Pagan by Instinct - Zinho da Gangorra, Opus 6

ZINHO DA GANGORRA, opus 6 DALGIMAR BESERRA DE MENEZES ANA MARIA REBOUÇAS FREIRE

Copyright © Menezes DB

PAGAN BY INSTINCT Organização e Diagramação: Adriano Freire de Menezes, Dalgimar B. de Menezes, Francisco Miranda

FORTALEZA 2013

INTRODUÇÃO UMA POUCA DE GAIA CIÊNCIA Ciência no século XIX. Capa de livro editado em Paris, em 1889, portando matéria sobre um Congresso de Arqueologia, realizado em Norwich, Inglaterra, em 1868: Stonehenge é discutido.

O exemplar pertence a Menezes DB, presente de Menezes JT, que o adquiriu em Sebo no Rio de Janeiro.

LUA

Paris, Place Saint Michel, 16 de junho de 2013, domingo

A LUA. QUARTO João Guimarães Rosa: “A lua madura / Rola, desprendida,/ por entre os musgos / das nuvens brancas… / Quem a colheu,/ quem a arrancou / do caule longo da via-láctea?…”

"Eu espio a lua, Dito, que fico querendo pensar muitas coisas de uma vez, as coisas todas..." Rosa JG – Miguilim, Campo Geral.

El Aleph/Escarapate/Jorge Luis Borges.

No quarto do bode preto, da Gangorra, espio a lua e vejo tudo, e ouço tudo, na sinfonia dos sapos do açude velho de meu trisavô; esplendores de luz e de sons, imersos na escuridação do todo e no vazio de crença.

Paris, Place Saint Michel, 16 de junho de 2013, domingo

16 de junho, Domingo. Rue du Cloître de Notredame

“Agora estamos numa brasserie silenciosa, entre o quai aux Fleurs e a rue du Cloître Notre Dame (somos, nesta hora, os únicos clientes e o garçom usa sapatos com sola de borrracha).”

Lins O - Avalovara, Companhia das Letras, 5ª Edição, 1995: 197.

A LUA DE LONDRES, EM 18 DE JUNHO DE 2013 By a lucky chance the moon broke through the clouds.

Doyle AC : The Hound of the Baskervilles – Longman, 1976, página 38 Indeed: At the same moment by a lucky chance the moon broke through the clouds (Project Gutenberg).

By a lucky chance the moon broke through the clouds.

Doyle AC : The Hound of the Baskervilles – Longman, 1976, página 38 Indeed: At the same moment by a lucky chance the moon broke through the clouds (Project Gutenberg).

Fernando Pessoa: “A Lua (dizem os ingleses), É feita de queijo verde.

Por mais que pense mil vezes Sempre uma idéia se perde” “A Lua (dizem os ingleses) É azul de quando em quando.”

Shakespeare: The Tempest (Fala de Próspero sobre Caliban): "His mother was a witch, and one so strong That could control the moon."

“Un dice che la luna si ritorse (...) e s'interpuose, per che 'l lume del sol giu` non si porse; (…)”

Dante Alighieri, Paradiso, Canto XXIX LUA DE LONDRES. NÃO HÁ LUA EM LONDRES. Em setembro de 1984, inobstante, acompanhei-lhe o ciclo, de uma claraboia, em Leighton Grove, Kentish Town. Tanto tempo! Vida breve.

LUA DE LONDRES, EM 19 DE JUNHO DE 2013.

Carlos Drummond de Andrade “Eu não devia te dizer, mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo.”

“Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntarnos pelos nome, a fim de os dar a outros anjos que acabavam de nascer.”

Machado de Assis: Dom Casmurro.

- Eh! a lua limpa, sem lagoa! Chove não!...

Raquel de Queiroz, O Quinze.

Papai ia nascer no Dezesseis, mamãe no Vinte e Três. Todos rondados pelo espectro das secas.

“Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!”

