REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #409

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ALGARVE INFORMATIVO 4 de novembro, 2023

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DIA DE LAGOS | «ALDEIAS DO LINCE» | «ENRAIZART» | «SOBRE ROSAS E MARGARIDAS» ALGARVE INFORMATIVO #409 ALBUFEIRA APRESENTOU CARPE NOX 2024 | «O MEU PÉ DE LARANJA LIMA» | INÊS MENESES


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ÍNDICE Dia de Lagos (pág. 18) IPDJ assinou contratos-programa de apoio a clubes e associações desportivas (pág. 28) Albufeira quer ter a melhor passagem de ano de Portugal (pág. 34) «Aldeias do Lince» (pág. 40) Passadiço do Barranco do Demo é a nova atração turística do Alferce (pág. 50) «Sobre Rosas e Margaridas» no Cineteatro Louletano (pág. 62) «O meu pé de laranja Lima» no Teatro Lethes (pág. 76) Festival EmRaizArt em Lagos (pág. 90) Inês Meneses no «Choque Frontal ao Vivo» (pág. 102)

OPINIÃO Mirian Tavares (pág. 112) Fábio Jesuíno (pág. 114) Dora Gago (pág. 116) Nuno Campos Inácio (pág. 118) Sílvia Quinteiro (pág. 120)

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Lagos distinguiu lacobrigenses e entidades locais no Dia do Município Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina 27 de outubro marca, no calendário de efemérides locais, o Dia do Município de Lagos, dedicado a São Gonçalo. Para celebrar esta data, a autarquia preparou um programa constituído por momentos protocolares, no âmbito dos quais foi prestada homenagem a cidadãos e entidades locais e onde também não faltaram as atividades culturais, desportivas e ALGARVE INFORMATIVO #409

recreativas, que animaram o período de 17 a 30 de outubro. A atribuição de condecorações a individualidades e entidades que se destacam na comunidade foi, como habitualmente, um dos pontos altos destas comemorações. Os órgãos do município decidiram, este ano, reconhecer publicamente o percurso de seis cidadãos, duas empresas e uma associação desportiva, aprovando a atribuição de duas Medalhas de Mérito Municipal – Grau Ouro (Emílio Anino e 18


Maria Luísa Teixeira) e sete Medalhas de Mérito Municipal – Grau Prata (Conceição Correia, Sopromar, Hugo Alves, ACCD – Andebol Clube Costa Doiro, Marta Alves, Nautipraia e André Guerra dos Santos). Os trabalhadores com mais antiguidade em funções no município e nas freguesias foram igualmente distinguidos numa cerimónia de imposição de alfinetes de lapela que teve lugar, de forma faseada, em vários momentos ao longo do programa de festividades. Na Sessão Solene que teve lugar no 19

renovado Centro Cultural de Lagos, Hugo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos, sublinhou que reconhecer as pessoas é, simultaneamente, “um dos

racionais do nosso trabalho e um dos motores para a autoconfiança e o prestígio da comunidade lacobrigense, pilares fundamentais da nossa força coletiva e um estímulo para que, enquanto autarcas, continuemos a prosseguir o nosso trabalho em ALGARVE INFORMATIVO #409


prol do concelho e a responder positivamente, diante de conjunturas complexas e de desafios estruturantes que temos pela frente”. O edil não esqueceu a forma como foi possível responder à crise pandémica e aos contextos socioeconómicos negativos decorrentes da Guerra da Europa e do recente conflito entre Israel e o Hamas e deixou a garantia de que “continuaremos a apoiar as

nossas populações, sem deixar ninguém para trás”. “Num mundo infelizmente marcado pela intolerância e falta de respeito para com a diferença, somos, e continuaremos a ser, um concelho inclusivo, solidário e fraterno, que sabe conviver com todas as etnias, credos, ideologias e culturas, ALGARVE INFORMATIVO #409

fazendo jus à plenitude democrática e ao nosso ideário de civilização”, afirmou. Hugo Pereira realçou, entretanto, os desafios que estão pela frente, com particular destaque para a habitação, as alterações climáticas e os recursos hídricos. “Mas estaremos sempre

aqui, de corpo e alma, trabalhando dentro das nossas atribuições e competências, e colaborando, de espírito aberto e positivo, com as instâncias do poder central, para que estes grandes desafios possam ser ultrapassados. Temos, porém, que estar cientes de que corremos contra o tempo e, apesar das respostas construídas neste e noutros mandatos, em Lagos, não 20


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será com a urgência necessária que conseguiremos fazer da habitação aquilo que as entidades do Estado Central não definiram como prioridade nos últimos anos”, salientou o presidente da Câmara Municipal de Lagos, acrescentando também que “não somos detentores

de uma qualquer «poção mágica» que pare a emissão de gases com efeito de estufa” e avisando que “São Pedro e as nossas crenças podem ajudar, mas é pelo mundo humano e decisores públicos que passam as soluções das questões da água, designadamente, a dessalinização,

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bem como a reciclagem e reutilização das águas residuais”. Nesse sentido, Hugo Pereira frisa que

“estas áreas de intervenção estruturais, urgentes e prioritárias não podem ficar em suspenso e requerem a todos razão, capacidade de ação e comportamentos adequados”. “Aos decisores e autarcas, em particular, exige-se planear bem, decidir melhor e executar rápido. É para isto que cá estamos e é isso que pedimos a todos aqueles que connosco trabalham”, concluiu Hugo Pereira .

