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Fibromialgia: uma doença ainda mal compreendida…

A fibromialgia, ainda que muito vezes abordada, permanece como uma doença muito falada, porém pouco compreendida. Caracteriza-se por ser uma patologia não inflamatória, no entanto causadora de dores generalizadas, por vezes limitativas, bem como por uma maior sensibilidade ao toque, maior rigidez muscular, alterações do humor, sensação de cansaço, alterações cognitivas, dificuldade de concentração, sensação inespecífica de confusão mental ou mesmo alterações severas do sono. Além disso, os doentes podem apresentar sintomatologia gastrointestinal ou dores de cabeça, muitas vezes com caraterísticas semelhantes a enxaquecas. Embora os fatores que podem despoletar as queixas não sejam totalmente conhecidos, parece existir uma relação positiva entre o surgimento da sintomatologia e a vivência de situações de stress, contextos de vida difíceis e/ou alternância térmica (sobretudo frio). Pelo seu amplo espectro, com diferentes doentes fazendo descrições diferentes para a mesma entidade, é, do ponto de vista clínico, uma doença cujo diagnóstico requer cautela e que acarreta, em alguns casos, a vivência pelo doente de determinados processos de estigmatização. Não é incomum ouvir familiares de portadores de fibromialgia fazeram uma descrição do doente como “alguém que se queixa de mais” ou que “não tem razão para ser assim” ou ainda “que não passa tudo de um exagero e uma chamada de atenção”. Um dos principais fatores concorrentes com este tipo de afirmações poderá explicar-se pela dificuldade das ciências biomédicas em atribuir causas específicas para a doença ou disponibilizar uma análise ou um exame confirmatório. Neste sentido, a fibromialgia continua a pertencer ao grupo de doenças cujo diagnóstico muitas vezes se dá por exclusão. Ou seja, excluído todo um conjunto de outras patologias que possam explicar os sintomas, assume-se o diagnóstico de fibromialgia. Ainda assim, grandes avanços têm sido feitos, havendo consenso entre a comunidade científica que uma possível explicação para a causa da doença esteja ao nível dos processos centrais de mediação da dor. A fibromialgia tanto pode ser diagnosticada em homens como em mulheres, no entanto, é 5 a 7 vezes mais frequente em mulheres e tende a ser diagnosticada sobretudo entre a 5ª e 6ª décadas de vida. Para o correto diagnóstico da doença deverá recorrer ao seu médico assistente. Prestar uma história cuidada será fundamental para o seu médico, sobretudo procurando ordenar as queixas segundo uma lógica cronológica. Pode ser entendimento do seu médico solicitar análises e/ou outros exames de imagem, muitas vezes na expectativa de excluir outras doenças. Com efeito, no caso dos exames resultarem todos normais não é sinónimo de ausência de doença, aspeto que muitas vezes importa explicar ao utente, bem como aos seus familiares, evitando processos de desvalorização das queixas, desconsideração da patologia ou menorização das suas consequências na qualidade de vida do doente. Ainda que esta doença seja crónica, existem medicações que beneficiam o doente permitindo uma melhor qualidade da sua vida. Também parece consensual que a melhoria do padrão do sono possa ter um efeito positivo no quadro clínico. Além disso, uma prática regular e adequada de exercício físico, massagens, psicoterapia de inspiração psicanalítica ou técnicas de biofeedback podem concorrer positivamente para uma evolução favorável da doença. Jamais desvalorize os seus sintomas. Não aceite que os outros o façam e o julguem. A fibromialgia existe ainda que com muitas questões científicas por responder. Diagnosticar é fundamental. É como abrir portas ao crescimento do conhecimento científico da doença... é romper com mentalidades estigmatizadas e estigmatizantes que corroem e em nada beneficiam a doença e os doentes.

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