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1.1.A literatura popular: conceitos, história e exemplos

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

AS VOZES DO CORDEL: DA LITERATURA POPULAR E DA LITERATURA ORAL

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Nesse capítulo, aborda-se a literatura popular e oral, conceituando-as por uma perspectiva histórica. Apresenta-se a temática do cordel, esse gênero visto como literatura popular representante de uma tradição oral, destacando-se, nesse estudo, suas estruturas poéticas. Insere-se essa discussão na análise do longo poema Cante lá que eu canto cá (1978), de Patativa do Assaré, compreendido como literatura popular e, dentro desta, como literatura de cordel, na medida em que sua estrutura se firma sobre a metrificação e a divisão de estrofes utilizadas tradicionalmente por outros cordelistas pertencentes à tradição literária popular do nordeste brasileiro.

1.1 A literatura popular: conceito, história e exemplos

Denomina-se literatura popular a poética de tradição oral que apresenta um conjunto de formas simples de arte verbal do povo, muitas vezes composta por uma poesia feita para ser declamada ou cantada. Essa classificação literária também pode ser inserida nas categorias de textos da literatura tradicional ou etno-literatura. Podese dizer ainda, em outras palavras, que a literatura popular tem suas origens na tradição oral, sendo esta a mais antiga forma de expressão artística de um povo que se conhece ou ouviu falar. Conforme Vítor Manuel de Aguiar e Silva (1994, p. 116), literatura popular é “aquela que exprime de modo espontâneo e natural, na sua profunda genuinidade, o espírito nacional de um povo, tal como aparece modelado na peculiaridade das suas crenças, dos seus valores tradicionais e do seu viver histórico”. A literatura popular, portanto, de acordo com Ana Cristina Marinho e Helder Pinheiro (2012), é um tipo de patrimônio cultural que pode estimular e causar a conscientização sobre os conceitos e compreensão de mundo dos envolvidos nas práticas de leitura, seja na forma oral ou escrita. De acordo com Joseph Maria Luyten (1992), a literatura popular apareceu no Ocidente em duas etapas: a primeira, a partir do século XII, como manifestação leiga

independente do sistema de comunicação eclesiástico. Ela se caracteriza, sobretudo, por ser uma linguagem regional e não em latim que, naquela época, era a língua oficial de toda a Europa cristã. Paulatinamente, as pessoas do povo iam contando suas histórias e compondo seus versos, de forma primitiva. Havia na Europa medieval três pontos importantes de peregrinação: Roma – a Santa Sé; Jerusalém – a Terra Santa; e Santiago de Compostela, que ficava ao Norte da Espanha, localidade onde se diz que São Tiago – apóstolo de Jesus, conhecido como São Tiago Maior –, foi enterrado. É exatamente nestes três lugares onde se começa a literatura popular, onde se concentravam poetas nômades que se portavam como verdadeiros jornalistas, contando as novidades e cantando poemas de aventuras e de bravuras. Ainda de acordo com Luyten (1992), até o final do século passado, havia literatura popular em forma de poesia regularmente manifestada em todo o Brasil. Entretanto, pelo fato da população ser predominantemente rural e devido às distâncias geográficas e dificuldades de deslocamento, o entrosamento era bem menor. Isso fez com que diferenças de expressões regionais surgissem nas produções literárias populares. Além disso, nessa época, o padrão linguístico da elite brasileira ainda era o de Coimbra ou Lisboa e o povo se expressava, poeticamente, de forma condizente com à sua variação de fala. Essas expressões poéticas mescladas por escrita e oralidade compuseram uma literatura produzida por cordelistas, emboladores, repentistas e trovadores nordestinos. Ao se refletir sobre essa história da literatura popular no Brasil, o que se percebe – e o que se deseja defender no decorrer dos capítulos –, é que a obra selecionada como corpus de pesquisa para esse trabalho – Cante lá que eu canto cá (1978), de Patativa do Assaré –, conserva em si as características estruturais dessa literatura popular, uma vez que se apropriou da estrutura, da estética e das abordagens temáticas tradicionais utilizadas na forma de composição literária denominada cordel. Vale mencionar que Patativa do Assaré é um poeta cearense de reconhecimento nacional e internacional, tendo sido homenageado em diferentes instituições acadêmicas e literárias, bem como em meios artísticos e midiáticos, entre eles no programa na série O Milagre de Santa Luzia, exibido pela TV Cultura em 2013. Ele teve também diversos poemas de sua autoria musicados. Um dos mais conhecidos, A triste partida (1964), é uma obra-prima e ganhou versão musical pelas

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