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UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS NA CARACTERIZAÇÃO DO SOLO DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO SÃO JOSÉ NO CARIRI CEARENSE

Antonio Italcy de Oliveira Júnior Engenharia/UFCA antonioitalcy@alu.ufc.br Sávio de Brito Fontenele Engenharia Agricola/UFCA savio.fontenele@hotmail.com

LUIZ ALBERTO RIBEIRO MENDONÇA Professor/UFCA larm@ufc.br Wandson de Freitas Pereira Engenharia/UFCA wandsonf@gmail.com

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Adriana Oliveira Araújo Engenharia Agricola/UFCA adrianasaneamento050@gma il.com

1 Introdução

A degradação do solo influencia na qualidade e quantidade das reservas hídricas. A exploração da vegetação e a crescente urbanização torna o solo desprotegido e aumenta à impermeabilização do mesmo. Em resposta a essas ações o solo fica mais vulnerável a impactos mecânicos e mais suscetível ao escoamento superficial e a perdas de sedimentos, favorecendo ainda mais a compactação (ARAÚJO, 2010). Diante disso, surge uma problemática no que diz respeito à redução da recarga de aquíferos, sobretudo em regiões de clima semiárido que possuem o abastecimento de água oriundo de reservas subterrâneas, como por exemplo, a região do Cariri cearense, localizada no extremo sul do Estado do Ceará. Nesse sentido, é importante caracterizar os solos de bacias hidrográficas localizadas nesses ambientes vulneráveis. Essa caracterização pode ser realizada através de análises que contemplem os aspectos antropicos (uso e ocupação do solo) e topografia (altitude e a declividade) de uma dada bacia hidrográfica, associados às propriedades físicas e químicas dos solos (umidade, granulometria, resistência à penetração, teor de matéria orgânica, etc.). Como ferramenta auxiliar nesta caracterização encontra-se a análise estatística multivariada. Esta ferramenta vem sendo utilizada nos últimos tempos por diversos pesquisadores e uma das técnicas de classificação encontra-se a análise de agrupamentos. Estudos apontam a mesma como uma ferramenta eficiente, tanto na caracterização de solos (ARAÚJO et al., 2013), quanto de águas (FERNANDES et al., 2010). Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo empregar a ferramenta de análise multivariada, por meio da técnica de análise de agrupamentos, na caracterização dos solos da Microbacia Hidrográfica do São José, considerando aspectos antropicos (uso e ocupação do solo) e topográficos (altitude e a declividade) e propriedades físicas e químicas dos solos (umidade, granulometria, resistência à penetração e teor de matéria orgânica).

2 Fundamentação Teórica

De acordo com CARVALHO et al.( 2012), uma das principais preocupações do planejamento e da gestão dos recursos hídricos é a minimização dos impactos do uso do solo e a eliminação do uso inadequado da água pelo homem. Segundo Brooks et al., (1991), o manejo de bacias hidrográficas consiste na organização e orientação do uso da terra e de outros recursos naturais, com a finalidade de produzir bens e serviços, sem destruir ou alterar adversamente o solo e a água. Nesse sentido, a identificação e classificação do uso do solo são de fundamental importância no conhecimento do ambiente em que a bacia está inserida. Vazea et al., (2010) destacaram que à medida que a ocupação urbana de uma bacia aumenta, ocorre redução da capacidade de infiltração dos solos e como consequência um aumento no volume e velocidade do escoamento superficial, gerando problemas na drenagem urbana, como por exemplo as enchentes. De acordo com Porto et al., (1999) a declividade de uma bacia apresenta forte e complexa relação com o escoamento superficial, a capacidade infiltração, a umidade dos solos e a recarga dos aquíferos. Para eles a declividade é um dos fatores mais significativo que controla o escoamento superficial e a concentração da chuva e, portanto, tem importância direta com relação à proporção das enchentes. Os fatores hidrometeorológicos, tais como temperatura, precipitação e evaporação são funções da altitude e exercem influência no deflúvio médio da bacia. Desse modo, esta característica física da bacia hidrográfica preconiza que o relevo deve ser nitidamente conhecido para melhor compreensão do comportamento hidrológico (TONELLO et al., 2006). De modo geral, o solo é formado por partículas sólidas, líquidas e gasosas. A quantidade de água contida em uma amostra de solo é obtida através do

