utilizadores de todas as 122


idades, tornando-se abrangente a todas as faixas etárias. O TikTok é altamente viciante e vai continuar a crescer de uma forma elevada nos próximos tempos, é, sem dúvida, uma rede social a ter em conta 123

nas estratégias de comunicação das empresas, principalmente neste momento, onde ainda poucas empresas a incluem nas suas estratégias de marketing digital, fazendo que seja uma grande oportunidade de destaque com um baixo investimento . ALGARVE INFORMATIVO #252


OPINIÃO A autonomia pela diferença Nuno Campos Inácio (Escritor e Editor) á várias décadas que se apregoa a necessidade de implementar uma regionalização em Portugal. Nesse movimento regionalista, sempre o Algarve foi apontado como «a região piloto». Essa escolha não se deve a uma qualquer obra do acaso, resulta do facto de, no continente, o Algarve ser o único território claramente identificado como região, com todas as vantagens e inconvenientes dessa identificação, uma vez que o todo regional se sobrepõe à individualidade municipal, transformando qualquer ocorrência negativa localizada num espectro negativo sobre toda a região, sem que consiga capitalizar para si as iniciativas positivas que ocorrem em alguns municípios. Isto acontece pela falta de uma organização regional autónoma ampla e eficaz, capaz de criar e manter uma coesão regional e mitigar as diferenças entre as realidades locais algarvias. Esta falta de voz regional, com todos os representantes a serem nomeados pelo poder central, que se limitam a cumprir directivas iguais para todos os distritos, sem atenderem às especificidades da ALGARVE INFORMATIVO #252

região, coloca o Algarve numa situação vulnerável face ao poder político que governa o país a partir de Lisboa. Esta situação é perceptível desde sempre, mas agrava-se quando a região é atingida por uma crise profunda sem ter qualquer autonomia de actuação ou quaisquer meios próprios de mitigação. A região algarvia é contribuinte líquida para o Orçamento nacional há várias décadas, obtendo um retorno miserável comparativamente com os milhares de milhões com que recheia os cofres do Estado. Apesar deste saldo negativo, o Algarve tem conseguido contornar as deficiências graças ao esforço suplementar dos municípios e das entidades privadas, muitas vezes sem qualquer apoio estatal, que apenas se preocupa com a região quando chega a hora de cobrar os seus impostos. A realidade social e económica do Algarve não lhe permite continuar a viver sob o mesmo ordenamento jurídico e fiscal do resto do país em diversas áreas. A realidade conjuntural do Algarve é muito mais próxima daquela que se encontra nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, do que da que vigora em Lisboa ou no resto do território continental. As regras turísticas que têm sido adoptadas nos últimos 124


anos, pensadas para resolver problemas de cidades como Lisboa e o Porto, são altamente prejudiciais para o Algarve, que vive essencialmente do turismo. A actual pandemia veio pôr a nu a vulnerabilidade da região algarvia, se continuar a ter o mesmo tratamento de qualquer outra região. Ao Algarve não pode ser aplicado o mesmo regime de lay off do resto do país, porque esta região sofre de um problema de sazonalidade que já por si é prejudicial para os empresários, para os trabalhadores e para as famílias. Quando se manda encerrar estabelecimentos de restauração, hotéis, bares e discotecas em todo o país, é preciso ter em atenção que, no Algarve, o encerramento da actividade não foi de três meses, porque a actividade já estava parada havia seis meses e voltará a encerrar a partir de Outubro. A região precisa de um apoio 125

extraordinário, como, aliás, até a União Europeia já alertou o Governo para essa necessidade. No entanto, a falta de uma voz reivindicativa do Algarve, eleita directamente pelos eleitores algarvios, com legitimidade democrática para traçar caminhos de futuro, faz com que nada aconteça, apenas se referindo à região como o local ideal para ir a banhos porque teve poucos casos de Covid-19. Só há uma forma de o Algarve ser ouvido no contexto nacional e traçar um futuro de desenvolvimento, sendo devidamente ressarcido do seu contributo para a riqueza nacional. Esse caminho passa pela autonomia regional, com a atribuição ao Algarve do estatuto de Região Autónoma, com o mesmo estatuto, direitos e deveres que têm as duas regiões já existentes: Madeira e Açores . ALGARVE INFORMATIVO #252


OPINIÃO 10.06.2020 - Tempo de uma nova Humanidade Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) ia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, escolheu o cidadão José Tolentino Mendonça para fazer o discurso do 10 de Junho deste ano.

dele. Um intelectual era aquele que se distinguia no cuidado do seu jardim, não apenas aquele que fabricava ideias ou palavras. Assim, a importância de perguntar, de reflectir, de procurar a interioridade, de partirmos para voltarmos, é uma constante nos seus textos, que ressalta num texto de enorme precisão, análise e clarividência sobre o momento que vivemos, mas também sobre o que é ser Português.