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Direção Regional do Algarve do IPDJ assinou 53 contratosprograma de apoio financeiro a associações e clubes desportivos Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #409

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eve lugar, no dia 20 de outubro, no Auditório da Direção Regional do Algarve do Instituto Português do Desporto e Juventude, a Cerimónia de Assinatura dos Contratos PNDpT – Programa Nacional de Desporto para Todos 2023, numa sessão que contou com a presença do Presidente do IPDJ, Vítor Pataco. 29

Na ocasião, o Diretor Regional do Algarve do IPDJ, Custódio Moreno, assinou os 53 contratos-programa de apoio financeiro a associações e clubes desportivos do Algarve, impulsionando assim a generalização da prática desportiva (não federada) de âmbito informal, recreativo ou competitivo, entendida como uma atividade determinante na formação e desenvolvimento integral dos cidadãos, ALGARVE INFORMATIVO #409


na promoção da inclusão pelo desporto e na melhoria da saúde, qualidade de vida e bem-estar, de todas as pessoas, em todos os segmentos da população. “Estes

apoios permitirão o desenvolvimento de projetos em mais de duas dezenas de modalidades diferentes e em praticamente todos os concelhos do Algarve, beneficiando muitos milhares de praticantes, de todas as faixas as etárias”, salientou Custódio Moreno.

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Satisfeito com a vasta plateia que tinha pela frente e que refletia a força do movimento associativo no Algarve, Vítor Pataco falou daquilo que mais importante a sociedade tem, “o empenhamento

de cada um de vós, o voluntarismo, o compromisso de se envolverem em projetos, ações e iniciativas que têm impacto nas comunidades e no bem comum”. “Isso é algo absolutamente central numa sociedade que está cada vez mais fraturada. O desporto tem 30


uma importância inegável do ponto de vista da coesão social, da agregação das sociedades, até mesmo para trazer cor à vida das pessoas”, frisou o presidente do IPDJ, lembrando que o Plano Nacional de Desporto para Todos tem atingido, ao longo dos últimos 10 anos, centenas de milhares de jovens, adultos, seniores e pessoas com deficiência.

“Normalmente, a comparticipação financeira do Instituto multiplica por três, porque tem o envolvimento das autoridades locais, nomeadamente das autarquias, assim como das empresas e das próprias associações e dos clubes. É nesta lógica cooperativa que podemos ampliar a nossa ação”, realçou.

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Um modelo cooperativo que se nota em praticamente todos os programas do Instituto Português do Desporto e Juventude, como se verifica com o PRID, que movimenta cerca de dois milhões de euros por ano no desenvolvimento das instalações desportivas, ou o Clube Top, que está relacionado com o conhecimento e a capacitação dos dirigentes dos clubes. “O trabalho que

é feito nas associações juvenis e nos clubes muitas vezes é invisível e há que reconhecer pública e socialmente o vosso desempenho, até mesmo para sensibilizar os decisores das empresas e entidades que vos podem ajudar no dia-a-dia”, declarou ainda Vítor Pataco .

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Albufeira quer ter a melhor passagem de ano de Portugal Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi apresentada, no dia 26 de outubro, a programação da Passagem de Ano de Albufeira e há novidades, nomeadamente, a primeira edição da Street Food Sem Fronteiras com gastronomia internacional na Avenida 25 de Abril e fogo-de-artifício a acontecer em todas as Freguesias. A edição gastronómica contempla a área da sustentabilidade pela ausência de recipientes de plástico, vigilância, higiene ALGARVE INFORMATIVO #409

e segurança. Já o CarpenoX, ou seja, o programa específico do Réveillon, aposta na coreografia aérea, “que se pretende histórica”, num espetáculo piromusical aquático e na projeção laser, este ano com uma potência ainda desconhecida na Europa. O X da marca simboliza o mar, o céu, a praia e a cidade, sendo o centro do X o público, o qual vai continuar a ter um forte dispositivo de segurança. A DJ Rita Mendes promete elevar a madrugada ao céu, mas a passagem do ano, contada ao minuto, será apoteótica, com sonoridades que ainda estão a ser trabalhadas. 34


A banda The Gift será a atração principal no ano em que celebra três décadas de carreira, incluindo no seu espetáculo um outro, «Amália Hoje», celebrando assim os 25 anos da morte da grande diva do fado português. Espera-se que o público deste ano ascenda a 300 mil pessoas, depois de, na edição de 20222023, ter acolhido 250 mil. Um palco interativo com 55 metros de frente, mais alto, mais personalizado, com mais multimédia em tamanho gigante, vai também acolher uma retrospetiva do que tem sido o CarpenoX em Albufeira, este ano na sua terceira edição, embora se festejem 20 anos de organização de grandes espetáculos de Fim de Ano em Albufeira. O «Paderne Medieval» vai regressar a Paderne e outra novidade deste ano é a

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«Pop Art Parade», a partir das 00h30 do primeiro dia de 2024, na Avenida Sá Carneiro, celebrando uma fase marcante da cultura mundial. Entretanto, na noite do dia 30 o grande palco será ocupado por Richie Campbell para um espetáculo que promete ser memorável. A Passagem de Ano em Albufeira é uma parceria do Município de Albufeira com a APAL – Agência de Promoção de Albufeira, entidade que congrega mais de 200 associados de Albufeira, ligados à hotelaria, à restauração e ao alojamento local. “As expetativas estão altas e

tem havido um crescendo das mesmas, na medida em que não podemos deixar cair este evento. É um investimento de todos e todos devem contribuir para tal”, referiu José Carlos Rolo, presidente do Município

Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé ALGARVE INFORMATIVO #409


de Albufeira. Salientando a novidade da Street Food Sem Fronteiras, a cargo do Chef Nuno Bergonse, o autarca lembrou Camões, parafraseando “a

necessidade aguça o engenho e pela comida também nos posicionamos neste anseio de internacionalizar a nossa marca”. José Carlos Rolo adiantou ainda que as Freguesias têm um budget de 10 mil euros para fogo-de-artificio e que no Circo Dallas, em Ferreiras, as crianças não pagam para assistir ao espetáculo. Outra novidade prende-se com o estudo já encomendado à Universidade do Algarve para aferir do retorno, “não do investimento, mas da marca”, explicou o edil. “Estamos aqui para

colaborar com quem queira ALGARVE INFORMATIVO #409

colaborar. E este investimento vai ser avaliado, pelo que o CarpenoX de 2023-2024 vai depender, se houver, das recomendações de especialistas. As expectativas estão altas, mas se regredíssemos, estaríamos a prestar um mau serviço ao Turismo”, apontou, revelando ainda que o investimento nesta programação ascende aos 800 mil euros. Na sessão foram dados ainda a conhecer os eventos que terão lugar em Albufeira nos próximos dois meses, logo a começar pelo Halloween, no dia 31 de outubro, no Largo Eng.º Duarte Pacheco, com o já emblemático «Túnel dos Horrores» e a «Scary Run». Referência também para o regresso da Feira Franca (de 29 de novembro a 3 de dezembro – Marina) e do «Albufeira Natal» com 36


espaços para crianças dos 3 aos 8 anos de idade sob a temática do filme «Frozen II», mas onde não vão faltar ícones da Lego, e um outro pavilhão, para crianças com mais idade, sob o tema da «Marvel Mission», intitulado «Escape room». No âmbito da programação do «Albufeira Natal» há também teatro no dia 10 de dezembro, com «Maria, a neta do Nicolau», o concerto de inverno da Orquestra do Algarve (dia 15 de dezembro no Auditório Municipal) e a Corrida de Natal (17 de dezembro no Mercado de Caliços) e a S. Silvestre Algarve (29 de dezembro). A par desta programação, José Carlos Rolo realçou ainda a nova edição do «Guia Natal», de 25 de novembro a 7 de janeiro, e a vinda do Circo Dallas, sob a temática natalícia, em Ferreiras .

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«Aldeias do Lince» deu origem a intervenções artistas em Giões, Pereiro e Furnazinhas Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ealizou-se, no dia 17 de outubro, entre Alcoutim (Giões e Pereiro) e Castro Marim (Furnazinhas), uma ação de divulgação da iniciativa «Aldeias de Lince» que pretendeu dar a conhecer o processo e os resultados da intervenção de comunicação artística e participativa com residentes destas três aldeias localizadas na zona de expansão para o Algarve da área de reintrodução do Lince-Ibérico – ALGARVE INFORMATIVO #409

Vale do Guadiana – no âmbito do projeto LIFE19 NAT/ES/001055 – Lynxconnect. A intervenção de comunicação artística foi concebida e desenvolvida pela empresa Proactivetur, mediante procedimento concursal promovido, em 2022, pela Direção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Algarve, com os trabalhos artísticos a serem da responsabilidade do artista plástico Tó Quintas. Na ocasião, Nuno Banza, Presidente do Conselho Diretivo do ICNF – Instituto da 40


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Conservação da Natureza e das Florestas, explicou que este projeto é, no fundo, um dos resultados do trabalho que se tem realizado desde 2014 para a reintrodução na natureza desta espécie que estava ameaçada de extinção. “Há sempre

uma componente que tem a ver com a capacidade da administração reagir e criar as condições para que os projetos tenham força, vigor, financiamento e possibilidade de vingar, mas ninguém conseguiria chegar aos resultados alcançados em Portugal e Espanha se não houvesse um apoio claro e inequívoco da parte das comunidades. E este projeto é também um exemplo de como 43

conseguimos transformar as ameaças em oportunidades e criar valor nos territórios”, considera Nuno Banza. O itinerário pelas Aldeias do Lince (Furnazinhas, Pereiro e Giões) e respetivas instalações de arte têm o intuito de fomentar a aceitação social para o regresso do lince-ibérico, sendo que, desde 2014, foram libertados 54 linces, detetaram-se cerca de 200 nascimentos em estado selvagem e a população adulta ultrapassou os 100 exemplares. Em virtude deste amplo crescimento, a população acabou por ocupar uma área muito superior à de reintrodução inicial, havendo agora exemplares estabilizados nos concelhos de Serpa, Beja, Mértola, Castro Verde, ALGARVE INFORMATIVO #409


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Almodôvar e Alcoutim. “Sabemos que

estamos a trabalhar a uma velocidade que não é a velocidade dos nossos dias. Hoje, as pessoas habituaram-se às mensagens curtas e sucessivas, aos ganhos imediatos, e este projeto não é rápido, nem fácil, nem de retorno direto para cada um de nós. É um processo que vai demorar bastante tempo, que vai requerer muitos recursos, que vai precisar do apoio de todos, e a equipa deste projeto conseguiu capitalizar para estas três aldeias uma ideia que cria valor local, que tem um potencial enorme do ponto de vista turístico e cultural e que pode criar nas

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pessoas um sentimento de orgulho”, enaltece Nuno Banza. De acordo com o responsável, falar da conservação da natureza implica pensar em desafios de longo prazo, portanto,

“temos que ser resilientes e resistentes e persistir numa ideia que vai criar neste território um valor muito para além do trabalho que estamos a fazer agora”. “A conservação da natureza tem associadas as dimensões económica, cultural, social e comunitária e acredito que este trabalho partilhado com Espanha vai servir de exemplo para uma série de outros territórios e projetos. Hoje, já ninguém tem

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dúvidas da estreita ligação existente entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental, e também percebemos, com a recente pandemia, que somos o elo mais fraco deste circuito, não vale a pena termos ilusões sobre isso. Se não soubermos interpretar os diferentes sinais que o território, a biodiversidade e os ecossistemas nos vão dando, vamos mesmo ser aqueles que mais vão sofrer com as alterações que ocorrem no dia-a-dia”, avisa Nuno Banza. No que toca às instalações propriamente ditas, na rotunda de acesso às Furnazinhas (sentido IC27 – Furnazinhas), encontra-se agora uma ALGARVE INFORMATIVO #409

figura do lince que representa a arte da cestaria, executada com uma estrutura em ferro que se reveste com a técnica dos entrelaçados tradicionalmente efetuados com recurso à cana. No Parque de Merendas da Barragem do Pereiro está uma figura do lince exposta num murro, produzida em chapa de ferro revestida com a pedra de xisto recolhida no local e colocada a várias mãos com a população. Finalmente, em Giões, perto da Junta de Freguesia, é possível encontrar uma figura do lince tridimensional criada em ferro e revestimento constituído por chapas de metal pintadas/decoradas pela população. E foi precisamente na Junta de Freguesia do Pereiro que esta ação de divulgação terminou, com uma sessão de sensibilização pela «voz» da Urânia, uma marioneta de um lince-ibérico criada por José Gil, da S.A. Marionetas, a convite da associação Picada Cultural . 46