Caderno de Experiências cálculo da umidade que é uma relação, expressa em percentual, entre a massa de água e a massa sólida. A umidade é um dos parâmetros físicos que é observado para identificar modificações na qualidade do solo. Além do mais, o manejo do solo em condições de umidade inapropriadas, associado a determinadas granulometrias do solo, podem favorecer a compactação (ARAÚJO et al, 2013). O solo contém partículas de tamanhos diferentes em variadas proporções e a determinação do tamanho destas partículas e os respectivos percentuais de ocorrência, possibilita a construção da função de distribuição das partículas do solo, denominada distribuição granulométrica. As frações granulométricas de um solo podem variar entre argila (menores partículas), silte (partículas de tamanho intermediaria) e areia (maiores partículas). O grau de compactação das camadas do solo tem relação com a resistência à penetração das mesmas, isto é, quanto maior a resistência à penetração mais rígida e compactada é a camada do solo. Segundo Araújo et al, (2013), a compactação do solo reduz o volume de vazios através da modificação do arranjo estrutural das partículas, contribuindo com o aumenta da densidade e dos microporos, reduzindo os macroporos e a capacidade de infiltração do solo. A matéria orgânica dos solos é composta pela fração dos organismos vivos e seus restos em variados graus de decomposição. A matéria orgânica do solo é um constituinte cimentante, influente na formação e manutenção dos agregados, que conserva a porosidade (macro e microporosidade), a umidade e a capacidade de infiltração dos solos (CALOURO, 2005; MENDONÇA et al., 2009; ARAÚJO et al, 2013). Neste contexto, a caracterização dos solos a partir da interpretação de vários atributos é uma metodologia complexa que utiliza análise estatística multivariada, na qual enquadra-se a técnica de análise de agrupamentos. A análise de agrupamentos tem o propósito de reunir objetos fundamentando-se nas características dos mesmos. Ela classifica os objetos de acordo com aquilo que cada um tem de similar em relação a outros, agrupando-os a partir de critério de seleção predeterminado. Dessa forma, o grupo resultante da classificação deve apresentar alta homogeneidade interna e alta heterogeneidade externa (CORRAR et al., 2009).

3 Procedimentos Metodológicos

A Microbacia Hidrográfica do São José (MHSJ) localiza-se no extremo sul do Estado do Ceará e possui área de aproximadamente 40 km² (CARVALHO, 2013) (Figura 1). Esta microbacia hidrográfica encontra-se inserida na Bacia Sedimentar do Araripe, com maior parcela nos municípios de Crato e Juazeiro do Norte e menor no município de Barbalha. O clima da região, segundo a classificação de Köppen-Geiger, é semiárido, com precipitação média anual de aproximadamente 1.000 mm, distribuída em regime bastante irregular: nos meses de janeiro a maio ocorre a principal estação chuvosa, responsável por aproximadamente 70% das chuvas anuais.

Figura 1: Localização da microbacia hidrográfica do São José

Fonte: Carvalho, 2013. Apesar da tipologia diversificada e expressiva variação espacial dos solos na região do Cariri, a área estudada apresenta apenas três tipos de solos: os Latossolos Vermelho-Amarelo, os Neossolos e os Argissolos (CEARÁ, 2006). Na MHSJ foram selecionados 39 pontos para obtenção dos dados e cada um deles foi georeferenciado com auxílio de GPS (Tabela 1). A obtenção dos dados foi feita no ano de 2011 a partir de amostragens realizadas na camada superficial de 0-20 cm. Costa (2013) classificou o uso e ocupação do solo da MHSJ nas seguintes classes: vegetação rasteira (1), área urbana (2), caatinga arbustiva arbórea (3), agricultura (4), floresta úmida (5), cerrado (6) e solo exposto (7), conforme mostrado na Figura 2. Os números entre parênteses referem-se a identificação dos usos e ocupação dos solos.

Pt. Lat. Long. Pt. Lat. Long. Pt. Lat. Long. Pt. Lat. Long.

GU01 460831 9201410 GU13 458610 9198966 GU24 458168 9196630 GU38 457983 9195366 GU03 461193 9200820 GU14 459504 9198598 GU25 459017 9196816 GU39 455996 9193394 GU05 459064 9200176 GU15 457805 9198420 GU26 460539 9196560 GU40 457197 9193640 GU06 459855 9199892 GU16 460406 9197988 GU27 461457 9196210 GU41 458752 9194384 GU07 461268 9199840 GU17 460874 9198588 GU28 458155 9196146 GU42 455120 9194732 GU08 461847 9200242 GU18 458224 9198060 GU29 456577 9195588 GU43 455039 9192928 GU09 459271 9199496 GU19 458861 9197656 GU31 460151 9195750 GU44 455570 9192874 GU10 460249 9199176 GU20 460893 9197742 GU32 460776 9195486 GU46 453622 9193810 GU11 461318 9199268 GU22 459895 9197166 GU35 459948 9194566 GU12 458023 9198986 GU23 457725 9197725 GU37 456816 9194420 GU47 454599 9192644

