

em
EBA | Escola de Belas Artes
UFRJ | Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Vinicius Ferreira Mattos
Abril de 2025
3 - Apresentação
4 - O que é Paisagismo
5 - Graduação em Paisagismo da Escola de Belas Artes da UFRJ
11 - Ateliê Universitário de Paisagismo
18 - Portfólio do Ateliê Universitário de Paisagismo
42 - Contato: Propostas de Ação ou Patrocínio e Doação
O Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPá) é um projeto de extensão vinculado ao curso de Graduação em Paisagismo da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA-UFRJ). Criado em 2022, o AUPá surgiu a partir do reconhecimento de que o projeto paisagístico pode e deve ultrapassar os limites da sala de aula, contribuindo ativamente para a transformação dos territórios urbanos e o fortalecimento do vínculo entre universidade e sociedade.
Com base em metodologias participativas e processos de escuta ativa, o AUPá atua junto a organizações da sociedade civil, comunidades locais e instituições públicas, desenvolvendo projetos paisagísticos em diferentes escalas e contextos. Os trabalhos envolvem desde ensaios projetuais e orientações técnicas até propostas completas de planejamento e intervenção, com enfoque em sustentabilidade, justiça ambiental, regeneração ecológica e valorização dos saberes populares.
Este portfólio apresenta uma síntese das ações realizadas pelo AUPá entre os anos de 2022 e 2025, período em que o projeto consolidou sua atuação extensionista e se estruturou como um núcleo ativo de ensino-aprendizagem, prática profissional e produção de conhecimento crítico no campo do paisagismo. Reunindo projetos implantados, estudos em curso e iniciativas colaborativas, a publicação reflete a diversidade temática e metodológica do ateliê, que compreende o paisagismo como uma prática ética, ecológica, socialmente comprometida e culturalmente situada.
Os trabalhos apresentados dialogam diretamente com os conteúdos abordados ao longo da formação acadêmica no curso de Paisagismo da EBA-UFRJ, reafirmando o papel da extensão como instância formadora e transformadora. As experiências descritas envolvem a criação de jardins didáticos, hortas comunitárias, requalificação de espaços públicos, propostas de parques ecológicos, infraestruturas verdes, ações culturais e oficinas com enfoque territorial. Cada projeto é fruto da articulação entre docentes, estudantes extensionistas, técnicos e moradores dos territórios atendidos, demonstrando o potencial do projeto paisagístico como ferramenta de mediação, diálogo e construção coletiva do espaço.
Ao consolidar-se como um espaço de experimentação, aprendizado e engajamento, o AUPá reafirma o compromisso da UFRJ com a produção de conhecimento público, gratuito e socialmente relevante. Este portfólio é, portanto, mais do que um registro documental: é um testemunho da potência do paisagismo como campo interdisciplinar voltado à regeneração dos vínculos entre natureza, cultura, cidade e comunidade.
O paisagismo é o campo de conhecimento e prática que se dedica à concepção, planejamento, transformação e cuidado dos espaços abertos e das paisagens habitadas. É uma área multidisciplinar que integra saberes da arte, da arquitetura, da ecologia, da botânica, da geografia, das engenharias e do planejamento urbano e regional, propondo intervenções que promovam qualidade ambiental, bem-estar coletivo e equilíbrio entre natureza e sociedade. Mais do que o desenho de jardins, o paisagismo envolve a compreensão profunda dos processos ecológicos, culturais e territoriais que moldam os lugares. Atua desde a escala do detalhe — como um canteiro ou uma praça — até grandes territórios rurais e urbanos, reconhecendo que a paisagem é um sistema vivo, dinâmico e socialmente construído.
O paisagismo pode ser entendido como uma prática que articula função, forma e sentido: organiza fluxos, usos e vegetação; compõe espacialidades sensíveis e expressivas; e promove vínculos entre pessoas, territórios e ecossistemas. Suas aplicações incluem a criação de espaços públicos, a requalificação de áreas degradadas, o manejo de infraestruturas verdes, o apoio a processos de agroecologia urbana, e a valorização de identidades locais. Em tempos de crise climática, desigualdades socioespaciais e colapso ambiental, o paisagismo se afirma como uma ferramenta fundamental para a regeneração dos territórios, a adaptação das cidades e o fortalecimento da justiça ambiental. Trata-se de uma arte ecológica e política, que projeta possibilidades de convivência mais harmônicas, diversas e sustentáveis entre seres humanos e o mundo natural.
Projeto para o Parque Urbano do Igarapé São Joaquim. Autor Embya, com co-autoria do prof. Vinicius Mattos (2022)
Atual sede da Escola de Belas Artes da UFRJ. Edifício Jorge Machado Moreira (Originalmente Edificio da FNA). Átrio dos elevadores (img.1) e Jardins das Helicônias (img. 2)
A formação em Paisagismo na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro representa a convergência entre tradição acadêmica e inovação pedagógica no ensino da paisagem no Brasil.
É nesse contexto que o curso de Paisagismo emerge como expressão contemporânea da vocação artística, ambiental e projetual da EBA. Fruto de transformações curriculares e conceituais ao longo das décadas, o curso consolida-se como o primeiro bacharelado do Brasil voltado exclusivamente à formação de paisagistas, com enfoque multidisciplinar e compromisso ético com a transformação do território.
Integrando saberes da arte, da arquitetura, das ciências ambientais e das humanidades, o curso de Paisagismo oferece uma formação singular, voltada à criação de paisagens sustentáveis, inclusivas e culturalmente significativas. Mais do que formar técnicos ou especialistas, o curso prepara profissionais capazes de atuar de forma crítica, sensível e inventiva frente aos desafios ambientais, urbanos e sociais do século XXI.
A seguir, apresentamos o percurso histórico da formação em paisagismo na EBAUFRJ, seus fundamentos, objetivos, estrutura pedagógica e perfil do egresso — evidenciando a relevância dessa graduação no cenário nacional e seu papel estratégico na construção de paisagens mais justas e habitáveis.
A Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é uma das instituições de ensino artístico mais antigas e prestigiadas do Brasil e da América Latina. Sua origem remonta à fundação da Academia Imperial de Belas Artes, criada em 1826, durante o Primeiro Reinado, por decreto de Dom Pedro I. Esta academia foi o desdobramento institucional da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, fundada em 1816 como parte de um projeto de modernização cultural do país promovido pela Missão Artística Francesa.
Ao longo do século XIX e início do século XX, a Academia formou importantes nomes das artes plásticas e visuais brasileiras, consolidando-se como um centro de excelência nas áreas de pintura, escultura, arquitetura, gravura e ornamentação. Em 1931, com a criação da Universidade do Brasil, a instituição passou a se chamar Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), integrando oficialmente o ensino superior brasileiro como unidade acadêmica da nova universidade.
