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Interface

Como está o desenvolvimento das normas brasileiras para cabeamento estruturado? Elas são atualizadas e seguem padrões internacionais? Quais são as normas que compõem o conjunto de normas brasileiras para cabeamento estruturado?

Esta é uma questão recorrente e bastante pertinente. Vou iniciar a abordagem do tema nesta edição de Interface e concluí-la ao longo das quatro próximas edições (RTI julho, agosto, setembro e outubro).

No que diz respeito ao cabeamento estruturado, temos um conjunto bastante consistente de normas, desenvolvidas pela comissão de estudo CE 003:046.005, que coordeno, composto pelos seguintes documentos: • NBR 14565:2019 – Cabeamento estruturado para edifícios comerciais. • NBR 16415:2021 – Caminhos e espaços para cabeamento estruturado. • NBR 16665: 2019 – Cabeamento estruturado para data centers. • NBR 16264:2016 – Cabeamento estruturado residencial. • NBR 16521:2016 – Cabeamento estruturado industrial. • NBR 16869-1:2020 – Cabeamento estruturado parte 1: requisitos para planejamento. • NBR 16869-2: 2021 – Cabeamento estruturado parte 2: ensaios do cabeamento óptico.

Ainda com relação às normas desenvolvidas pela comissão de estudo mencionada anteriormente, há um projeto de norma recentemente aprovado em Consulta Nacional, publicado como a norma brasileira ABNT NBR 17040:2022 –Equipotencialização da infraestrutura de cabeamento para telecomunicações e cabeamento estruturado em edifícios e outras estruturas. Farei uma breve apresentação do objeto e algumas das principais características de cada norma mencionada aqui.

Antes disso, começarei por uma breve revisão do sistema de normalização brasileiro. Àqueles familiarizados com o tema, sugiro pular essa parte. Entendo que insisto muito nisso em meus artigos que tratam de normalização, porém é muito importante que o profissional brasileiro do setor, especialmente o projetista, tenha uma boa compreensão desse sistema.

O sistema brasileiro de normalização

A ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas é o foro nacional de normalização, ou seja, uma norma brasileira deve, necessariamente, ser homologada e publicada pela ABNT para receber o status de norma brasileira. Os conteúdos de normas brasileiras são de responsabilidade dos comitês brasileiros (ABNT/CB) e são elaboradas normalmente por CE Comissões de Estudo, formadas pelas partes interessadas no tema objeto da normalização. Eu publiquei um vídeo em meu canal no YouTube explicando como funcionao processo. (https://bit.ly/3LSNCO5).

A CE 003:046.005 é uma comissão de estudo que pertence ao CB-3 da ABNT, que é o Cobei - Comitê Brasileiro de Eletricidade, Eletrônica, Iluminação e Telecomunicações. As normas brasileiras de cabeamento

estruturado são desenvolvidas por esta CE.

Ainda sobre o tema normalização no Brasil, é importante explicar como nasce uma norma ABNT NBR. Há basicamente dois caminhos para

Fig.1 – Topologia de distribuição de cabeamento conforme a NBR 14565:2019

Esta seção se propõe a analisar tópicos de cabeamento estruturado, incluindo normas, produtos, aspectos de projeto e execução. Os leitores podem enviar suas dúvidas para Redação de RTI, e-mail: inforti@arandanet.com.br.

o desenvolvimento de uma norma brasileira. Ela pode ser elaborada a partir de uma necessidade local e sem relação com outras normas internacionais (ISO, IEC, ISO/IEC) ouuma norma internacional similar publicada.

Quando uma norma brasileira é baseada em uma internacional, ela ainda pode ser uma tradução exata e integral da norma ISO - International Organization for Standardization, IEC ou ISO/IEC utilizada como referência, gerando uma norma ABNT NBR ISO, ABNT NBR IEC ou ABNT NBR ISO/IEC, mantendo o código da norma original; ou utilizar partes traduzidas e/ou adaptadas da norma internacional utilizada como referência juntamente com conteúdo novo gerado dentro de uma comissão de estudo, dando origem a uma norma nova ABNT NBR, com um código novo designado pela ABNT.

