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conexões do mercado suely temporal
conexões do mercado
SOBRE SUELY TEMPORAL Suely nasceu na Bahia. Mas seu coração vive dividido entre o frevo, o maracatu, o samba e o axé. É jornalista, empresária e apaixonada por comunicação. Empresária, presta assessoria e consultoria para grandes corporações nacionais e internacionais. Tem os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Como boa aquariana, vive à frente do seu tempo, sempre pensando no amanhã porque o hoje já tem quem cuide.
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Suely Temporal Diretora - ATcom - Estratégia, Relacionamento e Conteúdo /agenciaatcom www.agenciaat.com 71 3271.7171 / 9 9918.9633
o que quer e o que pode esta língua
Imagems: Divulgação T odos os dias, no meu home office, recebo invites para meetings e conferences call nos quais recebo um brief de um job com deadline apertado. Nesses meetings, tenho que apresentar um paper ou um power point com um report em bullets points acerca dos issues enquanto espero o download dos arquivos enviados pelo wetransfer. Quando fico muito cansada, deixo o áudio e o vídeo em off e peço licença para ir ao toilet. Make um pipis ou retoco a make up, chegando a tempo de voltar e participar do brain storm. No mundo globalizado, a cada dia são introduzidas no nosso vocabulário, palavras e termos estrangeiros que vão aos poucos substituindo os vocábulos nativos. Também fora do trabalho não estamos livres dos estrangeirismos. No comércio não se faz mais liquidação, faz-se uma sale.
Ninguém mais viaja, faz uma trip. Ninguém mais merenda, faz um brunch. Todo mundo quer ter um crush para levar à festa na piscina que é uma pool party. Em casa pedimos um delivery e a hora do cafezinho virou coffee break. O mais interessante é que não estamos mais falando português e nem percebemos. Ou será que percebemos e não nos importamos? Também não percebemos ou parecemos não nos importar se todo mundo está entendendo o que estamos falando. O pior é quando achamos que quem não entende é que está errado porque não é cult ou in. Já disse o poeta Caetano Veloso, parafraseando Fernando Pessoa, outro grande poeta da língua portuguesa: “minha pátria é minha língua”. É fato que o idioma nos distingue enquanto nação, enquanto povo. Então, cultuar a nossa língua significa prestigiar nossa identidade. Mas, se nossa pátria é nossa língua, por que não dizemos que vamos à uma reunião em vez de meeting, que estamos fazendo um trabalho ou serviço em vez de job... Ou que temos um prazo em vez de deadline e assim por diante? Por que preferimos fazer um call em vez de telefonar ou dar um by pass em vez de passar adiante? Preferimos colocar os arquivos na cloud. Fazer um teaser para gerar network na live. Talvez você me convide para uma rave onde poderemos curtir um reggae. Entretanto, alguns estudiosos em idiomas e linguística afirmam que a linguagem é algo vivo que vai se modificando com o passar do tempo, especialmente aquela que é falada e não escrita. Foi assim que construímos nosso idioma brasileiro que é primo irmão da língua falada em terras lusitanas, mas que tem o seu borogodó... Aqui fazemos uma pausa para explicar o significado de borogodó (“atrativo pessoal irresistível”). Aliás, borogodó é um termo que não existe oficialmente no idioma de Camões. É um regionalismo autenticamente brasileiro. Um produto nacional. A esta altura o amado leitor deve estar se perguntando qual é o ponto ao qual esta que vos escreve quer chegar. E eu vos direi: nenhum porque não sou ônibus para chegar em um ponto. E já está provado que só é possível filosofar em alemão. E eu apenas gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões.conexões
