
7 minute read
MORTES POR FIOS SOLTOS NÃO SÃO INCOMUNS, DIZ ESPECIALISTA Professor da Uerj diz que passageiros eletrocutados ao descerem de ônibus não é mera fatalidade
Durante as fortes chuvas ocorridas em 7 de fevereiro deste ano, Karla Gabriele Prado do Santos, de 31 anos, morreu após descer do ônibus em que estava e sofrer uma descarga elétrica no bairro do Ingá, Zona Sul de Niterói. O professor adjunto da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Antônio Guilherme Garcia Lima, afirma que casos do tipo não são incomuns.
Ele comentou sobre quais foram as possíveis causas do acidente que vitimou Karla. Ele afirma que o cenário mais perigoso é quando há o rompimento de um fio de alta tensão e este encosta num veículo, como o ônibus no qual a vítima estava.
Advertisement
“O maior perigo é o fio de alta tensão, que são aqueles que ficam mais altos. Em alguns haverá um transformador ligado a esses fios que se ligam a fios mais baixos, que são os que vêm a nossas casas. Quando há algum acidente, um carro bate num poste, por exemplo, arrebenta esse fio de alta tensão e ele parte. Um ônibus ficaria com alta tensão, mas não sofre nada porque não há terra”, explicou.
Dessa forma, o maior risco está não em ficar dentro do veículo, mas sim ao sair dele. O professor explicou que é possível que, ao colocar o pé no chão quando saiu do ônibus, a vítima tenha feito com que a descarga elétrica passasse por seu corpo. Garcia Lima ainda destacou que, infelizmente, casos do tipo não são incomuns.
“No momento em que essa pessoa, quando ela saiu do ônibus, colocou os pés no chão, fechou o circuito. A descarga elétrica passou pelo corpo dela. Esse acidente ocorre muito. Trabalhei no Centro de Pesquisa de Energia Elétrica da Eletrobras, para se ter uma ideia, o filho de um dos diretores da Aneel morreu exatamente assim”.
Por fim, o professor deu dicas de prevenção. Uma delas é a instalação de um equipamento que desligaria o circuito em caso de ruptura de um cabo. Outro método é a pessoa que está num carro em caso de um acidente, antes de sair, verificar se algum fio atingiu o veículo. Isto pode ser feito até mesmo perguntando a quem está do lado de fora.
“Fizemos um equipamento para evitar isso, infelizmente não houve o interesse em fazer. Deve se instalar no poste uma barra de ferro ligada abaixo desses fios de alta tensão e ela fica aterrada. Se um cabo quebrar, o cabo vai bater nessa haste, fazer o curto-circuito e proteger o sistema, desligando o circuito. Outra recomendação é, no caso de acidente, verificar se não há nenhum cabo encostado no carro”, completou.
A assessoria do Hospital do Ingá informou que Karla deu entrada no hospital com parada cardiorrespiratória, em ritmo de assistolia, já com as pupilas dilatadas bilateralmente, com relato de ser vítima de choque elétrico. Houve tentativas de reanimação cardiopulmonar, sem sucesso. Karla já chegou ao hospital sem vida.
O caso está sendo investigado pela 76ª DP (Niterói). A Polícia Civil apura se o choque que matou Karla de fato foi causado por algum fio solto.
‘NOVELOS’ DE FIOS
Quem olha para cima em Niterói costuma se deparar com “novelos” de fios presos a postes. Cabos de telefonia e elétricos, de baixa tensão, se misturam. Por conta dos cortes de fios, seja por interrupção do serviço ou furtos, muitos ficam caídos em meio às calçadas. É im- portante frisar que os postes pertencem à concessionária de energia elétrica, no caso a Enel, que cobra uma taxa para que empresas de telecomunicações os utilize.

A reportagem fez registros em diferentes regiões de Niterói. Na esquina da Rua São Lourenço com a Travessa Santo Antônio, na Zona Norte, há inúmeros fios soltos. Na Travessa Bonfim, na mesma região, além dos fios soltos e emaranhados há postes com vergalhões à mostra. “Novelos” de cabos também foram encontrados nas Ruas General Pereira da Silva e Gavião Peixoto, em Icaraí, Rua Presidente Pedreira, no Ingá, Zona Sul; e na Avenida Visconde do Rio Branco, no Centro, inclusive em frente à loja da concessionária.


