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VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DO HINO RUBRO-NEGRO?
Distinto e amado varão
RODRIGO TOMBA
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Assim que o Ituano conquistou o acesso a série B do Campeonato Brasileiro, em 2021, uma postagem nas redes sociais do clube gerou polêmica e questionamentos. A postagem trazia a letra do hino do Ituano que em certa estrofe dizia: “Sua bandeira balança/Distinto e amado brasão”. Muitos torcedores questionaram a palavra “brasão” e afirmavam que o correto seria “Barão”.
Intrigada com a dúvida, a Revista do Ituano foi esclarecer esta história. O resultado surpreendeu, afinal, todos estavam errados. Na letra original do Hino Oficial do Ituano Futebol Clube, escrita por Renato Silva em 1990, a palavra correta é: “varão”. A prova está nos manuscritos do autor que tivemos acesso e no encarte de discos de vinil compactos encomendados pelo clube no ano em que o hino foi lançado.
O dicionário define varão como “indivíduo respeitável, ilustre. Aquele que é corajoso, esforçado”. Sem dúvidas, os adjetivos que definem este substantivo caracterizam, e muito bem, o espírito guerreiro do clube. Outra explicação é que varão se refere a uma vara grande, um mastro, e por anteceder a frase “Sua bandeira balança”, varão dá sentido à letra e à frase que se segue: “Distinto e amado varão”, em alusão ao estandarte rubro-negro.
No entanto, as palavras barão e brasão foram reverberadas em dezenas de sites e revistas como sendo as corretas. Erro corrigido, nos cabe entender e conhecer um pouco sobre a história por traz do hino oficial do Clube.
Escrito em 1990 por Renato Silva
Quis o destino que o hino entoado pela torcida rubro-negra nos estádios brasileiros fosse escrito por Renato Silva, um torcedor da Ponte Preta. Renato, na verdade, além de pontepretano, era um conhecido radialista de Campinas e exímio escritor de hinos. Ituano, Ponte Preta, Olímpia, Bragantino, Ferroviária, Rio Claro e XV de Novembro de Jaú são alguns dos clubes que entoam hinos escritos por Renato, cujo nome, na verdade, era Benedito Pinto da Silva. O pseudônimo foi adotado quando iniciou seu trabalho de radialista. Renato faleceu em 1999. O hino foi escrito a pedido da diretoria do clube após o acesso à divisão especial do futebol paulista, em 1989. “Éramos criticados por usarmos um hino popular”, afirma Antônio José Lui, vice-presidente na época, em referência a marchinha carnavalesca “Vermelho e Preto”, cantada desde os anos 1950 e que ainda hoje é entoada por clubes como o Guarany Saltense, Itatiba Esporte Clube, Associação Atlética XV de Agosto de Tatuí, Flamengo de Franco da Rocha e outras associações rubro-negras que disputam campeonatos amadores e cuja letra diz: “Vermelho e preto/Sinal de guerra/É o NOME DO CLUBE/Que estremece a terra!”
Como o futebol amador já não era mais o caso do Ituano, “todos se empenharam para que o clube tivesse u m h i n o o f i c i a l , p o r é m , o p re s i d e n t e R o sa n (Francichinelli) e eu, é que fomos mais a fundo”, comenta Lui. Segundo o empresário, foi o supervisor de futebol do Galo na época, Adilson Orsi, conhecido como Tuta Orsi, o ‘braço direito’ do técnico Cilinho, que indicou o radialista Renato Silva para compor o hino. Ambos eram de Campinas. Tuta faleceu em fevereiro de 2021. A primeira versão do hino rubro-negro foi gravada pela Banda do Brejo, tradicional banda de bailes de Campinas. Lui se recorda que o radialista veio até a sede do clube para tratar do assunto com a diretoria. “Foi um serviço profissional”. O acordo com Renato Silva, segundo o ex-vice-presidente, foi verbal e o pagamento foi de cerca de R$ 8 mil, aproximadamente, se os valores fossem convertidos para a moeda atual.
Arquivo Reynaldo Bernardes