A partir da década de 1970, com a transformação da Universidade do Brasil na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a escola passou a ser chamada de Escola de Belas Artes da UFRJ, ampliando seu escopo de atuação. Novos cursos foram incorporados, refletindo as mudanças culturais, tecnológicas e sociais que marcaram o ensino artístico no final do século XX. Com isso, a EBA/UFRJ consolidou-se como um espaço dinâmico de produção artística, pesquisa e inovação, preservando a tradição acadêmica e, ao mesmo tempo, abrindo-se
para os desafios contemporâneos.
Atualmente, a EBA é um polo formador de artistas, designers, professores e pesquisadores das artes visuais, do design e da preservação do patrimônio, contando com uma rica estrutura de laboratórios, ateliês, museus e bibliotecas especializadas. Sua atuação transita entre a preservação da memória artística nacional e a produção de conhecimento crítico e criativo voltado para o futuro.
Fruto das transformações acadêmicas vividas pela Escola de Belas Artes no século XX, o curso de Composição Paisagística surge como desdobramento da antiga estrutura curricular voltada às Artes Decorativas, consolidando-se como um curso de graduação na década de 1970. Seu projeto pedagógico original refletia uma proposta inovadora para a época: articular os fundamentos da composição artística com saberes técnicos voltados ao manejo ecológico e botânico, em um diálogo entre arte, natureza e planejamento do espaço.
A formação, que se posicionava entre a arte e as ciências naturais, ganhou reconhecimento institucional com o registro e aprovação pelo Ministério da Educação (MEC) entre os anos de 1977 e 1979, formalizando sua atuação no sistema universitário brasileiro. Desde então, o curso se consolidou como um polo singular de ensino e experimentação no campo do paisagismo.
Entre as décadas de 1980 e 2010, o curso teve como docentes algumas das figuras mais relevantes no pensamento e na prática paisagística no Brasil, como Andrés Tomita, Carlos Terra, Robério Dias, Virgínia Vasconcellos, Lucia Maria Costa, Maria Elisa Feghali, Jane Santucci e Rubens Andrade. Esses nomes contribuíram de forma decisiva para a consolidação do curso como um espaço de reflexão crítica e prática criativa voltada ao paisagismo em suas múltiplas dimensões — estéticas, ambientais, culturais e sociais.
A partir de 2014, impulsionado por movimentos diversos — como o início do trâmite legislativo para o reconhecimento da profissão de paisagista no Congresso Nacional, a pressão do corpo discente e o amadurecimento de uma nova visão acadêmica por parte do corpo docente — o curso iniciou um profundo processo de reforma curricular. Esse processo foi marcado por intensos debates internos e consultas acadêmicas que culminaram, entre 2014 e 2019, na reestruturação completa do currículo e na mudança oficial de nome para “Paisagismo”.
Essa mudança não foi apenas simbólica: ela marcou a consolidação do curso como o primeiro e único bacharelado em Paisagismo do Brasil, reconhecido por seu caráter multidisciplinar e por sua capacidade de formar profissionais aptos a atuar de forma crítica, técnica e poética na transformação da paisagem.
Por que um curso de graduação específico em Paisagismo?
Os projetos paisagísticos exercem um papel estratégico na promoção da qualidade ambiental e social das cidades, especialmente nos grandes centros urbanos. Do ponto de vista ambiental, contribuem para a melhoria da qualidade do ar e da água, para o aumento da permeabilidade do solo, para a redução das ilhas de calor urbanas, e para a recuperação de áreas degradadas. Socialmente, o paisagismo promove bem-estar, saúde e qualidade de vida, especialmente quando
Cotidiano da EBA e do Paisagismo. Estudantes no Jardim dos Filodendros (img.1) e Aula de Plástica com o Prof. Leonardo Etero (img. 2)
Graduação de Paisagismo em Ação. Oficina de Plantio do Jardim dos Filodendros, realizada em 2022 com a coordenação da profa. Lucia Maria Costa (img. 1) e Visita do curso ao Sitio Burle Marx em 2024 (img. 2)
articulado a espaços públicos acessíveis, áreas verdes de uso coletivo e projetos terapêuticos que integram natureza e cuidado.
Apesar de disciplinas de paisagismo estarem presentes em cursos como Arquitetura e Urbanismo, Agronomia e Engenharia Florestal, a criação e manutenção de um Curso de Graduação exclusivo em Paisagismo se justifica pela necessidade de formar profissionais com uma visão holística, crítica e integrada do planejamento e projeto da paisagem.
Nos cursos de Arquitetura, o ensino do paisagismo geralmente se limita a uma base conceitual distribuída em um ou dois períodos, com carga horária reduzida e foco majoritário em espaços edificados. Já em cursos como Agronomia e Engenharia Florestal, embora haja aprofundamento nos aspectos de vegetação, manejo e gestão ambiental, o exercício projetual da paisagem não é foco central da formação.
Nesse contexto, o Curso de Graduação em Paisagismo da EBA-UFRJ ocupa um lugar único: preparar profissionais aptos a atuar com autonomia em todo o ciclo do projeto paisagístico, desde a leitura e diagnóstico ambiental e territorial até a concepção, detalhamento, execução e gestão de intervenções paisagísticas em diversas escalas e contextos.
Trata-se de uma formação que conjuga fundamentos conceituais, técnicos, ecológicos e estéticos, permitindo compreender a paisagem como um sistema vivo, socialmente construído, em permanente transformação. Os futuros paisagistas são capacitados a pensar o projeto como um processo contínuo e interdependente, que articula planejamento ambiental, regeneração ecológica, percepção estética, conforto ambiental e apropriação social dos espaços abertos.
Assim, o curso responde à crescente demanda por profissionais capazes de integrar projeto, ciência e compromisso ético no enfrentamento dos desafios socioambientais contemporâneos, contribuindo efetivamente para a construção de paisagens sustentáveis, resilientes e democráticas.
O Curso de Graduação em Paisagismo da EBA-UFRJ tem como missão a formação de profissionais capazes de atuar de forma criativa, crítica e interdisciplinar na criação, transformação e regeneração da paisagem. O paisagismo é entendido aqui como um campo de atuação multidisciplinar que articula arquitetura, artes, botânica, ecologia, ciências agrárias e ciências humanas, buscando promover o conforto ambiental, a saúde coletiva, o bem-estar social e a sustentabilidade dos territórios.
A formação proposta se baseia em uma abordagem integrada do projeto paisagístico, que considera os múltiplos fatores que compõem os espaços abertos: clima, topografia, solo, vegetação, cultura, percepção, uso, memória e biodiversidade. O curso capacita o aluno a atuar em diferentes escalas e contextos — de jardins a territórios — conciliando aspectos estéticos, funcionais, ambientais e sociais.
