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Henrique Motta e Gloria Faria

Metaverso: algumas reflexões sobre esse (ainda) pouco conhecido mundo novo e suas possíveis relações e impactos nos seguros

Henrique Motta1 Maria da Gloria Faria2

Resumo: Metaverso, ou novo mundo de realidade virtual, é uma recriação ou réplica da realidade por meio de recursos digitais, que abre novas fronteiras de mercado por um acesso virtual paralelo e/ou replicante da realidade. Pode ser utilizado para fins lúdicos, de consumo, educacionais, eventos, treinamento, trabalho remoto e muitos outros. Sua popularização virá com o avanço da tecnologia e barateamento dos óculos que permitem o acesso a esse novo mundo. A aplicação direta, no universo dos seguros, quer na sua comercialização como no marketing, é apenas uma questão de tempo. Indiretamente já são sensíveis seus impactos.

Abstract: Metaverse or new worldo o virtual reality, is a recreation or replica of reality through digital resources, which opens new market frontiers through a parallel virtual access and/or replicatior of reality. It can be used for recreational, consumer, educational, events, training, remote work and many other purposes. Its popularity will come wth the advancement of technologyan cheaper glasses that allow accaess to this new world. The applcation in the worldo of Insurance, both in its commercialization and marketing is just a matter of time.

Palavras-chave: Metaverso; realidade virtual, avatar, mercado de seguros.

Keywords: Metaverse; virtual reality, avatar, Insurance Market.

Sumário: 1. Introdução – 2. Origem do termo metaverso – 3. Metaverse(o) 30 anos depois – 4. E como funciona(rá)? – 5. Metaverso e o seguro – 6. Conclusão.

1 Henrique Alberto Faria Motta, é advogado, vice-presidente do GNT de Inovação da AIDA, sócio-diretor de Motta & Faria Advocacia. 2 Maria da Gloria Faria é advogada.

Introdução

Metaverso é o nome dado ao mundo de realidade virtual que recria ou replica a realidade por meio de dispositivos digitais. Em resumo, é uma nova forma, de conectar-se, que se tornou possível com as melhorias no hardware e na infraestrutura tecnológica. Os computadores pessoais e internet fixa avançaram, assim como o celular e internet móvel se sofisticaram permitindo a conexão com óculos de realidade virtual, a porta de entrada do Metaverso e por fim, mas não menos importante, a chegada da 5G com a promessa de ser 20 vezes mais rápida que a conexão 4G.

Origem do termo Metaverso

O termo metaverso, originalmente metaverse, foi cunhado por Neal Stephenson,3 no seu livro de ficção científica “Snow Crash” (Nevasca) para denominar um espaço de realidade virtual em que avatares interagem com (outros) humanos e programas de computador, que atuam por seu usuário. Publicado em 1992, o personagem central, Hiro Protagonist, no mundo virtual um hacker samurai, é, na realidade, um entregador de pizzas de cerca de 30 anos. A ação se passa em Los Angeles, em ano indefinido do século XXI, com o território dividido e dominado por organizações privadas e empresários em um regime anarco-capitalista. O Metaverse, a realidade virtual imaginada pelo autor, é um ambiente com uma única via de 100 metros de largura que circunda um planeta, preto e totalmente esférico, habitado pelos avatares dos usuários da internet do futuro.

Metaverse(o), 30 anos depois...

Quase três décadas se passaram, quando em outubro de 2021 foi anunciado o novo nome do Facebook: Meta. O novo Facebook, i.e., o Meta, como declarado por Mark Zuckerberg, se propõe a ser um espaço para diversão e conexões em 3D, onde as pessoas poderão estar juntas, trabalhar, se comunicar e participar de jogos “no conforto dos seus lares”. Inaugurou-se assim, um novo capítulo na história das redes sociais, onde o metaverso passa a conectar as pessoas por VR, aka virtual reality.

3 Neal Stephenson, escritor norte-americano, nascido no Texas em 1959 é especializado em “speculative fiction” ou science fiction. é autor de “Cryptonomican” uma ficção histórica (1999), The Diamond Age: or a Young Lady’s Illustrated Primer” (1995), Anathem (2008) dentre outros.