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Passadiço do Barranco do Demo é a nova atração turística do Alferce Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi inaugurado, no dia 21 de outubro, o Passadiço do Barranco do Demo, na freguesia do Alferce, em Monchique, numa cerimónia que contou com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, a par de diversos autarcas e dirigentes regionais, de deputados algarvios na Assembleia da República e responsáveis associativos. O passadiço faz parte do projeto mais amplo de valorização e musealização do Castelo de Alferce, executado pela Junta de ALGARVE INFORMATIVO #409

Freguesia do Alferce, com o apoio do Município de Monchique, num investimento total que ronda os 400 mil euros e que foi contemplado com uma compartição de 70 por cento de fundos comunitários no âmbito do CRESC Algarve 2020. A presente operação prevê a valorização do património cultural, especialmente histórico e arqueológico, tornando visitável todo o espaço do Castelo de Alferce, contribuindo deste modo para uma maior atração turística e consequente dinâmica socioeconómica 50


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na Freguesia de Alferce. Nesse sentido, será criado o Centro Interpretativo do Castelo de Alferce, por via da reabilitação e readaptação de um pequeno edifício em Alferce; o percurso pedonal entre o Centro Interpretativo e o Sítio Arqueológico do Cerro do Castelo de Alferce, através da construção do referido passadiço no Barranco do Demo; e um circuito de visita com painéis informativos no Cerro do Castelo do Alferce (sítio arqueológico classificado desde 2013 como Sítio de Interesse Público), de forma a promover e valorizar os resultados alcançados. A operação está incluída na listagem do PADRE – Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (Prioridade 2) com uma contribuição prevista para a valorização ALGARVE INFORMATIVO #409

do recurso endógeno «Património Histórico», no bloco de recursos «Património Cultural». Este projeto vai dotar a Freguesia de Alferce, território serrano no Concelho de Monchique, de um novo polo de atração turística como complemento à oferta de atividades e elementos de interesse para melhor conhecimento do território em causa; contribuir para a fixação de população e combater o despovoamento humano; valorizar o património cultural material e imaterial; e incutir nos jovens, nos idosos e na população em geral a sensibilização e o conhecimento sobre o património histórico, arqueológico e natural da freguesia. “Temos que valorizar

estes territórios e criar atrativos turísticos que vão para além do «sol e mar», neste caso em torno 52


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do património natural e cultural. Assim se dão também a conhecer as nossas aldeias, numa zona onde a floresta tem sido preservada e alvo de um reordenamento depois dos fortes incêndios de 2018. É um bom exemplo de que não precisamos de muitos recursos financeiros para termos um impacto real nos territórios e

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revela, mais uma vez, o dinamismo do poder local”, declarou a Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, antes de iniciar a travessia do Passadiço do Barranco do Demo, sendo que, no final, ainda houve tempo para conhecer o Centro Interpretativo do Castelo de Alferce e para desfrutar de um Medronho de Honra no Centro Multiusos do Alferce .

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FESTIVAL POLÍTICA LEVO E MARGARIDAS» AO CIN Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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OU «SOBRE ROSAS NETEATRO LOULETANO

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Cineteatro Louletano, em Loulé, recebeu, no dia 19 de outubro, «Sobre Rosas e Margaridas», uma criação coletiva da Folha de Medronho e da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveis, que se uniram e se responsabilizam “nesta

urgência de mudanças, contra qualquer tipo de discriminação, contra a violência de género, desrespeito global pelos direitos humanos, e se implicam numa nova etapa de construção da reflexão da mulher na sociedade, da mulher de teatro, num momento tão trágico, de banalização de todo o tipo de barbáries e preconceitos, que permitem e fomentam o ALGARVE INFORMATIVO #409

crescimento assustador de movimentos populistas, onde o conservadorismo de elites se reforça e constitui uma ameaça que não podemos ignorar”, sublinha a produção. Inserido no Festival Política, a peça de teatro evoca as mulheres e as suas histórias e vozes, a partir de pesquisas, testemunhos, investigação e textos construídos pelas próprias intervenientes durante o processo de criação/laboratório, designadamente, Beatriz Teodósio e Tânia Farias. Um «património» que se equilibra com a construção artesanal de objetos em folha de palma, da região algarvia, numa parceria que junta a louletana Folha de Medronho e a brasileira Tribo de Atuadores, com encenação de Tânia Farias . 64


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TEATRO DOS ALOÉS APRESENTOU «O MEU PÉ DE LARANJA LIMA» NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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ouve sessão dupla no Teatro Lethes, em Faro, no dia 25 de outubro, para se assistir a «O meu pé de laranja lima» pelo Teatro dos Aloés. Com texto de José Mauro de Vasconcelos e encenação de Elsa Valentim, viajamos nesta peça com Zezé nas suas múltiplas aventuras, na comovente descoberta da ternura através do seu amigo Portuga, mas também na descoberta da dor quando o amigo morre tragicamente, colhido por um comboio. “O valor da ALGARVE INFORMATIVO #409

amizade, a capacidade da imaginação para superar as condições mais adversas, a defesa do amor e da ternura como armas para vencer o medo e a estreita ligação com a natureza, parecemnos temas com capacidade para continuar a interessar e comover espectadores de diversas gerações”, refere a produção sobre a peça que contou com a interpretação de Artur Malheiro, Graciano Amorim, José Peixoto e Sara Azevedo . 78


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FESTIVAL EMRAIZART R FORMATO, MAS A MESM

