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BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS

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NORMAS TÉCNICAS

NORMAS TÉCNICAS

ESCORAMENTO EFICIENTE E SEGURO

DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE FALHAS NA MONTAGEM DOS ESCORAMENTOS PARA A EXECUÇÃO DE UMA OBRA E AS RECOMENDAÇÕES DA MANEIRA CORRETA DE REALIZAR ESSE SERVIÇO, GARANTINDO SEGURANÇA, ESTABILIDADE DA ESTRUTURA E MELHOR PRODUTIVIDADE

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POR ROGÉRIO SATO *

(*) Sócio-diretor da Assahi & Associados Engenharia de Produção Civil Já se passou mais de um século que a engenharia brasileira tem construído estruturas de concreto armado. E durante todos esses anos já deveríamos ser experts no assunto a ponto de dominar todas as técnicas construtivas e executar com excelência as nossas estruturas. Mas o que será que está acontecendo de fato nas construções brasileiras? Nos últimos 16 anos atuando profissionalmente como projetista de fôrmas de madeira pela Assahi & Associados e prestando serviços de consultoria e assistência técnica nas obras, nunca havia me deparado com tantos erros de execução, como nos dias de hoje, a ponto ver uma construção ruir até mesmo durante o lançamento do concreto causando prejuízos gravíssimos de ordem material, financeiro e, a mais valiosa de todas, que são as perdas das vidas de pessoas que estavam ali dedicando o seu trabalho para levar o sustento para suas famílias. Não existe uma única causa para que um acidente ocorra. Geralmente é o resultado de uma somatória de diversas falhas durante a fase de montagem da construção da estrutura que causam acidentes. Para executar uma estrutura de concreto armado moldado in-loco são necessários 7 ingredientes básicos: concreto, aço, sistema de fôrmas, sistema de escoramentos, sistema de segurança, sistema de logística e mão de obra. O sistema de escoramento é, sem dúvidas, o principal equipamento capaz de proporcionar produtividade, estabilidade e segurança na construção de estruturas. O primeiro ponto a ser entendido é que todo elemento estrutural que precisa ser executado acima da cota do piso é necessário um sistema de escoramento. Ou seja, estamos falando da execução das vigas e lajes. O escoramento (também conhecido como cimbramento) é o equipamento que vai dar todo suporte e estabilidade necessários para receber todos os esforços verticais e horizontais(!) provenientes do peso das fôrmas, armação, concreto, uma pequena sobrecarga, movimentação da equipe de campo e movimentação proveniente do lançamento do concreto. O escoramento recebe toda essa carga e transmite para os apoios numa base firme e resistente o suficiente para suportar todo esse peso e movimentação. Ele deve proporcionar a trabalhabilidade para o nivelamento, travamento e alinhamento das fôrmas. E ainda, pensando num “ciclo rápido” de execução de cada pavimento