Nas palavras da CEO da Microsoft, Satya Nadella4 Metaverso é o futuro, é uma transformação brutal que vai acelerar sensivelmente o desenvolvimento tecnológico dos mais diversos setores. É um mundo que está só começando. Vai transformar as áreas de medicina, programação (tecnologia), educação (experiência mais engajadora do aluno). Estamos no início da jornada.

E como funciona(rá) o Metaverso?

O metaverso já vem sendo utilizado há tempos, tendo ganho maior impulso, recentemente, em vários setores para além dos jogos, sua primeira e ainda dominante forma de aplicação.

De empresas do segmento de moda a bancos privados, muitos já utilizam o metaverso no marketing, treinamento de pessoal, para experimentação, vendas de produtos e serviços. Podemos citar exemplos como a Nike, Ralph Lauren, Itaú, Stella Artois, Lojas Renner, Fortnite.

Na área médica, mais especificamente, na ortopedia impressões 3D e realidade virtual, técnicas minimamente invasivas e robótica estão revolucionando os tratamentos ortopédicos. De acordo com o Dr. Leandro Ejnisman,5 os óculos de realidade virtual já têm sido usados em treinamentos cirúrgicos. Um dos maiores desafios que existem em cirurgia é ensinar a técnica cirúrgica, que envolve o lado motor do cirurgião. Algumas empresas ortopédicas e startups estão desenvolvendo mecanismos que possibilitam cirurgias virtuais, com uso de óculos de realidade virtual, permitindo o treinamento sem expor o paciente.

O lúdico

A Meta6 lançou em dezembro de 2021 o Horizon Worlds plataforma do metaverso que permite aos usuários reunirem-se com amigos para conversar, jogar e até mesmo, construir espaços virtuais personalizados.

4 Satya Nadella, CEO da Microsoft desde 2014, engenheiro, nasceu em Hyederabad, India, 1967, autor de Hit Refresh: The quest to discover. 5 Dr. Leandro Ejnisman, médico ortopedista e traumatologista especializado em quadril pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. 6 Meta – Nova denominação do Facebook, a empresa declara que sua visão é “dar vida ao metaverso” “com um futuro criado por todos nós” “ele será criado por pessoas de todo o mundo e aberto a todos”.

“Horizon Worlds” será um mundo de realidade virtual de avatares para usuários a partir de 18 anos que já pode ser acessado em países como EUA e Canadá, e que entre nós ainda não se encontra acessível. O preço aproximado do Oculus Quest 2, equipamento indispensável para entrar no Horizon Worlds está em torno de R$1.600,00. Ainda com maior utilização na área de jogos virtuais foi, paralelamente, anunciado um novo jogo laser, tag da plataforma, denominado Clash Arena.

O Axie Infinity é nº 1 da lista dos maiores games do metaverso, um jogo de batalha onde os usuários enfrentam seus AXIES (criaturas ou personagens) em tempo real. Nos moldes desse novo mundo de playto-earn, 7 com apostas e negociações, tem como moeda local o token AXS, que teve uma valorização de 18.000% no final de 2021, sendo uma das criptomoedas Metaverso mais promissoras do momento. Fazendo parte da lista, podemos citar ainda Drunk Robots, Sunflower Land,Ascenders (na rede Avalanche-AVAX), Metashooter e Genesis Worlds.

Metaverso no mercado de seguros?

Se voltarmos no tempo, o nascimento do seguro se deu através de grupos de armadores contribuindo para um fundo – os precursores dos clubes de P&I8 - com o objetivo de diluir entre as frotas de navios mercantes, os prejuízos oriundos de suas travessias marítimas de comércio.

Com o passar dos anos tal ideia de proteção de risco se expandiu, surgiram as seguradoras, e se multiplicaram as coberturas, sendo criados os mais variados ramos de seguro, com uma grande gama de produtos que continuam se atualizando e novos sendo criados para atender as necessidades da vida atual e da proteção aos novos riscos.

7 Play-to earn: literalmente jogar-para-ganhar, se refere aos jogos que incluem apostasy, perda e ganhos com crypto moedas, geralmente próprias. 8 P&I – Protection & Indemnity, forma de proteção de riscos, não cobertos pelo seguro marítimo, que são assumidos pelos Clubes de P&I, formado por armadores, para suas embarcações. O reembolso dos prejuízos advindos de um sinistro, é feito por meio do fundo para o qual contribuem todos os membros, não havendo pagamento anterior de prêmio. A cobertura de P&I é complementar visando minimizar não seguradas ou seguráveis.

