47 minute read

9. São Paulo moderna (1920-1960

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 123

9. São Paulo moderna (1920-1960)

Advertisement

Apesar de a historiografia destacar o caráter eclético da arquitetura dos primeiros anos do século 20, as intervenções urbanas realizadas em São Paulo nesse período produziram uma cidade servida por um sistema de transporte coletivo sobre trilhos através de concessão para a empresa canadense Light desde 1901. O crescimento da cidade para além do Triângulo Histórico Central impunha a transposição dos dois rios que cercam lateralmente a colina (Anhangabaú e Tamanduateí), resultando em projetos marcantes para o período. Além dos parques associados ao vale do Anhangabaú e à Várzea do Tamanduateí, esses projetos apresentavam novos padrões de viários, com seus viadutos e novas configurações para as antigas ruas do centro colonial. (ANELLI, 2007, p. 03)

Outrora influenciada pela cultura francesa, nos primeiros anos do século XX a influência teria atravessado o Atlântico e aterrissado na América do Norte, pois com advento do concreto armado, o estilo formal dos edifícios passa a ser referenciado nos Art Decó nova-iorquinos. Com essa postura, a altura das edificações ganha representação de modernidade e isto induz proprietários a colocarem abaixo seus edifícios - muitos até que recém construídos - para respirarem este novo ar. Sinais concretos da verticalização e o “culto do automóvel” (ANELLI, 2007, p.05) também eram sinais da modernidade na paulicéia em constante transformação. Para Anelli (2007, p. 05), o rodoviarismo desponta como transcendente na forma de organização do território, como diretriz econômica e política - neste contexto tem-se a recusa de projeto de metrô da Companhia Light em detrimento do Plano de Avenidas de

124 Porque és o avesso do avesso

Prestes Maia14, concebido em 1930 e efetivado em 1938.

14 Plano de Avenidas desenhado nas décadas de 1920 e 1930 por Prestes Mais e Ulhôa Cintra - influenciou o crescimento da cidade nas décadas seguintes.

Imagem 48: Versão final perímetro de irradiação, São Paulo. Fonte: ANELLI, 2007.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 125

Tratava-se de um excelente negócio para os proprietários construírem imóveis cada vez mais verticalizados e multifuncionais, pois havia demanda, mas as obras foram feitas com projetos assinados pelos melhores profissionais da época, edificados em conformidade com uma legislação urbanística e sanitária que zelava pela qualidade do produto (garantindo pé-direito generoso, aberturas fartas, materiais construtivos de primeira). Os memoriais e projetos arquitetônicos hoje reunidos na Série Obras Particulares do Arquivo Histórico de São Paulo alicerçam tais afirmações. O resultado hoje é um importante patrimônio em vias de dilapidação que resiste ao tempo galhardamente a despeito de tanto descaso. Resiste porque foi feito sólido mesmo no âmbito de um efervescente mercado imobiliário rentista. (BUENO, 2016, p. 128)

O movimento urbano da verticalização sofreu intensificação a partir da década de 1920, apoiada em uma legislação urbanística orquestrada a corresponder às demandas do mercado imobiliário estabelecido. Dessa forma, o mercado imobiliário adquire cada vez mais espaço, seja nas negociações ou propriamente na fisionomia urbana. Nesta década podemos encontrar a gênese da arquitetura racional modernista, em razão de começar a surgir na paisagem urbana espécimes deste novo gênero de arquitetos como Rino Levi, Vital Brazil, Jacques Pilon, Elisiário Bahiana, dentre outros. Acerca do campo artístico no geral, destacamos a forte influência que bradou na realização da Semana de Arte Moderna, que não se limitou aos ateliês artísticos, mas transformou o centro histórico de São Paulo em

126 Porque és o avesso do avesso

palco para o evento-manifesto15 - cabe ressaltar que o desenvolvimento desta pesquisa precede e está às portas da celebração de 100 anos da Semana. O evento foi realizado entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922 - ano de comemoração do centenário da independência -, foi um encontro que reuniu escritores, músicos, artistas e arquitetos a fim de traçar um novo projeto cultural para o país. Aconteceu sob o contexto que emerge após a Primeira Grande Guerra Mundial, em concordância com a formação do pensamento europeu, entretanto podemos incitar uma diferença um tanto quanto grande para o que se desenvolve no Brasil. Enquanto a vanguarda europeia eleva o pensamento moderno ao universalismo, a formação do pensamento moderno no país evoca as questões nacionalistas e nativistas16 - dessa forma, decidido à exuberância dos assuntos típicos brasileiros, como temáticas indígenas e folclóricas, na ação de explorar e encontrar o que é genuinamente nacional.