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REGRESSOU COM NOVO MA MAGIA E ENCANTO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Gabriela e Guillermo / @coliwilla @que.memos

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Festival Internacional de Circo Contemporâneo EmRaizArt voltou, em 2023, para a sua terceira edição, desta feita dividido em duas fases, a primeira das quais, a de Outono, de 9 a 15 de outubro, à qual se seguirá a da Primavera, de 6 a 12 de maio de 2024. Num mundo cada vez mais dominado por avanços tecnológicos e relações mediatizadas, o Festival emerge como um farol de reflexão sobre o desenvolvimento sustentável dos territórios e o vínculo essencial que as novas gerações estabelecem com eles. Acontece no idílico montado de sobreiros centenários, localizado no Cotifo, na ALGARVE INFORMATIVO #409

Quinta Velha, no concelho de Lagos, proporcionando uma experiência artística que traz o circo contemporâneo e as artes de rua ao meio rural. O evento valoriza o património natural e a paisagem autóctone do interior do Algarve e, sob o conceito «Site-Specific», pensado para este espaço e para a relação humana com o meio circundante, cria novas formas de interação artística com a natureza, promovendo o cuidado ambiental e uma conexão profunda com o mundo natural através das artes. “Ao

preparar o festival, tentamos sempre que o espaço, dentro da criação de trilhos e de condições de acessibilidade, mantenha ao máximo as suas características naturais, para que a experiência 92


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seja imersiva. É tudo muito relacional: os aparelhos de circo estão pendurados nas próprias árvores”, destaca Nelda Magalhães, diretora de produção do evento. “E recorremos a autocarros para transporte do público, usamos wc´s secos de compostagem e temos pontos de reciclagem”, acrescenta. O programa foi composto por três espetáculos nacionais/internacionais de linguagem visual cativante, dois

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concertos, quatro oficinas interativas que promoveram o envolvimento do público escolar e uma oficina de clown para adultos, tudo isto com Direção Artística de Berna Huidobro. O evento é apoiado pelo Governo de Portugal – Direção Geral das Artes, pela Direção Regional da Cultura do Algarve e pelo Município de Lagos. São também parceiros a Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, o Laboratório de Atividades Criativas – Associação Cultural, a Fungo Azul – Associação Cultural, a Livraria até a Lua, e os dois Agrupamentos de Escolas do concelho de Lagos .

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INÊS MENESES DEU A CONHECER NOVO LIVRO NO «CHOQUE FRONTAL AO VIVO» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Vera Lisa

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comunicadora, jornalista e radialista portuguesa Inês Meneses esteve, no dia 19 de outubro, no «Choque Frontal ao Vivo» para apresentar ao público que esgotou o Pequeno Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, e em estreia absoluta, o seu livro «Máquina de Escrever Sentimentos». Na conversa com Júlio Ferreira e Ricardo Coelho falou sobre o seu trajeto profissional e pessoal e sobre este seu “novo e mais bonito

livro, um livro-mãe que me une à memória da minha mãe e à minha ALGARVE INFORMATIVO #409

filha, que fez as ilustrações belíssimas”. Neste diário sem cronologia, com design e projeto gráfico da Lavandaria e editado pela Contraponto, Inês Meneses volta a eleger como protagonistas as emoções, que são descritas num tom confessional, sem data ou ordem. São partilhas que se encaixam na vida de todos os dias, da autora e na nossa, pequenas biografias de sentimentos comuns que, na cronologia de cada um, adquirem um caráter raro e especial. A perda da mãe, o lugar permanente das saudades, a importância da memória, a bagagem emocional que se carrega a cada nova viagem, o papel da amizade, e o amor como a única forma de se ser pleno num mundo que nos pode 104


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estraçalhar, são alguns dos temas desta obra. “Com uma sensibilidade rara,

a autora reafirma o seu talento pela exímia escolha de palavras e pela forma sempre nova como vê as pessoas e o que as rodeia. Inês Meneses conta-se e conta-nos através de reflexões marcantes e das surpreendentes ilustrações da filha, Maria Inês, uma simbiose

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perfeita que torna esta «Máquina de Escrever Sentimentos» uma peça única”, destaca a produção do «Choque Frontal ao Vivo», programa da Alvor FM da responsabilidade de Ricardo Coelho e Júlio Ferreira que regressa em dose dupla, primeiro no dia 16, no TEMPO, com os «Recante», e depois no dia 25, no Teatro Mascarenhas Gregório, em Silves, com os «Adiafa» .

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Entre o design e o delírio Mirian Tavares (Professora) A gente tem de viver. Para viver, eu tenho de pintar. Leonilson eonilson foi um artista da Geração 80. No Brasil, como um pouco por todo o mundo (e em Portugal, em particular), os artistas redescobriam a pintura, redescobriam o prazer de trabalhar sobre suportes diversos e com diferentes materiais. Após duas décadas de um tácito silêncio que se abateu, grosso modo, sobre a arte ocidental, os anos 80 do século XX foram marcados pela emergência de artistas, como o cearense Leonilson, cujas obras apelam à materialidade, à existência plena enquanto forma e conceito, a uma arte corpórea e corporificada. A arte conceptual, mais intelectualizada e, de alguma maneira, menos pessoal ou personificável, é confrontada com o desejo de alguns artistas de falar de si mesmos usando uma forma mais direta – a imagem pictórica ou o desenho, ou a combinação de ambos, sobre suportes convencionais ou não, em obras mais íntimas e também em obras urbanas que se expandiam pelas paredes das grandes cidades do mundo ocidental. A programática organização dos elementos nas obras, a possibilidade da existência do aleatório na composição, proposta por Donald Judd, considerado o pai do Minimalismo, é substituída por uma escrita pictórica mais pessoal e, nalguns casos, de cunho diarístico. O que pode parecer uma viragem ao «de dentro» é, ALGARVE INFORMATIVO #409

