Informativo nº 160

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INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5a REGIÃO JULHO A DEZEMBRO - ANO XXVII- Nº160


VINHOS

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CRQ-V participa da Wine South America.

HORMÔNIOS

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Uma síntese sobre a ciência dessas substâncias.

COURO GAÚCHO

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A produção de couro e suas perspectivas para o RS.

TRATAMENTO DE ÁGUA

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A importância do tratamento de água frente a desastres naturais.

NOVIDADES

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CRQ-V recebe novos veículos para fiscalização pelo estado. CRQ-V Benefícios completa 6 meses.

MURAL

Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Mauro Ibias Costa Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornalista responsável e Editoração gráfica Louise Veronezi Gigante Redação Louise Veronezi Gigante Nádia Prosbt Pacheco Capa Laura Driemeier Vieira Rosa INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR 2

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Editorial

Dica de Livro

Iniciamos a última edição de nosso informativo de 2023 fazendo um breve resumo a respeito da participação do CRQ-V na Wine South America, ocorrida no mês de setembro em Bento Gonçalves. O evento, que se trata da maior feira de vinhos da América Latina, proporcionou à nossa instituição um contato mais próximo com profissionais da Enologia e vinícolas do RS e outros estados do país. No artigo principal de nosso informativo, apresentamos uma síntese sobre os hormônios que compõem o nosso organismo. Essas substâncias, que possuem muita química em sua composição e atuação, são essenciais para o corpo. Suas responsabilidades incluem uma variedade de processos fisiológicos, desde o crescimento e desenvolvimento, até o metabolismo e controle emocional. A produção de couro e suas perspectivas para o Rio Grande do Sul foram o tema da terceira reportagem desta revista. O Rio Grande do Sul, por ser o principal produtor do país, tem destaque neste ramo. Os desastres naturais envolvendo água foram significativos no ano de 2023, trazendo preocupações acerca do tratamento deste efluente. Abordamos este assunto na quarta reportagem do informativo nº 160. Para finalizar, apresentamos os novos veículos, totalmente identificados, que foram recebidos pelo CRQ-V para uso na fiscalização pelo estado. Desejamos a todos uma ótima leitura!

Uma questão de equilíbrio: a relação entre hormônios, neurotransmissores e emoções Livro inovador que revela uma visão mais abrangente da medicina. Mostra a importância do equilíbrio da rede hormonal como pilar da saúde física, emocional e psíquica. Dietas adequadas e reposição hormonal são os instrumentos do autor para garantir a boa qualidade de vida.

Números do Conselho JUL - DEZ

Vistorias

920

Registro de Pessoa Física

357

Registro de Pessoa Jurídica

110


VINHOS

CRQ-V participa da 4a edição da maior feira de vinhos da América

Com um histórico de sucesso na promoção da cultura do vinho e na conexão de entusiastas, produtores e profissionais do setor, a Wine South America voltou ao Rio Grande do Sul em 2023. Realizada nos dias 12, 13 e 14 de setembro no Fundaparque, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, o evento reuniu mais de sete mil compradores de todos os Estados e 22 países diferentes. Foram promovidas mais de 2 mil reuniões de negócios, que geraram cerca de R$ 50 milhões para o setor. Aproximadamente 360 marcas de todo o mundo participaram da feira, incluindo representantes de 20 países. Os participantes da WSA puderam conferir novidades do setor vitivinícola, realizar negócios, participar de palestras e vivenciar diferentes tipos de degustações e harmonizações. Além do personagem principal

e suas variações (sucos e espumantes), tiveram espaço no evento os representantes do setor de azeite de oliva, cachaça, acessórios e equipamentos diversos. O Conselho Regional de Química da 5ª Região esteve presente durante os três dias de feira buscando uma maior adesão e proximidade com os profissionais e empresas da área. Foram centenas de materiais informativos e promocionais distribuídos aos participantes. Visitaram o nosso estande profissionais e estudantes da área da Química, Viticultura e Enologia, Meio Ambiente e outras. A Conselheira Federal, Raquel Fiori, representante do CRQ-V no Conselho Federal de Química, participou do evento em parceria com os colaboradores do regional que estavam presentes. 3


