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Informação Médica
Crónica Op.5
Hipertensão Arterial
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Estimados leitores, volto até vós com mais um texto. Se pudesse haver dúvidas de que seria “sol de pouca dura”, o facto de esta ser a minha quinta aparição neste boletim confirma que não é apenas uma participação aguda, mas sim crónica… e para complementar a mancheia, mais um tema especial, por isso (a)tenção.
Já falámos de AVC, já falámos de enfarte agudo do miocárdio, pareceu-me boa ideia falarmos de hipertensão arterial, uma vez que esta é uma entidade chave nas doenças cardiovasculares (e não, não foi porque fiquei sem ideias e fui ao calendário da saúde descobrir que dia 17 de maio é o Dia Mundial da Hipertensão e, sendo uma data perto da escrita desta crónica, seria de aproveitar…). Mas antes de falarmos de hipertensão, precisamos de compreender primeiro o que é a pressão arterial…
O que é a pressão arterial? Se bem se recordam dos tempos da escola primária, aprendemos que o coração bombeia o sangue para todos os órgãos do corpo através de um sistema de “tubos”, isto é, de vasos sanguíneos. A pressão arterial ou tensão arterial, nada mais é se não a pressão que o sangue exerce sobre as paredes dos vasos e esta pressão é necessária para permitir que o sangue chegue ao seu destino. Se não houver pressão, o sangue não circula!
Podemos falar em dois valores mais importantes: a pressão arterial sistólica, ou “máxima” e a pressão arterial diastólica, ou “mínima”. A pressão arterial “máxima”, corresponde à contração cardíaca, e ao momento em que o sangue entra nos vasos sanguíneos - artérias. A pressão arterial “mínima” corresponde ao relaxamento do coração enquanto se enche novamente de sangue, obtendo, portanto, uma pressão menor.

Importa também perceber que a pressão arterial varia ao longo do dia e não é sempre igual. Por exemplo, perante determinados esforços físicos ou emocionais, é natural que a pressão arterial aumente, mas será algo transitório e que reverte após resolução desse estímulo.
Então, o que é a hipertensão arterial? A hipertensão arterial é uma doença caracterizada por uma pressão excessiva nas paredes das artérias. Ao contrário do que acontece com o esforço físico, a hipertensão corresponde a um aumento “crónico” ou consistente da pressão arterial. É esta pressão excessiva e constante que vai levar a uma série de complicações! Mas já lá vamos…
Estima-se que esta doença afete cerca de 40% da população europeia. No nosso país, a prevalência desta doença é em torno de 42% estimando-se ainda que menos de metade dos doentes tenha conhecimento deste diagnóstico. Portanto, falamos de uma doença extremamente prevalente e subdiagnosticada. Existem dois tipos de hipertensão: primária (também designada de essencial) ou secundária. A hipertensão arterial primária é a mais frequente e corresponde a cerca de 90% dos casos. Não tem causa conhecida, mas está associada a várias condições, a saber: envelhecimento, obesidade, consumo excessivo de sal, tabagismo, sedentarismo, consumo marcado de álcool, entre outros. A hipertensão arterial secundária é menos frequente e geralmente vista em população mais jovem. Tem causa conhecida (mas que precisa de ser investigada) e o tratamento é dirigido à causa subjacente. Classifica-se alguém como “hipertenso”, quando apresenta em consultório e em pelo menos duas ocasiões diferentes, valores de pressão arterial iguais ou superiores a 140/90 mmHg.
Por outro lado, classifica-se como pressão normal, valores inferiores a 130/85 mmHg e classifica- se como pressão normal-alta valores de máxima entre 130-139 mmHg e valores de mínima entre 85-89 mmHg. Neste último caso, aquilo que se percebeu foi que pessoas que apresentam estes valores têm um risco maior de vir a desenvolver hipertensão arterial.
