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Paulo Cunha
Chorem, homens!
Paulo Cunha (Professor)
ão chores… és um homem, e os homens não choram!”. Ainda é possível ouvir alguns progenitores a dizer isso aos seus filhos, provavelmente com o intuito de querer que venham a ser homens fortes, que aguentem a pressão, que não mostrem fraqueza, que ocultem os sentimentos e consigam reprimir a dor.
Ao longo da história, a mulher foi educada a expressar sentimentos e o homem a ocultá-los. E isso reflete-se no comportamento dos dois sexos. Chorar faz parte do comportamento humano, independentemente do género. O ato de chorar em público foi e continua a ser controlado por fenómenos culturais e sociais, nada tendo a ver com o facto das mulheres serem mais sensíveis e os homens menos.
Grande parte dos suicídios são cometidos por homens, mas das pessoas que pedem ajuda psicológica só um ínfimo número são homens. Por não chorar, muitos homens acumulam energias negativas e quando menos esperam, explodem. Explodem em impulsividade, explodem de raiva e explodem tirando a sua ou a vida de outros.
“Como podemos então libertar-nos das emoções negativas, intensas e depressivas? Para além da enorme importância de falarmos com os outros (família, amigos e técnicos especializados), exprimindo e partilhando as nossas angústias e os nossos pensamentos mais dolorosos, faz-nos bem chorar, gritar e expelir a negatividade que nos bloqueia. Quando falamos, centrarmo-nos nas nossas próprias palavras, compreendendo assim melhor o que sentimos. Por isso, não há razão para não falar sozinho, reprimir as emoções, não chorar! Todos os educadores deveriam ter a consciência da importância de conversar com os seus filhos, dizendolhes: “Diz-me o que te preocupa, sabes que podes contar sempre comigo. Estarei sempre aqui para te aconselhar e abraçar”, “Não há problema em chorares e sentir-te triste. Chora. Chorar faz bem!”. Se a sociedade aceita que uma mulher ponha cá para fora tudo o que lhe vai na alma, com o homem não se verifica o mesmo, arriscando mesmo a ser catalogado com alguns epítetos menos bonitos. Chorar em público, só em ocasiões extremas (velórios, funerais e eventos trágicos). Infelizmente, é essa a
dicotomia nas exigências sociais em relação ao homem.
Mulheres e homens, choramos todos pelas mesmas razões: tristeza, alegria, injustiça, amor, saudade, morte, etc. Independentemente do credo, da idade, da raça, da cultura, do sexo e da identidade de género, todas as sociedades têm o mesmo em comum: chorar. Porque toda a gente chora e é inquestionável: chorar faz bem!
Com sentimentos negativos ou com a maior das alegrias, chorar é bom, saudável e recomenda-se. Equilibra o espírito e ajuda a aliviar a tensão. Digo-o eu, que herdei do meu pai o choro fácil e já habituei ao contacto com lágrimas sentidas quem comigo priva. Contidas e banidas, só as más atitudes que fazem os outros chorar! .