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CONEXÃO CASA PARA IDOSOS

a arquitetura da longevidade

Norton Ramos de Mello, PhD em Healthcare Management - Senior Living, pela Florida Christian University, Orlando, FL – USA e CEO da Bioeng fala sobre a demanda crescente por projetos voltados a garantir maior independência e qualidade de vida à população madura

CS. Qual o motivo que o levou a ampliar a área de

atuação da Bioeng para projetos de arquitetura de moradias de idosos, o chamado senior living?

Na verdade a BIOENG é uma empresa de Projetos Arquitetônicos voltada a Organizações de Saúde e Bem-Estar e o segmento Senior Living só foi descoberto após nossa participação em um projeto de Assisted Living Facilities nos Estados Unidos. A experiência foi fascinante em todos os sentidos, mas despertou o desejo de aprofundar os conhecimentos que vieram com o meu doutorado, com o desenvolvimento de mais quatro projetos na Flórida e com o livro Senior Living, editado em Português e em Inglês. CS. O que se deve observar hoje para aumentar a

segurança e o conforto para um morador idoso?

São muitos fatores, dentre os principais as questões ligadas à acessibilidade, materiais de revestimento, largura de portas, iluminação e cores, tipologia de mobiliário, ergonomia mirando as naturais dificuldades que algumas pessoas possam desenvolver durante o envelhecimento. Devemos evitar as situações de risco de queda e embarcar tecnologias assistivas que vão desde a automação da residência até a utilização de robôs de telepresença e assistentes pessoais acionados por comandos de voz como Google Home, Alexa e Siri, por exemplo.

CS. Como avalia a arquitetura brasileira como modelo

de senior living?

Ainda muito incipiente, especialmente pela falta de formação específica na graduação ou pós-graduação. Se os engenheiros e arquitetos não possuem entendimento desse universo, como poderão projetar e construir novos modelos de moradias para pessoas idosas? Aplicar modelos de outros países também não é a solução, pois existem nuances culturais que são próprias de cada sociedade. E não há um modelo mais correto que outro, mas o que melhor se adapta ao tecido social onde será desenvolvido. Um modelo que atenda aos gaúchos poderá não atender os paulistas, e assim por diante. A partir de uma visão mais empática e menos preconceituosa com relação ao envelhecimento, poderemos desenvolver diversos modelos que promovam a longevidade mais ativa e independente tanto quanto possível. CS. Como está o mercado imobiliário brasileiro

neste segmento? Poderia citar um ou mais empreendimentos inovadores?

Engatinhando frente à gigantesca pressão demográfica de aumento em 71% da população idosa nos próximos 8 anos. A velocidade já é exponencial em todas as áreas, mas impõe ao mercado imobiliário grandes desafios por não termos ainda uma oferta de unidades compatível com esse crescimento e que acolha essas pessoas. Temos atualmente dois empreendimentos inovadores para os parâmetros brasileiros. O Vintage da Incorporadora Cyrela em Porto Alegre que acaba de ser entregue aos moradores e o BIOOS da Construtora Laguna em Curitiba em fase de lançamento e início das obras. No entanto, recebemos semanalmente inúmeras empresas do setor imobiliário que desejam entender melhor o que é esse fenômeno para lançar novos produtos, sejam apartamentos ou condomínios horizontais.

CS. E a nível internacional, o que chamou sua atenção? Cada país tem um empreendimento que nos surpreende. Na Holanda há um deles que possui um supermercado dentro, o que facilita a permeabilidade e o envolvimento da comunidade no processo de envelhecimento através da inclusão e transgeracionalidade. Evidentemente nos Estados Unidos é onde temos o maior número de modelos de negócios, mas destaco o The Villages na Flórida. São três bairros temáticos interligados por 5 campos de golfe com centenas de atividades diárias. Realmente impressiona e é incrivelmente acessível ao americano de classe média.

CS. As pessoas a partir de 60 anos de idade são

identificadas de várias formas – melhor idade, geração prateada – mas como o senhor vê o idoso hoje? Mudou muita coisa nesse perfil?

Vejo a pessoa idosa como aquela que é jovem por mais tempo! Quantos de nós podemos apresentar fragilidades antes dos 60 anos e não somos rotulados? Estamos em uma era dos super agings, perennials, enfim, não podemos mais “classificar” as pessoas com base em um critério meramente cronológico. A longevidade ativa é uma realidade. Grande parte dos executivos de maior sucesso já passaram dos 60 anos, assim como uma parcela considerável da renda está nas mãos dos longevos.

CS. O que os profissionais de arquitetura e design de

interiores devem considerar ao fazer projetos para essa faixa etária?

Devem considerar estudar sobre o tema, profundamente, se colocar no lugar da pessoa idosa, ter mais empatia, se preocupar com o acolhimento, com o resgate das boas memórias afetivas, criar ambientes multissensoriais, tentar fazer com que haja uma verdadeira conexão entre os ambientes e as emoções positivas das pessoas e, sobretudo, se preocupar com os materiais de revestimentos de pisos e mobiliário, dimensões e fechaduras de portas, iluminação, sinalização, ergonomia de metais e demais elementos que facilitem o dia a dia dessa pessoa oferecendo maior segurança e bem-estar.

: : Site: www.bioengprojetos.com.br, Instagram: @bioeng.projetos

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1 Tuscany Village, em Orlando, Flórida, vista dos quartos: independência para o morador. 2 O ambiente da Casacor Ribeirão Preto, em São Paulo, apresentou uma cozinha adaptada para idosos: portas com identificação, mobiliário adaptado e eletrodomésticos como fogão por indução. 3 O Excellence Senior Living, é uma unidade de vida assistida de primeira linha localizada em uma área privilegiada de Orlando, Flórida. Os moradores desfrutam de comodidades como salão de beleza, centro de tecnologia, atividades diárias diversas e a própria clínica no local. A unidade está localizada para garantir fácil acesso a lojas, restaurantes e recreação, como campo de golfe.

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