de um edifício, o equipamento de escoramentos deve promover um bom índice de produtividade e segurança aos trabalhadores. Ufa! É muita responsabilidade para um único sistema! Isso porque ainda não falamos de piso a piso duplo ou triplo, vigas de transição, estrutura sem apoios em sua projeção, que requer ainda mais atenção e responsabilidade profissional. (Figura 1) O segundo ponto que precisamos entender é a respeito do escoramento remanescente, ou popularmente conhecido como reescoramento. Trata-se de escoras pontuais que são distribuídas sob as vigas e lajes recém concretadas de tal modo que permite a retirada e reaproveitamento de todo equipamento do escoramento e fôrmas para o pavimento subsequente ou em outro setor da obra. É de extrema importância que no momento da retirada do cimbramento, a estrutura não pode e nem deve sofrer quaisquer deformações não previstas no projeto estrutural. Um reescoramento mal executado pode condenar permanentemente o funcionamento global da estrutura, ou seja, traz consigo prejuízos quanto ao desempenho estrutural ocasionando o início precoce das patologias. Imagine que um bebê recém-nascido sofra uma fratura no fêmur, horrível certo? A recuperação é delicada e requer muitos cuidados e atenção médica para que essa criança não sofra anomalias físicas durante a sua fase adulta. A estrutura recém concretada também requer muita atenção e cuidados para otimização de sua vida útil. (Vamos lembrar aqui que a norma de desempenho ABNT NBR 15.575 descreve que a estrutura de concreto obtenha uma vida útil de 50 anos desde que tenham sido realizadas todas as manutenções preventivas durante esse período). Na construção de edifícios na capital de São Paulo, a retirada do escoramento e fôrmas acontecem, em muitos casos, após 24h do lançamento do concreto. Não obstante o carregamento da concretagem para próxima laje acontece entre o quinto e o sexto dia para um ciclo de uma laje por semana nos pavimentos tipo. Isso significa que o valor do módulo de elasticidade - que é a principal propriedade do concreto para dimensionamento e distribuição das escoras remanescentes - é menor que o módulo aos 28 dias. Então quanto menor o ciclo de concretagem e quanto mais rápido for a retirada do cimbramento, mais próximas deverão estar as escoras remanescentes. Esse entendimento é crucial para o correto dimensionamento das escoras remanescentes. Vejo empresas que ainda estão dimensionando como na década de 90, onde o fator limitante muitas vezes se dava somente na capacidade da escora, pois os prazos de execução eram mais lentos. Naquela época o início da retirada do escoramento acontecia após 72 horas do lançamento do concreto, onde se faziam três lajes por mês. As escoras remanescentes devem ser posicionadas de acordo com um projeto específico antes da retirada do cimbramento. Deve ser dimensionado por profissionais e ainda deve acompanhar a emissão de corresponsabilidade junto ao ART-CREA. Muitas empresas fornecem o projeto do escoramento remanescente, porém poucos emitem o ART. Desde 1982 a Assahi Engenharia têm dimensionado e projetado a distribuição das escoras remanescentes como parte integrante do sistema de fôrmas e conta com toda especificação necessária: capacidade das escoras, característica do concreto na data do carregamento da próxima laje, plano de retirada da escora, entre outras informações pertinentes. E é uma das poucas empresas do mercado que emitem o ART sobre esse tipo de projeto específico. Então estamos falando de dois sistemas interdependentes em um único sistema: o de escoramento e o de escoramento remanescente. Sendo assim, a empresa fornecedora de equipamentos deve apresentar os dois pacotes de projetos básicos: o de escoramento e o de escoramento remanescente compatibilizados entre si para que não haja interferências entre esses sistemas. Eu recomendo sempre enviar esses projetos para avaliação, análise e ciência do projetista de estrutura. Em 2009 fomos presenteados com a norma da ABNT NBR 15.696: fôrmas e escoramentos para estrutura de concreto – projeto, dimensionamento e procedimentos executivos. Desde então todas as empresas fornecedoras de fôrmas e escoramentos tem obrigação e o dever de seguir como premissa básica ao atendimento total desta norma perante seus clientes. Visto isso, vamos resumir as principais atribuições para o equipamento de escoramento: y O equipamento deve suportar e transmitir todas as cargas atuantes provenientes da execução da estrutura para os apoios resistentes;

FIG. 1 – O ESCORAMENTO RECEBE A CARGA E TRANSMITE PARA UMA BASE FIRME CAPAZ DE SUPORTAR O PESO E A MOVIMENTAÇÃO

y O equipamento deve dar estabilidade e segurança ao sistema construtivo; y Os espaçamentos de barrotes, guias principais, torres e escoras devem ser dimensionados de acordo com a carga proveniente da estrutura. y O equipamento de escoramento deve ser compatível ao sistema construtivo. Por exemplo: lajes cubetas, lajes assoalhadas, lajes planas. Para cada tipologia de estrutura há um equipamento que pode ser visualmente parecido, porém com características específicas que influenciam não só tecnicamente, mas principalmente na segurança e estabilidade do conjunto. y O fornecedor deve fornecer um curso de treinamento de como manusear corretamente o seu equipamento, bem como um manual de montagem. y O fornecedor deve fornecer o projeto de escoramento comunicando com clareza o posicionamento de todas as peças e travamentos em vistas, cortes e plantas; y O sistema de escoramento não pode prejudicar o sistema de fôrmas quanto à montagem e travamento das fôrmas. Agora vamos citar os principais fatores que influenciam no dimensionamento do escoramento remanescente: y Característica do concreto quanto ao módulo e resistência na data da retirada do escoramento e fôrmas. y O ciclo de concretagem de um pavimento; y Peso próprio da estrutura - vigas e lajes;

FIG. 2 – ENQUANTO O TERRENO NÃO ESTIVER NIVELADO E COMPACTADO NÃO SE DEVE MONTAR O ESCORAMENTO FIG. 3 – ESPAÇAMENTO CORRETO ENTRE BARROTES É FUNDAMENTAL NO SISTEMA DE ESCORAMENTO