Quais são os sintomas da hipertensão arterial? Para vosso desgosto, cumpre-me dizer-vos que se trata de uma doença muitas vezes assintomática, isto é, que não manifesta qualquer sintoma, principalmente nos primeiros anos. Ou seja, é possível que alguns de vós estejais a ler esta crónica, perfeitamente bem, e que tenhais esta doença, ainda que nunca tenha sido diagnosticada. Por este motivo, é importante “de tempos a tempos” avaliar a sua pressão arterial, mesmo que não sinta qualquer sintoma. Em alguns casos, poderá haver alguns sintomas, altamente inespecíficos e comuns a dezenas de doenças, que pode conhecer: dor de cabeça, alterações da visão, zumbidos, mal-estar generalizado ou até mesmo tonturas.
Frequentemente, esta doença costuma ser diagnosticada em contexto de rastreios ou mesmo no médico de família, através de uma simples medição de pressão arterial. Neste contexto importa referir uma entidade que é relativamente frequente designada de “hipertensão da bata branca”. Esta entidade, é caracterizada por valores de pressão arterial muito elevados no consultório com a presença do médico ou outro profissional de saúde, mas fora do consultório, os valores são normais. Por esse motivo existem exames como por exemplo o “MAPA de 24 horas”, que é um dispositivo que avalia a pressão arterial durante 1 dia e permite esclarecer se é uma verdadeira hipertensão ou não.
Quais são as consequências da hipertensão arterial? Este é um ponto muito importante e que deve prestar atenção! Todos os nossos órgãos precisam de sangue e virtualmente todos sofrem se houver um desregular deste sistema. Uma pressão constantemente aumentada exige muito mais força de contração cardíaca, pelo que, com o passar do tempo, o coração começa a sofrer alterações estruturais que podem, a longo prazo, evoluir para insuficiência cardíaca, arritmias ou mesmo aumentar as probabilidades de enfarte. Uma pressão sistematicamente elevada, prejudicará a chegada de sangue a vários órgãos (por exemplo rins) podendo aumentar o risco de várias patologias, como AVC. Assim, torna-se fundamental manter um controlo adequado da pressão arterial.
O que devo fazer para medir adequadamente a minha pressão arterial? Para o fazer deve seguir alguns passos: deve sentar-se de forma confortável, com pernas, costas e braços apoiados e descansar pelo menos 5 minutos; para cada medição, deve avaliar 3 vezes a pressão arterial, com intervalo de 1 a 2 minutos entre cada medição; o primeiro valor pode descartar - importam as duas últimas medições; evite consumo de tabaco, bebidas alcoólicas ou cafeína/estimulantes na hora anterior. Tudo isto, tornará o valor mais fiável.
A não ser que tenha já diagnosticada hipertensão e esteja medicado, não é necessário, salvo algumas exceções, avaliar a sua pressão arterial diariamente se tiver valores inferiores a 140/90.
Posso prevenir a hipertensão arterial? Poderá prevenir/retardar o aparecimento desta patologia através de um estilo de vida mais saudável: tenha uma alimentação equilibrada e com restrição de sal, evite bebidas alcoólicas, não fume, pratique exercício físico de forma regular e mantenha um peso adequado.
Se foi diagnosticado com hipertensão arterial ou se tem apresentado valores compatíveis com esse diagnóstico, é importante que discuta com o seu médico o plano de ação para que possa manter valores de pressão arterial adequados e evitar o aparecimento das complicações acima referidas. Em alguns casos, pode não ser necessário realizar medicação numa primeira fase, mas deve avaliar, com o seu médico, mediante a sua situação, qual será a melhor abordagem para si. Deixo uma última nota importante para um quadro mais raro, mas que pode acontecer, designado de emergência hipertensiva. Este quadro corresponde a uma subida súbita dos valores de pressão arterial (valores superiores a 180 mmHg de máxima) e que são acompanhados de alguns sintomas como cefaleia intensa, náuseas ou vómitos, alterações da força ou da sensibilidade ou até alterações visuais. Esta situação deve fazê-lo procurar ajuda imediatamente.
Se foi diagnosticado com hipertensão arterial ou se tem apresentado valores compatíveis com esse diagnóstico, é importante que discuta com o seu médico o plano de ação para que possa manter valores de pressão arterial adequados e evitar o aparecimento das complicações acima referidas.
E por fim, relaxe… o stress também aumenta a pressão arterial! Se tudo isto não ajudar, olhe… conta a (in)tenção…