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Maria Clara dos S Leite Ribeiro Vidas Secas na cidade

Maria Clara dos Santos Ribeiro Leite

Vidas secas na cidade

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Enquanto subia as escadas para o palco, ao som dos gritos de orgulho e celebração da sua mãe e do seu irmão mais velho, o menino mais novo sentia um misto de alegria por estar se formando e tristeza por não ter seu pai ali com a família comemorando. A cada vez que dava um passo e estava mais próximo do seu diploma, uma lembrança vinha à tona.

Lembrou-se da chegada da família à cidade. Tiveram que morar por muito tempo na casa da prima de quinto grau da mãe, sem o apoio dela o menino mais novo reconhece que a família não conseguiria ter tudo que tem hoje. Foi graças à indicação da prima que Sinha Vitória conseguiu seu primeiro emprego. A expatroa da sua mãe também foi um grande suporte, ela sempre ajudou Sinha Vitória com comida e roupas que foram necessárias durante um longo tempo da vida deles.

Durante muito tempo, o menino mais novo viu seu irmão chegar da escola chorando e sendo reconfortado pela sua mãe com abraços. Ele sabia o que estava acontecendo com o irmão, ele passava por isso todos os dias, a única diferença era que ele chorava na calada da noite porque via que sua família já tinha muitas outras preocupações. Hoje, no dia da sua Formatura, com vinte e cinco anos, ele entendia que todo aquele choro era fruto de preconceito.

Faltava um dia para completar quatorze anos quando recebeu a notícia mais triste da sua vida. Ele nunca se esqueceria do dia em que estava brincando com os amigos na quadra do morro e seu irmão chegou para avisar que ele precisaria voltar para casa. Quando chegou em casa, se deparou com sua mãe no chão, balbuciando enquanto chorava sem parar. Foi seu irmão quem lhe deu a notícia de que a polícia havia feito uma chacina durante uma operação e matado Fabiano.

O menino mais novo viu seu pai sendo morto injustamente, assim como vários outros brasileiros. E além do constante sentimento de tristeza que nunca foi embora, as lembranças sobre o dia mais triste de sua vida, despertava também sentimentos de raiva. A morte de Fabiano deixou várias cicatrizes na vida do seu filho mais novo, que mesmo lidando com a brutalidade do seu pai durante anos da sua vida, sabia que era daquela forma que ele demonstrava amor.

Um grande suporte ao menino mais novo foi um professor de história que surgiu na sua vida pouco tempo depois da morte de Fabiano. O professor mostrou a ele uma nova perspectiva da vida, dando a ele esperança de que um dia as coisas realmente poderiam melhorar. Foi graças a esse professor que o menino mais novo decidiu cursar advocacia e tentar tornar o mundo um ambiente mais justo.

Jamais esqueceria todo o preconceito e dificuldade por que sua família passou. Olhando para o diretor que tinha em mãos o seu diploma ele só conseguia sentir gratidão ao seu irmão, sua mãe, à prima e ao professor que foram peças fundamentais para o seu crescimento e evolução.