REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #293

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ALGARVE INFORMATIVO 29 de maio, 2021

«A VOZ HUMANA» | «PRAÇA DOS HERÓIS» | DANÇA SOLIDÁRIA NO TEATRO LETHES ESPAÇO GAMBOA | «DIALOGUE SERIES» | XXXI MOSTRA DE ARTES PLÁSTICAS DE LOULÉ 1 ALGARVE INFORMATIVO #293


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26 - Lagoa apresentou Espaço Gamboa 14 - Loulé aposta na segurança e proteção

78 - Dança Solidária no Teatro Lethes 46 - «Gostava de estar viva para vê-los sofrer!», no Teatro Lethes

104 - «A Voz Humana» em Loulé 34 - XXXI Mostra Artes Plásticas Loulé

OPINIÃO 118 - Mirian Tavares 120 - Adília César 122 - Vera Casaca 124 - Nuno Campos Inácio 126 - João Ministro ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #293 #293

92 - «Praça dos Heróis» em Portimão 88


62 - «Dialogue Series» em Lagos 99

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LOULÉ CONTINUA A APOSTAR FORTE NA SEGURANÇA E PROTEÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Câmara Municipal de Loulé dedicou o dia 25 de maio à segurança e proteção civil, numa jornada que contou com a presença da Secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, e que arrancou, logo pela manhã, no Auditório do Convento Espírito Santo, com a apresentação do estudo de inspeção das pontes do concelho realizado pelo engenheiro civil Carlos Martins. A parte da tarde teve como cenário o Quartel dos Bombeiros ALGARVE INFORMATIVO #293

Municipais, onde se procedeu à entrega de Equipamentos de Proteção Individual aos caçadores e juntas de freguesia do concelho, à assinatura de um protocolo com a GNR para a cedência de uma viatura de defesa da floresta contra incêndios e à entrega dos contratos de comodato à Junta de Freguesia de Salir e União de Freguesias Querença, Tôr e Benafim com vista à cedência também de viaturas de defesa da floresta contra incêndios. Um dos momentos altos do dia foi a condecoração de 35 bombeiros pelos 14


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Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé

seus anos de serviço e dedicação à causa pública, mas houve ainda tempo para a Secretária de Estado da Administração Interna conhecer os Veículos de Defesa da Floresta Contra Incêndios que serão entregues à GNR, Junta de Freguesia de Salir e União de Freguesias Querença, Tôr e Benafim, bem como o posto de comando móvel da Proteção Civil de Loulé. “A segurança e proteção são

um dos eixos estratégicos que temos vindo, de forma consistente, a desenvolver de há uns anos a esta parte, porque estamos conscientes das nossas responsabilidades. Por isso, o Município de Loulé planeou e executa gradualmente este campus totalmente dedicado a servir, não só Loulé, mas todo o Algarve. Começamos com o Quartel dos 17

Bombeiros e o Heliporto, junto à Circular de Loulé, naquilo que se mostrou ser uma boa decisão, de tal forma que esta Cidadela da Segurança e Proteção Civil do Concelho de Loulé já acolhe as instalações do CREPC – Comando Regional de Emergência e Proteção Civil e vai receber igualmente o edifício municipal para o INEM e para o CODU – Centro de Orientação de Doentes Urgentes, bem como o Comando Territorial da GNR do Algarve”, evidenciou Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé. “E

estamos a trabalhar igualmente com vista à ampliação do Quartel dos Bombeiros e do Heliporto, ALGARVE INFORMATIVO #293


que já se encontra desadequado face às necessidades dos tempos atuais. Sei que vou a «exame» daqui a poucos meses, mas estando eu cá, ou outro qualquer no meu lugar, não acredito que um projeto desta importância possa não ter uma evolução até à sua concretização”, acrescentou. Este «sonho» começou a ganhar contornos no final da década de 90 do século passado, com Vítor Aleixo a garantir que, em política, nada acontece com um «estalar de dedos». “Com

empenho e persistência vamos concretizar uma cidadela de vocação regional, no centro geográfico do Algarve, com acessos de excelência e com disponibilidade ALGARVE INFORMATIVO #293

de meios à altura das missões mais exigentes”, frisou, destacando que “os obstáculos surgidos têm sido ultrapassados graças à vontade de muitos daqueles que aqui estão hoje nesta sala”. O edil louletano fez questão, contudo, de salientar a importância e o papel de Vítor Vaz Pinto, Comandante Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, no que tem sido alcançado desde 2014. “Temos mais objetivos

para atingir e há muito tempo que está cartografado, no PDM, um aeródromo. O Município de Loulé tem vindo, ao longo dos anos, a adquirir parcelas de terreno, porque nunca deixou cair a ideia de concretizar mais este projeto de qualidade que seria uma 18


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Patrícia Gaspar, Secretária de Estado da Administração Interna

enorme mais-valia para o Algarve e para o qual esperamos contar com apoio governamental. Desejamos também ampliar esta base de helicópteros em serviço permanente, uma obra no valor de 2,5 milhões de euros que terá financiamento do Interreg, para que possamos ter aqui estacionados cinco helicópteros”, revelou Vítor Aleixo. “Percebemos que localizações destas são verdadeiramente estratégicas, temos alguns meios financeiros e temos o gosto e visão de servir o 21

país no domínio da proteção civil e da segurança”, reforçou. Vítor Aleixo lembrou que, em 2019 e 2020, o Município de Loulé investiu mais de um milhão de euros em equipamentos, ações e intervenções no âmbito do combate aos incêndios rurais, um trabalho que será prosseguido em 2021, conforme atesta a entrega de viaturas às juntas de freguesia e GNR e de equipamentos de proteção individual a vários intervenientes nesta nobre missão. “A

proteção da nossa natureza é uma tarefa de todos e, se não formos ALGARVE INFORMATIVO #293