Figura 2: Mapa de uso e ocupação dos solos da MHSJ

Fonte: Adaptada de Costa, 2013. Os dados topográficos dos pontos coletados foram obtidos através dos modelos numéricos de terreno – MNT, gerados com dados do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). Foram utilizados dados do SRTM de 92 m x 92 m de resolução

Caderno de Experiências espacial, disponibilizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A umidade das amostras de solos foi quantificada através do método gravimétrico (Equação 1). As massas secas foram obtidas por pesagem das amostras depois de secagem em estufa a aproximadamente 105 ºC (EMBRAPA, 1997).

(1) Em que, U é a umidade (%), Ma é a massa úmida da amostra (g) e Ms é massa seca da amostra (g) A granulometria foi obtida pelo método da pipeta (EMBRAPA, 1997) utilizando como dispersante químico o hidróxido de sódio (NaOH 1mol.L-1). A resistência à penetração foi medida utilizando um penetrômetro de impacto modelo Stolf (STOLF et al., 1983). Neste procedimento, a penetração por impacto foi lida na haste graduada do penetrômetro e os resultados foram fornecidos em impactos/dm (número de impactos necessários para perfurar um decímetro de solo) e posteriormente transformados para MPa (Mega Pascal). A matéria orgânica foi determinada no Laboratório de Saneamento da Universidade Federal do Cariri através do método gravimétrico. Neste procedimento, 4 g de amostra do solo previamente seca a 105 °C é levada a mufla aquecida a 550 °C por 5 h. Através da razão entre o peso da fração calcinada da amostra e o peso do solo seco em estufa a 105°C obtém-se o teor de matéria orgânica (DAVIES, 1974). As amostras foram pesadas em balança digital com sensibilidade de 0,001 g. Dos dados obtidos construiu-se uma matriz de correlação linear de Pearson, a partir da qual avaliou-se o grau de associação entre os mesmos. Em seguida, procedeu-se à análise de agrupamento multivariada. Para agrupar espacialmente os pontos analisados, empregou-se o método do “vizinho mais distante” (furthest neighbor) como critério hierárquico de agrupamento, com medida de similaridade dada pela “distância euclidiana quadrada”. O processamento das informações foi efetuado pelo software SPSS, versão 20.0.

4 Resultados e discussão

Na Tabela 2 são apresentados os resultados dos parâmetros analisados e a estatística descritiva. De forma geral, as amostras apresentaram baixo teor de umidade, com média de aproximadamente 4,81% e declividade de média de 7,01%. Quanto ao uso e ocupação do solo nota-se a predominância da vegetação rasteira. A maioria das amostras coletadas apresentaram maior fração de areia (grossa e fina) e resistência a penetração maior que 4 MPa. Segundo Carvalho et al., (2012) solos não revolvidos anualmente são toleráveis até 4 MPa, favorecendo a permanência e continuidade de poros, atividades biológicas mais ativa e maior estabilidade dos agregados. É importante salientar que os baixos teores de umidade dos solos da área também podem ter contribuído com o aumento da resistência a penetração. A análise da variabilidade dos parâmetros, medida pelo coeficiente de variação (CV) (Tabela 2) foi fundamentado nos limites proposto por Warrick e Nielsen (1980), para classificação dos parâmetros analisados do solo, que admite: variabilidade baixa (CV <12%), variabilidade média (12%< CV <60%) e variabilidade alta (CV> 60%). Dos parâmetros analisados a declividade, fração silte, fração argila, teor de umidade, teor de matéria orgânica e resistência à penetração apresentaram variabilidade alta. Já a altitude, fração areia grossa e fração areia fina apresentaram variabilidade média.

