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22. LUXAÇÕES DO OMBRO

Capítulo 22

LUXAÇÕES DO OMBRO

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Carlos Roberto Schwartsmann

Aarticulação gleno umeral é a de maior mobilidade no corpo humano. Para obter toda amplitude de movimento, obviamente perde sua estabilidade devido principalmente a pequena superfície de contato entre a cabeça do úmero e a rasa cavidade glenoide, que é cinco vezes menor que a cabeça umeral.

Mecanicamente existem os estabilizadores estáticos e os dinâmicos. Entre os mecanismos estáticos temos o formato da articulação, o lábrum glenoideo que aumenta a profundidade da cavidade glenoide, ótima cobertura e vedação da cápsula articular, as estruturas capsuloligamentares, principalmente os ligamentos gleno umerais e fenômeno físico da pressão negativa intra-articular, que oferece adesão e coesão da cabeça umeral contra a glenoide. Os mecanismos dinâmicos que estabilizam a articulação gleno umeral são compostos principalmente pelos músculos do manquito rotador (subescapular, supraespinhoso, intraespinhoso e redondo menor), a cabeça longa do bíceps e os demais músculos da cintura escapular.

Quanto a incidência, o ombro é a articulação que mais frequentemente sofre luxação no corpo humano. Dentre as luxações 90% são gleno umerais anteriores, 5% esterno claviculares e 5% gleno umerais posteriores.

O diagnóstico é realizado pela história de trauma agudo e a presença do sinal da dragona militar, que corresponde ao acrômio proeminente no subcutâneo associado a perda do contorno circunferencial do ombro. Também é conhecido como “sinal do cabide”.

Figura 22.1 – Acidentes com motocicletas, automoveis e a prática desportiva são os agentes que mais frequentemente determinam a luxação do ombro.

TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES Figura 22.2 – Sinal do cabide: patognomônico de luxação do ombro. Imagem clínica de 4 casos.

Na luxação posterior pode passar desapercebido pois o sinal não é tão exuberante. Normalmente a cabeça do úmero se localiza no meio do músculo deltoide posterior. É preciso muita atenção, pois a clínica não é tão evidente e o paciente pode até realizar alguns movimentos.

A

Figura 22.3 (A) – Caso raro de luxação ereta do ombro direito. Observar a posição típico do paciente com o membro superior e abdução fixa.

B

Figura 22.3 (B) – Imagem radiográfica mostrando a cabeça do úmero abaixo da cavidade do glenoide.

Evidentemente, no exame físico é necessário um minucioso exame neuromuscular. O nervo axilar é o mais comumente acometido (neuropraxia).

O diagnóstico é confirmado por radiografias da série trauma: anteroposterior verdadeiro, lateral da escapula (avalia desvios anteriores ou posteriores da cabeça umeral) e axilar.

Figura 22.4 – Dois casos de luxação anterior do ombro direito. A cavidade glenoide está vazia e não há contato com a cabeça umeral.

Na luxação do ombro, principalmente nas recidivantes são encontradas lesões anatômicas associadas, tais como:

Lesão de Bankart: é a desinserção da porção anterior da capsula e do lábrum junto a glenoide, com ou sem fragmentos ósseos.

Lesão de Hill-Sachs: trata-se de fratura (afundamento) do canto superior-lateral da cabeça umeral. Lesão de Slap: são as lesões no lábio glenoidal superior antero-posterior.

Ainda existem 10% de fraturas associa- das a luxação bem como do manguito rota- dor. Já quanto ao tratamento, toda luxação é considerada uma emergência médica e, por- tanto, deve ser tratada o mais precocemente possível.

TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES Figura 22.5 – O princípio básico dos métodos de redução se baseiam na tração e Contratração. Três figuras medievais que traduzem a utilização do método.

Entre todas as manobras que o traumatologista tem disponível, as mais comumente usadas para a redução da luxação do ombro são: Kocher, tração-contratração, Stimpson e Hipócrates.

Figura 22.6 – Theodor Köcher descreveu as manobras clássicas de redução, mas no Egito antigo já haviam desenhos que representavam estes gestos. (Retirado: https:// www.researchgate.net)

A B

C D

Figura 22.7 (A, B, C, D) – Manobra de Köcher: A) Com o paciente relaxado a tração longitudinal é exercida ao longo do eixo do úmero. B) Após 2 ou 3 minutos, mantendo-se a tração é realizado lentamente a rotação externa. Muitas vezes a redução ocorre nesta etapa da manobra. C) O braço é aduzido contra o tórax. D) É realizada a rotação interna colocando-se a mão sobre o ombro oposto. Figura 22.8 – Imagem clínica de redução da luxação do ombro com a manobra de Köcher. Inicialmente é realizada tração longitudinal com vigor e paciência.

Figura 22.9 (Acima) – Manobra de tração e contratração: com um lençol enrolado no tórax do paciente, o assistente realiza contratração enquanto o traumatologista exerce tração longitudinal com o cotovelo fletido em 90°. Após alguns segundos ou minutos, um estalido palpável ou até audível sinaliza que a redução foi obtida.

Figura 22.10 (A esquerda) – Imagem clínica de manobra de redução na luxação do ombro com a manobra da tração-contratração.

TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES DAS GRANDES ARTICULAÇÕES Figura 22.11 – Manobra de Stimson: O paciente é colocado em decúbito ventral com a axila de encontro com o bordo da mesa ortopédica, protegido por um pequeno rolo de tecido, um peso amarrado ao punho fará a tração longitudinal e promoverá a redução da luxação.

Figura 22.12 – Manobra de Hipócrates: É uma manobra deselegante, histórica, em desuso, pouco recomendada, mas altamente eficaz. O traumatologista descalço, com o calcanhar na axila do paciente, empurra a cabeça do úmero lateralmente com tração longitudinal vigorosa pelo antebraço e punho do paciente.

CUIDADOS PÓS REDUÇÃO:

Radiografia de controle devem ser realizados para confirmar a redução e afastar fraturas associadas. Devido ao entendimento que para haver luxação, é necessário rompimento da capsula articular e ligamentos, necessitando imobilizar o ombro por três a quatro semanas. Portanto é essencial, para obtenção de um resultado final com perfeita cicatrização e de partes moles, imobilizar o paciente por este período. Nas primeiras duas semanas a melhor imobilização é com velpeau gessado. A utilização do gesso é a garantia de que a imobilização resistirá por duas semanas. Após podem trocar por tipoia de velpeau de lona por mais duas semanas.

Imediatamente após a redução, a dor desaparece completamente e a utilização de tipoia simples, transmite uma segurança ao paciente de que tudo está resolvido! Terrível engano, a mobilização precoce não permite cicatrização adequada e é o melhor caminho para luxação recidivante.

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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