O lugar previsto para as cerimónias era a ilha da Madeira, no ano dos 440 anos de falecimento de Camões e das comemorações dos 500 anos da Viagem de circum-navegação de Magalhães (a que se seguiam também cerimónia na África do Sul). As efemérides devido ao Covid-19 foram transferidas para o Mosteiro do Jerónimos em Lisboa. Solene e de enorme grandeza a comemoração.

Na sua obra, Tolentino Mendonça desafia-nos repetidamente a regressar à terra, à natureza, e às suas formas após um período de total alienação. Numa entrevista no Jornal Público, de Anabela Mota Ribeiro, ao pensador, ensaísta e poeta Tolentino Mendonça, a jornalista reconhecia: Fala como quem faz poesia, fala como quem ora.

Quando conheci Tolentino Mendonça, e tive de me referir à sua obra, lembrei que na tradição cultural chinesa, os letrados tinham como uma das suas atividades plantar um jardim e cuidar ALGARVE INFORMATIVO #252

A força das palavras e do pensamento do ensaio que nos deixa neste Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é a de um gigante Adamastor. Tornar simples o que é tão complexo, num momento de enorme delicadeza, está ao alcance de muito 126


poucos. Percorrendo referências máximas das artes da cultura, da ciência e da antropologia, da teologia, ou mesmo os vultos maiores da poesia, a mensagem torna-se clara.

perda da nossa génese enquanto civilização. Recentrar a sociedade nas pessoas, naquilo que é essencial enquanto valores humanos é o maior desafio.

Estamos juntos, cada um de nós, a edificar este todo que é Portugal. A raiz da civilização é a sua comunidade, é aí que começa a nossa história e é aí que a nossa história pode recomeçar. A cultura de indiferença ou de desresponsabilização é um sinal da

Não me atrevo a comentar a forma genial como a referência à poesia de Camões nos transporta para a contemporaneidade com um novo olhar: “Camões e a arte do desconfinamento Pensemos no contributo de Camões. Camões não nos deu só o poema. Se

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quisermos ser precisos, Camões deixounos em herança a poesia. Se, à distância destes quase quinhentos anos, continuamos a evocar coletivamente o seu nome, não é apenas porque nos ofereceu, em concreto, o mais extraordinário mapa mental do Portugal do seu tempo, mas também porque iniciou um inteiro povo nessa inultrapassável ciência de navegação interior que é a poesia. A poesia é um guia náutico perpétuo; é um tratado de marinhagem para a experiência oceânica que fazemos da vida; é uma cosmografia da alma” (1). Não podemos viver na sombra das glórias passadas Se é verdade que a viagem tem quase sempre turbulência, também é verdade que cada um de nós tem a responsabilidade de contribuir, em união, para o redesenhar dos novos itinerários. Estes itinerários e caminhos devem respeitar as diferentes gerações e a partilha do seu conhecimento, devem ouvir todos sem preconceitos, devem ousar a mudança em conjunto: Não há super-países, nem há superhomens, reconhecia. Não podemos viver na sombra das glórias passadas ou confinados à crise que nos assola. Também não podemos continuar centrados no eu e naquilo que cada um de nós pode alcançar sozinho, mas concentrar-nos em como nós podemos construir o futuro.

uma das maiores crises da contemporaneidade. Escolha muito feliz. Numa cerimónia oficial há quatro anos(2) reconheci publicamente como gosto muito da sua reflexão sobre o homo viator que todos nós somos, nesta sede incansável de descoberta: “onde existe o ser humano, existe a memória e a paixão da viagem” (cito José Tolentino Mendonça). A viagem volta a estar no centro das suas palavras, como processo de transformação, de procura de sentido, de espiritualidade, de reencontro consigo próprio: “o mundo que nos rodeia pode conduzir-nos à sabedoria” (cito José Tolentino Mendonça). Neste dia, 10 de Junho de 2020, ouvi cada uma das suas palavras. Cada uma das suas reflexões é um desafio ao pensamento e ao questionamento. Não tenhamos medo de amar o nosso país e de mostrar o quanto amamos as nossas raízes! . (1) Vide site oficial da Presidência da República para discurso integral (2) Conheci pessoalmente José Tolentino de Mendonça na cerimónia oficial de entrega do prémio da melhor crónica à obra «A Mística do Instante. O tempo e a promessa» pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Câmara Municipal de Loulé no dia 5 de Maio de 2016, onde estive em representação institucional em nome do Sr. Ministro da Cultura. A sua dedicatória pessoal diz: Para Alexandra Gonçalves, que o tempo tenha o saber e a amplidão da promessa. Muito cordial, José Tolentino Mendonça.