Tabela 2: Parâmetros analisados e a estatística descritiva

PONTO Declividade (%) Altitude (m)

Areia grossa (%) Areia fina (%) Silte (%) Argila (%) Matéria orgânica (g/Kg) Umi dade (%) Resisten cia a Penetra ção (Mpa) Uso e ocupa ção do solo

GU01 GU03 GU05 GU06 GU07 GU08 GU09 GU10 GU11 GU12 3.12 3.37 7.78 6.71 4.46 6.89 1.46 0.90 3.18 3.30 388.90 0.63 0.29 0.06 0.02 11.17 2.19 3.18 418.10 0.55 0.41 0.04 0.00 2.28 0.83 3.02 441.90 0.36 0.39 0.11 0.14 8.38 4.61 5.38 425.50 0.59 0.34 0.03 0.04 1.86 1.53 5.51 418.90 0.51 0.43 0.06 0.00 1.55 1.45 2.17 433.70 0.18 0.37 0.16 0.28 7.65 14.02 14.87 426.00 0.47 0.46 0.03 0.06 1.45 1.67 9.12 404.10 0.14 0.23 0.36 0.28 19.86 9.36 12.02 419.20 0.47 0.39 0.07 0.07 7.55 4.78 2.17 481.20 0.42 0.38 0.06 0.14 8.59 4.79 7.08 234

1 2 3 2 2 2 1 1 1 1

GU13 GU14 GU15 GU16 GU17 GU18 GU19 GU20 GU22 GU23 GU24 GU25 GU26 GU27 GU28 GU29 GU31 GU32 GU35 GU37 GU38 GU39 GU40 GU41 GU42 GU43 GU44 GU46 6.64 9.36 3.36 2.01 463.70 0.41 0.31 0.09 0.20 9.41 5.76 10.14 434.70 0.33 0.51 0.04 0.13 5.07 3.60 9.88 497.20 0.51 0.26 0.07 0.16 6.30 5.84 6.84 411.60 0.55 0.41 0.03 0.02 1.76 1.23 3.50

3.09 6.79 8.08 419.00 0.45 0.46 0.04 0.06 1.97 2.24 3.61 465.70 0.50 0.41 0.07 0.02 3.31 1.81 6.88 436.90 0.35 0.51 0.10 0.04 4.45 2.24 11.59

4.53 3.76 6.72 3.49 3.32 431.60 0.42 0.43 0.05 0.09 5.17 3.00 4.36 434.60 0.19 0.72 0.04 0.05 4.45 1.75 2.43 509.80 0.56 0.25 0.05 0.14 9.52 5.18 6.84 466.70 0.19 0.18 0.52 0.11 6.41 4.35 3.17 426.60 0.54 0.39 0.04 0.03 4.76 1.88 3.17

5.19 4.41

425.30 0.57 0.35 0.04 0.04 5.59 2.44 6.29 446.70 0.26 0.64 0.06 0.04 2.79 2.78 9.39 10.75 448.60 0.38 0.29 0.15 0.18 11.48 5.32 3.17 11.28 570.30 0.33 0.22 0.17 0.28 12.00 7.91 16.63

1.93 4.32 429.60 0.65 0.29 0.05 0.02 3.62 0.88 6.29 442.10 0.30 0.56 0.07 0.07 4.65 2.89 5.04

1.99 9.61 438.80 0.30 0.60 0.08 0.03 4.34 2.25 3.15 602.50 0.41 0.32 0.11 0.16 9.72 2.95 7.08

1.26 6.10 13.35 449.70 0.61 0.31 0.03 0.05 1.76 1.90 10.15 695.50 0.38 0.29 0.10 0.24 13.34 6.90 9.12 644.70 0.39 0.33 0.14 0.14 10.65 3.93 13.34

2.79 8.99

447.70 0.36 0.37 0.11 0.17 10.65 4.55 2.62 644.30 0.40 0.34 0.10 0.15 17.07 4.60 3.89 35.23 918.90 0.36 0.25 0.11 0.27 26.79 11.56 2.65 26.38 816.60 0.28 0.21 0.17 0.34 37.86 12.58 2.39 27.05 938.40 0.28 0.15 0.15 0.42 35.07 15.93 2.17

GU47 0.22

Média

7.01 Desvio Padrão 7.36

952.20 0.30 0.14 0.54 0.01 37.55 14.24 2.33 511.99 0.41 0.36 0.11 0.12 9.69 4.81 6.22 153.19 0.13 0.13 0.12 0.10 9.57 3.98 3.88 CV (%) 105.04 29.92 32.34 35.44 106.49 86.27 98.73 82.64 62.35 1 3 3 1 1 3 3 1 1 3 3 1 3 3 1 3 1 1 1 1 4 5 1 4 1 5 5 6 6 -

