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Jorge Benvinda
Há dez anos marcava o panorama cultural e a vida nocturna bejense enquanto programador e o taberneiro mais conhecido da cidade na “saudosa” “Galeia do Desassossego”. Tinha recentemente fundado os Virgem Suta, com o Nuno Figueiredo. Entre as cantigas e a restauração – de que entretanto se retirou - Jorge Benvinda, qual Homem dos sete ofícios”, sempre extremamente activo, seja na banda, seja a solo, agora saboreando o bucolismo da aldeia da Cabeça Gorda, onde vive actualmente…
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Memória Alentejana - Jorge
Benvinda, saiu recentemente o teu último disco Vida A Dois, uma produção de João Pedro Coimbra. Com 10 temas, onde encontramos “Por Ti”, inspirada na tua filha. Queres apresentarnos este teu trabalho a solo?
Jorge Benvinda - Lançar este álbum foi um pouco o desafio de perceber como é que eu conseguia criar e fazer o máximo de coisas que pudesse aprender e pudesse estimular criativamente a arranjar soluções para as canções e para as gravações, para as vozes, para tudo o resto. Isto foi desafiante, sem dúvida. E viver este ano e meio de pandemia foi uma loucura, porque na realidade tinha este disco para lançar ainda antes da pandemia e para o promover em plena pandemia não tem sido uma coisa simples… mas o importante é estarmos activos, fazer o que gostamos, não parar e depois as coisas têm sempre o seu caminho normal e hão-de chegar às pessoas de uma forma ou de outra, atingir o seu objectivo, pois o meu objectivo é chegar às pessoas que gosto… e espero que gostem do meu trabalho. Eh pá, esta pandemia fezme pensar muito no futuro, estivemos num modo mais contemplativo, criativo, mas contemplativo também, de perceber como é que isto tudo ia acontecer, o que é que se ia passar, mas aos poucos isto vai voltando ao normal e
o trabalho vai vindo outra vez. Começa tudo a surgir… e estamos activos. O importante é que aja saúde (risos)… saúde e trabalho.
Recordo os tempos “gloriosos” em que tive o privilégio de frequentar a “Galeia do Desassossego” . Entretanto tinhas criado os Virgem Suta, com o Nuno Figueiredo, banda de referência, que gravou um álbum homónimo (2009), destacado pela crítica e que “emprestou” um tema para a banda sonora da telenovela “Olhos nos Olhos”. A reedição (2010) com dois novos temas e a g r a v a ç ã o d e u m D V D possibilitou a nomeação para Melhor Grupo nos Prémios Globo de Ouro da SIC. Entretanto gravaram Doce Lar (2012) e Limbo (2015). Como é que estão actualmente os Virgem Suta?
Os Virgem Suta estão bem. Estamos a gravar um novo álbum. Este ano, apesar de toda esta maluquice da pandemia, temos conseguido estar a tocar, estamos a tocar até bastante. Estivemos no Festival MED, em Loulé, estivemos a percorrer Portugal e ainda estamos com uns concertos marcados até ao final do ano. Entretanto estamos concentrados na gravação do novo trabalho e realmente. Éh pá, estou muitos saudoso de todos aqueles tempos mas a actualidade é esta e estamos cheios de vontade de fazer um trabalho novo e mostrar as coisas novas ao público.
Mas o teu percurso musical é diversificado. Na última década, enquanto músico e intérprete tens tido estado muito activo: como vocalista participaste em projectos como “Paião” , Canções de Roda, Lenga Lengas e Outras que Tais”, com o Sérgio Godinho, o Vitorino, Ana Bacalhau, Quiné Teles, Luís Peixoto ou Filipe Raposo. Foste músico convidado, entre outros, em espectáculos do Sérgio Godinho (40 anos de carreira), compuseste músicas para a tua banda, mas também para a Ana Moura, António Zamubujo, Carlos Leitão ou Beatriz. Em 2017 participaste no Festival da Canção com o Nuno Figueiredo com “Gente Bestial”. Entretanto tinhas aberto um restaurante, onde continuavas a “dar cartas”. Como compatibilizavas essa actividade na restauração com a criação musical e os espectáculos?
Em termos de incompatibilidades, eu já não trabalho com a restauração - fechamos em 2018 – mas na altura quando trabalhava com restaurantes e bandas tinha que gerir todo este processo de trabalho com as equipas aqui em Beja, era uma grande loucura (risos)… a realidade é essa: era uma grande loucura fazer tudo funcionar e não se conseguia estar em todo o lado em simultâneo mas trabalhava com pessoas de confiança que me ajudavam e… com isto tudo conseguia equilibrar o engenho do trabalho, conseguia fazer o melhor e estar da melhor forma para os clientes. Actualmente estou um bocadinho mais tranquilo, deixei a restauração e só estou a trabalhar com música e com os projectos com que estou envolvido.
Como é ser um “Homem dos sete ofícios” na cidade da planície, fora dos grandes circuitos e das eixos rodoferroviários? Apesar da pandemia acabas de gravar um disco, com edição de autor. Como tens vivido este já quase ano e meio de pandemia?
Ser “Homem dos sete ofícios” hoje em dia é quase uma necessidade, é difícil trabalhar com uma só coisa… pelo menos eu tenho essa necessidade, preciso de trabalhar em várias vertentes.
Tens novos projectos em curso? E em germinação?
Os meus novos projectos são: criar mais um disco do Jorge Benvinda, que estou a criar, acabar de gravar e lançar o novo disco dos Virgem Suta e começar também a viver um pouco mais da vida contemplativa (risos) e maravilhosa desta aldeia onde vivo…, viajar mais e cuidar um pouco mais de mim, que às vezes preciso – cuido pouco de mim. E.. temos que nos mimar (risos)… amar e ser amados: são os projectos de vida. E, fazer canções.
Queres deixar um lema para o futuro…
Neste momento sinto que é importante viver um dia de cada vez… temos estar cá, capazes de enfrentar o boi pelos cornos e viver esta vida maravilhosa, este jogo, esta dádiva que nós temos e que por vezes não nos apercebemos. Temos que ter coragem de a mimar (risos)…