O professor de Engenharia Elétrica Bruno Wanderley Franca, da
Universidade Federal Fluminense (UFF), explicou como os fios são distribuídos nos postes. Ele frisou a necessidade de manutenção periódica a fim de dirimir eventuais riscos à segurança. “A gente tem no poste duas parcelas de fiação. A de alta tensão, em cima, e uma na parte mais baixa, os de baixa tensão e de comunicação. É sempre bom haver a manutenção, principalmente da parte baixa. Em cima, o que prejudica muito é quando caem galhos, que vejo bastante aqui em Niterói. Assim a concessionária ou prefeitura e só vêm se tiver oferecendo risco de interrupção de energia”, Afirma.
Franca ainda pontuou que mesmo as redes de telecomunicações não sendo de alta tensão, elas oferecem certo perigo. O especialista atribuiu a desordem ao se fazer instalações como uma das razões para os fios ficarem emaranhados. Entretanto, ele ponderou que este não é um problema restrito à cidade de Niterói.
“Nessa parte de baixo tem um pouco da rede de telecomunicações, que oferece certo perigo. O ideal seria ter um plano de manutenção. Aqui no Brasil a gente está um pouco longe disso. O problema é que várias empresas fazem instalações. Chama uma empresa, passam um cabo., O vizinho chama outra e passa outro cabo. Não existe um controle. Às vezes, na substituição, os cabos ficam pendurados”, acrescentou. Além disso, o professor sugeriu medidas para, a curto prazo, melhorar a organização, como, por exemplo, o técnico tirar uma foto antes e outra depois de ter feito a instalação no poste. Por fim, Bruno Wanderley Franca disse acreditar que deve haver uma cooperação entre a concessionária, proprietária dos postes, e o poder público municipal para fiscalizar a organização dos postes.
“O ideal seria quando a empresa vai ao local deveria fazer uma foto do antes e do depois para que o Município tenha controle. Apesar da Enel ser a proprietária do poste e as outras empresas utilizarem, acho que deveria ser uma ação conjunta. Para as próprias empresas é interessante que fique organizado”, finalizou.
‘ALUGUEL DE POSTES’
A Lei Geral de Telecomunicações prevê o compartilhamento obrigatório de infraestrutura entre as diversas empresas. Assim, postes, dutos, condutos e servidões pertencentes ou controlados por prestadora de serviços de telecomunicações ou de energia elétrica, devem ser usados pelas demais empresas desses setores de forma não discriminatória e a preços e condições jus- tos e razoáveis. Dessa forma, em Niterói, a Enel recebe das empresas pelo “aluguel” dos postes.
Em 2018, tramitou no Senado Federal tramitou Projeto de Lei no qual as companhias teriam de repassar 10% do valor originário do “aluguel” dos postes às Prefeituras das cidades. No entanto, a proposta acabou arquivada.
A reportagem entrou em contato com a Enel e perguntou quanto a concessionária arrecadou, no ano passado, com as taxas de utilização dos postes para as companhias telefônicas. Além disso, a empresa foi perguntada sobre qual seu papel na fiscalização das instalações, bem como quais medidas têm posto em prática para garantir a segurança.
Em nota, a Enel informou que o compartilhamento dos postes é o uso de uma mesma infraestrutura simultaneamente para a rede de distribuição aérea de energia e para as redes de telecomunicações.
“A gestão do compartilhamento é feita pela empresa titular do poste, neste caso a Enel Rio. De acordo com as Resoluções conjuntas da Aneel/Anatel 001/1999 e 004/ 2014, que tratam do compartilhamento de postes, as empresas que utilizam a estrutura devem seguir o plano de ocupação e as normas técnicas da distribuidora local”, explica a concessionária.
Ainda de acordo com a Enel, a empresa realiza inspeções permanentes e identifica empresas que não estejam cumprindo as normas. Todas as companhias de telecomunicações são informadas sobre as normas técnicas para uso e compartilhamento dos postes e previamente notificadas sobre as iniciativas de regularização da concessionária.
A concessionária não informou quanto arrecada com o compartilhamento dos postes, mas afirmo que o valor arrecadado é utilizado na modicidade tarifária, suavizando reajustes tarifários para os consumidores e na operação de retirada de fios irregulares.
“A instalação irregular de fios e equipamentos de telecomunicações, ou seja, que não possuem contrato ou autorização da Enel, sobrecarregam a rede, prejudicam a qualidade do fornecimento de energia e comprometem a segurança dos clientes. Além da poluição visual, o emaranhado de fios pode causar curtos-circuitos e acidentes. A companhia promove periodicamente ações para inspecionar as estruturas em sua área de concessão e executar a retirada de cabos e equipamentos irregulares. Apenas em 2022, em Niterói, a companhia realizou 7.153 fiscalizações e emitiu 71 notificações a empresas responsáveis por fiações irregulares”, conclui o texto.
Governo do Estado determina retorno da grade de horários das barcas
Após o pagamento da primeira parcela do acordo com as barcas, o Governo do Estado determinou à concessionária o retorno imediato da grade regular de horários do transporte aquaviário. Com isso, a partir de hoje os passageiros voltaram a ter mais sete opções de horários até Paquetá, passando de 15 para 22 viagens, sendo 11 em cada sentido. Nos fins de semana e feriados, os usuários terão à disposição 25 partidas, ao invés de 12. Do total, 13 serão no sentido Paquetá e 12 no sentido Praça XV.

O secretário estadual de Transportes, Washington Reis, esteve na Praça XV, no início da manhã de ontem, para vistoriar os serviços.
“A partir desta quinta (hoje), a população de Paquetá ganha de volta o seu direito de usar as barcas nos horários convencionais. Vamos continuar acompanhando os serviços de perto, para buscar mais melhorias aos usuários e para que não haja nenhum tipo de prejuízo para quem depende do transporte”, disse. No dia 24 de fevereiro, a CCR afirmou que a operação das Barcas iria parar em março caso o acordo com o acordo com o Governo do Estado para a prorrogação da concessão não fosse homologado pela Justiça. A empresa afimou possuir recursos para mandar a operação apenas até o dia 03 de março, mas propôs racionalizar o serviço para continuar funcionando.
No dia 2 de março, a Justiça determinou que o estado indenizasse em mais de R$ 750 milhões a CCR e a prorrogação do contrato de operação por até 24 meses, prazo em que deverá ser escolhido um novo concessionário.
NOS FINS DE SEMANA e feriados, os usuários de Paquetá terão à disposição 25 partidas, ao invés de 12