Cecília Meireles: Lua Adversa Tão óbvio, está mesmo em Carl Sagan, de seu pálido ponto azul, em Dragões do Eden, inconsciente reptiliano: os vinte e oito dias do ciclo da lua, presumivelmente relacionados com... Por que não? Nada cientificamente herético em se dizer isso. Tampouco ortodoxia. Só aresia, miolo de pote, é o que zinho vê.

“Juca Mulato cisma. Olha a lua e estremece”.

Menotti del Picchia – Juca Mulato ”Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado.” Érico Veríssimo, O Tempo e o Vento.

Extraordinário, precisa-se dizer o nome do autor?: “Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos.”

Na Gangorra, a trezentas braças da casa ancestral, há, nos anos quarenta do século XX, uma casa de farinha, propriedade de Antônio Correia. Toda de engrenagens mecânicas, nada se move por eletricidade, que não há. Voilà! Fazem-se luas de goma de mandioca. Tapiocas! Tapioca, do ponto de vista linguístico, é legado universal do tupiguarani. Como capim, como jaguar. Se eu dissesse as “cunhãs fazem tapioca de goma de mandioca”, pronto, eis aí três substantivos tupis. Dos que eu ouvi todos os dias, até oito anos de idade, os oito anos que formaram Joaquim Nabuco, como está em Massagana.

SALISBURY, 23 DE JUNHO DE 2013. PERIGEU, DOS ASTRÔNOMOS. SUPERLUA, NO DIZER DE OUTROS.

GANGORRA - LUA CHEIA NO PERIGEU, EM 27 DE DEZEMBRO DE 1947. ZINHO TEM CINCO ANOS. SÃO JORGE MONTADO NO SEU JUMENTO, TRAZ ÀS COSTAS, DEPENDURADA NUM JUCÁ, UMA CABAÇA DE MEL DE JANDAÍRA. NA CABEÇA, UM CHAPÉU DE PALHA DE CARNAÚBA. NO PLANO INFERIOR, A CRATERA DE TYCHO BRAHE. AS DEMAIS BOLOTAS, PODEM SER VISTAS TAMBÉM COMO RESULTADO DE IMPACTO DE METEORITOS, NÃO POR ZINHO. MUTATIS MUTANDIS: Jumento, Equus asinus; já não têm a importância que tinha nesse perigeu, cada vez menos usado, como animal de carga e de montaria; papai tinha uma tropa, e empregava um comboieiro, seu Ilia, dentre outros; Cabaça, espécie que na Gangorra vi muito, prosperando no roçado, ao modo do jerimum, talvez Lagenaria siceraria; eram transformadas em cuias e cumbucas, palavras tupis; cumbuca teria a mesma raiz de cuia; jandaíra, que significa inseto que produz mel, palavra que se compõe com ira, mel, de mesmo jeito que Iracema, ícone nacional, tanto a colonizada, de Alencar, com a pobre que morre atropelada em São Paulo, de Adoniran Barbosa; jucá... jucá deve ser a Caesalpinia Ferrea.

Zinho é vítima de uma figura do discurso, de linguagem, a parte pelo todo, metonímia; é galho de qualquer árvore, que se preste para defesa e ataque, ou para transportar objetos, como está na ilustração; mas em tupi é também o verbo fazer matar, conduzir à morte, continuando metonímico, o objetivo, pelo meio de levar ao objetivo; carnaúba, Copernicia prunifera, a planta das sete serventias, capítulo de um dos livros de leitura de Renato Sêneca Fleury, da escola primária, se não me engano, o Terceiro – Série Pátria Brasileira - que li como aluno do Grupo Escolar Anastácio Braga, em 1953. O livro alternativo era Nosso Brasil, de Hildebrando Lima; os produtos da carnaúba fazem parte da minha criação e sustentação como ser humano, além disso, eu tinha um cavalinho feito do talo da árvore. Pois, essencial e lúdica. Tudo mudou.

Meu sertão - a caatinga - só existe enquanto existir meu cérebro. A vida é curta, a arte, longa.

Mas, Canudos não se rendeu.