capazes de envolver a sociedade civil, as escolas, os caçadores, as juntas de freguesia e outras organizações, é porque não estamos a trabalhar bem, é porque não estamos no caminho certo”, considerou o autarca louletano, declarando ainda que os efeitos das alterações climáticas exigem corpos de bombeiros bem apetrechados e com conhecimentos para lidar com fenómenos extremos. A sessão foi encerrada pela Secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, que depressa destacou o trabalho realizado pelo Município de Loulé nas áreas da segurança, proteção civil e ambiente, porque “os efeitos das

alterações climáticas serão uma das bússolas que nos vão orientar nos ALGARVE INFORMATIVO #293

próximos anos”. “Loulé é, efetivamente, um concelho seguro e que está no bom caminho, e o Algarve é uma região que está na linha da frente em matéria de proteção e socorro. Estamos a falar de um sistema em que todos fazem falta, em que ninguém está a mais, a começar nos cidadãos, a passar pelos agentes de proteção civil, pelas juntas de freguesia e todas as associações de caçadores. É um conjunto de boas-práticas que deve ser estendido a todo o país, porque a roda já foi inventada há muito tempo e, na maior parte das vezes, basta olhar para o lado e replicar aquilo que está a ser bem feito”, defendeu a governante. 22


Em relação aos investimentos realizados nos últimos anos, em Loulé, nas áreas da segurança e proteção civil, Patrícia Gaspar reconheceu que servem toda a região e não apenas o concelho onde estão instalados. “Estamos a começar a

trabalhar o próximo Quadro Comunitário de Apoio, há várias oportunidades no horizonte e devemos ter a inteligência e o saber para as aproveitar, de maneira a termos as ferramentas adequadas para desenvolver esta atividade”, sublinhou a Secretária de Estado da Administração Interna. “No âmbito

desta terrível pandemia que estamos a viver, todo o Sistema de Proteção Civil foi ativado em prol dos portugueses, numa situação

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perfeitamente crítica… e foi possível responder às exigências, assim demonstrando a importância que ele tem em Portugal”, evidenciou. “Governar em circunstâncias normais já é difícil, fazê-lo em contexto de pandemia é ainda mais difícil. Temos tentado transformar pontos fracos em oportunidades, nunca baixamos os braços e, em poucas semanas, operacionalizamos todo o sistema e criamos equipas especializadas nos corpos de bombeiros. Não fizemos tudo, mas conseguimos minimizar o impacto desta situação bastante complicada”, concluiu Patrícia Gaspar.

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LAGOA DEU A CONHECER O FUTURO ESPAÇO GAMBOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Kátia Viola eve lugar, no dia 24 de maio, no Centro Cultural Convento de S. José, a apresentação pública do projeto de instalação do Espaço Gamboa, dedicado à vida e obra do artista lagoense Manuel Gamboa e que ficará localizado precisamente neste equipamento cultural da cidade de Lagoa. “Trata-se de um

dos projetos estruturantes do Município de Lagoa na área cultural e cujos trabalhos estão em curso desde o início do ano. Esteve para nascer noutros tempos e noutros locais, mas vai ficar neste edifício emblemático que ao longo dos séculos, e após a sua função ALGARVE INFORMATIVO #293

primordial – entenda-se conventual –, serviu diferentes finalidades, até ser transformado em centro cultural, completando 28 anos da sua criação a 27 de maio. Muito em breve, este que é um dos centros de cultura da nossa cidade e concelho, passará a contar com mais uma valência, que será um legado à memória do nosso conterrâneo e magnífico artista plástico, Manuel Gamboa”, referiu Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, no dia em que o artista cumpriria, se ainda estivesse vivo, o seu 96.º aniversário. Há muito ambicionado pelos lagoenses, o projeto surge na 26


continuidade da política cultural promovida pelo Município de Lagoa e focada, no passado recente, na proteção e valorização do património cultural deste território, “um

testemunho vivo da nossa história e identidade”, como forma de garantir o seu usufruto pelas gerações futuras. “O

Espaço Gamboa é um anseio antigo de toda a comunidade e a criação deste espaço museológico foi objetivo de distintos e sucessivos executivos camarários. O que hoje aqui alcançamos é deixar o sonho para atingir a sua realização, contribuindo, assim, para o reconhecimento de uma figura incontornável de Lagoa. O caminho Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa percorrido culminou num projeto maduro, conhecimento do público. “Em com ideias claras e com uma visão Portugal, o Mestre perfilou, lado contemporânea e arrojada, tal a lado, com grandes artistas e como foi o próprio Manuel intelectuais do seu tempo, tal Gamboa”, destacou Luís Encarnação. como o fez em Hamburgo, cidade No Espaço Gamboa estará exposto um onde se fixou durante largos anos vasto número de obras de arte de Manuel e onde viria a atingir a sua Gamboa, mas pretende-se também maturidade artística”, recordou o divulgar obras que integram coleções particulares e que não são do

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presidente da Câmara Municipal de Lagoa, lembrando que todo este ALGARVE INFORMATIVO #293


processo se iniciou com a questão de onde o Espaço Gamboa se iria instalar.

“Ao projetar-se um equipamento museológico, em termos de infraestruturas, há dois cenários possíveis: pode-se adaptar um edifício existente e que reúna condições para tal; ou pode-se avançar para uma nova construção de raiz. Neste caso concreto, confrontados os prós e contras das duas opções, escolheu-se adaptar parte do edifício do Convento de São José, que é um reconhecido centro cultural da cidade de Lagoa”, explicou. Após quase três décadas ao serviço da cultura em Lagoa, o desejo é que este polo de dinamização artística da cidade e do concelho dê respostas às exigências dos tempos atuais e dos tempos futuros.