também, uma viragem ao mundo e às suas vicissitudes – um mundo em ebulição, que andava a passos largos no campo das ideias, mas que ainda se arrastava no momento da ação. Um mundo, aparentemente, só aparentemente, mais aberto às margens e aos que nelas habitam. Sejam as margens do Ocidente, da sociedade ou da dita moral e dos bons costumes. Um pouco por todo o mundo, artistas usam a pintura e o desenho para escrever as suas próprias histórias, para inscrevê-las numa realidade ainda insatisfatória e árida para quem não comungava do ordinário, do padronizado, do neutro ou do habitual. Leonilson morreu em 1993, como diversos artistas da década de 80 e 90, de SIDA (AIDS, no Brasil), mas a sua obra permaneceu e permanece cada dia mais viva. Desde a década de 90 que são feitas retrospetivas e homenagens ao artista que conheceu o sucesso ainda em vida. Fez parte da chamada Geração 80 da arte brasileira, expôs a solo e com amigos, também artistas que, como ele, celebravam o retorno à pintura e a uma certa joie de vivre. Numa das suas últimas entrevistas, à TV Cultura, Leonilson diz que a sua vida nunca foi um inferno, nem antes nem naquele instante em que ele não sabia se iria viver mais uma semana ou mais alguns anos. A sua obra, mesmo a que faz quando descobre a doença, e que continua a fazer até à morte, não perde o lirismo – mantémse coerente, mais intensa talvez, mas com a 112


Foto: Vasco Célio

mesma leveza dos seus desenhos e pinturas iniciais. É uma arte paradoxalmente alegre, mesmo quando angustiada. No documentário de 2012, Sob o peso dos meus amores, dirigido por Carlos Nader na esteira da grande retrospetiva da obra do Leonilson, na Fundação Cultural Itaú, em São Paulo, ouvimos os amigos, teóricos e curadores a falar do artista e do seu trabalho. Sobretudo do seu legado e da consciência que ele tinha sobre aquilo que queria fazer enquanto artista. A sua obra é lírica e poética e é, ao mesmo tempo, muito autoconsciente do papel do artista e da arte e da relação que ambos mantinham com o mundo. Recentemente, tive o prazer de visitar uma exposição de Leonilson na Desconexo Design, em Fortaleza (Brasil). Com curadoria de Dodora Guimarães, O Menino Leonilson faz um recorte muito particular de uma obra gigantesca e profícua. Somos 113

apresentados a uma parte da obra menos difundida, mas não menos (re)conhecida do artista – pinturas, desenhos e objetos do início dos anos 80. A montagem da exposição evidencia um percurso e também dá a ver a escrita pictórica de Leonilson, as formas que o acompanharam até ao fim, as suas obsessões e permanências, aquilo que o influenciava e apaixonava. Objetos que ele colecionava e que foram plasmados em pinturas ou desenhos estão expostos, lado a lado, como parte de um todo que dialoga constantemente. Os cartazes, marca registada de Leonilson, estão presentes na parede que abriga um percurso e que conta uma história: a história de um artista que amava a arte e que dizia que era por ela e com ela que saltava no abismo. O Menino Leonilson não é uma exposição a mais, dentre tantas da obra do artista, é uma história contada por quem o conhece muito bem e que, por generosidade e também paixão pela arte, partilha connosco o «seu» Leonilson. Uma curadora e um visionário, Dodora Guimarães e o CEO da Desconexo, Pablo Guterres, trazem uma exposição delicada e desafiadora – pelo espaço que ocupa, entre objetos de design. Mas Leonilson não se acanha. Os seus textos e fragmentos, a sua escrita visual, estão em perfeita consonância com os objetos à volta, também eles nada convencionais. A exposição desafia o espectador a descobrir o inusitado, a rever o artista pelos olhos daqueles que conviveram de perto com o artista e/ou com a sua obra e, que por isso, têm uma história para contar . ALGARVE INFORMATIVO #409


5 motivos surpreendentes para ser nómada digital no interior Fábio Jesuíno (Empresário ) nomadismo digital é um estilo de vida em que as pessoas trabalham de forma remota, permitindo-lhes viver e trabalhar enquanto viajam pelo mundo. Essa tendência tem crescido significativamente nos últimos anos, com as regiões do litoral a atrair a maioria dos nómades digitais devido às suas infraestruturas e oportunidades. Por outro lado, as regiões do interior têm ganhado visibilidade devido às suas características singulares, como paisagens de uma beleza única, um ambiente mais calmo e um custo de vida mais acessível. Aqui estão 5 motivos para ser nómada digital em regiões do interior: Melhor qualidade de vida As regiões do interior proporcionam uma melhoria na qualidade de vida, onde se desfruta de ar mais puro, menor poluição e uma sensação de comunidade mais unida. Por exemplo, as localidades do interior costumam oferecer mais áreas verdes, além de eventos culturais e comunitários que melhoram a vida dos seus habitantes.

O interior costuma ter um custo de vida mais baixo em comparação com as grandes cidades, permitindo poupar no arrendamento, alimentação e transporte, entre outras despesas. Por exemplo, enquanto um apartamento de um quarto em Lisboa custa por volta de 1.500 euros por mês, o mesmo apartamento em Beja custa cerca de 350 euros por mês. Mais contato com a natureza As regiões do interior estão mais próximas da natureza. Pode aproveitar para praticar atividades ao ar livre, como caminhadas, ciclismo e pesca. Por exemplo, o interior de Portugal é conhecido por suas belas paisagens, incluindo montanhas, florestas e praias. Mais segurança A segurança nas regiões do interior é maior em comparação às grandes cidades. Vai poder sentir mais tranquilidade ao caminhar pelas ruas ou deixar o seu automóvel estacionado na via pública sem problemas. Por exemplo, os índices de criminalidade no interior de Portugal são na sua maioria mais baixos do que nas grandes cidades. Mais cultura local

Custo de vida mais baixo ALGARVE INFORMATIVO #409

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A cultura local do interior é mais rica e preservada. Pode conhecer e aprender sobre a história e as tradições da região, e participar de eventos e festivais culturais. Por exemplo, as regiões do interior de Portugal são conhecidas pela sua cultura diversificada, que abrange desde a gastronomia até a música e o artesanato.

podendo ser necessário lidar com ligações de internet mais lentas, uma menor variedade de serviços e menos opções de entretenimento. No entanto, na minha opinião, para quem está à procura de um estilo de vida mais calmo e acessível, o nomadismo digital em regiões do interior é uma excelente opção .