23 DE JUNHO DE 2013.

Mas Pedro, no reparando en niñerías, prosiguió su cuento diciendo: — «Asimesmo adevinaba cuándo había de ser el año abundante o estil.»

— Estéril queréis decir, amigo —dijo don Quijote.

— Estéril o estil —respondió Pedro—, todo se sale allá. «Y digo que con esto que decía se hicieron su padre y sus amigos, que le daban crédito, muy ricos, porque hacían lo que él les aconsejaba, diciéndoles: ''Sembrad este año cebada, no trigo; en éste podéis sembrar garbanzos y no cebada; el que viene será de guilla de aceite; los tres siguientes no se cogerá gota''.»

— Esa ciencia se llama astrología — dijo don Quijote.”

TEMPO/PASSATEMPO (I) - Lua: 23 de junho de 2013 – SUPERLUA. Perigeu. Entoa-se a Mondschein Sonate, de Beethoven; entoa-se a joía que é Clair de Lune de Debussy, dificil de entoar, ou mais facilmente Au clair de la lune, mon ami Pierrot...; Ou canta-se com Zé do Norte do filme O Cangaceiro, de Victor Lima Barreto, Lua bonita, se tu não fosse casada, eu preparava uma escada, pra ir no céu te beijá, te beijá....

Valeria a pena também assoviar La vida breve, de Manuel de Falla.

STONEHENGE – SOLSTÍCIO DE VERÃO – 21 de junho de 2013, sexta-feira.

Havia debaixo das mangueiras da Faculdade de Medicina da UFC, em Parangabuçu (Rodolfo Teófilo), um pequeno círculo de pedra - como assentos - que nos anos sessenta do século XX, eu designava como Stonehenge. Depois de 64, do golpe militar, a designação mais decantada passou a ser para o largo todo TERRITORIO LIBRE DE AMÉRICA.

Foto de meados dos anos 60, publicada no livro Nós, os Estudantes, de Mariano Araújo de Freitas. O texto de Freitas MA alude a Eleições da União Estadual dos Estudantes (UEE) e à denominação dada ao local da foto: Território Livre das Mangueiras. Aqui se encontrava o pequeno círculo de bancos, que na época já me trazia Stonehenge à mente.

Freitas M – Nós, os Estudantes, Edições Livro Técnico, Fortaleza, 2002: 84.

O maior dia do ano, do hemisfério norte, solstício de verão, 21 de junho, chegou transculturadamente entre nós com o acender de fogueiras, o pular as fogueiras, os pés-de moleque, aluás, coisa da tradição portuguesa, e da igreja católica: o São João; de fato, as fogueiras eram acendidas, para emendar rapidamente dois dias, de tão curta que era a noite. E é.

A vida é curta, a arte, longa.

DIGRESSﾃグ. TEMPO. PASSATEMPO (II)

Foto de Freire AMR

Quiz: Figura refletida no vidro do ﾃｴnibus: a ( ) Anita Garibaldi b ( ) Joana DﾂｴArc. c ( ) Cleﾃｳpatra d ( ) Mapinguari, e ( ) Budica

STONEHENGE – 21 DE JUNHO DE 2013 Down beneath me in a dip I saw a circle of the old stone huts. Doyle AC : The Hound of the Baskervilles – Longman, 1976, página 45.

Na verdade: But down beneath me in a cleft of the hills there was a circle of the old stone huts, and in the middle of them there was one which retained sufficient roof to act as a screen against the weather (Project Gutenberg).

HERE COMES THE SUN The Beatles – George Harrison 4 horas da manhã (a.m.) do dia 21 de junho de 2013. Solstício de Verão.

As luzes fantasmagóricas são de flashes de máquina fotográfica. Não o sol.