HORMÔNIOS

Hormônios

uma síntese sobre as substâncias químicas que estruturam e conduzem o nosso organismo Os hormônios são substâncias químicas produzidas pelo sistema endócrino, essenciais para o funcionamento adequado do corpo humano. Os chamados “mensageiros químicos” possuem ação mediada por receptores específicos e são transportados pela corrente sanguínea até os tecidos e órgãos para que realizem suas funções nas chamadas “células-alvo”. Ao ligar-se com seu receptor, o hormônio desencadeia uma resposta celular específica, desempenhando papel fundamental na regulação de uma variedade de processos fisiológicos, desde o crescimento e desenvolvimento, até o metabolismo do organismo e o controle emocional. Existem diversos tipos de hormônios (moléculas complexas compostas de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e, em alguns

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casos, nitrogênio e enxofre), cada um com sua própria estrutura química característica. Sendo que outros como os esteroides são lipídeos derivados do colesterol. Os hormônios peptídicos e proteicos consistem em cadeias de aminoácidos (exemplos: insulina, hormônio do crescimento e ocitocina). Já os hormônios esteroides são derivados do colesterol e têm uma estrutura base de quatro anéis de carbono (exemplos: cortisol, testosterona e estrogênio). Os hormônios aminas originam-se dos aminoácidos tirosina ou triptofano e incluem em seus exemplos a adrenalina e a noradrenalina (produzidas pelas glândulas adrenais) e a tiroxina (produzida pela tireoide). No caso de hormônios lipídicos, sua base deriva de ácidos graxos essenciais, como o ácido araquidônico. São diversos os tipos e funções

desempenhadas por essas substâncias. Um dos hormônios mais conhecidos é a insulina – produzida pelo pâncreas -, que controla os níveis de glicose no sangue (permitindo que as células a utilizem como fonte de energia) e ajuda a regular o metabolismo. Já o chamado “hormônio do crescimento”, também conhecido como somatotropina, é produzido pela glândula pituitária e estimula o crescimento e o desenvolvimento de tecidos do organismo. Além do crescimento físico, esse tipo de hormônio estimula a síntese de proteínas e a quebra de gordura. Nas funções reprodutivas do organismo, a testosterona (produzida nos testículos e, em pequena quantidade, nos ovários), a progesterona e o estrogênio (produzidos principalmente nos ovários) são essenciais para reprodução e vida sexual, além de determinar


características físicas do corpo. Já o papel da resposta ao estresse é desempenhado por hormônios reproduzidos pelas glândulas adrenais, como o cortisol. No caso da regulação do humor, a serotonina e dopamina ganham destaque por afetarem o estado emocional e a saúde mental do indivíduo. A regulação dos níveis hormonais é indispensável para a manutenção do estado de equilíbrio interno do corpo, também chamada de homeostase. Situações em que o organismo encontre-se com estes níveis desregulados podem levar a distúrbios, como diabetes, hipotireoidismo, hipertireoidismo, nanismo e outros. O Presidente do CRQ-V, Químico e Doutor em Ciências Farmacêuticas, Dr. Paulo Roberto Bello Fallavena, explicou a respeito do sistema de regulação da secreção hormonal: “Esta regulação é controlada por um sistema de “retorno” complexo (chamado de feedback ou retroalimentação), onde as glândulas endócrinas respondem a sinais do corpo para liberar ou inibir a produção de hormônios”. Disfunções nestas glândulas, interrupções no feedback hormonal, condições médicas específicas ou outros fatores externos podem levar à regulação inadequada dos hormônios, trazendo problemas para a saúde. No hipotireoidismo, por exemplo, existe uma baixa produção de hormônios tireoidianos pela glândula tireoide, resultando em fadiga, ganho de peso, constipação, alterações no humor, etc. Já no hipertireoidismo existe uma produção excessiva destes hormônios, levando à perda de peso, insônia, irritabilidade, etc. A resistência à insulina ou sua produção insuficiente são resultado da doença denominada Diabete Tipo 2, que aumenta os níveis de glicose no sangue, causan-