“A integração do Espaço Gamboa neste equipamento é um primeiro passo no sentido de redesenhar as dinâmicas existentes e da requalificação de uma área considerável deste edifício centenário. Quando se começou a pensar o Espaço Gamboa, num processo participativo em que foram ouvidas várias pessoas, sobressaíram dois pressupostos: Manuel Gamboa é uma figura de todo o concelho, pelo que faz todo o sentido criar-se o Espaço na sede de concelho; e o Espaço visa a promoção das artes plásticas, seja da obra do Mestre como de outros ALGARVE INFORMATIVO #293

autores do seu ciclo artístico, indo ao encontro das sinergias com os outros equipamentos e serviços municipais que têm tido um papel preponderante a nível cultural”, frisou o edil lagoense, recordando a Sala de Exposições Temporárias do Convento de São José, que adquiriu o nome de Manuel Gamboa em 1993, mas também a Biblioteca Municipal de Lagoa, o Arquivo Municipal de Lagoa e a futura Casa da Cidadania, assim como a Escola de Artes Mestre Fernando Rodrigues. “Temos aqui um nicho

cultural que preserva a nossa memória, identidade e património, pelo que a escolha do Convento de São José para acolher o Espaço Gamboa está alicerçada em fundamentos sólidos e foi consensual junto da equipa multidisciplinar que tem acompanhado todo este processo”. O trabalho a ser feito ao longo de 2021 prende-se com o desenvolvimento dos projetos museológico e de arquitetura, e respetivas especialidades, bem como dos conteúdos e sua museografia.

“Manuel Gamboa manteve um invejável vigor até aos últimos anos da sua vida, pelo que são muitas as criações, documentos e informação que estamos a tratar, processar e interpretar, para que, no fim, possamos selecionar o que de mais relevância tem para 28


este projeto. É também uma excelente oportunidade para chamarmos a nós todas as colaborações possíveis, porque o Espaço Gamboa assenta nos princípios do Museu Comunitário. Gostaríamos de ouvir as pessoas que conheceram o Mestre ou que possuem obras de arte por si criadas”, salientou Luís Encarnação. Sérgio Lira, líder da equipa técnicocientífica do projeto, lembrou que o trajeto de Manuel Gamboa foi pautado por três fases fundamentais: uma primeira, de juventude, ainda em Portugal, passada entre Lagoa e Lisboa; uma segunda, em que esteve fundamentalmente na Alemanha, em Hamburgo; e uma terceira, em que regressou à sua terra natal e onde 29

desenvolveu uma boa parte da sua produção artística. “Na zona do

Claustro teremos três salas correspondentes aos três momentos distintos da sua vida; depois um espaço com a visão da obra dos seus anos iniciais; áreas de interação em que os visitantes mais jovens poderão aprender coisas com as suas próprias mãos; uma sala de exposição clássica com as peças mais importantes que estão no acervo da Câmara Municipal de Lagoa; e os serviços educativos, que são essenciais em qualquer espaço museológico dos tempos modernos”, adiantou o elemento da equipa responsável pelos projetos de Arquitetura, Museologia e Museografia. ALGARVE INFORMATIVO #293


em termos de linguagem arquitetónica. Cabe-nos a nós pensar em como revalorizar este elemento que faz parte do centro histórico de Lagoa e como ele vai dialogar com o Espaço Gamboa, que pretende ser um espaço museológico extremamente identitário e não para acolher vários artistas diferentes”, declarou. Rogério Amoêda notou ainda que o Convento de São José possui uma série de acrescentos que foram introduzidos ao longo dos tempos, fruto das necessidades dos diferentes usos que albergou, sendo que alguns corpos serão demolidos, por não constituírem peças importantes para a continuidade do seu desenvolvimento. “Há aqui Por seu lado, Rogério Amoêda, responsável pela equipa de arquitetura e engenharia, reconheceu o desafio que é criar um espaço dedicado a alguém que tem uma vida, uma obra e um legado, ainda mais num edifício arquitetónico como o Convento de São José. “O

edifício sofreu algumas obras de beneficiação nos anos 80 do século passado, mas que colidiram, de certa forma, com o edifício original ALGARVE INFORMATIVO #293

oportunidade para introduzir um volume novo que possa criar um momento de contemporaneidade do espaço arquitetónico, numa dualidade entre o existente e a nova intervenção. E queremos que o Espaço Gamboa seja visitado por todas as pessoas, pelo que vai ser bastante fluído e inclusivo”, disse ainda o arquiteto . 30


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XXXI MOSTRA DE ARTES PLÁSTICAS DO CONCELHO DE LOULÉ PATENTE NO CECAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #293

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stá patente, até 3 de julho, no CECAL – Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé, a XXXI Mostra Coletiva de Artes Plásticas do Concelho de Loulé, uma iniciativa da Casa da Cultura de Loulé em colaboração com a Câmara Municipal de Loulé. A Mostra pretende continuar a juntar artistas de várias gerações, independentemente dos seus percursos artísticos ou formativos, assumindo-se como um espaço de partilha e experimentação, onde não existem restrições quanto aos materiais ou ALGARVE INFORMATIVO #293

técnicas a utilizar. Os promotores pretendem também continuar a estimular a criação artística e a fomentar o contacto direto entre os artistas, sejam eles amadores ou profissionais. A XXXI Mostra Coletiva de Artes Plásticas do Concelho de Loulé pode ser visitada no seguinte horário: em maio, de terça a sexta-feira, das 10h às 13h30 e das 14h30 às 18h, e ao sábado, das 10h às 16h30; a partir de junho, de terça a sexta-feira, das 10h às 14h e das 15h às 19h, e ao sábado, das 11h às 17h30 . 36


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A MAJESTOSA ANA BUSTORFF SUBIU AO PALCO DO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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consagrada atriz Ana Bustorff encantou a plateia do Teatro Lethes, em Faro, no dia 21 de maio, com a peça «Gostava de estar viva para vê-los sofrer!» da Companhia de Teatro de Braga, encenada por Ignácio Garcia a partir de um texto seco e sórdido de Max Aub. ‘Não quero que ninguém me console’, diz a personagem Emma Blumennthal ao resistir à tentação melodramática e ao esquecimento. “Tenta mitigar a

sua própria amargura por todas as perdas, encontrandolhes um sentido e uma missão. E a sua missão é o testemunho, a presença e a denúncia. ‘Isso eu vi. Sim! E ainda estou viva. E ainda há quem não queira inteirar-se’. As suas palavras assumem uma dimensão enorme e justificam a sua presença diante de nós”, descreve a produção. Apesar do sofrimento, Emma Blumennthal, uma mulher torturada pela vida e pela história, decide ir em frente, viver, lutar e, acima de tudo, recordar, porque, como diz: ‘Se não houver memória, para que se vive?’. “Isto

explica claramente a nossa proposta: romper as ALGARVE INFORMATIVO #293

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fronteiras do silêncio e do esquecimento. Por isso veio, para que nos deixe observar sua miséria e degradação, por isso vamos pôr em cena este texto; para não esquecer aqueles que viveram estas e outras guerras, recordar as vítimas dos totalitarismos ALGARVE INFORMATIVO #293

aniquilantes e avisar para o perigo de uma sociedade que roça a debilidade. Para reivindicar o valor do teatro testemunho do exílio, como um instrumento vivo e eficaz para interpelar a sociedade”, afirma o encenador

Ignácio Garcia .