Homero - Manoel Odorico Mendes, na tradução de ῥοδο-δάκτυλος Ἠώς da Ilíada e da Odisseia: “Aurora dedirrósea” / “Crócea aurora” / “Ruiva aurora” Manoel Odorico Mendes, na tradução de ῥοδο-δάκτυλος Ἠώς da Ilíada e da Odisseia: “Roxa aurora” / “Rósea aurora” / “Rubicunda aurora” Virgílio. Eneida, na de Tradução de Manuel Odorico Mendes Et iam prima novo spargebat lumine terras / Tithoni croceum linquens Aurora cubile: (...)

Já, de Titon deixando a crócea cama, A Aurora de luz nova alaga o mundo: (...)

SOL HERE COMES THE SUN The Beatles – George Harrison

Câmera DSC W650. Stonehenge 4:45 da manhã.

MĂĄquina desfocada. 4:50 da ManhĂŁ, em Stonehenge,Wiltshire, 21 de junho de 2013

Nascer do sol em 21 de junho de 2013

Tons azuis do cĂŠu, cada vez mais claros, entre 5 horas e 6: 30 da manhĂŁ.

A observação do espetáculo do nascimento do sol no solstício de verão, 21 de junho de 2013, da expectativa de milhares de pessoas, acabou parecendo com o sucedido a Fabrício del Dongo, personagem central de A Cartuxa de Parma, de Stendhal, na Batalha de Waterloo. Fabrício não assiste à carnificina, não participa dela, não vê o desempenho de seu herói: consegue apenas lhe perceber as consequências. O mesmo que acontece a Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas, quanto ao seu pacto com o demônio. Beleza.

De leitura sazonal, Northanger Abbey, de Jane Austen, que se passa em Salisbury, comunidades circunvizinhas, principalmente Bath, e outras mais afastadas; nem de raspão se tocam as pedras. Austen não tem interesse por pedras. Nem Chaucer. Stonehenge fica a umas duas léguas e meia de Salisbury. Gangorra fica a umas duas léguas e meia de Itapipoca. Uma das pedras na Gangorra, onde há fartura de pedras, tem (tinha) a impressão de pata de um bode, largada lá pelo velho demo, no tempo em que as pedras eram moles.

CELEBRAÇÕES DO SOLSTICIO DE VERÃO.

Duas sacerdotisas pagãs, uma delas em êxtase.

O céu anda clareando; cá e lá, paira nos ares, cheiro de erva doce, de delta nove. Efusões e aromas do Segredo de Jurema. “La Vida es Sueño”. “Somos feitos da mesma matéria de que são os sonhos feitos”. Pedro Calderón de la Barca; aqui depois, porém antes, William Shakespeare. Além disso, curta. Breve. Por fim, “imita a arte...”

6:30 a.m. Macbeth: FIRST WITCH When shall we three meet again?

In thunder, lightning, or in rain?

Cuido que jamais. Tenho 70 anos, Ana 65, cuido, pois, que jamais retornaremos a esse recanto do mundo. Life is short and summer solstice at Stonehenge solely once a year.

“O dia uma planura clara e virgem à espera dos homens” Lins O - Avalovara, Companhia das Letras, 5ª Edição, 1995: 186.

O FINDAR DE UM ESPETÁCULO, DE UM CONGRESSO, É SEMPRE MELANCÓLICO. ALGUNS ESTÃO SE LEVANTANDO, ESTREMUNHANDO, BOCEJANDO. O SHOW FOI POBRE, O SOL NÃO FOI ESTRELA. MAS O ESPETÁCULO FOI RIQUÍSSIMO

Quando não há clarão de lua para empanar o espetáculo dos outros astros, haverá nuvens plúmbeas ou cerração.

NATUREZA – Londres, Green Park – 24 de junho de 2013

Londres, Green Park, A natureza – 24 de junho de 2013.

ESQUILOS DAFFODILS No Green Park, os narcisos, borboletas brancas e amarelas pousadas na relva, viradas as pétalas ao chão, à busca de seus reflexos de beleza.

Foto de Freire AMR.