Entre os objetivos específicos da formação, destacam-se:
• Promover uma visão interdisciplinar e sistêmica do paisagismo, articulando
teoria, prática, ciência e arte;
• Capacitar os estudantes para o desenvolvimento de projetos paisagísticos em jardins, conjuntos residenciais, espaços comerciais e equipamentos urbanos;
• Formar profissionais preparados para intervir em espaços públicos urbanos, com atenção à diversidade sociocultural, à ecologia urbana e à acessibilidade;
• Qualificar os alunos para integrar equipes multidisciplinares voltadas ao planejamento urbano, ambiental e territorial, nas escalas urbana e regional;
• Desenvolver uma linguagem própria de projeto, que permita ao estudante se expressar como planejador e desenhista da paisagem;
• Estimular a prática da pesquisa e da extensão, integrando o conhecimento acadêmico com as demandas reais dos territórios e comunidades.
A formação em paisagismo da EBA-UFRJ aposta em uma pedagogia que valoriza a experimentação, o pensamento crítico, o cuidado com o território e a atuação transformadora do projeto. Trata-se de um campo em expansão, estratégico para a construção de um futuro mais justo, saudável e biodiverso.
Formação e Perfil do Egresso
O egresso do Curso de Graduação em Paisagismo da EBA-UFRJ será um profissional capacitado a atuar na concepção, planejamento e execução de projetos paisagísticos em múltiplas escalas e contextos, especialmente no meio urbano. Estará apto a desenvolver propostas para espaços residenciais, comerciais, públicos e institucionais, bem como a integrar equipes interdisciplinares envolvidas em projetos de maior complexidade — como parques, praças, corredores ecológicos, áreas verdes urbanas e intervenções em áreas degradadas.
Formado com base em uma visão crítica, técnica, estética e ambiental do território, o egresso será consciente de seu papel como agente transformador da paisagem, contribuindo para a promoção da qualidade ambiental, da inclusão social e do conforto nos espaços abertos. Deverá compreender o projeto paisagístico como instrumento de regeneração ecológica, saúde urbana e bemestar coletivo, e atuar com responsabilidade ética frente aos desafios das mudanças climáticas e das desigualdades territoriais.
Estará preparado para o uso autônomo e contínuo de ferramentas científicas, tecnológicas e projetuais que qualifiquem sua prática profissional, bem como para desenvolver novas abordagens, técnicas e soluções sustentáveis para a criação e o manejo de paisagens cultural e ecologicamente significativas.
Competências: O egresso será capaz de exercer a profissão de paisagista em sua plenitude, tanto no setor público quanto no privado, desempenhando funções criativas, técnicas, científicas e gerenciais. Entre suas competências, destacamse:
• Pesquisa, análise e desenvolvimento de projetos paisagísticos para espaços
Produção Artistica e Cultural do Curso. Pavilhão Arvore da Vida de
Jacob e Maria Eduarda Radler (2018) (img. 1), Praça Maracanã de Ana Clara Guedes (2017) (img. 2) e Os jardins didaticos da Govz ao Pé da Letras de Pablo Piñar (2023) (img. 3)
residenciais e urbanos de uso coletivo;
• Implantação de mobiliário urbano e elementos construtivos nos espaços abertos;
• Identificação, especificação e orçamentação de espécies vegetais e materiais de revestimento;
• Aplicação de critérios técnicos e ambientais no planejamento e detalhamento dos projetos;
• Coordenação ou participação em equipes multidisciplinares em projetos e obras;
• Gestão da implantação, manutenção e requalificação de áreas verdes e jardins.
Habilidades Desenvolvidas: Ao longo da formação, os estudantes desenvolvem um conjunto amplo de habilidades essenciais para o exercício profissional contemporâneo, tais como:
• Domínio de códigos e convenções gráficas da representação paisagística;
• Capacidade de leitura e interpretação ambiental, climática e territorial;
• Conhecimento histórico sobre a evolução dos jardins e da arte paisagística;
• Manejo de espécies vegetais ornamentais, funcionais e de arborização urbana;
• Capacidade técnica e sensível de conceber espaços colaborativos em diálogo com o desenho urbano;
• Identificação e interpretação de conceitos, escalas e estruturas urbanas e paisagísticas;
• Cultura geral, criatividade e postura ética;
• Iniciativa, capacidade de trabalho em equipe e interação social;
• Autonomia para a pesquisa continuada e atualização profissional permanente.
O Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPá) é um projeto de extensão vinculado ao curso de Graduação em Paisagismo da Escola de Belas Artes da UFRJ. Criado em 2022 a partir do diálogo entre professores e estudantes, o AUPá nasce do reconhecimento de que o projeto paisagístico pode e deve ultrapassar os limites da sala de aula, atuando de forma efetiva sobre os conflitos e as potências dos territórios reais.
O ateliê tem como objetivo central articular ações de projeto e orientação paisagística com demandas concretas de organizações da sociedade civil na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por meio da organização de grupos de trabalho compostos por docentes, extensionistas e demais colaboradores, o AUPá estabelece interlocuções com associações comunitárias, coletivos ambientais, movimentos sociais e instituições públicas, sempre a partir de uma escuta ativa e de metodologias participativas.
Sua atuação compreende um amplo espectro de atividades: desde ensaios projetuais e intervenções experimentais, até projetos paisagísticos completos para pequenos ambientes, projetos básicos para espaços de médio e grande porte, planos diretores ambientais e paisagísticos, além de orientações técnicas para gestão, manutenção e uso sustentável da paisagem.
Mais do que oferecer soluções técnicas, o AUPá promove uma prática extensionista dialógica, emancipatória e formativa, em que os saberes acadêmicos e populares se encontram na coautoria de propostas para uma paisagem mais justa, biodiversa e habitável. Para os estudantes, o ateliê representa uma oportunidade singular de experimentar a prática profissional do paisagismo sob a lógica do compromisso social, ambiental e territorial. Para a universidade, é um campo fértil de ensino-aprendizagem, inovação e responsabilidade pública.
O Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPá) tem como missão fortalecer o vínculo entre universidade e sociedade por meio de ações extensionistas no campo do paisagismo, promovendo a transformação territorial, o aprendizado mútuo e o compromisso com a justiça socioambiental. Seus principais objetivos são:
• Desenvolver projetos paisagísticos em territórios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em parceria com entidades da sociedade civil organizada, seja por iniciativa do ateliê ou por demandas externas, contribuindo com o desenvolvimento territorial e promovendo o conhecimento do campo do paisagismo por meio da experimentação em contextos reais.
• Estabelecer processos de troca de saberes com diferentes grupos sociais, por meio do desenvolvimento de projetos participativos, de ações de campo, do diálogo contínuo e do convívio entre extensionistas e comunidades.
• Consolidar um grupo de trabalho dentro do curso de Paisagismo, fortalecendo
a aproximação entre estudantes, professores e territórios, e promovendo uma prática projetual crítica, engajada e situada social e politicamente.
• Contribuir com a gestão e o desenvolvimento contínuo dos espaços atendidos pelo ateliê, por meio de ações de orientação técnica, oferta de cursos, oficinas e eventos formativos voltados à apropriação comunitária da paisagem.