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MIGUEL ESTEVES E MIGUEL RAMALHO DESLUMBRANTES NO CENTRO CULTURAL DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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quinta edição do Festival Entrelaçados, da Associação Dancenema, já está no terreno e, no dia 22 de maio, levou até ao Centro Cultural de Lagos o novo trabalho de Miguel Ramalho, bailarino principal da Companhia Nacional de Bailado. «Dialogue Series» é uma cocriação com Miguel Esteves e retrata o encontro de dois indivíduos em que ambos discutem quem são. “A nossa

linguagem prospera e ganhamos o que fica do tempo perdido. A viagem do corpo e da mente confinada a este espaço, em que o diálogo é a base de qualquer colaboração”, indica Miguel Ramalho. ALGARVE INFORMATIVO #293

Depois do sucesso de «Out.Land», cocriado com Gonçalo Andrade, na edição de 2020 do Festival Entrelaçados, o público algarvio foi brindado agora com «Dialogue Series», mais uma excelente performance de Miguel Ramalho, bailarino que começou os seus estudos na Escola de Dança do Conservatório Nacional, em Lisboa, onde completou oito anos de aprendizagem profissional. Seguiramse vários anos na Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo sob a direção de Vasco Wellenkamp, até que, em 2008, foi contratado pela Companhia Nacional de Bailado, na qual foi promovido a bailarino principal em 2020 .

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DANÇA SOLIDÁRIA A FAVOR DA ASSOCIAÇÃO PARTILHAS E CUIDADOS ESGOTOU TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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elo sétimo ano consecutivo realizouse, no Teatro Lethes, no dia 23 de maio, em Faro, o «Dança Solidária», mais um momento de partilha do amor pela dança com fins solidários, já que as receitas de bilheteira reverteram a favor da Associação Partilhas e Cuidados, sedeada na capital algarvia. A arte da ALGARVE INFORMATIVO #293

dança esteve representada em diversas formas e estilos, numa organização da Volesque Music Project e Associação Partilhas e Cuidados, com produção de Nadhiyah Bellydance, em que participaram a Dança Oriental Zahirah, a Associação Hip Hop Fusion, a All Dance Academy e o Grupo de Dança Contemporânea do Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira . 80


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TEATRO NACIONAL D. MARIA II TROUXE «PRAÇA DOS HERÓIS» AO TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Filipe Ferreira

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Teatro Municipal de Portimão foi palco, no dia 22 de maio, da peça «Praça dos Heróis», com encenação de David Pereira Bastos, a primeira de duas produções com o selo do Teatro Nacional D. Maria II a ser apresentada este semestre na cidade algarvia. A 15 de março de 1938, milhares de austríacos aclamavam Adolf Hitler na Heldenplatz, em Viena, celebrando a Anschluss, a anexação da Áustria pela Alemanha nazi. 50 anos depois, a 4 de novembro de 1988, estreava no Burgtheater a peça de Thomas Bernhard com o mesmo nome, Heldenplatz (Praça dos Heróis), para assinalar o centenário do histórico teatro vienense, bem como ALGARVE INFORMATIVO #293

os 50 anos da anexação. Ana Sampaio e Maia, Bruno Simão, Manuel Coelho, Miguel Sopas, Paulo Pinto, Rita Loureiro, Sílvia Figueiredo e Tânia Alves dão agora vida ao texto de Thomas Bernhard que põe a descoberto o branqueamento histórico que permitiu que a Áustria se assumisse como a primeira vítima do III Reich, ao invés de um primeiro aliado. “Mais do que

isso, exponencia a perceção de que as políticas e crenças antissemitas, de extrema-direita, mesmo nazis, estão vivas e presentes na Áustria de 1988 tanto ou mais do que em 1938, como é referido por uma das personagens da peça de Bernhard. Numa altura em que as políticas populistas e xenófobas, 94


o conservadorismo retrógrado, se afirmam um pouco por todo o mundo, da Europa aos Estados Unidos da América, do Brasil aos países árabes e africanos, onde consecutivas novas medidas e políticas parecem confirmar um retrocesso civilizacional, político e social, torna-se urgente regressar à Praça dos Heróis”, considera David Pereira Bastos. Depois de estrear em Lisboa, em 2020, a peça saiu em digressão e apresentou-se

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em Portimão no âmbito da Rede Eunice Ageas, o projeto de difusão de espetáculos produzidos e coproduzidos pelo Teatro Nacional. E, nesta temporada, a Rede Eunice vai trazer ainda ao Teatro Municipal de Portimão, no dia 19 de junho, a peça «Off», a partir de «Dying» de Chris Thorpe, uma produção «mala voadora» com encenação de Jorge Andrade. A peça «Morte de um caixeiro-viajante», de Arthur Miller, produzida pelos Artistas Unidos com encenação de Jorge Silva Melo, inicialmente agendada para abril, ficou adiada para 16 de outubro .