NATUREZA, GREEN PARK – 24 DE JUNHO DE 2013

Green Park - Dioniso Lajes esconde-se numa moita e faz água, ao natural, na natureza, como os esquilos que estão aí por toda a parte. É possível que Lajes esteja se aliviando em cima de restos mortais de leprosos, uma vez que o Green Park esverdeia-se sobre um cemitério de leprosos egressos de um hospital próprio, aí perto, na Idade Média; Lajes toma atitudes semelhantes sempre; há mais de vinte anos, em Salamanca, fez-se fotograr urinando debaixo de uma ponte romana sobre o Rio Tormes, tendo a foto recebido o nome de Assim faziam os romanos há dois mil anos. O mesmo ocorreu, mais recentemente, naquele rincão extraordinário que é a Villa Borghese, mas a foto queimou. Se é que ainda existe isso de foto queimar.

Crepundia, pião, carrapeta, ossinhos (malleus, stapedium, incus) e espelho.

NATUREZA - HYDE PARK, 24 DE JUNHO DE 2013.

PAIDEIA Pato Não sei se pato espécie, Sei que pata, na piscina junto ao Canto do Orador, ela singra, estanca, sacode as asas, desliza, singra.

Não está só.

Procura acompanhá-la nas incursões, aventuras, necessidades, serzinho mais escuro, do tamanho de nada, patinho; A pata singra, volteia, o patinho atrás, com esforço azafamado, Procura acompanhá-la, Ela se eriça, bate as asas, Sobe a borda da piscina, O patinho procura imitá-la, com denodo, sem êxito; O rebento parece se desesperar, A mãe retorna à piscina, desliza, célere, O filhote recomeça a aprendizagem, horas a fio, Ao jeito dos meus próprios patos, no açude velho do meu trisavô, na Gangorra.

Pato.

Não sei se pato espécie.

Sei que pata.

Piscina junto ao Canto do Orador, ela singra, estanca, sacode as asas, desliza, singra.

Não está só.

Procura acompanhá-la nas incursões, aventuras, necessidades, serzinho mais escuro, do tamanho de nada, patinho; A pata singra, volteia, o patinho atrás, com esforço denodado, Procura acompanhá-la, Ela se eriça, bate as asas, sobe A borda da piscina, O patinho procura imitá-la, com denodo, sem êxito; O rebento parece se desesperar, A mãe retorna à piscina, desliza, célere, O filhote recomeça a aprendizagem, horas a fio, ao jeito dos meus próprios patos, no açude velho do trisavô, David da Costa Araújo, na Gangorra

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Cena Eloquente, no Canto do Orador (Speaker´s Corner) do Hyde Park.

Pai & filho, Mais naturalmente mĂŁe & filho/filha

O TEMPO. PASSATEMPO (III) DIGRESSÃO: Na catedral de Salisbury, o tempo marcado, implacavelmente, pelo que se presume seja o mais antigo relógio do mundo em funcionamento.

O Relógio de Julius Heckethorn. “Agora, aí está relógio, há doze anos e meio aí está, ante tapetes sem vida e poltonas fanadas, elegante e sóbrio, soando de tempos em tempos, com os seus misteriosos sons. Já ninguém acredita que os aparelhos sonoros, se é que existe mesmo mais de um, reconstituam a frase de Scarlatti. Nem sequer ocorre (a quem ocorreria?) que as engrenagens ajustadas e expostas à falha calculada, voluntária, do mecanismo imperfeito, marcham calmamente para esse milagre: a confluência, o eclipse.

Julius, perdido no pó, ouvirá esse momento?”

Lins O - Avalovara, Companhia das Letras, 5ª Edição, 1995: 326-327.

Scarlatti aí é Domenico. 22 de junho de 2013. Na nave central da igreja, ao lado desse relógio e de esculturas de Helaine Blumenfeld, aliás, em toda a parte - fora e dentro do templo -, dia todo de ensaios de componentes da Salisbury Musical Society, para a performance à notinha de Um Requiem Alemão, de Brahms. Assistimos aos ensaios e à performance. Ian Wicks conduzia a Orquestra Sinfônica de Salibury.