do sede excessiva, visão turva, fagida e diversas outras consequências graves. Outro distúrbio conhecido por muitos é a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), que se trata do desequilíbrio hormonal em virtude do aumento dos níveis de androgênio no organismo feminino e apresenta sintomas como menstruações irregulares, acne, ganho de peso, etc. Já a menopausa, que atinge o organismo feminino geralmente entre os 45 e 55 anos de idade, se trata da diminuição natural dos hormônios sexuais e suas consequências são distúrbios do sono, alterações de humor, sensação de calor intenso, etc. Diversas outras condições causadas por níveis desregulados de hormônios podem ser identificadas no organismo, trazendo consequências específicas para cada caso. No geral, o organismo humano conta com mecanismos básicos para evitar ou postergar estas disfunções hormonais. Dentre eles podemos destacar o sono regular, o controle do estresse, a alimentação rica em nutrientes e baixa em produtos industrializados e a prática do exercício físico. É fundamental que se procure orientação profissional quando houver suspeita de qualquer falta de regulação, para que se obtenha o diagnóstico preciso e o tratamento adequado para cada distúrbio. Visando reestabelecer os níveis hormonais em pessoas que apresentam desequilíbrio ou deficiência nestas funções, a reposição hormonal é indicada por médicos como uma forma de tratamento. Neste momento, entram em ação os hormônios sintéticos, substâncias químicas criadas em laboratórios para replicar as funções dos hormônios naturais de maneira semelhante. Os principais utilizados nestas terapias são os esteroides, que, segundo Dr. Paulo, são “estruturas

lipídicas, derivadas do colesterol, que apresentam uma estrutura denominada ciclopentanoperidrofenantreno, diferentemente dos demais hormônios, que são formados de aminoácidos e peptídeos.”. Estes hormônios esteroides possuem funções no controle metabólico e nas características sexuais. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) feminina pode ser realizada de diversas formas, dependendo do diagnóstico da paciente, sendo o uso de anticoncepcionais uma das mais comuns. Esses medicamentos, que possuem uma cuidadosa formulação química, têm o propósito de interferir nos processos hormonais naturais do corpo e prevenir a gravidez indesejada. Deste medicamento podemos destacar duas categorias principais: os combinados (com estrogênio e progesterona) e os progestínicos (contêm apenas progestinas). Os anticoncepcionais combinados, que possuem estrogênio derivado sinteticamente do estradiol, desempenham papel essencial na supressão da liberação de hormônios que estimulam a ovulação, tornando-se eficazes na contracepção. Além disso, estas substâncias alteram o muco cervical, tornando o ambiente hostil para o desenvolvimento de um óvulo fertilizado. Nos anticoncepcionais progestínicos, a atuação é predominantemente no muco cervical, criando uma barreira contra os espermatozoides, que encontram dificuldade na movimentação em direção ao óvulo. As pílulas anticoncepcionais possuem baixa taxa de falha na contracepção e são, além disso, procuradas por diversas mulheres que buscam tratamento para oleosidade e acne na pele, além de outras condições relacionadas ao ciclo menstrual, como a SOP, endometriose, entre outros. Mulheres que desejam redu-