15 O Theatro Municipal foi palco para o evento, pois nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, em seu interior ocorrem conferências e concertos e, no saguão, exposições de trabalhos de artistas e arquitetos. 16 Segundo Ferreira Gullar (2014), em vídeo disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=_sk-2TlyZSY&list=WL&index=143&t=44s>. Acesso em: 19 jul, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 127

“[...] o objetivo da Semana é renovar o estagnado ambiente artístico e cultural de São Paulo e do país. Acentua-se a necessidade de “descobrir” ou “redescobrir” o Brasil, repensando-o de modo a desvinculá-lo, esteticamente, das amarras que ainda o prendem à Europa” (AJZENBERG, 2012, p. 26).

A germinação da Semana começou a brotar alguns anos antes, propriamente no ano de 1917 com a exposição das obras de Anita Malfatti (1889-1964) - realizada no número 111 da Rua Líbero Badaró no centro paulistano. A rua adquire prestígio a partir do plano de Bouvard, dado que é a via que faz limite entre o centro histórico e o Vale do Anhangabaú, local agora que é destino das novas e mais elegantes construções. A implantação da nova via se torna referência para as demais, pois em seu projeto já se incorporam os trilhos dos bondes, o desenho dos passeios públicos, da rede de drenagem, da iluminação pública e do mobiliário urbano. Ainda que agora o Vale do Anhangabaú figure com certo prestígio para a sociedade paulistana, não existe uma superação da relação com os fundos de vale - de forma mais clara, com o curso d’água. Esta relação mostra-se ambígua, pois da mesma maneira que grandes cidades do mundo tiveram seu crescimento guiado por eixos fluviais, a cidade de São Paulo também obteve seu crescimento. Se desenvolveu no curso do Tamanduateí e do Anhangabaú e muitas construções tinham seus materiais provenientes dos leitos dos rios, como no caso do primeiro

128 Porque és o avesso do avesso

arranha-céu paulistano, o Edifício Martinelli, erguido em 1929.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 129

Concomitante ao desenvolvimento da economia cafeicultora na década de 1920, tem-se também um crescimento das atividades industriais, a partir de uma implementação de indústria de base no país. O estado de São Paulo ganha destaque como principal polo industrial e econômico nos anos do governo Vargas. O desenvolvimento econômico da cidade aquecido pelo crescimento populacional refletiu no tecido urbano as políticas públicas engendradas pela administração pública. Já a partir da década de 1930, de acordo com Oliveira (2008, p. 41), podemos observar dois traços do modelo de organização espacial de São Paulo: (1) desenvolvimento extensivo - parcelamento e ocupação das periferias; autoconstrução e implantação de infraestrutura para sistema de veículos automotivos - e (2) verticalização - que neste momento se limitava ao centro da cidade. Na morfologia urbana do centro histórico, os lotes coloniais estreitos e profundos agora dão lugar aos primeiros edifícios. A atividade construtiva no centro mostra-se sempre aquecida, dado que em um período de 5 anos o valor de área construída na cidade dobra. O principal motor deste salto quantitativo é o setor privado, porém o setor público tem sua parcela de importância, principalmente quando percebemos as transformações urbanas entre 1930 e 1945 que tiveram como papel de fundo a justificativa, ou melhor, meta viária (ver imagens 50 e 51). Ainda na década de 1920 o rodoviarismo começa a ganhar palco

130 Porque és o avesso do avesso

Imagem 50: Área construída na cidade de São Paulo por ano em metros quadrados. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Imagem 51: Evolução do número de automóveis licenciados na cidade de São Paulo. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

nas discussões e decisões do poder público17. O congestionamento da região central mostrava-se como um problema a ser enfrentado. Desse modo, os engenheiros da prefeitura, Francisco Prestes Mais e João Florence de Ulhôa Cintra, entre os anos de 1924 e 1926 publicam artigos que apresentaram “Os Grandes Melhoramentos de São Paulo” - artigos estes que foram alicerces para as diretivas do Plano de Avenidas. Na perspectiva dos engenheiros, os alargamentos das ruas Líbero Badaró, Benjamin Constant e Boa Vista - realizados na década de 1910

17 Deve-se lembrar que no ano de 1927 o governador do estado de São Paulo era Washington Luis e seu lema era: “governar é abrir estradas” (OLIVEIRA, 2008, p. 43).