Sons tangiam as esculturas, mudas e frias, de Helaine Blumenfeld; no todo, a exposição recebia o nome de Mensageiro do Espírito.

BAKER STREET 221-B – 18 DE JUNHO DE 2013

BAKER STREET - 25 DE JUNHO DE 2013

Ao quasi-centro, o Cão dos Baskervilles. Na verdade, não há preferência especial por Arthur Conan Doyle ou por Sherlock Holmes. Porém, aqui, contingencialmente, estão citados trechos do “Do Mastim...”

NA CASA DE SHERLOCK HOLMES – 25 DE JUNHO DE 2013.

Quiz: Ana está sentada entre dois personagens de uma destas histórias A ( ) The Hound of the Baskervilles B ( ) The Red Headed League C ( ) A Study in Scarlet D ( ) The Adventure of the Speckled Band E ( ) The Sign of the Four

A Faixa Sarapintada e o Um Estudo em Vermelho li-os, por primeira vez, em 1955, na Pensão Caxilé, Rua General Sampaio, 810. 810 ou 840? Papai me trouxe a Fortaleza, no seu belo caminhão Chevrolet Giant 1950, e a gente se hospedava nessa pensão. Então, comprei a Edição Maravilhosa de número 99, de fevereiro de 1955.

Continuo com saudades das minhas edições maravilhosas, quadrinhos da Editora EBAL, do senhor Adolfo Aizen, tiradas aos Classics Illustrated americanos.

A leitura se processou em quarto de iluminação escassa, numa redinha, e aqui não param os quadros da memória, porém, por enquanto paro. Forçoso é dizer, no entanto, que quase com certeza, nessa data, ao chegarmos de volta a Itapipoca, soubemos da ocorrência de um crime horroroso, traiçoeiro, motivado por ódio racial.

LONDRES CRIPTA DA IGREJA DE SAINT MARTIN IN THE FIELDS. 26 DE JUNHO DE 2013.

Londres. Leitura de Carta a Meu Juiz, de Georges Simenon, no Café e Restaurante da Cripta da Igreja de Saint Martin in the Fields, sobre pedras tumulares, sepulturas. Estão lá todas, se se torna a vista ao chão se lhas vê. Claramente vistas, como escreveu Camões.

Incidentalmente, o personagem central de Lettre à Mon Juge é um cretino médico, quem sabe um médico cretino.

SOL O PÔR DO SOL. Paris, 28 de junho de 2013, sexta-feira

Em 1981, Menezes viu o sol se pondo dentro do Arco do Triunfo Étoile, e não guardou uma página fotográfica de lembrança; nem com máquina anda ele pelo mundo. Desta feita, resolvemos percorrer todo o trajeto dos Campos Elíseos e das Tulhérias, até o Louvre, e voltar, ao momento do pôr do sol, coisa planejada desde Fortaleza, tendo em consideração que o objetivo era viver, vivenciar, os maiores dias do ano, começando pelo nascimento do astro, às 4 horas e 45 minutos, no dia 21 de junho, em Stonehenge.

Ao nível da Praça da Concórida, interdição relativa de passagem, pela montagem das arquibancadas para as celebrações do 14 de julho, próximo, Queda da Bastilha, il va sans dire, ça y est. À sombra do Arco do Triunfo do Carrousel, outra interdição parcial, os alunos da Escola Militar Saint Cyr em ordem unida; troavam hinos e tambores, houve discurso, Vous, saint-cyriens et saint-cyriennes. Ao final, beijos, abraços, fotografias, e nós esperando para começar o nosso périplo. Vale dizer, ir um pouco à frente, até o abraço real do Louvre, e quebrar de volta, para o espetáculo do Sol, dentro do Arco do Triunfo do Carrousel, não do Étoile.

Nisso, Menezes começou a recordar os passeios de Gilberte, filha de Swann e de Odette de Crécy, que naturalmente se fizeram pelas Tulhérias e pelos Campos Elíseos, num tempo irreal/real, realíssimo, como o velho Demo. Falou disso com Ana...