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HORMÔNIOS

zir os efeitos da menopausa também podem recorrer a este tipo de reposição. No caso da reposição hormonal masculina, o principal uso se dá através da testosterona, que apresenta uma diminuição em sua produção natural ao longo dos anos (andropausa), e pode ser prescrita para tratar sintomas como diminuição da libido, fadiga, obesidade e perda de massa muscular. Seu consumo pode se dar via oral, com uso de adesivo ou gel na pele, ou de forma injetável. Sintéticos derivados da testosterona, os chamados hormônios esteroides anabolizantes (conhecidos também como esteroides androgênicos anabólicos), foram desenvolvidos na década de 30 para fins medicinais. “É importante mencionar que, até o momento, não foi produzida de forma industrial a testosterona idêntica à natural, todas possuem diferença em sua estrutura, mantendo a base principal”, menciona Fallavena. Suas propriedades anabólicas estimulam o desenvolvimento e crescimento de tecidos (em especial os musculares), já as propriedades androgênicas estão relacionadas às características sexuais masculinas. Adolf Butenandt e Leopold Ruzicka foram os pesquisadores responsáveis por isolar o primeiro esteroide anabolizante em 1931, feito que lhes proporcionou um Prêmio Nobel de Química no final dos anos 30. A partir disso, seu uso medicinal passou por diversos objetivos incluindo o tratamento para dificuldade de crescimento e anemia, entre outros. Na mesma década, cientistas perceberam as propriedades anabolizantes deste hormônio, que estimulava o crescimento de músculos e ossos e poderia tornar o organismo mais forte e resistente. Este fato cha6

mou a atenção do governo Alemão durante a Segunda Guerra Mundial que, com o objetivo de melhorar o desempenho físico de soldados, passou a utilizar esteroides anabolizantes em contexto esportivo. Ao longo das décadas, o interesse pelos esteroides anabolizantes, que agem aumentando a síntese de proteínas nas células musculares e a retenção de nitrogênio, continuou crescendo e passou a se propagar entre atletas e fisiculturistas, com o intuito de se obter vantagem competitiva. Com o aumento da popularidade, preocupações acerca dos efeitos colaterais e segurança do seu uso vieram à tona e medidas “antidoping” foram adotadas. Dentre elas, está o exame antidoping, ”Geralmente, utiliza-se a cromatografia líquida para detecção de hormônios nesta medida. São feitas coletas de sangue, cabelo ou urina, que são encaminhadas aos laboratório para análise”, explica o Químico. Com o passar dos anos, os esteroides anabolizantes foram classificados como substâncias controladas, exigindo prescrição médica para seu uso. Atualmente, estas substâncias seguem como uma questão delicada, envolvendo o consumo para melhora de desempenho atlético e a utilização para tratar condições médicas específicas. Sua utilização sem exames prévios e acompanhamento médico pode resultar em efeitos adversos como distúrbios cardiovasculares, hepáticos, endócrinos, etc. Além dos exemplos mencionados anteriormente, pode-se fazer reposição hormonal das substâncias que a tireoide produz (T3 e T4) do hormônio do crescimento (GH) e do hormônio responsável pelo sono (melatonina). No hipotireoidismo, onde a glândula da tireoide produz

baixos níveis de T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), a reposição hormonal através de comprimidos pode ser indicada para que se reduzam os sintomas da disfunção. Se não tratado, esse distúrbio hormonal pode acarretar em redução da performance física e mental do indivíduo, aumentar os níveis de colesterol no sangue, além de elevar as chances de problemas cardíacos. No caso do GH, seu tratamento é indicado para indivíduos que apresentem deficiência em sua produção na glândula hipófise (localizada no crânio) em seu desenvolvimento primário ou na vida adulta em função de doenças como o câncer, por exemplo. Sua aplicação é realizada através de injeções diárias. A melatonina é o hormônio produzido pela glândula pineal que visa preparar o corpo para dormir. Ela é desenvolvida quando o organismo percebe poucos estímulos luminosos, sinalizando que o momento de dormir está próximo. A sua reposição, através de comprimidos, é indicada como uma forma de auxílio para pessoas que apresentem dificuldades para dormir em virtude de uso de medicamentos, idade e estímulos luminosos exagerados. É importante ressaltarmos que a decisão de utilizar qualquer tipo de reposição hormonal depende da avaliação de profissionais da saúde, pois cada organismo tem necessidades únicas e a abordagem correta é essencial para garantir a segurança e eficácia do método escolhido. A química dos hormônios é fascinante e completa e exige estudos aprofundados para qualquer tipo de utilização. É crucial que esta abordagem seja feita com cautela, compreendendo os mecanismos moleculares envolvidos e os potenciais impactos na saúde.