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«A VOZ HUMANA» RETRATA O DRAMA DE UMA MULHER ABANDONADA PELO SEU COMPANHEIRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes ALGARVE INFORMATIVO #293

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Sede do Rancho Folclórico Infantil e Juvenil de Loulé foi o palco improvável, de 21 a 23 de maio, para «A Voz Humana», um espetáculo de teatro que é quase um concerto de rock, e que desequilibra o emblemático texto de Jean Cocteau, um monólogo em que uma mulher fala ao telefone com o seu amante, que nunca ouvimos, e que no dia seguinte se vai casar com outra mulher. “A chamada

cai algumas vezes e a conversa é interrompida nos momentos de maior vertigem e, no que é uma aparente banalidade doméstica, testemunhamos um verdadeiro «mise en abîme» desta mulher abandonada pelo seu ALGARVE INFORMATIVO #293

companheiro”, descrevem os encenadores. A mais recente coprodução do Cineteatro Louletano e do Teatro do Eléctrico coloca em cena uma atriz – Patrícia Andrade – um microfone num tripé e uma guitarra. “Uma voz que

fala, grita, chora, geme, sussurra e se esvai. A voz canta simultaneamente o inconformismo e a resignação, a revolta, o desespero e a fragilidade, num grito abafado de uma pessoa que luta para não se afogar”, explicam Patrícia Andrade e David Pereira Bastos. “É como se estivéssemos num concerto em que, ao mesmo tempo, temos que «obedecer» à formalidade do 106


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texto e dar valor às palavras”, comenta Patrícia Andrade, ex-vocalista da banda lisboeta «Sinistro». “Na música

ou no teatro há inquietações e pesquisas interiores que vão acontecer sempre até ao fim e esta é uma delas. Há sempre riscos, nunca sabemos o que pode acontecer, porque é uma peça que deixa bastante espaço para a improvisação, à semelhança dos concertos. São dois mundos muito importantes para mim”, admite a cantora/atriz. «A Voz Humana» que, desde a sua génese, foi pensado para ir a cena em locais não convencionais, daí a estreia acontecer numa «black-box» na sede de um rancho folclórico que foi adaptada ALGARVE INFORMATIVO #293

para esse propósito. “Na música

podemos tocar num espaço mínimo para 50 pessoas em que a banda quase não cabe no palco, e, no dia seguinte, termos 500 ou mil pessoas à nossa frente. Quisemos explorar essa vertente nesta peça”, refere Patrícia Andrade, sobre este texto que aborda a separação entre uma mulher e um homem. “Fala sobre a dor no amor

e o sofrimento é intemporal e universal, ultrapassa décadas, séculos, com algumas adaptações consoante a época e a vivência de cada um. É um texto pesado pois é uma despedida, um telefone vai deixar de tocar, a linha vai ser cortada e ela nunca mais vai falar 108


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com o amante. Mas há também uma ideia de superação. Não há que ter medo de passar pelo luto, apesar de se sofrer sempre com as perdas, porque o fim pode ser um novo começo”, entende a artista. Patrícia Andrade e David Pereira Bastos pegaram neste texto icónico da literatura dramática universal, escrito na década 30 do século XX, e que permite explorar o virtuosismo da atriz. “Será o último

telefonema entre uma mulher e o seu amante e ela está bastante instável, no limite, já com uma ou duas tentativas de suicídio. No ALGARVE INFORMATIVO #293

fundo, está a ter dificuldade em deixar partir o ex-companheiro, é algo que se nota neste discurso de não-superação, de inconformismo e sofrimento”, sublinha David Pereira Bastos. “Ela não consegue aceitar, conceber, que, de facto, a relação com este homem acabou. Está num grande desespero e aflição, perante uma nova situação de vida em que vai passar a encontrar-se. Na base da nossa abordagem está este cruzamento da linguagem teatral e da linguagem de um concerto 110


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de rock, mas também usando os conteúdos textuais para explorar soluções cénicas que combinam o texto e a música lançada pela guitarra tocada pela Patrícia em palco, processada pelo Fernando Matias na produção e com projeção de vídeo a cargo do Bruno Simão. É um objeto híbrido para dar vasão a uma voz inconformada, mas tentando contornar um certo tom de autovitimização que é, de facto, o tom predominante do texto do Cocteau. No fundo, queremos que a ideia de superação esteja em jogo”, resume David Pereira Bastos . ALGARVE INFORMATIVO #293

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OPINIÃO Do preconceito Mirian Tavares (Professora universitária) “Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões (…)”. Caetano Veloso língua é minha pátria e eu não tenho pátria, tenho mátria”, canta Caetano Veloso numa música brilhante que dá conta do gesto antropofágico que compôs, e compõe, a língua portuguesa no Brasil. Sim, porque no Brasil fala-se português e não brasileiro. Como nos Estados Unidos fala-se inglês e não estadunidense. Mas há ainda quem, em Portugal, queira preservar a pureza do português, como se a língua fosse algo morto e calcificado. Como se a língua não fosse viva e vibrante e não sofresse, para o bem e para o mal, transformações a cada uso.

Um dia estava a participar de uma mesa com um senhor considerado um dos maiores conhecedores, e colecionadores, de jazz do país. Eu estava a moderar a sessão que foi feita em sua homenagem. Acabo de falar, de elogiar o seu trabalho, de apresentá-lo com os devidos encómios, e o filho de uma égua, para não usar outra expressão, começa a sua fala a dizer mal do português do Brasil. Muito educada, permaneci na mesa. Não ALGARVE INFORMATIVO #293

por ele, mas pelo amigo que estava a organizar a homenagem. Mas quem me conhece sabe que tenho imensa dificuldade em esconder o que sinto. E minha cara denunciou, ao público que ali estava, meu profundo desagrado e minha vontade de ir-lhe às fuças. Recentemente, uma jornalista famosa e bastante aplaudida, escreveu uma enormidade sobre o Acordo Ortográfico. Nada contra ser-se contra um Acordo que tem mil problemas, mas tudo contra os seus argumentos. Dizia que não se percebia porque o português de Portugal tinha de ser contaminado pelo patois africano e brasileiro quando, de acordo com as suas fontes (que não sei quais são), nestes “países” (sic) não se compram nem se leem livros. Começando pelo óbvio ululante, a África, até um segundo atrás, ainda era um continente. E a sua afirmação, além de desinformada, é tão preconceituosa que me admira que um editor de um jornal sério tenha deixado passar. E ainda haver pessoas que a defendam ou digam apenas - coisas da Clarinha. Como se dizer enormidades como essas fosse um capricho da moça, que de vez 118