28 de junho de 2013. Entre 19 e 22 horas Encetamos o percurso, que é como do Açude Poço Verde à Gangorra, onde nasceu Zinho. E viu o sol nascer e viu o sol se pôr. E viu que era bom. E viu que era bonito.

Kalos kai agathos (καλός καi αγαθός).

¨

Estudo de sombras alongadas do sol poente, talvez inspirado em Paul Delvaux. As sombras são entidades muito solitárias e não sorriem. Fugazes, insidiosas, evanescentes, não deixam sombras. Mas deixam. Se deixam, como aqui, cumpre lembrar não Paul Delvaux, mas René Magritte. Ceci n´est pas une pipe. Daqui há um passo para Las Meninas de Velazquez, um outro para Michel Foucault, menos que um para Schopenhauer[Mundo como Vontade e Representação]/Nietzsche, e por via de consequências, chega-se à ideia platônica. Deve-se reiterar que sombra, como representação da representação da Vitoria de Samotrácia que, por seguro, já é uma representação, pois, tomando fôlego, sombra não sorri.

Novamente, neste texto, estou homenageando o professor Jules Haot, anátomo-patologista, em cuja residência, em Bruxelas, estive hospedado durante um mês, no ano de 1987; gostava de René Magritte; falecido em 2011.

Raimundo Correia: Anoitecer “Esbraseia o ocidente na agonia O sol...

[O sol esbraseia o ocidente na agonia] Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... (...)...

A natureza apática esmaece...

Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula.... Anoitece.”

Heráclito, o Obscuro: “Este mundo (...) foi sempre, é e será sempre um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida”. (D 30) “O homem é acendido e apagado como uma luz no meio da noite” (D 26} D de Diels, numeração alemã de Diels, como está em Os Pensadores – PRÉSOCRÁTICOS – Nova Cultural; Consultoria José Américo Motta Pessanha, Seleção de Textos e Supervisão Prof. José Cavalcante de Souza, Dados Biográficos Romberto Francisco Kuhnen, et alli, 2000: 25-26.

Além de [de] La Vida es Sueño, de Calderón de la Barca, o último aforismo está na base da narração de Marguerite Yourcenar em O tempo, esse Grande Escultor, sobre o significado da vida e da morte, a propósito de um texto do Venerável Beda.

Anda a narração mais ou menos assim: Um nobre é instado a opinar sobre a vida e a morte, tendo como mote a introdução do criatianismo no seu universo; diz crer que a vida dos homens, quando comparada aos vastos espaços de tempo de que nada se sabe, se assemelha ao voo de um pássaro que entra pela janela de uma grande sala em que se esbraseia, ao centro, uma lareira como essa onde tomas as refeições com os teus conselheiros e vassalos, enquanto lá fora reina o inverno, chuva e neve. O pássaro atravessa a sala num instante e sai pelo lado oposto; vindo do inverno, a ele regressa, perdendo-se na escuridão. Assim também a breve vida dos homens de que não sabe o que havia antes e o que vem depois.

Enfim, a vida é breve, a arte, longa.

28 de junho de 2013, sexta-feira. 21 horas e 32 minutos [9:32 p. m.].

O sol invade o arco do triunfo do Carrousel.