IMAGEM: m0851 - via unsplash

COURO GAÚCHO

O couro é um material duradouro e bastante comum em nosso dia a dia. Utilizado principalmente na fabricação de calçados, vestuário, bolsas, móveis e no revestimento de veículos, o couro brasileiro possui grande destaque no exterior. O Brasil é o quinto maior produtor de couro bovino do mundo. Em 2020, por exemplo, o setor movimentou cerca de R$ 8 bilhões no país. Já em território nacional, o Rio Grande Sul é o maior responsável pelo volume de fabricação. Segundo relatório da Secretaria de Comércio Exterior, elaborado pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, entre janeiro e setembro de 2023 o estado teve uma participação de 26,3% dos valores totais da exportação brasileira. Como salienta a professora Caroline Borges Agustini, responsável pelo Laboratório de Estudos em Couro e Meio Ambiente (LACOURO) da UFRGS “o Rio Grande do Sul sempre se destacou por deter

a tecnologia do processo de couro, enquanto outras regiões do país detém a maior parte da produção animal”. A pele utilizada pode ser de diversos animais, como bovinos, suínos, caprinos e ovinos. Para efeitos de comparação, os estados com os maiores rebanhos de gado são Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Para e Mato Grosso do Sul. O processamento de peles animais é, normalmente, dividido em três etapas principais, denominadas como ribeira, curtimento e acabamento. Na ribeira, a pele é limpa e preparada para as etapas seguintes. Já no curtimento, diversas substâncias químicas são adicionadas a ela, reagindo com o colágeno e tornando o material estável, durável e resistente. Este processo pode ser feito com sais de cromo (curtimento mineral) ou com taninos vegetais (curtimento orgânico). A pele só passa a ser considerada uma peça de couro após passar por esta etapa. Já no acabamento, a peça será prepara7


COURO GAÚCHO

da para sua destinação final, passando, por exemplo, por colorações, cortes e pesagens. No total, são mais de dez processos químicos realizados. Nos procedimentos convencionais, uma tonelada de peles rende entre 200 e 250 kg de couros acabados, ou seja, cerca de 600 kg de resíduos sólidos são gerados, além das emissões gasosas e líquidas. Isso revela um obstáculo em termos de sustentabilidade. Agustini destaca que “os desafios ambientais se devem não só aos produtos adicionados no processo (corantes, metais, óleos de engraxe, entre outros), mas também à grande carga orgânica adicionada aos efluentes”. Ela explica que o cromo usado no curtimento é o trivalente, que confere pouca ou nenhuma toxicidade aos efluentes, além de ser adicionado em pequenas quantidades, representando por volta de 3% do peso das peles. Por outro lado, os taninos precisam ser adicionados em grandes porções, representando cerca de 30% do peso total. Segundo a professora, isso acontece porque “os taninos vegetais estabilizam o colágeno da pele através de pontes de hidrogênio entre o seu radical hidroxila (presente no grupamento fenólico) e os radicais do colágeno (carboxílico e amino). Essa interação é relativamente fraca, quando comparada à interação dos sais de cromo com os grupamentos da pele”. E, como os taninos possuem um alto teor de fenólicos, os efluentes acabam se tornando mais tóxicos. Uma boa parcela das pesquisas na área busca encontrar formas mais sustentáveis de realizar o tratamento de peles. Um dos temas destacados por Agustini foi a produção de biogás a partir de resíduos de couro, contendo cromo e taninos vegetais. Ainda no tema de reaproveitamento de insumos como fontes energéticas, a Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro (ABQTIC) divulgou na primeira semana de outubro uma pesquisa realizada por um grupo de argentinos que busca converter o pelo dos bovinos, removido 8

