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as flores também são os órgãos sexuais das plantas
Algumas flores são muito similares a genitálias humanas, como, por exemplo, a orquídea e a clitoria, que lembram uma vulva. Por coincidência, as flores também são os órgãos sexuais das plantas, guardando o seu material genético. Para mim, há poesia nessa semelhança e, então, nasceu este trabalho. Aqui, crio uma relação de hibridismo entre as flores e os órgãos sexuais humanos, como se ambos fossem um ser só.
Como mulher, trago uma visão metafórica sobre a vulva, representando-a de forma bela, diferente da visão que a sociedade costuma ter sobre ela. Inúmeras vezes já presenciei pessoas – algumas delas, mulheres cis – que falam deste órgão de forma pejorativa, usando adjetivos como “feia”, “fedida”, até mesmo “nojenta”. É o tipo de violência reproduzida pela sociedade patriarcal e que contamina até mesmo as próprias mulheres. Ao trabalhar com flores, também evoco a ideia de sexualidade aflorada. Mesmo nos dias atuais, muitas mulheres são hostilizadas por tentar viver e explorar a própria sexualidade, às vezes sendo podada dentro do próprio círculo familiar para que isso não aconteça, seja por razões religiosas ou puro conservadorismo. Por essa razão, inúmeras mulheres são desencorajadas a explorar o próprio corpo e desconhecem o que é ter prazer durante o ato sexual porque isso foi negado a elas. Ao colocar a orquídea de forma vistosa e tão aberta entre as pernas de um corpo feminino, trago também esses questionamentos sobre a sexualidade e o prazer. As possíveis interpretações do trabalho são expandidas pelas várias possibilidades de montagem que ele permite. Por ter sido feito como monotipia de carbono sobre papel pólen e vegetal, é possível explorar a repetição dos desenhos sobreposição da imagem em papel vegetal sobre outra, e assim, trazer outros significados para a série.
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Sem Título, 42 x 21,7 cm, carbono sobre papel
Sem Título, 30 x 31 cm, carbono sobre papel




A proposta aqui é recolher estes momentos na forma de desenho, usando da luz como ferramenta para construir uma atmosfera mais dramática, por meio do alto contraste, um estilo de desenho muito comum nas histórias em quadrinhos em cenas de impacto. Esse tratamento também produz no desenho uma espécie de silêncio, pois seu efeito no olhar do espectador é imediato, o desenho fisga nossa atenção e nos prende. E uma das principais características da paisagem rural é o silêncio. Algo raro em nossa realidade, onde em todos os momentos da vida o materialismo grita em nossos ouvidos, não só pelos ruídos da cidade, mas também pelos apelos em nossas mentes a todo o momento, nos nossos sonhos e desejos. Com isso o tempo se torna inimigo, pois tempo é riqueza, e esta tem de ser conquistada a todo custo. Pela lógica da roça o tempo é vida, tempo de plantar, de crescer, de cuidar, de colher e recomeçar, acompanhar o ciclo da vida. Não corremos contra o tempo, andamos lado a lado com ele. Essa divergência de abordagem é que causa essa sensação de que o tempo passa mais vagarosamente nos ambientes naturais, em total contraste com o urbano. O trabalho que apresento é um convite ao público a imergir nessa experiência de introspecção, a penetrar nessa outra realidade por um breve momento, se desligar do grito do mundo e ouvir o vento nas árvores, canto dos pássaros, os pingos de chuva batendo no telhado, o córrego banhando a terra, e sentir por um momento que o tempo é vida.
Dionísio: Uma história, uma poesia... 42 x 29,7 cm, paginas 1 e 2. aquarela e nanquim sobre papel