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 131

sob a administração de Raymundo Duprat - já estariam superados e não refletiam mais aos anseios do crescimento da cidade e seu futuro grandioso (RICCA JUNIOR 2003, p. 176 apud OLIVEIRA, 2008, p. 44). No ano de 1925, Ulhôa Cintra apresentou o projeto da Avenida de Irradiação que, de forma simples, formava um anel viário no centro da cidade. No período, o brilho da cidade estava sob o triângulo histórico e a chamada cidade nova, e a proposta espacial da Avenida de Irradiação denota este caráter. Seu percurso parte da Praça da República, sobrepõese sobre o Vale, transpassa o triângulo histórico até a Ladeira do Carmo, circunda o Parque Dom Pedro II e retorna à Praça da República através das ruas Senador Queiroz e dos Timbiras. Este anel central estava circunscrito em um panorama maior, no qual desenhava-se dois anéis exteriores - Bulevar Exterior no raio do leito ferroviário e o Circuito Parkways, às margens do Tietê, Pinheiros e Tamanduateí.

132 Porque és o avesso do avesso

Imagem 53: Projeto da Avenida de Irradiação, 1925. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Imagem 54: Diagrama lógico do sistema viário paulista (PRESTES MAIA, 1930). Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 133

9.1 Administrações públicas, intervenções urbanas e patrimônio (1934-1945)

Fábio Prado (1887-1963) era filho de uma família tradicional da elite cafeicultora paulista e teve formação em engenharia na Bélgica. Antes de chegar à prefeitura, foi diretor da Federação das Indústrias de São Paulo e da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e também vereador. Sua administração estava alinhada à administração estadual, sob as rédeas de Armando Salles de Oliveira (que governou entre os anos de 1933 e 1936 como interventor federal). Dentre as novidades implantadas pela tutela de Fábio Prado, frisamos a criação do Departamento Municipal de Cultura (1935) sob a chefia de Mário de Andrade - como já vimos, personagem importante na criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e da cultura do patrimônio nacional, assim como também teve papel de destaque na Semana de 22. O departamento era composto por 5 conjuntos: Expansão Cultural, Bibliotecas, Educação e Recreio, Documentação Histórica e Social, Turismo e Divertimentos Públicos. Suas atividades obtiveram grande êxito e foram consideradas inovações para a época, tanto que cidades como Paris e Praga viram neste um referencial para constituir similares. Após a saída de Mário de Andrade da gestão do Departamento paulista para o SPHAN, observa-se um declínio nas atividades. Mesmo que ainda tenha mantido grandes verbas, como na gestão de Prestes Maia, o Departamento já não teve grande visibilidade. Outro ponto a se prestar atenção do governo de Prado é a nova construção do Viaduto do Chá.

134 Porque és o avesso do avesso

De maneira geral, a administração de Fábio Prado é entendida como uma primeira leitura de reflexão dos problemas sociais sob um ponto de vista científico (OLIVEIRA, 2008, p. 52), e também um salto nos melhoramentos públicos - ruas pavimentadas, construção de túneis, viadutos e edifícios públicos. As grandes obras urbanas deste período de administração encaixam-se em um panorama maior de continuidade entre os anos de 1930 e 1945, nas gestões: Pires do Rio, Fábio Prado e Prestes Maia. Com o golpe de Estado de Vargas no ano de 1937, Armando Salles de Oliveira foi tirado do governo paulista e, consequentemente, também Fábio Prado, sendo substituído por Prestes Maia.

Francisco Prestes Maia (1896-1965), engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo, assumiu a administração da cidade no ano de 1938, após Adhemar de Barros tornar-se interventor federal no estado. Sua gestão tem grande ênfase nas obras públicas e ele era visto como “mestre de obras”, nas palavras de Mercel Oliveira (2008, p. 60). Em contraponto com as obras públicas, e principalmente de cunho viário, a cultura passa quase despercebida em seu governo, não fosse a continuação das obras da Biblioteca Municipal na esquina da Rua da Consolação com a Avenida São Luiz.

