Memória e (des)aparecimento

Memória e (des)aparecimento

O tempo de impressão de uma imagem pela exposição ao sol, nos processos históricos fotográficos Antotipia ou Phythotype¹ e Fitotipia ou Chlorophyll printing² pode ser lento ou muito lento. Contraditoriamente, na passagem dos dias, o tempo pode ser muito rápido. Ao conhecer e realizar os referidos processos, neste período, revi fotografias de família entre conversas com minha mãe sobre plantas e flores, o que ela sempre cultivou desde sua origem de menina do interior. Nesse ambiente e no recolhimento por ocasião da pandemia, observo e aproveito estes “dois tempos” tanto como poética, quanto como ambivalências, relacionando a passagem do tempo na vida à passagem do tempo no surgimento de uma imagem e em sua desaparição.

A escolha das plantas, flores e folhas para as emulsões e suportes das imagens a serem impressas, se deu na medida em que optei por trabalhar com as fotografias de mulheres da família; minha mãe, minhas avós materna e paterna, minha bisavó materna e eu mesma.

Procurei relacionar a memória pela qual atravessa a minha história, representada por estas mulheres que me antecederam ao produzir, a partir de uma matriz fotográfica, outra imagem transformada pelo resultado dos processos alternativos fotográficos. Isso me levou a buscar elementos da natureza que fazem parte da identidade familiar feminina, como é o caso do uso da folha de hortênsia, uma ligação entre minha mãe, minha vó materna e as lembranças que tenho do jardim da sua casa em Lombas, Santo Antônio, repleto de rosas e das flores roxas e azuladas plantadas por ela.

Relacionar os processos alternativos de obtenção de imagens Antotipia e Impressão em clorofila à questão da passagem do tempo na vida é uma forma simbólica de deter e compreender o momento de estar presente e a memória daí advinda como poética em si.

¹ Processo fotográfico histórico, cuja base de emulsão fotossensível empregam-se pétalas de flores, legumes, folhas ou frutas silvestres – também denominados “sucos vegetais”. O processo fotográfico histórico foi apresentado cientificamente pela primeira vez em 1842 por Sir John Herschel, e, em 1845, por Mary Somerville, respectivamente na Inglaterra. (BRÄCHER, p. 1 de documento em PDF). ² Processo alternativo de fotografia que consiste na produção de imagens sobre grama ou folhas a partir de positivos e/ou negativos fotográficos. Por utilizar um suporte não convencional (vegetal), mesclar processos e despertar experiência estética única, o Chlorophyll Process enquadra-se no conceito de fotografia expandida defendido por Rubens Fernandes Junior. (KATZ, 2017, p.1 de documento em PDF).

Lista de imagens, na ordem: 1 - Folhagem, Antotipia sobre Papel Canson Aquarela 300 g/m², emulsão de pó de colorau e álcool 70 % , 21 x 15 cm, 2021.

2 - Francisca, Antotipia sobre Papel Canson Aquarela 300 g/m², emulsão de pétalas de rosa cor-de-rosa e álcool 70%, 30 x 21 cm, 2021.

3 - Folhagem, Fitotipia sobre folha de Hortênsia, 20 x 14, 5 cm, 2021.

4 - Francisca, Fitotipia sobre folha de Hortênsia, 19, 5 x 15 cm, 2021.

5 - Maria Vicentina (vó materna), Antotipia sobre Papel Canson Aquarela 300 g/m², emulsão de pó de café e água, 30 x 21 cm, 2021.

6 – Vó Inácia e tia Branca (vó paterna, à esquerda), Fitotipia sobre folha de bananeira, 28 x 7,5 cm, 2021.

7 - Mãe e tia Maria, Antotipia sobre papel de saquinho de chá , emulsão de chá de hibiscos e água, 10 x 14 cm, 2021.

8 - Eliza/Dindinha (bisavó materna), Fitotipia sobre folha de bananeira, 28 x 7 cm, 2021.

9 – Carmem (eu), Fitotipia sobre folha de jasmim manga, 27 x 8 cm, 2021.

10 - Carmem (eu), Antotipia sobre Papel Canson Aquarela 300 g/m², emulsão de flores de jasmim manga e álcool 70 %, 30 x 21 cm, 2021.

11 Folhagem, Antotipia sobre Papel Canson Aquarela 300 g/m², emulsão de colorau em pó e álcool 70 %, 21 x 15 cm, 2021.

REFERÊNCIAS

BRÄCHER, Andrea. Experimentações com Phytotypes: resultados finais. In: Alcar 1º Encontro Nacional de história da Mídia UFRGS, Porto Alegre, maio/2015.

KATZ, Jezabel. Experimentações com Photosynthesis. Exemplificações. In: XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Caxias do Sul – RS, junho/2017.