A digitalização do setor de seguros que já vinha se desenvolvendo para atender a demandas de competitividade e mesmo legais e regulatórias, como no caso da LGPD e outros normativos, foi acelerada pelas restrições impostas pela Covid-19. As rotinas e protocolos internos com necessidade de atualização e treinamento dos funcionários e colaboradores, exigiram novos approaches. A tecnologia e a inovação vieram para ficar na rotina das companhias e nas suas estratégias de negócio. Apenas a título de ilustração, citamos a MAG, seguradora especializada em vida e previdência, do grupo Mongeral Aegon que, como declarado por seu Superintendente de Gestão e Relacionamento,9 já enxerga uma série de oportunidades e desafios no metaverso, tais como a possibilidade de treinamento de corretores através de imersão em uma plataforma com informações em tempo real, além da possibilidade de realização de reuniões e interlocução com múltiplos corretores de todo o Brasil, também online. Bruno Costa acredita ainda na possibilidade da utilização da tecnologia para educação financeira no seguro, e na sensibilização dos consumidores sobre a importância do seguro de vida, ainda com grande capacidade de expansão entre nós.

Impactos do metaverso no seguro

Na Inglaterra vem sendo monitorado e já se faz sentir o impacto do metaverso no mercado segurador. A Ativa UK, seguradora inglesa, apontou um aumento de 31% em 2021, nos sinistros de danos e acidentes pessoais em ambiente doméstico, tendo como exemplos, quebra de lâmpadas e ventiladores de teto, danos em móveis e aparelhos eletrônicos, inclusive com lesões corporais, decorrentes da utilização de fones de ouvido e óculos de realidade virtual.

O Wall Street Journal noticiou em abril de 2022, o aumento de lesões relacionadas ao metaverso, incluindo ombros deslocados e namoradas feridas. A matéria menciona que pessoas também conseguiram lesionar várias partes do corpo enquanto se engajavam em mundos virtuais, como o caso do garoto de 14 anos que fraturou a rótula ao perder o equilíbrio depois de jogar Superhot VR, informou o jornal.

9 Superintendente de Gestão e Relacionamento da MAG – seguradora de vida do grupo MONGERAL.

Conclusão

Os avanços tecnológicos estão chegando em velocidade e alcance exponenciais e ganhando espaço em todos os setores, trazendo desafios e soluções que serão aproveitados conforme a maior visão e a dose de ousadia. O setor segurador já faz tempo vem reformulando seu perfil tradicionalista e timidez para inovar. A regulação tenta acompanhar as novidades com a cautela devida ao seu papel, mas também terá que acelerar sua atuação e ser flexível na adoção do que possibilitará permitir práticas, modelos e produtos que atendam aos novos tempos e ao novo consumidor. O metaverso estará no centro desses movimentos e pressionando o comportamento dos usuários e da sociedade, independente da esperada normatização das criptomoedas.

Com os exemplos trazidos, já fica possível vislumbrar o aumento de utilização do seguro saúde, do DIT seguro de Diária de Incapacidade Temporária, e até mesmo do seguro de vida no caso de acidentes fatais. Resta saber o quanto o setor segurador e em que velocidade, adotará o metaverso a seu favor e de seus segurados.

Bibliografia

NEAL STEPHENSON – “Snow Crash: A Novel” no Brasil, “Nevasca” editora Aleph, 2008.

CATHY HACKL, DIRK LUETH, TOMMASO DI BARTOLO, JOHN ARKONTAKY, YAT SIU – Navigating the Metaverse: A Guide to Limitless Possibilities in a Web 3.0 World (English Edition) – 2022.

KAI-FU LEE – Inteligência Artificial – Globo Livros.

CAROLINE KALIL POSADA – O METAVERSO SIMPLIFICADO – Guia Prático de Estudo – Kindle.

GUY PERELMEUTER – FUTURO PRESENTE – 2019 – O Mundo movido à Tecnologia – Companhai Editora Nacional.

MARCELO DANTAS – Artigo – O metaverso e as novas perspectivas para o e-commerce – 10/05/2022, e-commercebrasil. com.br/artigos/metaverso-perspectivas-e-commerce

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