• Proporcionar aos estudantes extensionistas a vivência do processo criativo e projetual do paisagismo a partir de situações com forte conteúdo social, ambiental e cultural, estimulando a autonomia, o compromisso ético e a capacidade de escuta e proposição.
• Ampliar o diálogo entre o curso de Paisagismo e a sociedade civil, promovendo a participação de coletivos, movimentos e instituições nos debates públicos sobre paisagem, meio ambiente, planejamento urbano e territorial.
O AUPá compreende o projeto paisagístico como uma prática necessariamente interdisciplinar. Para que os projetos desenvolvidos tenham consistência ética, sensibilidade social e eficácia ambiental, é fundamental incorporar saberes diversos que se relacionam com a paisagem em suas múltiplas dimensões.
Assim, além da atuação central dos estudantes de Paisagismo, o ateliê estimula e acolhe a participação de extensionistas de outros cursos da UFRJ, como Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Ecologia, Botânica, Arquitetura e Urbanismo, Planejamento Urbano, Geografia, Meteorologia, entre outros. Essa abertura fortalece a troca de saberes e experiências, ampliando o repertório técnico e conceitual dos projetos e enriquecendo os processos de escuta, criação e implementação.
A partir dessa colaboração entre áreas, o AUPá se consolida como um espaço vivo de formação ampliada, onde diferentes olhares se somam para responder, de forma crítica e inovadora, aos desafios contemporâneos da paisagem e do território.
Projeto como ferramenta de transformação social
No AUPá, o projeto paisagístico é compreendido como instrumento de diálogo, mediação e transformação social. Por meio da elaboração de projetos e ações projetuais colaborativas, os extensionistas e a universidade apoiam organizações da sociedade civil na gestão e transformação paisagística de seus territórios, oferecendo instrumentos técnicos, metodologias participativas e conhecimentos específicos do campo do paisagismo.
Esses projetos têm múltiplas funções: amplificam as vozes das comunidades perante o poder público, subsidiam a busca por financiamentos e políticas públicas, revelam potenciais e conflitos socioambientais, e servem de base para a mobilização de mutirões, eventos culturais e ações educativas. Dessa forma,
Visita de campo a Orla da Ilha do Fundão no processo de desenvolvimento da Setorização para o Parque Ecológico do Fundão. 2022
o projeto não é apenas um produto final, mas um processo contínuo de escuta, reflexão, proposição e ação coletiva.
A cooperação com organizações sociais e seus respectivos grupos transforma o ato de projetar em um processo coautoral e emancipador, que contribui não apenas para o território, mas também para a própria universidade. O envolvimento direto com realidades complexas oferece aos estudantes extensionistas uma formação crítica, sensível e situada, fortalecendo sua autonomia e seu compromisso ético com o território.
Além disso, essas experiências geram insumos para pesquisas, trabalhos acadêmicos e práticas docentes, consolidando o AUPá como um espaço privilegiado de produção de conhecimento e experimentação no campo do paisagismo, com impacto direto na formação discente e no desenvolvimento do curso.
Extensão como via de mão dupla: diálogo, formação e produção de conhecimento
Para além da transformação territorial e social, o AUPá estabelece uma ponte vital entre universidade e sociedade, promovendo o encontro entre o curso de Paisagismo da EBA-UFRJ e as organizações da sociedade civil e seus públicos. Através da vivência direta nos territórios e do diálogo com os grupos sociais envolvidos, o ateliê transforma a realidade em campo de experimentação crítica, criativa e colaborativa.
Essa aproximação proporciona aos extensionistas e ao curso a oportunidade de testar e aperfeiçoar metodologias de projeto, comunicação e apresentação, em constante troca com os saberes, expectativas e críticas oriundas das comunidades. O contato com diferentes realidades sociais amplia a capacidade de leitura paisagística e de escuta qualificada, estimulando o desenvolvimento de soluções projetuais mais sensíveis, contextualizadas e coautoras.
O processo também envolve a aprendizagem ativa de técnicas, métodos e práticas de manejo da paisagem que são desenvolvidos localmente — muitas vezes por grupos sociais que atuam de forma empírica, ancestral ou inovadora. Ao reconhecer e integrar esses saberes populares, o ateliê valoriza a diversidade epistemológica e propicia a construção compartilhada de novos conhecimentos, técnicas e formas de conceber, projetar e cuidar das paisagens.
As ações do AUPá, assim, tecem vínculos duradouros entre universidade e sociedade, não apenas com o propósito de intervir nos territórios, mas de produzir transformações recíprocas: contribuindo para o desenvolvimento socioambiental dos grupos e territórios atendidos, ao mesmo tempo em que enriquece o ensino, a pesquisa e a formação crítica no campo do paisagismo.
É nesse movimento de mão dupla que a extensão se afirma como prática
pedagógica, política e epistemológica fundamental na universidade pública.
Integração entre ensino, pesquisa e realidade social
O AUPá, por meio dos projetos desenvolvidos em colaboração com organizações da sociedade civil, atua como um instrumento de articulação concreta entre o ensino, a pesquisa e a extensão no curso de Paisagismo da EBA-UFRJ. Ao estabelecer vínculos com os desafios políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais enfrentados por territórios reais, o ateliê transforma-se em um espaço privilegiado de intercâmbio entre o conhecimento acadêmico e a realidade social.
A partir dessa vivência, o AUPá contribui significativamente para a formação dos estudantes, oferecendo uma experiência distinta daquela encontrada em estágios tradicionais em empresas ou órgãos públicos. No ateliê, o estudante extensionista tem a oportunidade de exercer a prática do paisagismo com autonomia progressiva e responsabilidade compartilhada, inserido em uma dinâmica social viva, imprevisível e rica em trocas afetivas, culturais e políticas.
Trata-se de uma experiência formativa singular, em que o exercício projetual deixa de ser apenas simulado ou tecnicamente encomendado, e passa a ser socialmente implicado — construído a partir de demandas reais, diálogos coletivos, decisões colaborativas e vivências territorializadas. Nesse contexto, o estudante não apenas aplica seus conhecimentos, mas também reformula suas abordagens, amplia seu repertório crítico e experimenta os limites e as potências do fazer paisagístico como prática ética e transformadora.
Prof. Vinicius Ferreira Mattos
Arquiteto paisagista e urbanista formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ), mestre em Arquitetura Paisagística e doutor em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB-UFRJ). Sua trajetória acadêmica articula teoria, prática e crítica no campo do projeto urbanístico e paisagístico, com ênfase na escala geográfica, nas infraestruturas ecológicas e na relação entre urbanização e meio ambiente.
Desde 2022, é professor adjunto do curso de Graduação em Paisagismo da Escola de Belas Artes da UFRJ, onde atua no ensino de disciplinas de projeto, representação e teoria da paisagem. Sua atuação pedagógica busca integrar sensibilidade estética, consciência ecológica e engajamento social, formando paisagistas capazes de atuar de modo crítico e comprometido diante das múltiplas crises contemporâneas.