Naturalmente, existem desafios em ser nómada digital em regiões do interior, 115

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Das famílias e dos parentescos Dora Gago (Professora) rofessora, quando eu casar com um rapaz, ele vai ser o quê aos meus pais?”. A pergunta surpreendeu-me, vinda de uma aluna daquela idade. E a minha surpresa residiu no facto de não me lembrar sequer de como aprendi isso, mas os graus de parentesco integraram o meu universo desde muito cedo. Embora vinda de uma família pequena, percebia como se relacionava, entre sogros, genros, noras, cunhados, cunhadas, também porque se falava, conversava-se, ouviam-se os adultos. Apercebi-me de que, para aquela turma de miúdos de doze anos, os graus de parentesco conhecidos se reduziam ao pai, mãe, quando muito irmão ou irmã, alguma avó ou avô e pouco mais. O resto resto ficava de fora, até porque se fala deles nas línguas estrangeiras, mas na materna, não. E aqui não deixo de evocar a minha breve aprendizagem do mandarim, em Macau e toda a complexidade de que se revestem os graus de parentesco neste idioma. É que há nomes distintos para cada um dos membros da família, descritiva das suas origens e caraterísticas. A título de exemplo: a irmã mais velha é jiějie, a mais nova mèimei, o avô paterno é zufù, o materno wài gōng e assim sucessivamente. Um aluno explicou-me que esta complexidade de designações seria útil para determinar depois a

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questão das heranças. Mas enfim, na nossa língua, é muito mais simples, o problema é, com efeito, outro. É que isto remete para uma ausência de referências, para uma deriva, um desligar de raízes, uma ausência de diálogo, de conversas à mesa ou ao serão. Isto evoca o isolamento em cada um vive (que deixou de ser uma questão mais frequente nas cidades e se globalizou), emigrando para as entranhas dos telemóveis, das redes sociais, das vidas de sonho ilusório das estrelas dos media, transplantado para uma era do vazio em estado puro. E, na verdade, a obra do filósofo francês Gilles Lipovetsky, intitulada A Era do Vazio, publicada pela primeira vez em 1983, assume, nos tempos que correm, profunda actualidade. Tal como nela se advoga, na Pós-modernidade, o narcisismo converte-se em ilusão e desencanto, assumindo-se o ato de «comunicar por comunicar» como a transfiguração desse profundo vazio contemporâneo, vivido sob o jugo da tirania do instante, da espectacularidade do quotidiano, da ditadura das aparências. E sobre estas e outras atuais reflectem, entre outros, também sabiamente o sociólogo Zygmunt Baumann e o filósofo Byung Chul Han, vozes que importa escutar pelo modo como analisam os fragmentos da nossa realidade circundante. Se, como escreveu Tolstoi em Ana Karenina, “Todas as famílias felizes se 116


parecem, mas as infelizes são-no, cada uma à sua maneira”, a verdade é que, independentemente da felicidade ou da infelicidade (e do seu teor provisório), assim como dos elementos que a integram, a família continua a ser o núcleo onde e de onde se nasce, se cresce, o primeiro mundo de cada 117

indivíduo. Talvez por isso, sabê-la nomear, conhecer os fios que a unem, as linhas que a vão tecendo, reconstituindo, projectando no futuro, será sempre um modo de nos conhecermos, o ponto de partida onde são inaugurados os caminhos que a trilhar . ALGARVE INFORMATIVO #409


Apanhados do clima Nuno Campos Inácio (Editor e escritor) os últimos tempos temos sido surpreendidos por uma série de iniciativas realizadas por jovens ativistas, alegadamente de defesa ambiental, ainda que algumas formas de manifestação em pouco ou nada defendam o ambiente. Não pretendendo analisar as razões dessas lutas, porquanto é extremamente difícil distinguir os fenómenos climatéricos esporádicos ou cíclicos daqueles que possam ser originados por uma alteração climática permanente provocada por intervenção humana, - por exemplo: um temporal provocou a inundação de casas nas zonas costeiras, tendo a água atingido 7 palmos de altura em Portimão e em Alvor, em 1731; furacões provocaram grandes estragos e arrancaram árvores, em 1672 e em 1723; uma grande seca impediu a realização de sementeiras no concelho de Vila do Bispo, em 1807; um ciclone provocou uma chuva de peixes em Alte, fez salgar os poços existentes na serra algarvia e as vagas do mar inundaram a casa das máquinas do Farol de São Vicente, em 1941; caiu neve em toda a região algarvia, em 1954; uma enxurrada destruiu dois pilares da ponte de Tavira, em 1989; existem centenas de relatos de secas extremas, inundações, tempestades, ciclones, tornados, elaborados ao longo ALGARVE INFORMATIVO #409

de vários séculos -, infelizmente a história climática ainda está por elaborar possibilitando que, por ausência de informação, todos os acontecimentos extremos climatéricos sejam interpretados como novos e resultantes das alterações climáticas. Por não conseguirmos fazer essa distinção, focamos a atenção nestes fenómenos sociais, tentando perceber porque surgem e como adquirem esta escala. É notório que as novas gerações são muito mais aguerridas e reivindicativas (não apenas no que se refere à questão ambiental, mas em muitas outras áreas), do que as anteriores, onde me incluo. Isto acontece porque uma geração inteira ficou estagnada, acomodada, castrada de espírito de iniciativa, entretida com disputas futebolísticas. Como se a vida fosse um gigantesco estádio de futebol, a geração que hoje anda entre os 40 e os 60 anos assumiu-se como mera espetadora da passagem do tempo, governada por líderes do passado que se petrificaram no poder por falta de alternativas viáveis, governando sem ideias, projetos, ou horizontes de futuro, convertidos em meros gestores de crises sucessivas, que abrem duas portas alternativas aos mais novos: a diáspora ou a luta. Sem nunca sair da bancada, a geração estagnada, a que pertenço, aguarda pacientemente pela herança que lhe couber, uma 118