Foto: Victor Azevedo

em quando escorrega e, como um miúdo a quem lhe dão acesso à sala dos adultos, diz uma bobagem qualquer e os pais, demasiado liberais, em vez de corrigir o puto, passam-lhe a mão na cabeça e riemse. Eu acho muito grave. Como acho grave que as universidades portuguesas recebam, de braços abertos, milhares de alunos vindos do Brasil, que pagam propinas bem mais altas que os nacionais, e que alguns docentes tratem estes alunos como se fossem de segunda e destratem o português que falam, e que escrevem, como se fosse um «português errado». A língua é minha pátria, ou melhor, minha mátria. E como diz Caetano, eu quero é frátria. A minha língua roça a língua de Luís de Camões e produz 119

fricções, ficções, dissensões e ritmo. E a língua é um instrumento, uma ferramenta, uma maneira de chegarmos ao outro. Em vez de andarmos às turras, como miúdos - o meu português é melhor que o teu, aproveitemos mais é esta possibilidade de contágio e de enriquecimento mútuo. De aprendizagem e de manutenção da língua portuguesa como língua de criação, de ciência. Como língua viva e vibrante, falada por mais de 200 milhões de pessoas pelo mundo afora. E como diz Caetano: Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode esta língua? . ALGARVE INFORMATIVO #293


OPINIÃO Notas Contemporâneas [16] Adília César (Escritora) “Por isso preferiu permanecer calado – tendo por consolação entrever «o norte para que se inclina a divina bússola do espírito humano»”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) OMO NOS OLHA este olhar parado, esta íris de nudez clandestina, o véu que desoculta a vida a entontecer. A vida… é um turbilhão e nós rodopiamos na periferia, na ânsia de chegar ao epicentro. Dança menina dança na tua saia redonda. Que cintilava olhos de ser coisa viva. E nós ficaremos aqui a olhar. A vida. * VER a luz e a sombra. As esquinas, os cantos, a verticalidade do teu espírito. É um espectáculo com morte por dentro, porque toda a coisa viva está, inevitavelmente, quase a morrer. Assim, devagar, como restolho ao sol. Mas este é o teu momento presente e esta é a nossa expectativa de acumulação, uns em cima dos outros, em forma de pirâmide. Se conseguires trepar por cima dos nossos corpos, a cúpula cimeira será o trono dos teus momentos futuros. Tenta. Vais ver que vale a pena. * ALGARVE INFORMATIVO #293

SENTIR uma emoção emendada à última hora. O cão rosna com afinco e sente o teu medo. Fecha os olhos. Ouve o zumbido do calor na parede do aquário onde te refrescas. À tua volta, a multidão corre desenfreada e não sai do mesmo sítio. É um caracol monstruoso de múltiplos rumores. Repara, amanhã tudo isto estará apagado, silencioso. Sentirás então a perspectiva de um anúncio verdadeiro, a sensação de morte nesse peso que carregas nos ombros. Respira. Ainda não é a morte: é apenas o teu coração atulhado de mentiras, é a tua cabeça enroscada em tantos rostos falsos. * O NORTE pode ser uma imagem disruptiva que orienta o teu espírito. Afinal, a tua mente é caótica. Sangras os teus desconcertos diários e a ordem melódica não te agrada. Rompes com as normas impostas e procuras outro rumo; o Sul, talvez. Tentas, tentas, mas a espiral que te aprisionou quando ainda eras uma criança não te liberta. O que resta é uma imagem no horizonte que se altera a cada instante e que tu não consegues agarrar . 120


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OPINIÃO Judy Garland sem o Feiticeiro Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) sta semana finalmente vi o filme «Judy» (118 min, 2019). Fi-lo no conforto da minha casa. Ainda não consegui matar o desejo de voltar a uma sala de cinema – mas está para breve com certeza. Aconselho a todos os amantes de Cinema a verem este filme. Primeiro, serão bem servidos com uma brilhante interpretação de Renée Zellweger que veste uma Judy Garland com todos os seus maneirismos e aflições emocionais. Renée é uma atriz de calibre que em filmes como «Jerry Maguire», o musical «Chicago», «Bridget Jones», «Cold Mountain», entre outros, pôde mostrar a sua versatilidade e sensibilidade. Embora nas suas próprias palavras, Renée, “não se sinta uma atriz”, pois sofre do «síndrome de impostora» por não ter estudado oficialmente interpretação, a sua capacidade é inquestionável. Assim, o reconhecimento do tão merecido Óscar de Melhor Atriz Principal no filme «Judy» em 2020, veio em boa hora. Para além deste excelente trabalho enquanto atriz, o que nos marca é assistirmos aos amargos últimos meses ALGARVE INFORMATIVO #293

de vida e carreira da atriz, cantora, entertainer e diva: Judy Garland. O filme «Judy» foi realizado pelo londrino Rupert Goold. Foi escrito e adaptado por Tom Edge baseando-se no musical «End of the Rainbow» ou o «Final do Arco-Íris», um trocadilho com tanto de irónico como de triste, relacionado com a icónica música perpetuada por Garland no filme musical «O Feiticeiro de Oz» (1939). Como mencionei, o filme não se foca na glória de Judy, mas no seu declínio. Arrancamos no set de filmagens do «Feiticeiro de Oz», onde Judy é pressionada por Louis Mayer, o famoso produtor de cinema e fundador dos estúdios Hollywood Metro-GoldwynMayer. Depois arrancamos para o presente (finais dos anos 60), onde encontramos Judy, dependente de barbitúricos e com graves dificuldade financeiras – praticamente sem sítio para ela e os seus filhos mais novos dormirem. Num tremendo conflito emocional – por sentir que está «a deixar para trás» os seus filhos – Judy agarra-se a um salva-vidas financeiro e aceita ir para Londres fazer uma série concertos no clube de cabaret «London's Talk of the Town». 122


Embora apenas vejamos breves flashbacks do passado de Judy enquanto uma jovem inocente nas garras de Hollywood e a forma como foi tratada e manipulada. Estes pequenos momentos permitem-nos, enquanto espectadores, fazer a ponte das mazelas impressas na «Dorothy» que encontra a estrada de tijolos amarelos e que perduraram na alma da verdadeira Judy que ficou sem direcção.