Vinicius é coordenador do Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPa), projeto de extensão que tem como objetivo principal aproximar o ensino de paisagismo da realidade dos territórios populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Através de oficinas, mutirões, processos de escuta ativa e coautoria com comunidades, o AUPa desenvolve projetos paisagísticos orientados pela justiça ambiental, pela valorização dos saberes locais e pela regeneração ecológica.
Entre os parceiros e territórios atendidos pelo AUPa, destacam-se hortas comunitárias, coletivos ambientais, movimentos de moradia e iniciativas de base que atuam em áreas urbanas e periurbanas.
Sua produção acadêmica explora temas como infraestrutura verde, soluções baseadas na natureza, direito à paisagem, territórios populares, agroecologia, biofilia, desenho urbano, metodologias projetuais e crítica ao urbanismo moderno. Tem interesse em construir pontes entre universidade e sociedade, entre ciência e imaginação, entre desenho e transformação política.
O AUPá não atua isoladamente. Ao seu redor, florescem projetos de pesquisa e extensão que compartilham princípios metodológicos e éticos comuns, criando uma ecologia de práticas vinculadas ao curso de Paisagismo da EBA-UFRJ. Coordenados pelo professor Vinicius Ferreira Mattos, esses projetos expandem os campos de atuação do paisagismo, aprofundando a relação entre o projeto, o território e os saberes sociais. Entre eles, destaca-se:
Manual de Design Biofílico Popular
Este projeto de pesquisa tem como objetivo elaborar uma coletânea de soluções práticas e acessíveis para integrar processos naturais e ecológicos ao cotidiano urbano, com foco em três escalas principais: Paisagens, Cidades e Edifícios. Pensado para técnicos, estudantes, designers ambientais e organizações da sociedade civil, o manual busca democratizar o acesso às Soluções Baseadas na Natureza (SBN) e promover a biofilia como princípio estruturante do espaço urbano.
A inovação do projeto está em sua abordagem colaborativa e transdisciplinar, que combina conhecimentos acadêmicos e saberes populares para gerar soluções sustentáveis, replicáveis e sensíveis ao contexto socioterritorial brasileiro. A metodologia inclui a observação de práticas tradicionais, o desenvolvimento de protótipos participativos e a sistematização das soluções em um formato didático e acessível.
Além de propor estratégias para cidades mais verdes, resilientes e inclusivas, o projeto também atua como base teórica e metodológica para o AUPá, influenciando diretamente sua atuação em territórios vulnerabilizados e sua abordagem projetual com foco em justiça ambiental e saúde urbana.
Projeto Caiçara
O Projeto Caiçara é uma ação extensionista e formativa que tem como objetivo promover a implantação de hortas comunitárias e sistemas agroflorestais urbanos, com foco em escolas, organizações da sociedade civil e instituições públicas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A proposta articula planejamento ecológico, agroecologia urbana e mobilização comunitária, contribuindo diretamente para a regeneração ambiental e a segurança alimentar nos territórios atendidos.
A metodologia do projeto envolve planejamento colaborativo, implementação
participativa e suporte técnico contínuo, buscando garantir a sustentabilidade das áreas cultivadas. A atuação multidisciplinar visa criar sistemas produtivos que sejam, ao mesmo tempo, funcionais, esteticamente agradáveis e ecologicamente resilientes.
O Projeto Caiçara também atua como espaço de formação prática e teórica. São oferecidos cursos de capacitação e oficinas comunitárias, com foco em manejo agroflorestal, colheita, beneficiamento e organização coletiva da produção. A proposta valoriza os saberes tradicionais e populares, promovendo uma troca dialógica entre agricultores urbanos, estudantes, técnicos e pesquisadores, fortalecendo o vínculo entre universidade e território.
Os impactos esperados incluem a revitalização de espaços urbanos, o fortalecimento comunitário, a promoção de práticas sustentáveis e o desenvolvimento econômico local por meio da geração de renda com a venda dos excedentes produtivos.
Os estudantes extensionistas do curso de Paisagismo participam de todas as etapas do processo, do planejamento à implementação e acompanhamento, vivenciando a prática do paisagismo agroecológico com forte inserção territorial, o que contribui para o desenvolvimento de habilidades manuais, sensibilidade social e aprofundamento crítico da formação acadêmica.
Protótipo Paisagístico de Planejamento Ambiental para a Transição Agroecológica no Estado do Rio de Janeiro
Este projeto investiga a integração entre práticas agroecológicas, planejamento paisagístico e urbanismo no território do Estado do Rio de Janeiro, propondo uma resposta concreta aos desafios contemporâneos relacionados à sustentabilidade, segurança alimentar e reorganização socioespacial. A pesquisa tem como objetivo principal desenvolver um protótipo metodológico de planejamento ambiental e paisagístico voltado à transição agroecológica, conciliando a produção de alimentos com a conservação ambiental, o ordenamento territorial e a justiça social.
A metodologia adotada combina revisão bibliográfica, levantamento de dados, geoprocessamento, geodesign, análises cartográficas e empíricas, articulando diferentes escalas e campos do conhecimento. Oficinas multidisciplinares também integram o processo, promovendo a troca entre estudantes, docentes, técnicos e representantes da sociedade civil. O resultado é a construção de um plano paisagístico ensaístico, com diretrizes que apontam caminhos para o fortalecimento de redes agroecológicas, a regeneração de paisagens degradadas e o reequilíbrio entre espaços urbanos e rurais.
A proposta visa à elaboração de um modelo replicável de planejamento ambiental sustentável, que possa orientar políticas públicas, programas territoriais e projetos comunitários. Também busca contribuir com a formação crítica e aplicada de estudantes de graduação e pós-graduação, fomentando a produção de conhecimento transdisciplinar e comprometido com os processos de transição socioecológica.
Este projeto fortalece o campo do paisagismo como área estratégica para enfrentar os grandes desafios do século XXI, atuando na interface entre o
Cartografia produzidas pela pesquisa Protótipo “Paisagístico de Planejamento Ambiental para a Transição Agroecológica no Estado do Rio de Janeiro”. Bacia do Rio Macaé (apresentada no ENEPEA 2024), Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Apresentado no CBA 2023).
planejamento ambiental, a agroecologia e a ação territorial transformadora, em sintonia com os princípios extensionistas do AUPá.
A Rede de Agroecologia da UFRJ (ReAU) é um programa institucional que articula projetos de extensão de diferentes cursos da universidade, com o objetivo de fortalecer a agroecologia como prática integrada de cuidado com o território, produção de alimentos e transformação social. Desde 2015, a rede promove ações colaborativas voltadas à preservação ambiental, ao fortalecimento de saberes tradicionais e à construção de vínculos entre universidade e sociedade civil.
