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Diferenças nas regras entre o Boxe olímpico e o Boxe Profissional

Boxe Olímpico

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Entidade Reguladora AIBA (Internacional Boxing Association)

Boxe Profissional

WBC (World Boxing Council)

WBA (World Boxing Association) WBO (World Boxing Organization) IBF (International Boxing Federation)

Quantidade de Rounds Masculino e Feminino (adultos)

3 rounds de 3 min e 1 min de intervalo Competições duram em média de 5 a 15 dias. É possível os atletas realizarem de 2 a 6 lutas para se consagrar campeão

Pesagem Realizada todos os dias em que o atleta lutar A pesagem acontece no mínimo 3 horas antes do início da sessão das lutas.

Vestuário Masculino e Feminino: regata e calção nas cores dos corners, em vermelho, azul ou cores da bandeira do País.

Demandas energéticas do Boxe Olímpico

Masculino: de 4 a 12 rounds de 3 min com 1 min de intervalo

Feminino: de 4 a 10 rounds de 2 min com 1 min de intervalo.

Competição realizada em apenas um dia, o atleta realiza somente uma luta.

Os atletas realizam a pesagem de 24 a 36 horas antes do combate.

Masculino: calção de qualquer cor.

Feminino: calção e top de qualquer cor.

Considerar a duração de 11 min das lutas no Boxe Olímpico (somandose os tempos de rounds e intervalos) é fundamental para adequar a corrida na preparação física do boxeador. Nesse sentido, quais os tipos de corrida podem ser utilizados de acordo com a duração da luta e as características do Boxe Olímpico moderno?

Em um estudo realizado sobre as demandas energéticas e respostas fisiológicas na luta de boxe Nassib et. Al, (2017) revelou que as lutas de boxe estressam o sistema de metabolismo lipídico tanto durante o combate, quanto após a luta (por pelo menos 24 horas), mesmo que seja amplamente reconhecido que o boxe é composto principalmente de esforços anaeróbicos repetidos de curta duração. Os autores citam ainda que o boxe requer um condicionamento anaeróbio significativo e opera dentro de um sistema aeróbio bem desenvolvido. Neste contexto, estima-se que a energia produzida para cumprir a demanda metabólica de uma luta de boxe seja em torno de 70-80% advinda da via anaeróbia e 20-30% da via aeróbia. Assim, parece que o desempenho no Boxe Olímpico é dependente da interação entre os sistemas de energia anaeróbio e aeróbio (Smith; 2006).

Delvechio (2011) afirma que os curtos períodos de intervalo (1 min) entre os rounds da luta evidenciam a natureza intensa do combate e ratifica o papel crítico desempenhado pela glicólise anaeróbica em sustentar a ressíntese de ATP durante o combate. El Ashker et. al (2018) diz que o Boxe Olímpico é caracterizado por episódios intermitentes de atividades de alta intensidade intercalados com momentos de atividade e recuperação passiva. Nesse mesmo estudo, os autores mostram que o metabolismo anaeróbio fornece energia para as ações curtas de alta intensidade durante a luta tendo estas ações caráter decisivo no combate.

Em um estudo realizado sobre o lactato sanguíneo e o equilíbrio ácido básico em boxeadores olímpicos em lutas internacionais de 3 rounds de 3 min, Hannon (2015) sugere que os melhores boxeadores de classe mundial são capazes de atingir uma alta intensidade física durante os 3 rounds e suportam um alto nível de acidose durante o combate, variando de 11,4 ± 1,5 a 17,0 ± 2,3 mmol/L

Em uma avaliação de lutas simuladas realizadas em 2020 no Laboratório Olímpico do COB, foi possível observar altos valores do lactato sanguíneo (figura 1) em atletas de nível internacional das classes feminina e masculina da Seleção Brasileira de Boxe, corroborando com os achados de Hannon (2015).