O processo
No entanto, em julho de 2006, quase sete anos após a morte do compositor e radialista Renato Silva, e mais de 15 anos após a composição do hino oficial, Janice Neves Rabelo da Silva, sua esposa, acionou a justiça solicitando do Ituano uma indenização por danos morais e materiais por, segundo a própria petição inicial, não haver comprovantes de pagamentos pelo trabalho.
Baseado nesta alegação, Janice solicitou uma indenização de R$ 200 mil. O processo correu por cerca de 10 anos na justiça de Campinas e foi encerrado no ano de 2016 após a atual gestão do Ituano assinar um acordo com a autora do processo, em 2015, por um valor bem inferior ao solicitado inicialmente. Situação resolvida!
Janice também processou a Associação Atlética Ponte P re t a , o C l u b e A t l é t i c o Bragantino, o Esporte Clube XV de Novembro de Jaú e o Olímpia Futebol Clube. Procurada, Janice preferiu não se pronunciar.
Um hino, várias versões
O fato é que o hino do Ituano ganhou o coração da torcida e é entoado com alegria e emoção por todos os estádios em que o RubroNegro de Itu joga. Atualmente, há, inclusive, versões distintas da música.
Uma delas ficou famosa após o título paulista de 2014. Composta pelo professor de guitarra e violão, Luizinho Caldeira, assim que o clube chegou à fase final da competição naquele ano. A versão do hino feita na guitarra foi tocada em rede de televisão e na festa do time após a conquista do campeonato e é uma das preferidas da torcida. Em entrevista dada na época, Luizinho contou que o hino foi um desafio feito pela namorada.
Mais recente, em 2021, um trio de músicos residentes na Paraíba, Túlio L.M. de Morais, Thiago Cavalcanti e Diego Cavalcanti, fez uma das mais lindas versões do hino Rubro-Negro. A homenagem, em tom de samba, pela conquista da série C, circulou pelas redes sociais de torcedores ituanos de toda a cidade. Tulio trabalha desde 2000 na Alcoa, em Salto, e morou em Itu por alguns anos, quando começou a frequentar os jogos do Ituano com o amigo Luis Antônio Camilotti. “Logo em seguida, também conheci os amigos Fernando e Renato Boni, juntamente com o Boni pai, família tradicionalmente apaixonada pelo Ituano”, ressalta Túlio. Mas foi em 2003, segundo o torcedor, que o Ituano se tornou uma paixão em sua vida. “Como um torcedor fanático pelo Trez e d a Pa ra í b a , o G a l o d a Borborema, torci muito pelo Ituano na Série C daquele ano, quando consagrou-se campeão e, juntamente com o Santo André, subiu para a série B não deixando os rivais do Treze, Campinense e Botafogo, lograrem o acesso. Foi muita emoção naquele ano”, conta. Túlio finaliza explicando a homenagem. “E naquele momento da final da série C, em 2021, nossa explosão pelo título e novamente por não ter dei-
André Roedel
O guitarrista Luizinho Caldeira começou a tocar o hino na festa do título de 2014

Arquivo da Família
Renato Silva escreveu também os hinos da Ponte Preta, Olímpia, Bragantino, Ferroviária, Rio Claro e XV de Novembro de Jaú
xado o Botafogo PB subir, repetindo 2003, só poderia ser homenageada com o hino “à capela”. Atualmente Tulio mora em João Pessoa, mas continua trabalhando para a Alcoa e torcendo para o Galo de Itu. E ainda há outra versões, como a entoada pela Banda do Carmo, uma das mais tradicionais corporações musicais da cidade, e as versões em samba, cantada por Marcelinho S/A, e rock, ambas produzidas pelo radialista Edilson Rozendo.
Galo rubro-negro altaneiro...
Documento original do hino escrito em 1990 Hino Oficial Ituano F.C.

Galo Rubro-Negro altaneiro Forte, valente e audaz És um gigante guerreiro Ituano você é demais
Vencedor, sempre em frente Não há ninguém como tu Joga essa bola na rede Ó, Rubro-Negro de Itu
Olê olá, pode o mundo se acabar Olê olê, vamos sempre com você Não há ninguém como tu Ó, Rubro-Negro de Itu
Ituano, Ituano, Ituano Que coisa linda, és o maioral Dentro do campo, um só pensamento Outra vitória, seu lema é ganhar
Sua bandeira balança Distinto e amado varão A grande massa proclama Ituano é o grande campeão
Olê olá, pode o mundo se acabar Olê olê, vamos sempre com você Não há ninguém como tu Ó, Rubro-Negro de Itu
Vermelho e Preto, antigo hino usado pela torcida
Quem vem de lá, Sou eu morena, Abra a porteira Que eu quero passar. Vermelho e preto Sinal de guerra É o ITUANO Que estremece a terra! No canto do rouxinol, Anunciando a nossa chegada Somos onze corações de ouro Que entram em campo E picam o couro Quem vem de lá, Sou eu morena, Abre a porteira Que eu quero passar. Vermelho e preto Sinal de guerra É o ITUANO Que estremece a terra!