“O urbanismo de paulista atravessa um período brilhante. Iniciados os primeiros trabalhos na administração Fábio Prado, coordenados e incrementados sob o governo passado, atingem presentemente, na Interventoria Fernando Costa, uma atividade inusitada. Depois da conclusão de obras

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 135

importantes, como o Estádio, a Biblioteca Municipal, a Ponte Grande, as avenidas Ipiranga, Vieira de Carvalho e Senador Queiroz, têm lugar grandes empreendimentos novos, como as avenidas Anhangabaú Inferior, Duque de Caxias, as praças do Estádio, Carmo, Consolação e João Mendes, o prolongamento das avenidas Paulista, Pacaembu, Nove de Julho e Rebouças, o alargamento da Rua da Liberdade, os viadutos Jacareí, D. Paulina e Nove de Julho, as pontes Mercúrio, Indústrias e Pequena, a canalização do 3º e 4º trecho do Tietê e a do trecho final do Tamanduateí, numerosas praças e jardins de bairro, etc. Ainda não se acham estas concluídas, e já vão ser atacadas outras, como o Parque da Água Branca, o Monumento das Bandeiras, as avenidas Leste, Itororó, Rio Branco e Sumaré. Este acervo de concretas realizações comprova dum modo insofismável, no campo do municipalismo, a excelência do regime administrativo e das diretrizes implantadas pelo Presidente Vargas, pois não se conceberia no regime das disputas demagógicas, dos embaraços formalísticos e da incerteza financeira” (PRESTES MAIA, 1945, p. 05 apud OLIVEIRA, 2008, p. 61).

136 Porque és o avesso do avesso

9.2 Os edifícios públicos

Entre as décadas de administração que englobam os governos de Fábio Prado e Prestes Maia, a anatomia construtiva da cidade sofria forte influência da corrente chamada Art Déco - ainda que, segundo Oliveira (2008, p. 63), o termo tenha sido empregado apenas na década de 1960, a maturidade do estilo vinha em decorrência da Exposição de Artes Decorativas Industriais e Modernas de Paris em 192518. Como vimos, a entrada no século XX dotada do Ecletismo construtivo e, nas primeiras décadas do século começam a despontar influências do Art Déco e Modernismo. O Art Déco não era tido como um estilo efêmero e passageiro, mas sim um arauto da modernidade, de grande penetração na América Latina (CAMPOS, 2003, p. 02 apud OLIVEIRA, 2008, p. 63). A linguagem que nasce na França atinge rapidamente e de forma contundente o continente americano e pousa no centro histórico paulistano. Ainda que autores tenham divergência acerca dos componentes que identificam a linguagem arquitetônica do Art Déco, podemos mencionar alguns deles, como: tripartição dos edifícios em base, corpo e coroamento; integração entre arquitetura, interiores e design; embasamentos revestidos em mármores e granitos e valorização das esquinas. Campos (2003, p. 03 apud OLIVEIRA, 2008, p. 66) nos explica

18 Entre o final do século XIX e início do século XX, a França era o âmago das artes mundiais. Após o final da Primeira Guerra Mundial e seus reflexos, o cenário da França artística altera-se - a Beaux Arts estava enfraquecida.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 137

que não se tratava de um estilo “rupturista”, pois tomava partido de elementos previamente consagrados para constituir uma linguagem artística que fosse rica em repertório e linguagem compositiva. Ainda fazendo uso dos ornamentos, gera debate entre os estudiosos acerca de seu posicionamento histórico. Enquanto alguns teóricos dizem ser a última versão do Ecletismo, outros dizem ser a transição entre este e o Modernismo.

Por outro lado, essa ruptura entre o Ecletismo e o racionalismo ortodoxo não se deu de maneira tão abrupta, como a corrente historiográfica sugere. No processo de consolidação do ideário moderno na arquitetura e urbanismo produzidos no início do século XX nas principais cidades latino-americanas, ações mediadoras têm sido negadas, como é o caso do Art Déco. [...] A expansão do Art Déco na América Latina disseminou-se com grande rapidez, em função do desejo político de se conferir uma identidade moderna a um ideário político de caráter fortemente nacionalista. Não ficou restrito a setores internos da elite, sendo absorvido por amplos setores da sociedade. (OLIVEIRA, 2008, p. 68)

Acerca das obras que carregam consigo o caráter Art Déco, chamamos atenção para a produção do arquiteto Elisiário Antônio da Cunha Bahiana, natural do Rio de Janeiro, mas que se transfere para São Paulo e projeta no centro o Edifício Saldanha Marinho (1929-1933), o Viaduto do Chá (1935-1938) e o Edifício João Brícola (Mappin Stores / 19361940). Importante salientar que estas três obras, ainda que inseridas no centro da cidade, estão no entorno do Vale do Anhangabaú, local de

