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VHILS A
lexandre Farto nasceu em Lisboa em 1987 e cresceu no Seixal Vhils fez seu primeiro graffiti aos 12 anos na superfície de vários comboios da sua cidade, com a única pretensão de pintar o seu tag. A verdade é que a arte de rua sem ser encomenda corre o risco de ser sancionada e de se tornar vandalismo e Vhils, sem saber, fazia parte do que se chama de tagging.
Passou assim a graffitar em outras cidades de Portugal e depois um pouco por toda a Europa. Viajava para pintar comboios.
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Começou a trabalhar com técnicas como o stencil e já farto de pintar paredes ilegais, passou para os posters de publicidade, onde os pintava de branco e escava camadas de anúncios acumulados. Experimentou voltar às paredes e esculpi-las também, juntando-se aí a um grande impulsionador na sua vida artística, a galerista Vera Cortés, que o apoiou e promoveu em várias exposições.
Aventurou-se no exterior para estudar em Londres. Ali, em território anglo-saxão, conseguiu que a sua street art de retratos anónimos em paredes danificadas ou fachadas de casas abandonadas lhe valessem o conhecimento mundial.
Enquanto as áreas abandonadas do South Bronx continuavam a testemunhar uma intensa atividade de graffiti, as paredes da cidade de Lisboa foram preenchidas com esculturas em baixo-relevo de Vhils durante os primeiros anos do milénio.
Vhils revolucionou a abordagem tradicional a esta técnica clássica com o seu trabalho sobre a superfície dos edifícios, um ato que foi profundamente influenciado pelas transformações que o crescimento urbano português experimentou durante os anos 80 e 90. Vhils, ciente da reorganização dos espaços da cidade e da fragilidade de algumas fachadas, percorre não só o lado mais “superficial” delas, mas também os seus aspetos estruturais. Por isso gosta de modificar e “destruir” o ambiente.


Os seus retratos contrastam o novo com o antigo, de uma forma complexa e ambiciosa, mas poética.

Considerado um arqueólogo social e um artista com maior influência global, Vhils afirma que as portas (trazidas para Portugal de todos os cantos do mundo) absorvem histórias e que têm nelas camadas de momentos, de tinta que atravessaram muitos tempos e muitas histórias; de alguma forma procura encontrar o caminho certo para essas mesmas histórias. Momentos que ele, tenta eternizar nestes elementos que a cidade já não quer e que deita fora.

O olhar é sempre aquilo que mais facilmente identificamos como algo próximo a nós, o outro; essa relação do outro e aquilo que queria entre nós. O poder do rosto e do olhar é o poder de humanizar o espaço e os objetos que trabalha. Isso, é o poder da arte.
Nasce no final dos anos 80, numa família que tinha vivido intensamente a revolução, em que o seu pai tinha discussões políticas em casa, tendo feito jornais de parede, assim como teve envolvido no DP, como a sua mãe. Alexandre Farto cresceu assim com um olhar consciente da situação do país e das frustrações do após 25 de Abril.
Apesar disso, não eram as suas preocupações quando começou; era apenas um rapaz na sua fase de rebeldia que queria explorar o mun- do e sair da margem sul. “O próprio graffiti ensinou-me muita coisa de disciplina, de como poupar dinheiro para comprar latas (…), foi uma ferramenta de expressão”.
As paredes eram como um reflexo das transformações que aconteceram em Portugal e em que as camadas que cravava em Lisboa ou em Londres seriam diferentes das camadas que tinha encontrado em Moscovo, Xangai ou Kiev. Visto que cada sítio tem a sua história e os materiais são diferentes em cada cidade;
Um homem recatado e que acredita na importância do foco permanecer no trabalho e na mewnsagem que está no trabalho. Querendo estar fora do espaço mediático, mas ao mesmo tempo querer interagir nele.
Uma das intervenções de Vhils é a utilização de explosivos e tal como a fotografia mudou a arte, todos os meios tecnológicos que temos mudam o que é a perceção da arte (pirotecnia e explosivos).
Com a utilização de explosivos há uma grande rebentação, com fumo e a obra aparece. A única maneira de a vez é através de uma camara de slow motion que consegue transformar um segundo de explosão, num minuto que nos permite ver a obra nascer e desaparecer.
A arte para Vhils, é aquilo que é captado e não aquilo que fica.
Confrontado com a afirmação “O prédio é que vai agarrado à obra e não a obra que vai agarrada ao edifício” afirma, que o sistema arranjou uma maneira de se aproveitar dos artistas e dos movimentos que eram anti-sistema. Aborda isso como sendo natural e que não está nas mãos dos artistas.
“Aceitar que quando fazemos uma obra no espaço público, ela não é nossa; é da cidade. A cidade é que dita o final dela, como ditou o inicio também”.
O trabalho nasce mesmo como uma critica à desumanização da “urb” e é nesse confronto de ir às profundezas da cidade que Vhils procura a humanidade que se perdeu.


“Ver todo esse percurso e todo esse acumular de camadas, dos morais do 25 de Abril, esquecidos e queimados do sol, serem tomados por publicidade, por graffiti; serem pintados de branco; quase como se as camadas dessas paredes das próprias cidades tivessem se sobrepondo cada vez mais rápido com a evolução e com o acelerar do tempo. Todo esse caos é aquilo que me interessa perceber. É nessa exploração que eu tento encontrar uma ordem, que ainda não encontrei”.