Com organização autogestionária, horizontal e transescalar, a ReAU funciona como um guarda-chuva que conecta coletivos, projetos e ações agroecológicas dentro e fora da UFRJ. Sua atuação inclui campanhas, oficinas, trilhas ecopedagógicas, mutirões, cursos, debates e eventos comunitários, promovendo práticas de educação ambiental e de valorização cultural, especialmente em territórios populares onde esse tipo de ação costuma ser inexistente ou negligenciado.
A rede propõe uma abordagem interdisciplinar, crítica e transformadora, que reconhece a importância dos saberes tradicionais, da responsabilidade social e do pertencimento territorial como fundamentos para a superação das desigualdades socioambientais.
Desde 2023, o professor Vinicius Ferreira Mattos atua como coordenador adjunto da ReAU, ao lado da professora Paula Brito (Saúde Coletiva), contribuindo com a integração da rede às práticas do curso de Paisagismo da EBA-UFRJ e ao Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPá). Essa articulação fortalece o diálogo entre agroecologia e projeto paisagístico, promovendo a construção de paisagens sustentáveis, com base no cuidado, na justiça e na regeneração dos territórios.
Portfólio do Ateliê Universitário de Paisagismo
O Canteiro de Experimentação em Jardinagem e Cultivo da Terra, implantado na quadra do Edifício Jorge Machado Moreira (JMM) da UFRJ, configura-se como um espaço multidisciplinar voltado ao ensino, à pesquisa e à extensão em paisagismo e agroecologia. Coordenado pelo curso de Paisagismo da Escola de Belas Artes (EBA-UFRJ), o projeto articula saberes acadêmicos e populares para a formação crítica, técnica e sensível de estudantes, professores e coletivos da universidade.
Este espaço integra o conjunto de ações sistêmicas do curso de Paisagismo — como o Ateliê Universitário de Paisagismo, os Canteiros Experimentais, o ViveiroEscola de Paisagem e a Rede de Agroecologia da UFRJ — e estabelece diálogos interinstitucionais com a FAU, Escola Politécnica, Instituto de Biologia, Instituto de Geografia e Prefeitura Universitária, entre outros.
Dividido em quatro núcleos principais — Canteiros Didáticos-Experimentais, Módulo Agroflorestal, Jardim Selvagem e Mudário Piloto — o projeto oferece suporte a processos pedagógicos e produtivos que envolvem a experimentação com espécies nativas e adaptadas, técnicas sustentáveis de cultivo, manejo ecológico do solo e reaproveitamento de recursos, como compostagem e captação de água da chuva. Sua implantação e manutenção são viabilizadas por mutirões, editais de pesquisa e extensão e parcerias institucionais.
Inspirado em metodologias como o Rural Studio e iniciativas agroecológicas da própria UFRJ, o projeto também resgata e atualiza o legado paisagístico da universidade, em diálogo com a concepção original dos Jardins Didáticos de Roberto Burle Marx (1957), reafirmando o compromisso com a ecologia, a
Axonométrica da Proposta
Proposta de Edificação de Apoio para o Laboratório
Perspectiva do projeto. Ao fundo o Edifício Jorge Machado Moreira
O presente estudo propõe diretrizes de setorização e estruturação programática para o Parque Ecológico da Cidade Universitária (PECU), com foco na orla da Enseada do Fundão, área estratégica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto se insere no escopo das ações do Ateliê Universitário de Paisagismo e retoma criticamente a trajetória de planos anteriores, como o Projeto Orla, o Plano Diretor 2020, o Plano Diretor Ambiental Paisagístico (PDAP) e os documentos preliminares do PD2030.
Portfólio do Ateliê Universitário de
A proposta parte do reconhecimento da paisagem atual como base viva de projeto, incorporando preexistências ambientais, sociais e estruturais, e alinha-se às abordagens contemporâneas do paisagismo ecológico e resiliente, como discutido nos trabalhos do arquiteto paisagista Kongjian Yu e nas reflexões apresentadas no artigo do PNUM 2022. A concepção do PECU adota os princípios da intervenção mínima, da valorização dos ecossistemas urbanos, do uso produtivo e pedagógico do território e da restauração ativa das áreas naturais.
A macrosetorização do parque contempla dez unidades principais, entre as quais se destacam: o Parque da Prainha, o Manguezal da Enseada, o Jardim Botânico Agroflorestal Burle Marx, o Parque de Eventos, o Parque Esportivo, o Parque do Catalão, o Horto Universitário e o Parque da Ilha do Bom Jesus. Cada setor articula percursos, programas e tipologias vegetais que
favorecem a conectividade ecológica, a diversidade de usos e o acesso democrático à paisagem.
O projeto propõe ainda a qualificação dos eixos de conexão entre a Cidade Universitária e seu entorno urbano, bem como a ampliação da infraestrutura ecológica e da mobilidade ativa, com ciclovias, caminhos de observação e píeres na orla. A vegetação nativa, a arborização de restinga e os jardins selvagens integram estratégias para a renaturalização da orla e o controle ecológico das margens.
A primeira fase de implantação, denominada Parque da Prainha, foi definida como experimento-piloto por seu valor ambiental e paisagístico e pela presença de elementos identitários como a praia, os bosques existentes e a relação com a comunidade pesqueira. Sua implantação visa demonstrar, em pequena escala, os princípios operativos do PECU e construir um modelo replicável para outras áreas do campus.
Portfólio do Ateliê Universitário de
Este projeto é, portanto, uma contribuição estratégica ao debate sobre o futuro da Cidade Universitária, ao articular projeto paisagístico, planejamento ambiental e ativação do espaço público, buscando transformar a Enseada do Fundão em um espaço vivo de experimentação, fruição e reconexão ecológica entre a universidade, a cidade e a Baía de Guanabara.
Diagramas de Setorização
Jardins do Centro Cultural Calouste Gulbekian (2023)
Este estudo preliminar, desenvolvido pelo Ateliê Universitário de Paisagismo da Escola de Belas Artes da UFRJ, propõe a requalificação dos espaços livres do Centro de Artes Calouste Gulbenkian, articulando estratégias de projeto paisagístico a diretrizes de ativação urbana e valorização da paisagem cultural da região central do Rio de Janeiro.
Localizado entre a Cidade Real e a Cidade Monumental, o Calouste Gulbenkian é reposicionado nesta proposta como uma "Praça das Artes", aberta, acessível e conectada com a malha urbana e cultural do entorno. A proposta parte do entendimento de que o espaço deve dialogar com a cidade em sua complexidade, propondo transformações estruturais e simbólicas para além dos limites físicos do equipamento.
Entre as diretrizes paisagísticas centrais, destacam-se:
• A conversão do estacionamento em praça pública multifuncional;
• A redefinição do acesso principal para a Rua Benedito Hipólito, conectando o edifício ao espaço urbano;
• A criação de uma Praça de Eventos com palco, arquibancadas desmontáveis e infraestrutura de apoio;
• A implantação de jardins artísticos e didáticos, que funcionem como Diagramas de Concepção
dispositivos de experimentação, expressão e educação ambiental;
• A substituição da cerca opaca por cercamento permeável e vegetado, promovendo maior abertura visual e simbólica com o entorno.