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O sucesso de Judy Garland saiu caro, e quem o pagou foi ela mesma, uma jovem talentosa desfeita nas garras do monstro de Hollywood. Por isso mencionei que o filme nos deixa com o travo amargo, mas é um filme necessário, pois faz-nos compreender, mais uma vez, que o conceito de Hollywood, que a fama e o glamour, não passam de uma ilusão, e quando as luzes na ribalta se apagam, encontramos uma outra verdade onde o arco-íris muitas vezes se torna incolor . ALGARVE INFORMATIVO #293


OPINIÃO Condenações e absolvições Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) aramente escrevo artigos de opinião com a temática da minha formação académica em Direito, seguindo a premissa que ao jurista não cabe opinar, mas emitir pareceres. Abro aqui uma excepção tendo em atenção a confusão que se tem gerado na sociedade relativamente a certas «condenações» e «absolvições». A constituição de arguido, figura jurídica criada para protecção de um suspeito, não pode passar a ser interpretada popularmente como sinónimo de uma condenação, porque isso é o desvirtuar a base de qualquer investigação criminal. No entanto, assistimos, cada vez mais, à realização de verdadeiros julgamentos populares, baseados não em factos, verdades, ou conhecimentos primários, mas em títulos bombásticos de determinados órgãos de comunicação social e publicações em redes sociais, que, desprovidos das provas e do conhecimento directo do processo, muitas vezes acabam por vir à praça pedir a realização de verdadeiros autos de fé públicos, se necessário com as devidas fogueiras. Para isto concorre, muitas vezes, o desconhecimento sobre o escalonamento das condenações e das absolvições, que não são uniformes, nem ALGARVE INFORMATIVO #293

devem produzir os mesmos efeitos na percepção da sociedade. É esse singelo exercício que pretendemos fazer neste artigo, de uma forma sumária e compreensível: Todos os processos criminais iniciam com uma fase de inquérito. Nessa fase, o Ministério Público analisa um conjunto de documentos ou de informações, acarreando provas. Pode, nessa fase, decidir pela inexistência de crime e arquivar, ou tecer uma teoria – a acusação – que pretende provar em Tribunal. A acusação pode ser apreciada por um Juiz de Instrução Criminal, que faz uma primeira valoração da prova e pode remeter ou não o processo para julgamento; ou a acusação poderá seguir directamente para julgamento se não for requerida a fase de instrução. Em qualquer dos casos é no Julgamento que cabe a apresentação da prova por todos os intervenientes e é nesta fase que é proferida uma decisão. Realizado o julgamento, pode ser proferida uma sentença de absolvição ou de condenação, mas com diferentes graus de culpa ou de censurabilidade. 124


mais por questões processuais do que pela ocorrência ou não de factos criminosos. Hipótese 4 – O crime prescreveu. – Neste caso o Tribunal não chega a valorar a conduta. O crime poderá ter ocorrido ou não, mas deixou de interessar ao sistema jurídico qualquer valoração dos factos. Da condenação:

Assim, podemos ter: Da absolvição: Hipótese 1 – Realizado o julgamento o Ministério Público e o assistente pedem a absolvição, o colectivo de juízes por unanimidade decide pela absolvição e ninguém recorre para Tribunal superior. – Neste caso verifica-se uma absolvição total, simplesmente não houve a prática de crime e a sociedade deve de agir em conformidade com esta situação. Entendemos que a absolvição é total porque são todas as partes alegadamente lesadas que entendem que a condenação seria injusta. Hipótese 2 – O Ministério Público ou o assistente pedem a condenação, mas os Juízes decidem pela absolvição. – Neste caso há uma absolvição derivada de uma valorização diferente da prova. O arguido é absolvido, deve de ser tratado como tal, mas há alguma suspeita. Hipótese 3 – O Tribunal de primeira instância condena, mas há recurso e o Tribunal Superior absolve. – Normalmente estas situações ocorrem 125

Hipótese 1 – O arguido foi condenado numa pena mínima. – Foi cometido crime, mas a conduta, as circunstâncias ou os atenuantes não revelam especial censurabilidade jurídica ou social. Hipótese 2 – O arguido é condenado a uma pena superior à mínima, mas suspensa na execução. – Foi cometido crime, em circunstâncias mais censuráveis, mas o Tribunal entende que é de dar uma oportunidade de remissão ao agente. Hipótese 3 – O arguido é condenado a pena efectiva. – O crime, não só foi cometido, como revela uma conduta censurável e punível jurídica e socialmente. Hipótese 4 – O arguido é condenado a pena máxima. – O crime foi cometido com contornos altamente censuráveis. Quando se olham para as notícias das condenações ou das absolvições é necessário olhar para o todo e não apenas para a expressão, sob pena de cometer um verdadeiro crime social e moral: a condenação perpétua de um inocente . ALGARVE INFORMATIVO #293


OPINIÃO Brincar ao Ambiente João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) ndamos há anos a «brincar ao ambiente» e à protecção da natureza. É inegável. É factual. Se não é a brincar, então é a gozar. Ou a fingir. Os acontecimentos quase diários são disso prova. O caso da agricultura intensiva no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina é apenas uma das «cerejas no topo do bolo». Casos como este, em outras regiões, circunstâncias e escalas, são, infelizmente, frequentes. Se tal não bastasse como exemplo, leia-se ainda os resultados do recente relatório produzido pelo Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), intitulado «Reflexão sobre a Gestão Sustentável de Áreas Protegidas no quadro do Pacto Ecológico Europeu», onde uma das conclusões é a de que dois terços das espécies de que se conhece o estatuto em Portugal se encontram em estado inadequado ou mau. Dá que pensar, no mínimo. A dicotomia de critérios e políticas a que temos estado sujeitos nas últimas décadas, a um ritmo quase diário, geram situações no mínimo caricatas, para não dizer mesmo infelizes. Vejam-se alguns deles:

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- Criámos em 2008 uma rede de áreas protegidas cujos princípios fundamentais prendem-se com a conservação da natureza, da paisagem, a correcta gestão de recursos naturais e nalguns casos com a harmonização da atividade humana. Mas, paralelamente, permitiu-se e autorizou-se uma miríade de intervenções altamente danosas, como por exemplo a instalação de enormes campos de agricultura intensiva, empreendimentos turísticos, campos de golfe, a impermeabilização de solos, a ocupação massiva de zonas sensíveis, entre outros. - Criámos uma rede de áreas classificadas, com base em legislação europeia, na figura da Rede Natura 2000. Somente no Algarve esta cobre quase 40 por cento do território. Porém, não há planos efectivos de gestão actualizados, não se sabe ao certo onde estão localizados muitos dos valores de biodiversidade que levaram a essa classificação e continua a permitir-se a instalação de mega projectos, nomeadamente turísticos, que em nada abonam a favor da conservação desses espaços e valores. - Temos uma rede de áreas classificadas sobre as quais o turismo de natureza é por excelência uma das actividades mais promovida e em crescimento. Porém, não há regulamentação da actividade, as 126


exigências são mínimas (mesmo ao nível dos guias), muitos espaços não estão preparados para receber visitantes, nem sequer geridos para tal. Os atropelos à boa prática turística são frequentes e aquilo que deveria ser um instrumento de apoio à conservação dos valores naturais (o chamado Ecoturismo), mais não é do que uma simples e vulgar actividade exercida em zonas sensíveis (salvo honrosas excepções). - Temos, por outro lado, uma recente moda nacional em torno da instalação de passadiços, baloiços e pontes suspensas qual projecto mais megalómano e absurdo que o outro! - , cujos princípios associados estão totalmente subvertidos: ao invés de garantir a protecção dos valores naturais – pois foi para isso que muitas destas estruturas foram de início idealizadas, nomeadamente os passadiços para evitar o pisoteio de zonas 127

sensíveis do ponto de vista florístico ou a proteção de dunas – procura-se atrair massas de visitantes a locais inicialmente pouco acessíveis, com a desculpa de fomentar o turismo, seja ele qual for, esventrando por completo a paisagem e instalando estruturas caras e sem qualquer lógica em zonas que, pela sua própria natureza, não deveriam ser tão acessíveis. - Temos um vasto território interior onde ocorrem muitas das espécies emblemáticas da nossa fauna e flora ou onde se originam as bacias hidrográficas dos nossos grandes rios e aquíferos. Território esse que exige uma certa presença humana para garantir uma gestão mínima do mesmo, seja pela presença da pastorícia, da caça, da actividade florestal, etc. Porém, escusado será notar, mais uma vez, o intenso processo de despovoamento a que o ALGARVE INFORMATIVO #293


interior está dotado e da completa inexistência de uma abordagem integrada e sustentável de desenvolvimento do mesmo. – Assistimos recorrentemente a actos ilícitos sobre o ambiente e a natureza, nalguns casos óbvios e flagrantes, mas cujas consequências sobre os prevaricadores são no mínimo ridículas (ou inexistentes até). Vejam-se os numerosos casos de poluição no Tejo, o desrespeito pelas normas de segurança dos olivais intensivos no Alentejo ou as desflorestações na Ria Formosa e vejamse os resultados das contra-ordenações imputadas aos mesmos. Um dos mais curiosos e burlescos, até, é o do pomar de pêra abacate em Lagos, cuja Análise de Impacte Ambiental foi chumbada, mas o projecto já está instalado e em funcionamento. O que irá acontecer agora? - Continuamos a ter sítios de elevado interesse biológico, terrestres e marinhos, sem qualquer estatuto de conservação e protecção, completamente votados ao abandono e à mercê de toda a actividade humana possível e imaginária, mesmo após a cabal justificação científica para a sua protecção. Bem sabemos que gerir áreas protegidas e classificadas em propriedade privada é de uma complexidade extrema. Portugal será, por ventura, na Europa (e no mundo) um dos países com menor área do foro público destinada a conservação. E sabemos igualmente que defender e salvaguardar os recursos naturais é uma missão quase inglória, mesmo no campo jurídico. Tal como admite o Inspector Geral do Ambiente e ALGARVE INFORMATIVO #293

Território em entrevista ao Jornal de Notícias em fevereiro passado, Portugal tem graves problemas no combate a crimes ambientais. De acordo com esse jornal, na última década, “apenas 6 por cento dos casos de poluição e danos contra a natureza foram julgados”. Ora, perante tal facto, resta apenas concluir que o crime afinal compensa. Mas acontece que temos uma Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 (https://dre.pt/web/guest/home//dre/115226936/details/maximized), assinámos um Pacto Ecológico Europeu e mais não sei quantos compromissos internacionais. Perante tudo isto, como iremos cumprir os objectivos a que nos propusemos? Sabendo que as instituições responsáveis estão fortemente carentes em recursos, especialmente humanos qualificados, que a lei está preenchida de vazios legais e processuais que facilitam uma certa «institucionalização» do crime ambiental ou que a propriedade que devemos gerir é na sua grande maioria privada? Não sei a resposta, apenas guardo muitas ideias. Uma certeza, porém, tenho: a sociedade civil terá, agora mais do que nunca, que exigir um futuro sustentável para si e para as gerações futuras. E esse futuro inclui uma protecção e conservação eficiente dos nossos valores naturais e culturais, não apenas para a nosso bem estar físico, emotivo e social, mas igualmente económico. É neste campo que tudo se irá decidir amanhã, queiramos ou não. Saibamos por isso valorizar esse rico e inestimável património e, de forma séria, assegurar a sua futura preservação . 128


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #293

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