No Boxe Olímpico moderno pode ser observado um alto número de ações ofensivas com um grande volume na quantidade de socos lançados, intercalando estas ações ofensivas com movimentos de pernas nos deslocamentos em todos os sentidos do ringue e ações defensivas. Davis et. al (2014) comparou vencedores e perdedores nas lutas de boxe nas semifinais e finais dos Jogos Olímpicos de Londres e mostrou que a razão E:P (esforço: pausa) foi de 18:1 nas lutas em favor dos vencedores, destacando assim um alto número de ações perante a momentos de recuperação realizado pelos vencedores.

Neste contexto, é preciso estar claro no entendimento dos treinadores que esta característica de luta do Boxe Olímpico (alta intensidade, intervalada, intermitente e média duração) é o que vai determinar a escolha dos tipos de treinamentos de corrida quando relacionados à duração da luta.

Métodos de Corrida

O tipo de corrida mais utilizado nos treinamentos para a preparação física dos boxeadores é a corrida diária, contínua, de intensidade moderada e longa duração, que normalmente varia de 40 a 60 min. Corridas com tiros de velocidade (sprints) de 40 a 100 m e subindo ladeiras ou escadas, também são frequentes nos treinamentos de boxe Mas, como esses estímulos de treinamento de corrida estão alinhados às metas de preparação física? Presente no período geral, competitivo e transitório, essas metas incluem o aumento da resistência e capacidade cardiorrespiratória, o controle de peso ou funções regenerativas.

Assim, no contexto do treinamento esportivo, a corrida no boxe remete a duas abordagens metodológicas: contínua e intervalada. Segundo Macedo (2007), o método contínuo é caracterizado por longa duração (>40 min) com intensidade de baixa a moderada (60% do consumo máximo de oxigênio ou cerca de 70% da frequência cardíaca máxima), o método intervalado ou intermitente em alta intensidade caracteriza-se por diversas combinações de séries entre esforço e recuperação em alta intensidade (>90% da velocidade, frequência cardíaca ou consumo de oxigênio máximo) (apud PATON; apud HOPKINS, 2004; apud SEILER; apud TØNNESSEN, 2009).

O mesmo autor ainda cita que o treinamento intermitente de alta intensidade é definido por séries repetidas curtas (≤ 60 segundos) ou longas (≥ 60 segundos) de esforços em alta intensidade, alternada por períodos de recuperação, envolvendo atividades passivas (sem esforço) ou ativas (com esforço leve) (apud BILLAT, 2001; apud BUCHHEIT; apud LAURSEN, 2013a; apud SEILER; apud HETLELID, 2005). Para Thomson (2017) os boxeadores podem considerar a escolha do treinamento intervalado de alta intensidade (> 90% VO2max) em antecipação a outros exercícios que resultem em melhorias no condicionamento aeróbico.

Integrada como parte fundamental no treinamento físico do boxeador, tanto nos treinamentos específicos, quanto no ringue, a corrida contínua, diária, de longa duração e intensidade moderada é a escolha mais comum, e também a mais utilizada por grande parte dos treinadores. Porém, considerando a duração de uma luta e as características do combate no Boxe Olímpico moderno, será esse método de treinamento de corrida a escolha mais apropriada? Com base nas características da luta (alta intensidade, intervalada, intermitente e curta duração), parece necessário uma revisão desta tradicional corrida como forma de treinamento físico do boxe.

Propostas de corrida relacionadas com o tempo de duração da luta e as características do Boxe Olímpico

Com base nas características da luta do boxe olímpico moderno e seus métodos de treinamento relacionados, vamos apresentar três propostas de treinamento em corrida para a preparação física do atleta de boxe, buscando cumprir com as especificidades de duração e intensidade da luta.