Essa história do pássaro, que aqui vai virar pardal, também Menezes a leu em Pasteur C, La Papesse, no segundo pavimento da casa do professor Jules Haot, em Bruxelas, transcrita no diário do mesmo Menezes, em 3 de setembro de 1987, jeudi. ‘Il était autrefois un noble anglais qui fréquentait la cour du roi de Northumbria. Le roi discutait avec lui d´un point de théologie, et lui demanda : « Que vous en semble ? » Le prince répondit : « Ô roi, il me semble que l´existence terrestre de l´homme ressemble au vol rapide d´un moineau qui traverserait la chambre où vous êtes assis devant votre souper. Le moineau, entrant par une porte et sortant par l´autre, disparaît dans la nuit d´où il est sorti. Ainsi la vie d`homme nous est visible pendant un court instant, mais de ce qui se passe avant ou après, nous ne saurions rien... »’ Mardi, le 8 septembre 1987, escreveu Menezes: Havia uma bela luna em disco branco-prateado, à noite, e de resto, o nevoeiro só me deixou ver, como todos os dias, as mais vagas e esparsas estrelas [« vaghe stelle dell'orsa »], e, de tempo em (ilegível, perto?), o pequeno ponto claro, frio, de Júpiter –À mente a expressão con comme la lune! Et pourquoi con? se con vem de cunnus ou cuneum, cunha, o órgão genital feminino; é desvalorizar demais o que se gosta tanto! De manhã, um sol branco em disco, branco-arisco, filtrado pelo nevoeiro, a temperatura me começando a produzir dores ósseas, no tutano, e pés gelatinosos; mas ainda treze graus.

Tornando à história do pássaro, pardal [moineau, sparrow], corvo, urubu, ou qualquer outro. Em Shakespeare o assunto dispõe-se assim: “We are such stuff as dreams are made on, and our little life, is rounded with a sleep. [The Tempest].

Não há necessidade de geometrizar o tema, mas a mente exige representação pictórica além de palavras, mesmo que essas por si mesmas já sejam representações de algo. O que nos sobrevém do Venerável Beda é um traço reto, linha de infinito a infinito, ou de finito a finito, pois que fim terá, bem assim começo. O bardo circunscreve o destino.

Soa assim uma tradução francesa, não sei de quem: Nous sommes de l´étoffe dont sont fait les rêves et notre petite vie est enveloppée dans um somme. Posso trocar enveloppée por entourée e somme por sommeil. Quase nada muda.

Livre associação: Tradução de Menezes AD, Afonsinho da Gangorra: Somos feitos de mesma fazenda que os sonhos, e nossa vidinha arrodeada de sono.

Vidinha replicou: Qual!

Afonsinho viveu 94 anos, comerciante de tecidos. Vidinha, personagem de Manuel Antônio de Almeida.

Outside, the sun was sinking low, and the western sky was bright with red and gold.

Doyle AC : The Hound of the Baskervilles – Longman, 1976, pag 46 Na verdade, Outside the sun was sinking low and the west was blazing with scarlet and gold. (Project Gutenberg)

A caminhada agora, pelas 10 horas p. m. (22 horas), é direcionada, com vagar, ao Arco do Triunfo da Estrela, com a baliza do obelisco da Praça da Concórdia, que já é vista, ao fundo, espetando o arco.

Observar a seta apontando o obelisco e o arco do triunfo Étoile.

TEMPO/ PASSATEMPO (IV) I shot an arrow into the air,/It fell to earth, I knew not where;/For, so swiftly it flew, the sight/Could not follow it in its flight.

Autor destes versos ( ) Byron ( ) Milton ( ) Keats ( ) Longfellow ( ) Shakespeare Últimos versos do Fausto de Goethe: Das Unbeschreibliche, Hier ist's getan; Das Ewig-Weibliche Zieht uns hinan.

Tradução de Jenny Klabin Segall para os dois primeiros versos: O Transcendente-Indefinível É fato aqui; (...)

Parafraseando: O Imperfeito Aqui se conclui.

Shakespeare, The Tempest Whereof, what's PAST IS PROLOGUE

PASSATEMPO (V)

Nascer do Sol em Praia das Fontes. Beberibe. 18 de maio de 2013 Foto de Ana Maria Rebouças Freire.

Jakob van Ruisdael Waterfall. Em Memória do professor Jules Haot, de Bruxelas, falecido em 05/05/2011.

Disse ele: veja que existem o Salomon e o Jakob; preste atenção no Jakob. Na verdade, eles são quatro, difíceis de distinguir um do outro.

http://media1.web.britannica.com/eb-media/33/3833-004-043607EA.jpg

PASSATEMPO (VI) CĂŠu de Londres em 24 de junho de 2013. Fantasmagorias