FIG. 4 – ESCORA REMANESCENTE FORA DO PRUMO É UM ERRO COMUM NAS OBRAS

y Sobrecarga de utilização no processo evolutivo das concretagens e/ou fases da obra; y Dimensão e espessura de laje; y Capacidade da escora pontual; y Módulo de Elasticidade e resistência à compressão do concreto ao longo dos seus 28 dias até a retirada total do escoramento remanescente; E com todas essas atribuições lhe faço uma pergunta: Você ainda pensa ser vantagem comprar um equipamento qualquer e colocar para dentro da sua obra para que o seu mestre fique responsável em executar a sua estrutura? A resposta de qualquer pessoa com um pouquinho de sensatez e humildade seria um ‘não’, mas se sua resposta foi afirmativa para essa questão, podemos ainda fazer uma pequena analogia: Adquirir um equipamento próprio é como se você praticasse a automedicação. Quais os perigos de uma automedicação para sua saúde? E quais os perigos da autossuficiência na montagem dos escoramentos? Peço que reflita por um momento tudo que envolve prazo, gastos extras, retrabalhos, segurança e vidas. Será que vale a pena correr todos esses riscos de obter esses gastos extras? A troco de quê? Ou podemos compartilhar essa responsabilidade com um fornecedor idôneo, capaz de executar a sua obra com segurança e excelência? A contratação do fornecedor do sistema de escoramentos não se limita ao custo do equipamento na obra. Nele está incluso: y Corresponsabilidade; y Solução técnica / know how / cases; y Projeto do escoramento e reescoramento; y Treinamento para usuários; y Envio e retirada de equipamentos conforme a necessidade; y Acompanhamento técnico. y Entre outros. Vamos agora mostrar os erros mais comuns que eu encontro nas obras: y Montagem do escoramento sem obedecer ao projeto. Essa é clássica! Quando está terminando a montagem, o responsável percebe que está faltando umas peças e sobrando outras! Daí para frente é só perda de tempo! Portanto, siga o que está no projeto, pois se algo der errado a “culpa” é do fornecedor e não sua. y Escoramento mal apoiado sobre terreno. Geralmente na execução da primeira laje, o piso de concreto ainda não executado, é necessário a distribuição de pranchões para distribuir a carga pontual das torres e/ou escoras. Para tanto é necessário que a prancha esteja 100% apoiada e nivelada sobre o terreno. Não autorize o início da montagem do escoramento enquanto o terreno não estiver nivelado e compactado principalmente nas proximidades dos blocos de fundação. (Figura 2) y Remover o escoramento ANTES de posicionar a escora remanescente. Erro clássico também. Pelo fato de a estrutura não cair, os operadores pensam que podem retirar todo escoramento e depois posicionar as escoras remanescentes. É justamente ao contrário! Primeiro é colocado às escoras remanescentes e depois é permitido a retirada do escoramento e fôrmas. y Espaçamento entre barrotes. Quando é para menos até “tudo bem”, mas espaçamentos maiores do que dimensionados no projeto vai deformar a forma e consequentemente a geometria da estrutura. Em casos mais extremos pode até causar a ruptura da forma. (Figura 3) y Escoras remanescentes fora do prumo. (Figura 4) y Aperto em excesso da escora remanescente. A estrutura deve “descansar” sobre a escora e não a escora fazer o esforço vertical a ponto de “levantar” a estrutura causando um efeito contrário do objetivo proposto. y Retirada das faixas de escoramento (fundos de vigas e faixas de lajes): O escoramento remanescente já tem o objetivo de otimizar o reaproveitamento da maior área das fôrmas. Não retire a faixa, pois ao retirar as faixas, com certeza estão retirando as escoras! E aí acontece o fenômeno que não desejamos que é a deformação imediata da estrutura, fenômeno esse que vai dar início ao processo das possíveis patologias futuras por causa das microfissuras e não aderência entre os agregados que compõem o concreto. Percebo que o sucesso da construção de uma estrutura de concreto se inicia na concepção de um bom projeto estrutural, com dimensões de vigas e lajes padronizadas com foco na construtibilidade e produtividade. O planejamento da obra também é fundamental para dar a diretriz principal aos fornecedores que irão participar do quadro orçamentário. E por fim o critério principal para contratação do fornecedor de escoramentos deve ser técnico e em segundo plano financeiro. É claro que quanto menor o custo melhor, mas você sabe que desde antes da engenharia existir “o barato sempre sai caro!”.

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