Quando o nosso presidente escolheu o Cardeal Tolentino de Mendonça, ninguém sabia que estaríamos a viver ALGARVE INFORMATIVO #252

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OPINIÃO O que não deve, como cliente, fazer Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) hegar atrasado, se reservou mesa, por desleixo. Ao privilegiar a reserva, deveria querer estar em sintonia com um bom serviço de sala e cozinha, num espaço de que você gosta ou que pretende conhecer, e não pensar que, por o ter feito, pagou a mesa e o dinheiro que o proprietário faria pelo tempo que não a ocupou. Telefone, informe do seu atraso. Remarque, se for preciso.

– Não confundir Sala de refeições, com Sala de estar. O responsável do restaurante irá agradecer se perguntar se pode ficar um pouco mais à conversa com os amigos. O respeito é tudo quanto precisamos para viver em sociedade, não acha? – Não falar ou rir alto, por sistema, como se estivesse só e em casa. Será, por certo, motivo de depreciação generalizada e notória falta de educação para com todos. Lembre-se que não está em sua casa e, mesmo nela, terá que ter cuidado para não incomodar os vizinhos (a não ser que viva no deserto e longe de um oásis). ALGARVE INFORMATIVO #252

– Os restaurantes não são infantários nem os empregados de mesa, assistentes de bebés ou crianças. A melhor forma de podermos avaliar algo, será sempre de nos colocarmos no lugar dos outros. Gostaríamos que nos fizessem o mesmo? Os filhos são podas retiradas de nós mesmos e, com certeza, não quererão que sejam árvores que irão crescer tortas por já assim terem nascido. E outra coisa: nunca será a criança a ser indiciada, mas sim os pais, certo? – Não deixe de reclamar no decorrer e depois da refeição. Quantas vezes já disseram – comia melhor em minha casa! Pois é, mas das duas, uma – ou entrou no restaurante acreditando, ou foi lá porque quis, apesar de saber que lá não devia ir. Quem não se sente, não é filho de boa gente – diz um ditado antigo e eu acho muito bem dito. Reclamar significa recusar algo que nos foi servido em condições impróprias, seja um serviço ou um prato de comida. Significa ainda opor-se a que o sucedido passe sem ter sido avaliado e se permita que possa voltar a acontecer. Reclame sempre, muito mesmo, quando achar que é necessário e a sua razão tem sentido e é de senso comum. Não se intimide com ameaças, mas, por favor, não reclame depois de comer tudo e não 130


use o livro ou o verbo para desdizer só porque sim, só porque em algum momento se achou a última bolacha do pacote. Lembre-se de que, para ser respeitado, deve respeitar. – Não deixe de reclamar (mesmo antes de comer), se for necessário. Quantas vezes entramos num restaurante para depois ter desejado nunca lá ter estado, ou quase de imediato nos apetecer sair? Ou porque nos deram ementas sujas, ou porque não havia isto, mais aquilo ou aqueloutro, da ementa, sem nos terem comunicado nada de início? Ou porque demoraram tempos infinitos a servir a comida, o vinho ou a receber o dinheiro? Ou ainda, muito pior, quando nem sequer nos cumprimentam ou nos olham com desleixo? Meus senhores, é chamar o proprietário na hora e expor a situação. Acreditem que, muitas vezes, o proprietário nem sabe que empregou alguém que lhe está a estragar o negócio. – Não insulte o empregado de mesa, o cozinheiro ou ambos. Não me refiro a insultar, literalmente. Existem muitas outras formas de o fazer e igualmente ofensivas, e sem qualquer espécie de razão para quem o faz, acredite. Querem ver alguns exemplos? 131

Nunca se sente em uma mesa vazia. Ela tem que ser limpa, primeiro e nela colocada (acção atualmente em desuso por regra anti-covid), alguma palamenta (conjunto de acessórios necessários para que se possa comer e beber) Nunca chame o empregado de sala como se estivesse a chamar o seu gato. Ele, como humano, não vai perceber, sequer gostar. Nunca saia para fumar ou outra qualquer coisa, sem avisar. O serviço interligado da sala e da cozinha existe para que possa disfrutar em pleno a sua experiência . Continua … ALGARVE INFORMATIVO #252


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #252

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