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Do conceito
Com o desenvolvimento do partido inicial do projeto e após os diagnósticos, entendemos serem três os nossos principais focos de trabalho na área e os pontos que sentimos maior necessidade de alteração: a relação com a rua, a relação com a natureza e a relação do local com o entorno. Relações estas, que os autores colocam sob a luz da reflexão e compõem o Referencial Teórico deste trabalho.
Entendeu-se por muito tempo, que a rua não é um lugar devido aos seres humanos (JACOBS, 2011, pág. 20).
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Ocupada pelos comerciantes, pobres e/ou rejeitados pela sociedade, a arquitetura e o urbanismo compreenderam o espaço das ruas como espaço a se manter distância, voltando, assim, todo o aparato arquitetônico e urbano para dentro de si mesmo, deixando a rua como uma grande barreira entre dois espaços. Assim, com esse tratamento ao longo dos séculos, a rua ocupa o espaço do mais importante não-lugar que produzimos em sociedade, tendo como fim último o de ligar espaço, jamais o de permanecer (ABBUD, 2006, pág. 25).
Com o tempo, nossa experiência em sociedade, assim tratando as ruas, deixa claro a nocividade da restrição de seu uso apenas para a passagem. Em conjunto com o título de não-lugar, vêm o vazio, o desconforto, a impessoalidade, o medo. E assim são as ruas da nossa área de alteração. Vazia de significado a não ser o próprio caminhar a algum lugar, se perdem em si mesmas, e além de perigosas, não corroboram para a imagem ambiental da região, restando ao desconhecido o uso do GPS.
Para além das áreas verdes, a região resguarda um ponto natural ainda mais sensível à ação humana, o córrego Capim-puba. Não é de hoje a importantíssima relação humana com os recursos hídricos e, analisar como este se encontra hoje, nos conta em retrospecto a interação homem-curso d’água. Como esclarece Diogo Isao e José arthur, no capítulo 2 do livro Projeto e Cidade:
“Para Mello (2014), os atributos das configurações espaciais que qualificam a vida urbana a partir da interação entre as pessoas e destas com os corpos d’água refletem a ótica do seu desempenho de urbanidade.” (ISAO e ARTHUR, 2017, PÁG. 43)
Benedito Abbud, em seu livro “Criando paisagens”, posiciona a água como elemento essencial do espaço onde se projeta, reforçando ainda mais a importância de usar o córrego como diretriz de projeto e entendendo o mesmo com fator formador e definidor da história não só da região, mas da cidade.
Por fim, a história expressa como entorno da região, compreende fator que integra as diretrizes antes estabelecidas e adiciona camadas de necessidades. Para fins de melhor compreensão, partimos do saber primário, mas tardiamente trabalhado na história, de que a arquitetura e o urbanismo acontecem circunscritos em um tecido que deve ser considerado quando há uma intervenção a ser feita. Muito, ao passar do anos, e ainda hoje, se projetou pensando nos limites de seu próprio lote, negando a possibilidades de comunicação com suas proximidades, driblando cada vez mais os pedestres e abrindo cada vez mais espaço ao esquecimento.
A compreensão tardia, e até hoje parcial, da necessidade da preservação do entorno do marco patrimonial, a chamada “arquitetura menor” (RUFINONI, 2013), traz enormes consequências à salvaguarda do patrimônio e até mesmo o inviabiliza. Como é o caso da Antiga Estação Ferroviária e da Praça do Trabalhador, marcos da área estudada e que se encontra por muitas vezes subutilizada e escondida em meio às largas avenidas e passarelas do BRT que acabam funcionando como grandes desfiladeiros que descolam o patrimônio da paisagem.
A escassez de trabalhos que se assemelhavam com a situação encontrada pelo grupo foi o maior desafio quanto às referências projetuais e os materiais de maior suporte acaba- ram sendo: o Plano Diretor de Goiânia, nos auxiliando na definição dos índices de ocupação, distâncias necessárias do corpo d’água, afastamentos e taxas de permeabilidade; para fins urbanísticos gerais o Guia Global de Desenho de Ruas, nos trazendo orientações quanto a experimentações e estudos fora da realidade que concebemos; e, por fim, para a compreensão de conceitos basilares do urbanismo, como a forma mais apropriada para uma quadra, para uma rua, para um lote, além de aprendizado quanto ao comportamento da topografia e como dialogar com esta, Loteamentos Urbanos, de Juan Mascaró.