138 Porque és o avesso do avesso

grande prestígio no período dos projetos. Logo após o aparecimento da corrente Art Déco, a paisagem urbana de São Paulo sofre influência dos traços da arquitetura fascista. Tal fato pode ser justificado pela presença do arquiteto italiano Marcello Piacentini19 (1881-1960) no Brasil, que ascendeu uma proposta de projeto para a Cidade Universitária no Rio de Janeiro e projetos para a família Matarazzo20. A linguagem de projeto adotada por Piacentini e, de certo modo o estilo fascista, era sinalizada pela monumentalidade. Esta linguagem foi incorporada por diversos projetos de edifícios no centro e também por residências nos chamados bairros-jardim, que começavam a despontar no quadrante da cidade entre a Avenida Paulista e o Rio Pinheiros. Dentre todos os projetos realizados por Piacentini, o que desponta em importância e que se mantém vivo e atuante na paisagem urbana paulistana, é o Edifício Sede das empresas do Conde Matarazzo. Localiza-se em um entroncamento no qual pode-se apontar a Praça do Patriarca, Rua Líbero Badaró, Viaduto do Chá e Vale do Anhangabaú. Não

19 Piacentini compunha uma das duas vertentes existentes no campo arquitetônico fascista da Itália no início do século XX. Uma de suas alegações era a superação do Ecletismo, pós Primeira Guerra Mundial. No cenário italiano, conquistou grande prestígio na época, e pôde realizar diversos projetos de monumentos, edifícios vastos, palácios e até conjuntos urbanos. 20 Família de origem italiana que se estabelece em São Paulo e ganha notoriedade no cenário da elite paulistana ao compor o maior complexo industrial da América Latina entre os anos iniciais do século XX

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 139

apenas por sua localização superposta no cenário urbano-financeiro da cidade, carrega consigo a monumentalidade de ser o maior edifício revestido em travertino romano do mundo. Alicerçado nos traços fascistas da arquitetura - imponente, robusto, dotado de uma plástica racionalista, que estabelece a dinâmica compositiva da forma, pelos ritmos e hierarquias (TOGNON, 1999, p. 32 apud OLIVEIRA, 2008, p. 72) -, transmitia a noção do poder da elite financeira. Hoje, como edifício sede da Prefeitura Municipal de São Paulo, de forma similar reproduz o poder.

Imagem 55: Palacete Prates I (1908-19011), projeto de Christiano Stockler das Neves e Samuel das Neves. Antiga Prefeitura e Câmara Municipal de São Paulo - demolido em 1970. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 56: Edifício Sede das empresas do Conde Matarazzo, atual Prefeitura de São Paulo. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

140 Porque és o avesso do avesso

A grande questão é que o fascismo “já tinha se feito sentir há tempo em São Paulo, no campo moral e político, e tinha se espalhado para o campo específico da arquitetura, por intermédio do conhecimento das obras do Regime”. Tanto as autoridades fascistas e alguns membros da elite paulistana já tinham desenvolvido uma obra de propaganda entre os compatrícios. Além disso, a imprensa de leitores de língua italiana em São Paulo, como o jornal ``Fanfulla’’, contribuiu para difundir os ideais do regime fascista na cidade.” (OLIVEIRA, 2008, p. 73)

A visão arquitetônica e artística fascista que despontava na paulicéia não regeu sobre os pensamentos de todos profissionais e críticos destas áreas. Apresentamos uma consideração de Mário de Andrade - personagem já citado nesta pesquisa e de grande relevância - que foi publicada em seu artigo para a Folha da Manhã em março de 1944. Em suma, o poeta registra sua aversão ao estilo fascista o classificando como “tumor” (OLIVEIRA, 2008, p. 73), especificamente direcionado ao edifício sede das empresas do Conde Matarazzo.