Souza et al.,(2004) relatam em seu trabalho, avaliando a variabilidade espacial dos atributos físicos do solo em diferentes formas de relevo, que pequenas variações nas formas de relevo condicionam variabilidade diferenciada nos atributos físicos do solo. Na Tabela 3, encontra-se a matriz de correlação para os parâmetros analisados. Observou-se que dos 25 coeficientes de correlação, aproximadamente 56% do total de pares apresentaram valores significativos. Desses, aproximadamente 48% apresentaram correlações “fortes” (0,6 | r |< 0,9), os outros 52% apresentaram correlações moderadas (0,3 | r |< 0,6). A matriz de correlação evidenciou que a declividade correlacionou-se positivamente com a altitude, uso e ocupação do solo, argila, matéria orgânica e umidade. Já a altitude é positivamente correlacionada com o uso e ocupação do solo, argila, matéria orgânica e umidade. A areia grossa apresentou as seguintes correlações negativas significantes: areia grossa x silte (r 0,56), areia grossa x argila (r -0,51) e areia grossa x matéria orgânica (r -0,55), esse comportamento pode ser devido os macroporos presentes na fração areia não conseguirem reter as partículas finas (silte e argila) e assim não ocorre interação com o material orgânico. Quanto às correlações positivas significativas não foram evidenciadas nenhuma para este parâmetro. Também se observa correlações negativas significativas entre a altitude x areia fina (r 0,54) e uso e ocupação do solo x areia fina (r 0,45).

Declividade Altitude Uso e ocupa ção do solo

Areia Grossa Areia Fina Silte Argila Maté ria Orgâ nica Umi dade Resistên cia à Penetra ção

Declividade

1

Altitude 0.71*

1

Uso e ocupação do solo Areia Grossa 0.48* 0.70*

1

-0.23 -0.28 -0.20 1

Areia Fina -0.34 -0.54* -0.45* -0.10 1

Silte

0.03 0.41 0.36 -0.56* 0.54* 1

Argila 0.68* 0.55* 0.41 -0.51* 0.51* 0.30 1 Matéria Orgânica 0.63* 0.88* 0.62* -0.40 0.62* 0.55* 0.65* 1

Umidade 0.57* 0.75* 0.61*

-0.55* 0.59* 0.56* 0.79* 0.86* 1

Resistência à Penetração

-0.08

-0.16 -0.06 -0.18 -0.02 0.00 0.25 -0.19 0.08 1 *valores significativos com p<0,05. A técnica de análise de agrupamento multivariado empregada nos parâmetros analisados, para distancia de corte em 5, agrupou as amostras em 3 grupos com características similares. O resultado do processamento desta análise pode ser visualizado no dendrograma apresentado na Figura 4. O grupo 3 foi o que apresentou menor quantidade de pontos agrupados ( 10,2%). Este grupo foi composto por pontos que apresentaram os maiores valores de declividade, altitude, matéria orgânico e umidade (Tabela 2). Os usos e ocupação dos solos desse grupo foram floresta úmida e cerrado preservado. Possivelmente, o grupo 3 poderá ser utilizado como referência para estudos de modificações nas características do solo ao longo da bacia. Tendo em vista que os pontos deste grupo localizam-se mais próximo a Chapada do Araripe. No entanto, para confirmação desta assertiva é necessário investigar quais parâmetros influenciaram mais nos resultados destes agrupamentos. O grupo 2 também apresentou baixa quantidade de pontos agrupados ( 12,8%). Os pontos deste grupo apresentam valores intermediários de declividade, altitude, matéria orgânico e umidade (Tabela 2). Os usos e ocupação dos solos desse grupo foram vegetação rasteira e caatinga arbustiva arbórea. O grupo 1 foi o grupo que apresentou maior quantidade de componentes ( 77%). Os valores de declividade, altitude, matéria orgânico e umidade dos pontos deste grupo são inferiores aos observados no grupo 3 e 2. O grupo 1 apresentou os seguintes usos e ocupação dos solos: vegetação rasteira, área urbana, caatinga arbustiva arbórea, agricultura e floresta úmida. A figura 4 evidencia que os grupos 1 e 2 se mostraram mais próximos entre si e mais distantes do grupo 3.

Considerações Finais

1. A análise de agrupamento aplicada aos parâmetros de caracterização do solo da Microbacia Hidrográfica do São José (MHSJ) evidenciou a formação de três grupos homogêneos. Os grupos 1 e 2 apresentaram maior proximidade entre si e maior distanciamento em relação ao o grupo 3. 2. A análise de agrupamentos permitiu uma classificação prévia do solo de acordo com os parâmetros avaliados. No entanto sugeri-se estudar outras técnicas de análise multivariada que corrobore a formação dos grupos, aumentando com isso o poder de explicação da análise. 3. A análise de agrupamentos mostrou-se uma ferramenta eficiente para aplicação em estudos de caracterização dos solos da MHS, considerando aspectos antropicos e topográficos e as propriedades físicas e químicas dos solos.

Caderno de Experiências

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