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Editorial
80 ANOS DE INDÚSTRIA DE MOLDES EM PORTUGAL: ORGULHO NO PASSADO, CONFIANÇA NO FUTURO
Em 2025, assinalamos os 80 anos da indústria de moldes em Portugal um marco que vai muito além de uma efeméride. É uma celebração do engenho, da tenacidade e resiliência e da capacidade transformadora de um sector que moldou não apenas novos produtos, mas também conhecimento, territórios e gerações inteiras de especialistas. Um sector que cresceu com vocação industrial, com uma cultura de exigência e de rigor, e que se tornou, com justiça, uma referência internacional incontornável.
A história da indústria de moldes em Portugal começou com ideias simples, mas poderosas: transformar conhecimento em precisão, trabalho em engenharia, metal em solução. As primeiras empresas surgiram num contexto marcado por uma economia fechada, escassez de meios e ausência de políticas industriais consolidadas. E, mesmo assim, venceram.
Venceram porque souberam apostar no capital humano. Venceram porque perceberam que a qualidade e a rapidez de resposta podiam ser o seu selo diferenciador. Venceram porque olharam para os mercados internacionais como destino natural da sua ambição. E, sobretudo, venceram porque nunca ficaram imóveis, nem perante crises económicas, nem perante a pressão de mercados concorrenciais, nem perante as transformações tecnológicas globais.
Hoje, somos um dos três maiores exportadores europeus de moldes. Operamos com níveis de precisão de mícron Desenvolvemos soluções à medida para as indústrias mais exigentes do mundo, do automóvel até à aeronáutica, passando pelos dispositivos médicos, embalagem ou eletrónica. Somos reconhecidos pela nossa capacidade de co-criação e engenharia, pela flexibilidade produtiva e pela excelência técnica.
Contudo, este sector não é apenas feito de máquinas, projetos e prazos de entrega, é feito de pessoas. Pessoas que dedicaram décadas de vida ao ofício, que investem continuamente em tecnologia e formação, que transmitem saberes e valores. É uma indústria de identidade, de território e de comunidade. Nos territórios em que se desenvolve, a indústria de moldes não é apenas um motor económico, é parte do tecido cultural e social.
Mas celebramos este legado com os olhos postos no futuro. Porque esta é, convictamente, uma indústria de futuro.
Estamos a viver uma nova fase de transformação. A digitalização deixou de ser um conceito e tornou-se prática: produção conectada, sensorização, simulação digital, robótica e automação avançada. A inteligência artificial tem vindo progressivamente a ser implementada e apresenta novas soluções através da gestão de dados e informação, permitindo prever falhas, otimizar fluxos, acelerar decisões e personalizar soluções em tempo real. O fabrico aditivo, os materiais compósitos e os processos híbridos abrem novas possibilidades e estimulam a entrada em novos mercados.
A sustentabilidade é outro tema a ganhar relevância, não apenas por imposições regulatórias, mas também pelos desafios colocados pelos clientes que obrigam, paralelamente, a uma nova consciência empresarial e social e ao uso racional e eficiente de recursos. O futuro exige que sejamos tecnologicamente avançados, economicamente viáveis e ambientalmente responsáveis. E acreditamos que estaremos preparados para esse triplo desafio.
Porém, nenhum futuro se constrói sem talento. A escassez de mão-de-obra qualificada é uma realidade preocupante. Precisamos de atrair mais jovens para a indústria, mostrando que esta é indutora de carreiras de prestígio, alicerçada em conhecimento e tecnologia de ponta, com desafios constantes e impacto real em produtos de referência que conhecemos e utilizamos no nosso dia a dia.
A coesão do sector, o reforço da cooperação entre empresas, centros tecnológicos, clusters, associações e entidades públicas é outro pilar essencial. O futuro é colaborativo. A resposta às grandes transições (digital, energética e geopolítica) e à diversificação de mercados exige pensamento estratégico, reforço das competências de gestão, políticas e intervenções ambiciosas e um ecossistema que potencie inovação, conhecimento, investimento e internacionalização.
Ao longo destas oito décadas, provámos que somos capazes de competir com os melhores, agora, conseguindo ultrapassar em conjunto os desafios atuais, temos tudo para sermos protagonistas da nova geração industrial europeia. Portugal pode – e deve – reforçar o seu posicionamento como hub europeu de engenharia e fabrico de moldes de alta performance, combinando precisão, sustentabilidade, inovação e talento.
Homenageamos os pioneiros que abriram caminho para a criação da nossa indústria, os empreendedores que acreditaram, os colaboradores que fizeram acontecer e os jovens que tomarão a dianteira de um novo ciclo. Celebramos o passado, reconhecemos os desafios do presente, e afirmamos, sem hesitações: esta é uma indústria que continuará a moldar o futuro por mais 80 anos e além.
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Editorial por Manuel Oliveira, Secretário-geral da CEFAMOL