das histórias do Livro
Duas Mulheres
As imagens são de um imaginário. Quanto aos fatos, assim aconteceram.
Duas Mulheres Uma história já muitas vezes contada, da oralidade à escrita. E diferentes escutas.
CERTO DIA, o Deus que Abraão conhecia falou com ele: — “Um filho gerado por você mesmo será o seu herdeiro”. (Gênesis 15:4). Então, Deus pediu para Abraão olhar para o céu e contar as estrelas, se ele conseguisse contá-las, e afirmou que assim seria sua descendência. E ele acreditou naquelas Palavras de Deus.
Abraão já era idoso. Sua esposa Sara, idosa também. Não tinham filhas e nem filhos.
O TEMPO PASSOU e passou, e nada da gravidez de Sara.
Como Abraão continuaria acreditando nas Palavras de Deus? E quanto à Sara? Era humilhante para uma mulher não ser mãe. Era preciso ter filhos, filhas, só assim perpetuava o nome do seu marido, só assim perpetuava uma família. E isso deveria ser feito para constar na memória e na história em cada geração. Então, Sara, que não podia ser mãe, pelo menos até aquele momento e não via outra solução, tomou uma decisão, seu marido teria um filho de sua escrava Hagar. Nada ilegal aos costumes de seu povo. Abraão não conversou com Deus sobre essa decisão, ele até podia, mas apenas aceitou o que Sara propôs. E o que pensava Hagar de ser a mãe do filho de um homem que é marido de outra mulher? O que isso traria de bom? Hagar era estrangeira, uma egípcia, a escrava de Sara. Como escrava não tinha escolhas, aliás, a obediência deveria fazer parte de sua vida, ela não era dona de nada, nem de si própria. Contudo, quem interferiria no destino?
E assim aconteceu. Hagar ficou grávida.
POR UM MOMENTO, Hagar até gostou dessa situação, sentiu-se importante por estar esperando um filho de Abraão. Porém, momentos muito difíceis vieram, complicada relação entre ela e Sara. Parece que isso não estava dando muito certo. O final da gravidez chegou. Nasceu Ismael. Abraão tinha oitenta e seis anos. A senhora e a escrava. Duas mulheres lutando e trabalhando para que o nome e a herança de um homem perpetuassem. Nada fácil.
MAIS TARDE, aos cem anos de idade, Abraão teve seu segundo filho, agora com Sara que tinha mais de noventa anos. Seu nome era Isaque. Considerado o milagre de Deus. Na realidade, considerado o filho prometido por Deus, gerado pelo casal. Dois filhos, um de Hagar e outro de Sara. Talvez essas duas mulheres até quisessem ficar juntas, ver seus filhos ali juntos. Talvez... talvez. Mas não deu certo mesmo a convivência entre elas. Então, a família foi desfeita. Bem, aqui ainda não é o fim da história.
NESSA HISTÓRIA, Deus não condenou ninguém. Deus nunca abandonou Hagar. Deus nunca abandonou Sara. Com o passar dos anos, uma grande nação surgiu com Ismael, como o Anjo de Deus tinha falado para Hagar: “Multiplicarei tanto os seus descendentes que ninguém os poderá contar”. (Gênesis 16:10). E como também Deus falou para Abraão quando este lhe pediu que Ismael fosse seu herdeiro: “E no caso de Ismael, levarei em conta o seu pedido. Também o abençoarei; eu o farei prolífero e multiplicarei muito a sua descendência. Ele será pai de doze príncipes e dele farei um grande povo”. (Gênesis 17:20). Assim, geração vai e geração vem, e a terra continua sendo povoada com filhas e filhos.
Os diálogos citados são da tradução da Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. Existem várias Bíblias e livros que apresentam a história de Hagar e Sara com comentários e estudos, como também artigos e ensaios acadêmicos publicados em periódicos. Assim, é possível conhecer mais os fatos e diferentes perspectivas sobre essas duas mulheres.
VANUSA LIMA – educadora e assistente social. Conta história com os livros há mais de trinta anos. Seus estudos focam o livro, a leitura e a infância. DÉBORA LIMA (lima.de) – artista visual. Seu trabalho envolve múltiplas linguagens e permeia a pesquisa artística e acadêmica, tendo como temática as relações entre criação-espaço.
.2022. contação de leitura .