“Ninguém ignora que os ítalos-brasileiros miliardários de São Paulo se tomaram de pavor diante dos berros e ameaças do sr. Ex-Mussolini. Até a serem controlados se sujeitaram, dizem. De tudo isso, o edifício Matarazzo há de ficar (ficará?) como denúncia arquitetônica entre nós. Porque ele é berro e paura, música-de-pancadaria deslumbrante e deslumbrante subserviência. [...] O edifício Matarazzo deslumbra, também, pela estupidez grossalana da massa e pela maravilhosa beleza da pedra de revestimento. Que pedra sublime, cruz-credo! Dá vontade de comer! Mas nem comidas, nem revestimentos ainda são arquitetura.” (Mário de Andrade in: XAVIER, 2003, p. 178 apud OLIVEIRA, 2008, p. 74)

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 141

Imagem 57: Perspectiva do Edifício Conde Matarazzo com novo viaduto do Chá. Fonte: OLIVEIRA, 2008. Imagem 58: Vale do Anhangabaú e Viaduto do Chá, com edifício de Marcello Piacentini. Postal de 1955. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

142 Porque és o avesso do avesso

9.2.1 A Biblioteca Municipal

Dentro da classe fascista, o edifício da Biblioteca Municipal é tido como o edifício público mais importante. Entretanto, o projeto não nasceu efetivamente de feição fascista. O projeto data do governo de Fábio Prado, e tinha por objetivo reunir as duas bibliotecas públicas da cidade: a biblioteca estadual - localizada na Praça João Mendes e a biblioteca municipal - localizada na Rua 7 de abril. O espaço cedido ao novo edifício localiza-se além Viaduto do Chá, na Rua da Consolação - terras antes pertencentes ao Brigadeiro Luis Antônio. O desenho do edifício foi executado pelo arquiteto francês Jacques Pilon (1905-1962) e trazia consigo riscos do Art Déco. As obras iniciaram no ano de 1936 mas pausaram no mês de novembro do ano seguinte. Nesse ínterim, com a promulgação do Estado Novo e a deposição do prefeito Fábio Prado, Prestes Maia assume o cargo da administração municipal e decide promover alterações no projeto. Alterou-se questões em planta, sistema de iluminação, decoração e, de forma mais acentuada, a implantação de uma entrada monumental sustentada por 6 grandes pilares de secção quadrada. Para a arquiteta e pesquisadora Maria Lucia Bressan Pinheiro (1997, p. 147 apud OLIVEIRA, 2008, p. 103), o edifício se destaca em ser o mais importante devido a qualidade acerca do racionalismo estrutural do projeto. Constitui-se em dois volumes sobrepostos - um vertical com cerca de 20 andares e o outro horizontal. O volume horizontal caracteriza-se por abrigar exposições, salas de leitura, dependências de

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 143

funcionários e administração, assim como o hall de entrada que possui pé direito proporcional à 7 andares do edifício mais alto. No edifício de volume vertical, sua maior característica era de abrigar a reserva técnica.

“Para isso, para o dia 25 de janeiro de 1942, promoveu-se um programa de arromba, destinado a mostrar aos povos as realizações do Estado Novo em São Paulo. E marcou-se para serem inauguradas as duas mais grandiosas obras do Estado Novo: o edifício da Biblioteca e a Ponte das Bandeiras.” (DUARTE, 1985, p. 77 apud OLIVEIRA, 2008, p. 103)

Imagem 59: Construção da Biblioteca Municipal. Foto tirada por B. J. Duarte em 25 de outubro de 1939. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

144 Porque és o avesso do avesso

Imagem 60: Foto da Biblioteca Municipal, 1945. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

9.2.2 O Viaduto do Chá

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 145

O primeiro Viaduto do Chá foi projetado no ano de 1877 por Jules Martin (1832-1906) e construído em estrutura metálica importada da Alemanha - como datado nesta pesquisa, sua inauguração ocorreu no ano de 1892. Inicialmente houve certa resistência com relação à construção do viaduto, principalmente da figura do Barão de Tatuí - proprietário da chácara que cultivava o chá. Com o crescimento financeiro, populacional e sobretudo espacial da cidade, o viaduto metálico não comportava mais a dinâmica urbana. A partir disso, na década de 1930, a prefeitura municipal decide demolir o viaduto e propor uma nova e maior estrutura em concreto armado, que se concretizou no ano de 1938. O arquiteto vencedor do concurso e responsável pelo novo projeto do viaduto foi o Elisiário Bahiana. Sua proposta foi de um viaduto com um arco central de 60 metros, justaposto de dois vãos de 17,5 metros. O projeto propõe o aproveitamento das áreas laterais abaixo das praças Ramos de Azevedo e do Patriarca, possibilitando a implantação da Galeria Prestes Maia, Escola Municipal de Bailado e Museu do Teatro Municipal.