É importante observar que a maioria das normas brasileiras é baseada em normas ISO/IEC com adaptações e inclusões de conteúdos locais. Devido ao fato de a ABNT ser membro fundador da ISO, apenas normas ISO, IEC ou ISO/IEC podem ser utilizadas como referência para a geração de normas ABNT NBR. Normas desenvolvidas por outras associações locais ou regionais de outros países (TIA, BICSI, CSA, CENELEC, etc.) não podem ser utilizadas como referência para a geração de normas brasileiras ABNT NBR.

NBR 14565 – Cabeamento estruturado para edifícios comerciais. A base de todas as normas brasileiras para cabeamento estruturado

A NBR 14565, em sua terceira revisão, portanto a quarta edição desde a publicação inicial (no ano 2000), especifica um sistema de cabeamento estruturado dentro de um edifício e entre prédios em um mesmo campus, aplicável, portanto a redes locais (LAN) e de campus (CAN) cujo propósito é suportar uma ampla gama de serviços como voz, dados, imagem e automação. Entre suas especificações estão a estrutura e a configuração mínima do cabeamento estruturado, as interfaces para as tomadas de telecomunicações, os requisitos de desempenho para os modelos de testes de enlace permanente e canal e para os cabeamentos óptico e metálico, a infraestrutura do cabeamento para configurar áreas de cobertura para uma rede sem fio e considerações para aplicações PoE – Power Over Ethernet, etc.

A figura 1 mostra a topologia de distribuição de cabeamento estruturado em edifícios comerciais com base nessa norma. No caso de haver mais de um prédio na mesma rede física (CAN), o principal será aquele no qual o distribuidor de campus (CD) estará presente. Quando a distribuição acontecer dentro de um único edifício, esta será iniciada no distribuidor (BD), não havendo, portanto, um CD. O ponto de consolidação (CP) mostrado é um elemento opcional no subsistema de cabeamento horizontal.

A norma também traz especificações da escala de temperatura de operação de cabos e componentes para a implementação de um sistema de cabeamento estruturado em edifícios comerciais, práticas de instalação (complementadas pela NBR 16415), marcação e codificação por cores, polaridade do cabeamento óptico, práticas de blindagem e aterramento, gerenciamento do cabeamento instalado, entre outros temas.

A NBR 14565 contempla cinco anexos entre normativos e informativos, que cobrem procedimentos de ensaios com testes em campo do cabeamento instalado (A), características eletromagnéticas (B), nomenclatura para cabos balanceados (C), aplicações suportadas no cabeamento (D) e em uma rede sem fio (E).

Gostaria de chamar a atenção para os anexos que tratam de aplicações suportadas. Eles trazem tabelas de

aplicação prática que são recursos indispensáveis ao projetista para o dimensionamento de um sistema de cabeamento estruturado em cobre e fibras ópticas. É importante lembrar que o subsistema de cabeamento horizontal deve ser dimensionado levando-se em consideração as aplicações atuais e futuras ao longo de um ciclo de vida na etapa de projeto. Portanto, é fundamental que o projetista conheça as aplicações suportadas por uma dada categoria de desempenho do cabeamento balanceado para chegar à melhor relação custo/benefício possível. No caso do subsistema de backbone, especialmente quando implementado com cabos ópticos (cenário mais comum na prática), as características do enlace devem atender às especificações do projeto para a aplicação a ser suportada. De forma diferente à utilizada para o dimensionamento do subsistema de cabeamento horizontal em cobre, cujo comprimento de canal é limitado por norma, o backbone óptico é muito

dependente das especificações da aplicação a ser suportada para a determinação do comprimento máximo do canal. Por exemplo, a aplicação 10GBase-SR (10 GbE) que opera em 850 nm pode suportar um canal com 300 m de comprimento quando implementada com fibras de categoria OM3 e 400 m com fibras OM4. Trata-se de um dimensionamento crítico que requer um bom conhecimento das especificações da aplicação a ser utilizada. O anexo que cobre as aplicações em redes sem fio também traz a mesma riqueza de informações para o projetista.