Baseada no Weltman teste (Weltman, A et al, 1987), a primeira proposta de corrida inclui um percurso de 3200m, oito voltas na pista de atletismo, realizadas no menor tempo possível. Atletas com ritmo médio entre 4:30 min/km e 3:30min/km, o que configura tempos de corrida entre 10:56min a 14:16min, atingem intensidade e duração similares às demandas do Boxe Olímpico; sendo assim, uma escolha recomendada para boxeadores de alto rendimento

Outra proposta, que pode ser usada como treinamento de corrida para os boxeadores, é utilizar a estrutura dos 3 rounds de 3 min por 1 min de intervalo como uma corrida intervalada. Este treinamento é realizado com base no Yoyo teste, de Jens Bangsbo (Bangsbo, J., et al. (2008)) Numa distância de 20m, com deslocamento de ida e volta na maior velocidade possível durante 3 min, o atleta repete a ação por 3 vezes, recuperação de 1 min, assim como a luta no Boxe Olímpico.

Além de poder utilizar como forma de um treinamento de corrida intervalada cumprindo com a especificidade exata do tempo de luta, também é possível utilizar o mesmo treino como teste físico de desempenho, realizando em cada round o somatório da distância percorrida. O teste pode ser aplicado em momentos chave ao longo da temporada para se verificar se as adaptações físicas esperadas no processo de treinamento estão ocorrendo de maneira satisfatória.

Para mensurar a distância percorrida por round e o total da distância do treinamento, existem duas opções: utilizar um aplicativo para cálculo da distância na forma digital ou anotar quantas vezes o atleta faz o percurso de ida e volta, e multiplicar por 40. Por exemplo, o atleta em um round realiza o percurso 15 vezes, de ida (20m) e volta (20m), então o atleta percorreu 600 m em 3 min. Ao final dos três rounds o treinador terá a distância total percorrida, e assim, tem condições de avaliar o desempenho atingido por seu atleta.

A terceira forma de treinamento de corrida, é baseada no método Fartlek de Gösta Holmér (Daniels, A, 2012) Com alterações da intensidade numa corrida (trote, corrida leve ou máxima) de 12 min, o treinador alterna os estímulos por comando sonoro (Tabela 2) em correspondência às ações intermitentes da luta. Essa opção de treino de corrida remete ao tempo de combate, aos estímulos intermitentes, às variações de intensidade e os momentos de recuperação ativa no trote, adequando-se, assim, às características do Boxe Olímpico.

Conclusão

Com base na duração e na intensidade de luta no Boxe Olímpico, a corrida contínua, diária, de longa duração e intensidade moderada não seria a escolha apropriada para cumprir com os princípios de especificidade no treinamento de boxe, no que diz respeito a duração da luta e suas demais características. As corridas intervaladas, intermitentes ou contínuas de curta e média duração com intensidade alta, apresentam-se como uma alternativa mais apropriada quando relacionadas à duração total da luta e as demandas fisiológicas do combate.

Referências Bibliográficas

1. INTERNATIONAL BOXING ASSOCIATION. Technical Competition Rules 2020.

2. DAVIS, Philip; LEITHÄUSER, Renate M.; BENEKE, Ralph. The energetics of semi-contact 3× 2-min amateur boxing. International journal of sports physiology and performance, v. 9, n. 2, p. 233-239, 2014.

3. DELVECCHIO, Luke. Profiling the physiology of an amateur boxer. J Aust Strength Cond, v. 19, p. 37-47, 2011.

4. EL-ASHKER, Said et al. Cardio-Respiratory Endurance Responses Following a Simulated 3× 3 Minutes Amateur Boxing Contest in Elite Level Boxers. Sports, v. 6, n. 4, p. 119, 2018.

5. HANON, Christine; SAVARINO, Jean; THOMAS, Claire. Blood lactate and acid-base balance of world-class amateur boxers after three 3-minute rounds in international competition. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 29, n. 4, p. 942-946, 2015.

6. MACEDO, Zanon Kosowski de. Preparação física aplicada a esportes de combate (Muay Thai), 2007

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