O projeto também introduz soluções de infraestrutura verde, como o uso de concreto drenante, sombreamento com palmeiras, vegetação de restinga e espécies adaptadas ao microclima urbano. As propostas de plantio incluem conjuntos de herbáceas ornamentais, arbustos de médio porte e vegetações para áreas de sombra e borda, compondo uma paleta diversificada, sensível e de fácil manutenção.
A proposta se desenvolve em quatro fases de implantação, que iniciam com os jardins artísticos e o cercamento, avançando para a praça de entrada e,
posteriormente, para a ampliação da praça de eventos. Todo o processo é orientado por princípios de baixo custo, intervenção mínima e valorização do uso coletivo, buscando ativar o espaço com a participação dos usuários e da comunidade artística e acadêmica.
Este projeto insere-se nas ações extensionistas do Ateliê Universitário de Paisagismo, que desde 2022 atua junto a coletivos e instituições na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, promovendo projetos paisagísticos críticos, socialmente comprometidos e ambientalmente sustentáveis. O trabalho com o Centro Calouste Gulbenkian reafirma o papel do paisagismo como campo integrador entre arte, cidade e natureza, contribuindo com a construção de uma paisagem urbana mais inclusiva, sensível e viva.
Base Operacional dos Pescadores da Prainha (2023)
A Base Operacional da Prainha, localizada na orla da Enseada do Fundão, constitui-se como um dos núcleos centrais do Programa Orla Sem Lixo, iniciativa que articula soluções integradas para o enfrentamento dos resíduos sólidos flutuantes na Baía de Guanabara. O projeto foi concebido como uma infraestrutura leve, ecológica e socialmente comprometida, voltada à operação das barreiras de contenção de lixo, ao apoio à pesca artesanal e ao desenvolvimento de ações educativas e agroecológicas.
Sua implantação está sendo financiada com recursos do Programa Petrobras Socioambiental, que reconhece o valor estratégico da proposta para a promoção da justiça ambiental, da sustentabilidade urbana e da valorização das comunidades tradicionais do entorno.
A base será edificada em uma gleba de 3.307m², respeitando os parâmetros urbanísticos do Plano Diretor da Cidade Universitária. O edifício principal, com 126m², foi projetado com foco na versatilidade e eficiência funcional, abrigando áreas cobertas e avarandadas para reuniões e oficinas, copa, sanitários e depósitos multiuso, incluindo
um ambiente reversível para pernoite de vigia ou apoio emergencial. O conjunto será conectado à infraestrutura urbana existente — energia, água e esgoto — com complementação por sistemas sustentáveis autônomos, como painéis solares, fossa-filtro, captação de água de chuva e jardins de fitodepuração.
Além da edificação, a base contará com um pátio de serviços para embarcações, áreas de carga e descarga de materiais, garagem para barcos, lixeira e um sistema paisagístico que inclui canteiros agroecológicos e jardins experimentais, com potencial para produção de alimentos, restauração vegetal e experimentação didática. Esses elementos foram pensados como infraestruturas vivas, integradas ao território e aos ciclos ecológicos da enseada.
A arquitetura da base valoriza o uso de materiais locais e técnicas construtivas vernaculares, como estruturas de eucalipto tratado, cobogós cerâmicos, telhas de fibrocimento pintadas e elementos de madeira de reflorestamento. O desenho construtivo e paisagístico prioriza a permeabilidade do solo (mínimo de 80% da
área livre), a ventilação cruzada e o conforto térmico, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável.
Com a construção da Base Operacional da Prainha, o Programa Orla Sem Lixo avança na consolidação de um modelo replicável de infraestrutura socioambiental integrada, que alia conhecimento técnico-científico, saberes populares, inclusão social e compromisso ecológico. O projeto reafirma o papel da UFRJ como agente ativo na regeneração das margens da Baía de Guanabara e na construção de um futuro urbano mais justo e resiliente.
Jardins Didáticos do Colégio Pedro II Humaitá 1 (2023-2024)
O projeto Jardins Didáticos do Colégio Pedro II – Unidade Humaitá I é uma proposta de planejamento paisagístico elaborada pelo Ateliê Universitário de Paisagismo da Escola de Belas Artes da UFRJ, em colaboração com a comunidade escolar e no âmbito do Programa Jardins Didáticos. A iniciativa busca articular ensino, extensão e participação social na criação de ambientes educativos, sensoriais e afetivos dentro da escola pública.
Importante destacar que o projeto foi inicialmente concebido na disciplina de Projeto Paisagístico 1 do curso de Paisagismo da EBAUFRJ, como um exercício prático de aplicação dos conhecimentos técnicos, ecológicos e criativos em um contexto real. Desde então, a proposta se consolidou como uma obra aberta, em constante Proposta de ocupação do terraço
Portfólio do Ateliê Universitário de Paisagismo transformação, que vem sendo revisada e enriquecida de forma contínua com base nas demandas, desejos e experiências do corpo social do Colégio Pedro II.
A proposta parte do diagnóstico de que os espaços livres da unidade escolar são limitados e carecem de qualificação ambiental e funcional. Como resposta, o projeto organiza um conjunto de táticas paisagísticas distribuídas nos principais pátios, no terraço e nas bordas do lote, com soluções adaptadas à rotina escolar e ao protagonismo da comunidade.
Entre os principais componentes estão:
Pátio e Briquedão
Canteiros da Biblioteca
Ajardinamento das bordas com espécies nativas e adaptadas, ampliando o conforto térmico, a biodiversidade e a beleza do ambiente;
Qualificação dos pátios com brinquedos criativos, mobiliário lúdico, abrigos, plataformas e áreas de sombra, inspirados em experiências de urbanismo infantil e espaços educativos contemporâneos;
Hortas pedagógicas com espécies alimentícias e medicinais, integrando conteúdos curriculares e vivências agroecológicas;
Ocupação do terraço como solário, com pergolado em bambu, bancos e vasos suspensos, criando um espaço de respiro, observação e encontros;
Intervenções artísticas e visuais, como murais grafitados e mosaicos coletivos, que estimulam a identidade e o pertencimento;
Ambientes multiuso que ampliam a capacidade de uso dos espaços para oficinas, apresentações, encontros e lazer.
A primeira fase de implantação foca nos pátios centrais, com brinquedos, hortas e mobiliário coletivo, permitindo
Registros do primeiro mutirão de plantio em Maio de 2024
Portfólio do Ateliê Universitário de Paisagismo
apropriação imediata e ativação dos espaços. As fases seguintes preveem a arborização das bordas, a transformação do terraço e a consolidação de áreas de sombra e permanência.