Fig. 2 – Elementos básicos de caminhos e espaços em edifícios conforme a NBR 16415 NBR 16415 – Caminhos e espaços para cabeamento estruturado

A NBR 16415 é um excelente recurso para que o projetista do edifício esteja preparado para atender aos requisitos dos sistemas de telecomunicações que serão distribuídos aos seus usuários. Seu escopo é a especificação da estrutura e requisitos para caminhos e espaços, dentro e entre prédios, para troca de informações e cabeamento estruturado.

Como acontece com todas as normas que compõem o conjunto de nossas normas para cabeamento estruturado (desenvolvidas no âmbito da CE 003:046.005), a NBR 16415 utiliza a NBR 14565 como base e, portanto, considera os subsistemas de cabeamento especificados nela, assim como meios físicos, configurações de distribuição, ensaios, etc.

A NBR 16415 está organizada em seis seções e cobre requisitos gerais, espaços e caminhos para cabeamento estruturado. Ela traz quatro anexos entre normativos e informativos que cobrem infraestrutura comum em edifícios multiusuários (A), ocupação de eletrodutos, eletrocalhas, canaletas e pisos monolíticos (B), dimensionamento de prumadas (C) e sistema corta-fogo (D).

As seções compõem o texto-base da norma, ou seja, o núcleo do documento com todas as especificações e recomendações que se aplicam ao seu objeto. Os anexos são complementares ao texto-base e divididos em dois tipos: informativo, para conhecimento e com a função de recomendação; e normativo, cujo papel é especificar uma prática, técnica ou metodologia. Em outras palavras, uma vez adotada a norma, os anexos, assim como outras informações normativas, devem ser observados.

Os espaços são classificados em dois tipos: espaços de telecomunicações (áreas utilizadas para a distribuição de telecomunicações) e locais de telecomunicações que contêm os distribuidores do cabeamento estruturado; exemplos destes são as salas de equipamentos e telecomunicações.

Os seguintes espaços são definidos e especificados pela NBR 16415, entre outros: • Sala de entrada - Recebe os cabos de backbone de campus, edifício e das operadoras. • Sala de equipamentos - Abriga dispositivos ativos, terminações de cabos e distribuidores. • Sala de telecomunicações - Responsável pela distribuição do subsistema de cabeamento horizontal. • Área de trabalho - Espaço no qual os usuários da rede interagem com os serviços distribuídos por meio do cabeamento estruturado no edifício. • Área de cobertura - Local no qual dispositivos do sistema de automação do edifício, entre outros, são conectados ao cabeamento estruturado. • Espaço da operadora - Recebe os circuitos e serviços provenientes das operadoras de telecomunicações para distribuição ao longo do edifício. • Espaços alternativos - Podem ser utilizados como alternativa aos espaços de telecomunicações definidos na norma, quando estes não são viáveis.

A figura 2 mostra os elementos de caminhos e espaços para cabeamento estruturado em um edifício.

A NBR 16415 estabelece que os caminhos sejam projetados e instalados para oferecer proteção adequada ao cabeamento para assegurar seu desempenho de transmissão esperado durante seu ciclo de vida. Devem ser projetados conforme os requisitos do cabeamento a ser instalado em conformidade com as normas NBR 14565 - Cabeamento estruturado para edifícios comerciais, NBR 16264 - Cabeamento estruturado residencial, NBR 16521 - Cabeamento estruturado industrial e NBR 16665 Cabeamento estruturado para data centers de acordo com o ambiente de instalação. O planejamento dos caminhos e a seleção da estrutura mais adequada devem ser feitos com base nos subsistemas do cabeamento que estarão presentes no projeto.

Na próxima edição de Interface continuarei a discussão sobre as normas brasileiras que compõem o conjunto de nossas normas para cabeamento estruturado.

Paulo Marin é engenheiro eletricista, mestre em propagação de sinais e doutor em interferência eletromagnética aplicada à infraestrutura de TI. Marin trabalha como consultor independente, é palestrante internacional e ministra treinamentos técnicos e acadêmicos. Autor de vários livros técnicos e coordenador de grupos de normalização no Brasil e EUA. Site: www.paulomarin.com.

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