na etapa de ribeira, em baterias de lítio-enxofre. O processo, que ainda está em fase experimental, começa com a lavagem e o cozimento dos pelos em temperaturas que podem chegar aos 900°C. Depois disso, é adicionado o enxofre, fazendo uma bateria semelhante à de um relógio. Estes exemplos demonstram que a sustentabilidade também é uma pauta recorrente na área. A presença de profissionais da Química nos curtumes é fundamental, não apenas por questões ambientais. “O controle do processo, feito principalmente através da medição do pH, assim como a ordem de adição dos produtos, devem ser realizados por um profissional da Química habilitado, que compreenda a função de cada componente e variável”, destaca Agustini. Além disso, também podem atuar no gerenciamento dos resíduos líquidos, visto que a NBR-10004 da ABNT classifica os resíduos com a presença de cromo como substâncias perigosas. A perspectiva para os próximos anos é de que a indústria do couro continue atualizando processos e busque ainda mais expansão pelo país. Além da procura por soluções ambientais, o setor também passa por desafios em questão de demanda. Segundo Agustini “a competição com outros materiais, como o plástico que substitui o couro em cada vez mais produtos, principalmente em calçados, também é uma preocupação crescente, devido a significativa busca dos consumidores por produtos que não sejam de origem animal”. Apesar dos desafios que enfrenta, o couro persiste como matéria-prima por sua durabilidade. Bolsas de couro legítimo, por exemplo, costumam durar por várias décadas e podem, inclusive, serem passadas de geração em geração. Junto disto, é importante mencionar que os produtos de couro necessitam de poucos cuidados para se manterem bem conservados. Nesse sentido, o couro segue se mostrando um material de excelente custo benefício.


TRATAMENTO DE ÁGUA

A importância do tratamento de água frente a desastres naturais Diversos municípios do Rio Grande do Sul registraram cheias históricas ao longo de 2023. Após a passagem de um ciclone pelo estado, no começo de setembro, a cidade de Muçum ficou 80% embaixo d’água. Em 18 de novembro, diversas famílias precisaram sair de suas casas em Lajeado, depois que o Rio Taquari elevou-se 26 metros e 55 centímetros. Já em 21 de novembro, o Lago Guaíba teve o terceiro maior registro desde que as medições começaram a ser feitas em 1873, atingindo 3 metros e 46 centímetros em Porto Alegre. Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), aproximadamente 75% das catástrofes é resultado de eventos relacionados ao clima. O cenário observado no Rio Grande do Sul é, em partes, atribuído ao aquecimento das águas do Oceano Pacífico, conhecido como El Niño, fenômeno climático capaz de agravar chuvas intensas e ondas de calor. O volume elevado de chuvas possui grande influência em enchentes, inundações e alagamentos. Os dois primeiros exemplos são fenômenos naturais que fazem parte do ciclo de vida de um rio. Todos os rios perenes (aqueles que nunca secam, tendo um fluxo contínuo de água durante todo o ano) possuem dois leitos principais: o menor e o maior. A enchente, também chamada de cheia, ocorre quando o volume de um rio aumenta acima da capacidade do leito menor, podendo chegar até as margens do leito maior, mas sem transbordar. A inundação, por sua vez, supera as margens do leito maior, atingindo a planície de inundação do rio. Em contrapartida, o alagamento não é um fenômeno natural. Ele se configura como um acúmulo anormal de água em regiões urbanizadas, quando o sistema de captação de águas pluviais não consegue drenar todo o volume. Esses fenômenos, entretanto, podem trazer diversas consequências para a sociedade. “As enchentes podem arrastar uma variedade de poluentes para os corpos d'água, como resíduos industriais, produtos químicos agrícolas, óleo, esgoto bruto e outros materiais tóxicos”, afirma Luana Machado da Luz, Química e responsável técnica na área de tratamento de água para consumo humano da Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN). Tais substâncias podem causar problemas de