Ao propor uma paisagem escolar viva, criativa e democrática, o projeto reafirma o compromisso com uma educação sensível ao território, ao cuidado e à coletividade. Também fortalece a atuação do curso de Paisagismo como um campo engajado na transformação das cidades e na valorização dos espaços públicos educacionais, sempre em diálogo com quem os habita.
Registro da Equipe do Ateliê Universitário com o Projeto Convivium
Solanum aethiopicum
7 Manjericão Ocimum basilicum 14
PROJETO PAISAGÍSTICO PARA CANTEIROS PEDAGÓGICOS
RUA JOÃO AFONSO, 56
- RIO DE JANEIRO
TÉRREA DE PLANTIO DE MUDAS COLÉGIO PEDRO II HUMAITÁ
Roberto Burle Marx na década de 1990
Estudantes trabalhando no desenvolvimento da Maquete
Maquete dos Jardins da FNA de Roberto Burle Marx (2024-2025)
O projeto da maquete “FNA: Os Jardins de Burle Marx como um Laboratório Vivo” foi desenvolvido no âmbito do curso de Paisagismo da Escola de Belas Artes da UFRJ, como parte das atividades de extensão promovidas pelo Ateliê Universitário de Paisagismo. A iniciativa tem como objetivo representar, em escala, o projeto original de Roberto Burle Marx para os jardins didáticos da Faculdade Nacional de Arquitetura, localizado na quadra do Edifício Jorge Machado Moreira, e promover a valorização crítica desse patrimônio paisagístico moderno.
A maquete foi concebida como objeto didático, artístico e memorial, e busca resgatar os sentidos originais da proposta paisagística, confrontando-os com a realidade atual da área, marcada por transformações, descaracterizações e processos de negligência. A produção envolveu levantamento de campo, consulta a desenhos originais, estudo das pesquisas de referência e execução manual em papel pluma, duplex e triplex, com corte e montagem artesanal em escala 1:250. O conjunto é composto por quatro bases quadradas de 1,20 m parafusadas em ripas de madeira, totalizando 2,4 m² de área.
O trabalho foi desenvolvido coletivamente por estudantes extensionistas do curso de Paisagismo, com orientação do Prof. Dr. Vinicius Mattos, e apoio das
pesquisas conduzidas pela Prof.ª Dr. Lúcia Costa e seu grupo, que têm investigado as possibilidades didáticas da representação gráfica dos jardins de Burle Marx na Cidade Universitária. A maquete se insere nesse esforço coletivo de resgate da memória paisagística e de valorização do campus como território de ensino, projeto e preservação cultural.
Importante destacar que a maquete será exposta
em maio de 2025 no hall dos elevadores do sexto andar da Escola de Belas Artes da UFRJ, como parte de uma ação de ativação da memória e da paisagem universitária, integrando-se aos esforços de reconstrução simbólica e espacial do campus.
A exposição reafirma a potência do projeto paisagístico como ferramenta de ensino, crítica e mediação, transformando o legado de Burle Marx em um laboratório vivo para novas gerações de estudantes e pesquisadores comprometidos com a paisagem como prática ativa e reflexiva.
Estudantes trabalhando no desenvolvimento da Maquete
Propostas de Parceria e Ações Conjuntas
O Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPá), projeto de extensão da Escola de Belas Artes da UFRJ, desenvolve ações voluntárias e colaborativas com foco em planejamento e projeto paisagístico em territórios social e ambientalmente relevantes. Buscamos construir paisagens mais justas, ecológicas e inclusivas, por meio da escuta ativa, da coautoria e do diálogo entre saberes acadêmicos e populares.
Quem pode apresentar propostas?
São elegíveis para atendimento pelo AUPá:
• Grupos sociais organizados e coletivos comunitários;
• Organizações da sociedade civil sem fins lucrativos (ONGs, associações,cooperativas etc.);
• Instituições públicas (escolas, unidades de saúde, órgãos ambientais, universidades, entre outras).
Quais tipos de espaços podem ser atendidos?
Damos preferência a ações em espaços públicos ou de propriedade pública (municipal, estadual ou federal), assim como áreas pertencentes às organizações parceiras, desde que voltadas ao uso público e coletivo.
O que o AUPá oferece?
• Elaboração de planos paisagísticos e projetos básicos em qualquer escala (praças, escolas, hortas urbanas, parques, etc.);
• Projetos executivos de paisagismo para intervenções de pequeno porte (até 500 m²);
• Consultorias técnicas, acompanhamento de processos, orientação para captação de recursos e
apoio à organização de mutirões comunitários;
• Possibilidade de produção de materiais educativos e científicos com base nas ações realizadas.
Condições de parceria
Todas as ações do AUPá são realizadas de forma voluntária e educativa, como parte das atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária. Por isso, é necessário que:
• A organização esteja disposta a participar ativamente das etapas de diagnóstico, concepção e implantação dos projetos;
• Os projetos desenvolvidos possam ser documentados, publicados e utilizados como base para a produção de conhecimento acadêmico e técnico no campo do paisagismo.
Se sua organização ou coletivo tem interesse em propor uma parceria com o AUPá, entre em contato conosco por e-mail ou formulário, apresentando uma breve descrição do território, do grupo envolvido e das motivações para a parceria.
Juntos, podemos construir paisagens mais vivas, coletivas e transformadoras.
Ateliê Universitário de Paisagismo (AUPá) está aberto a propostas de patrocínios e doações de pessoas físicas e jurídicas que queiram apoiar nossas ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas ao desenvolvimento de projetos paisagísticos sustentáveis, inclusivos e socialmente comprometidos
Todas as contribuições financeiras são administradas pela Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB), fundação de apoio oficial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), garantindo segurança, transparência
e conformidade institucional no uso dos recursos.
Patrocínio por Pessoas Jurídicas
Empresas nacionais ou internacionais podem apoiar o AUPá por meio de patrocínios administrados pela FUJB. As empresas que operam no regime de lucro real, com lucro contábil e regularidade fiscal, podem se beneficiar de incentivos fiscais previstos na Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005 – Capítulo III).
Este mecanismo, regulamentado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), permite a dedução de parte dos investimentos realizados em atividades de pesquisa e desenvolvimento em inovação tecnológica.
Doações de Pessoas Físicas e Jurídicas
Também recebemos doações de pessoas físicas ou jurídicas interessadas em apoiar nossos projetos, sem necessidade de contrapartidas fiscais. Essas doações são fundamentais para a continuidade e a ampliação das nossas atividades de formação de estudantes, transformação territorial e construção de paisagens mais justas e biodiversas.
Se sua empresa ou organização tem interesse em firmar uma parceria de patrocínio, ou se você deseja fazer uma doação para apoiar nosso trabalho, entre em contato conosco. Teremos grande satisfação em esclarecer detalhes, apresentar nossas ações e construir caminhos conjuntos para fortalecer a paisagem, a educação e a cidadania.
Avenida Pedro Calmon, 550. Edificio Jorge Machado Moreira. Salas 603 e 605 (Curso de Paisagismo) ou Sala 714 (EBA)
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