realidade materializada no exemplo de Carlos III de Inglaterra, mas que é replicada nos aparelhos partidários, na liderança administrativa, nos órgãos municipais, nas associações, nos clubes, na organização social, na esfera familiar… A geração que chegou a ser apelidada de «rasca», mas que se assumiu como sendo a geração «à rasca», que recebeu a liberdade numa bandeja, que conheceu uma notável evolução educativa, cultural, social, económica e tecnológica; a geração melhor qualificada da história, acomodou-se e resignou, ou então partiu… Não teve pelo que lutar na infância ou na juventude e, graças a esse comodismo, não sabe lutar. Pouco ou nada adquiriu pelo seu suor, por isso não se inibe de destruir e esbanjar. Olhando para o ponto da situação, o 119

melhor que essa geração fez foi criar uma nova geração que percebeu que não pode continuar a ser dirigida pelas mesmas figuras ocas e sem visão de futuro que dirigiram a geração dos seus pais e, confrontados com a inércia e a recusa de participação dos seus pais, não se inibem de lutar pelo que querem, pelo que acreditam ser um futuro melhor. Deste ponto de vista, não importa se têm ou não a razão do seu lado, valem pelo ímpeto reformista e evolutivo. Que não tenham problemas em atirar tinta verde, azul, ou vermelha, porque os alvos são meros observantes, governantes de bancada, que receberam o testemunho sem esforço e apenas aguardam o momento de transferi-lo para outros, convertidos que estão em meras figuras secundárias. Há vida além do futebol!... . ALGARVE INFORMATIVO #409


Em defesa das bruxas Sílvia Quinteiro (Professora) stão errados os nossos irmãos espanhóis quando afirmam: Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay! - atribuindo-lhes a responsabilidade pelo inexplicável. Em vésperas de Dia das Bruxas, sentada entre abóboras, velas, vassouras, fantasmas e aranhas, espreito os e-mails que vão entrando na minha caixa de correio. Há um que me leva a pensar nas injustiças de que as bruxas são alvo. Não falo de Salém, de fogueiras e afogamentos. Nem sequer daquelas que por aí voam o ano inteiro, equilibrando-se como podem nas vassouras. Tresloucadas. Quem sabe se efeito dos gases libertados dos caldeirões, se é o vento (porque isto de voar sem capacete tem mais que se lhe diga), ou se é das companhias que atraem. Enfim, deixemos estas pobres bruxas e vamos às verdadeiras culpadas a que quero hoje apontar o dedo: as coincidências. O pensamento é espoletado, como disse, pela leitura de um e-mail. No monitor, o anúncio de um evento. O “onde é que já vi isto?”. Ah, já sei! Caramba! Não fosse eu profunda conhecedora da seriedade, ética e bom carácter dos envolvidos e questionaria a coincidência. Passa-se isto num meio em que só sobrevivem os que conseguem ALGARVE INFORMATIVO #409

acompanhar um ritmo alucinante. Aulas, organização de eventos, palestras, orientações, publicações, gestão. Tudo é registado num cartão de pontos que, infelizmente, não dá descontos nos postos de combustível. Nem sequer faqueiros ou peluches. E mais valia! O que é certo é que, empurrados pela pressão, os seres que se movimentam neste microcosmos são arrastados por uma enxurrada em que tudo se mistura. Um turbilhão em que, talvez pela proximidade excessiva, acabam por ter exatamente as mesmas ideias, chegando a escrever parágrafos, quando não páginas inteiras, ou, até mesmo, projetos que são uma réplica perfeita do que foi feito antes. Há inclusivamente currículos que se emaranham de tal forma que chegam a gerar sérios problemas de identidade. Não fiz, mas gostava de ter feito. Não fui eu, mas podia bem ter sido. Daí a registar a propriedade sem quaisquer problemas de consciência, é um saltinho. A culpa é das coincidências. Nuestros hermanos diriam que aqui há bruxa, apesar de não acreditarem nelas. Por cá, diríamos que aqui há gato (da bruxa, suponho). Mas é má vontade. Eu continuo a acreditar que a culpa é das coincidências. Afinal, não há assim tanto que estudar. Não há assim tanto por fazer. Os temas são limitados. E as pessoas são todas igualmente brilhantes e visionárias. Daí ser natural esta confluência de pensamentos. 120


É isto que está em causa no episódio que comecei por referir. As vítimas de maldosas coincidências que espreitam a cada momento uma oportunidade para atacar. Lições, artigos, livros, teses, eventos… apanham-se no ar como doenças. E, à semelhança de outras maleitas, também neste caso há quem seja mais atreito a contraí-la. Às vezes apanha-se muito cedo e poderia fazer-se um diagnóstico precoce desta «coincidite aguda» já na formação. Um teste do pezinho feito aos capítulos de algumas teses evitaria muita desgraça. Até porque, se o ataque não for precoce, o caso está perdido. As coincidências 121

teimam em voltar, em entranhar-se de tal forma em certas pessoas que parece mau olhado. Acreditasse eu em bruxas e recomendaria arruda, benzeduras, chás e talismãs… alguma coisa haveria de funcionar. Não sendo o caso, o tratamento afigura-se-me bastante mais complexo. E ficaria por aqui a dissertar sobre o assunto, não me tivesse acabado de ocorrer uma ideia genial. Vou a correr escrever um artigo sobre uma tecnologia inovadora: «A roda». Vai ser um sucesso!.

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #409

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