saúde nas comunidades afetadas, como micose, leptospirose, hepatite A e febre tifoide. Assim, é fundamental que aqueles que entrarem em contato com a água ou a lama de enchentes permaneçam em alerta para sintomas como febre, dor muscular, diarreia, náuseas e dor de cabeça. Além disso, alimentos e medicamentos precisam ser descartados sempre que entram em contato com a água ou lama, por conta do risco de contaminação, mesmo que suas embalagens ainda estejam lacradas. Já em questões ambientais, Maurício de Almeida Schmitt – Conselheiro do CRQ-V, Engenheiro Químico e especialista em Tratamento de Água – explica que chuvas intensas podem arrastar terra e outros sedimentos para o leito dos rios, resultando em um desequilíbrio do ecossistema aquático. “O aumento da turbulência no leito dos rios modifica significativamente as propriedades físico-químicas da água”, afirma o Engenheiro Químico. Enchentes e inundações, por serem fenômenos naturais, ocorrem também em rios utilizados no abastecimento urbano. Dessa forma, são necessários cuidados especiais no tratamento dessas águas. A responsável técnica da CORSAN destaca que o tratamento convencional de água costuma ser suficiente para lidar com fontes de água mais estáveis. “No entanto, o tratamento de águas de enchentes enfrenta desafios adicionais devido à variabilidade da qualidade da água durante eventos de enchentes. Aspectos como a queda de alcalinidade, o aumento da turbidez e o acréscimo de matéria orgânica na água bruta são exemplos dessas variações”, complementa a profissional. Embora o tratamento tenha suas particularidades, ele é realizado nas mesmas Estações de Tratamento de Água (ETAs) em que se trata a água convencional. “Caso sejam identificados poluentes que não possam ser tratados eficazmente pela estação convencional, o responsável técnico deve conduzir uma avaliação mais aprofundada”, aponta Luana. Isso reforça a importância dos profissionais da química durante os processos de análise, monitoramento e tratamento da água, afinal, são eles que possuem “o conhecimento técnico essencial para avaliar e conduzir o processo de tratamento de maneira segura, assegurando a conformidade com os padrões legais pertinentes”.

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NOVIDADES

Novos veículos para utilização em fiscalizações pelo Rio Grande do Sul O Conselho Regional de Química da 5ª Região tem como objetivo promover o exercício pleno da química no Rio Grande do Sul. E, por essa razão, o CRQ-V realiza, periodicamente, a fiscalização de empresas e profissionais que atuam em nosso estado. Recebemos, no mês de outubro, quatro novos

veículos para a realização deste tipo de atividade, todos devidamente identificados. Eles irão percorrer todo o RS garantindo a segurança de nossa sociedade. Este é um passo importante para a fiscalização da atividade em nosso estado, assegurando a qualidade e ética desta profissão tão indispensável.

completa 6 meses Com o objetivo de valorizar o registro profissional em nosso regional, foi lançado no segundo semestre de 2023 o CRQ-V Benefícios, uma rede de parcerias que oferece diversas vantagens para os que possuem cadastro na plataforma. São inúmeros descontos ofertados em centenas de empresas de distintos nichos. Por lá, são disponibilizadas empresas parceiras da área de vestuário, beleza, alimentação, viagens, educação, lazer, saúde, pet, entretenimento, entre outras. Além dos descontos disponíveis, os participantes do clube têm acesso gratuito a assinaturas de revistas selecionadas, jogos para conquistar vouchers de descontos especiais e sorteios em dinheiro. Para participar, os profissionais devem estar com seu registro ativo e com anuidades em dia. O cadastro ocorrerá de forma voluntária e individual no portal do clube e é feito através do número de registro no CRQ-V. Acesse através do QR code ao lado. 10


MURAL

Conselheiro Mauro Ibias Costa em palestra virtual para os alunos do curso de Gestão Ambiental da UERGS - Campus Sananduva

Conselheiro Maurício de Almeida Schmitt com professores após palestra para os cursos de Engenharia da PUCRS

Conselheiro Wolmar Alipio Severo Filho em palestra para os alunos do curso de Química Medicinal da UFCSPA

Conselheiro Mauro Ibias Costa em palestra para os alunos do curso Técnico em Viticultura e Enologia do IFRS - Campus Bento Gonçalves

Conselheiro Evandro Luís Janovik em formatura dos Cursos Técnico em Química, Técnico em Alimentos e Técnico em Cervejaria da UNIVATES 11



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