146 Porque és o avesso do avesso

Imagem 62: Antigo Viaduto do Chá. Foto de B. J. Duarte, 1935. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 147

Imagem 63: Vista da Praça do Patriarca do Viaduto do Chá. Elisiário Bahiana. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Imagem 64: Desenho dos pilones do Viaduto do Chá. Elisiário Bahiana. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

148 Porque és o avesso do avesso

Imagem 65: Projeto do Viaduto do Chá. Elisiário Bahiana. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Imagem 66: Projeto do Viaduto do Chá. Elisiário Bahiana. Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 149

As transformações urbanas não cessam, e os tradicionais edifícios coloniais dão lugar aos ícones da modernidade e, com eles, o automóvel. No ano de 1934, implanta-se na Praça da Sé o marco zero, reconhecido como coração da cidade, ainda que nos registros históricos esse papel pertença ao Pátio do Colégio. E, com a construção do novo Viaduto do Chá, a Praça da Sé começa a perder destaque na cena elitista paulistana. Os comércios de luxo transferem-se agora para o “centro novo” - além Anhangabaú.

Imagem 67: Inauguração do Marco Zero de São Paulo. Fonte: São Paulo Antiga, 2015.

150 Porque és o avesso do avesso

Para preparação das comemorações do quarto centenário da cidade, em 1952 a Praça passou por uma nova reforma. Antes intrincada como um estacionamento, agora cede lugar a uma esplanada com mosaico em preto e branco modelado com pedras do tipo portuguesas dividindo espaço com palmeiras imperiais. Chegado o dia da comemoração, 25 de janeiro de 1954, inaugurase a nova Catedral - ainda por finalizar sua obra, e a estátua de José de Anchieta. Mesmo com o término das obras da nova Catedral em 1969, o movimento de esquecimento da praça continua em voga. Com a nova dinâmica e transformações no espaço urbano, o local acaba por se tornar um “dejeto no presente em meio a novas sociabilidades surgidas” (FREHSE, 1996, p. 124). Nestes anos de construção do novo templo a cidade mudou e o paulistano também mudou.

Observando a Catedral, em eterna construção, o mais paulistano dos paulistanos, Mário de Andrade, já havia notado que é nas festas dos projetos de modernidade propostos para São Paulo desde o final do século XIX que germina a “minha alma” paulistana. Tal como “a catedral de São Paulo”, que “nunca se acaba”, a “alma” do poeta, do paulistano, não se acaba: está em eterna construção. Mesmo sendo “feita de pedras bonitas” o todo da Catedral é “horrível” - “como minha alma”. Perspicazmente, Mário sabe que o monumento surgiu “da necessidade” - das elites paulistanas, ávidas de símbolos que ilustrassem seu poderio? Sabe também que, mesmo contendo “pedras novas” e modernas, as “antigas” insistem em persistir, lembrando outros tempos, outros espaços - de um mais “sacro (...) edifício”? E prevê Mário o destino da Catedral - que é “de se acabar, mas que depois se destruirá” - e de tantos

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 151

outros elementos do espaço físico paulistano que, “como o meu corpo” material, se transformam em pó (FREHSE, 1996, p. 146-147).

Imagem 68: Fotografia da primeira inauguração da Catedral da Sé. Fonte: VERMEERSCH, 2020.

152 Porque és o avesso do avesso

Assim como tratamos sobre o centro histórico de São Paulo em seu movimento de transmutação, é possível elencarmos alguns exemplos de edifícios que passam por essas metamorfoses. Este é o caso do Edifício São Marcos, situado na Praça da Sé. O atual edifício de traços modernos desponta na paisagem urbana desde 1959, sob desenho do arquiteto alemão Adolf Franz Heep (1902-1978). Entretanto, como nos elucida Marília Oliveira (2020, p. 03), antes de ser estabelecido o edifício moderno, existia no mesmo lote e em mesma projeção, um edifício de características tradicionais ecléticas - o Edifício da “Previdência” Caixa Paulista de Pensões. Tal exemplar havia sido erguido no ano de 1912, com projeto do engenheiro-arquiteto italiano Julio Micheli - profissional que teve notável produção arquitetônica e urbana entre 1888 (ano de sua chegada ao Brasil) e 1919 (ano de seu falecimento). Dentre seus principais exemplares estão: o Viaduto Santa Ifigênia (inaugurado em 1913, elaborado em estrutura metálica belga com desenho Art Nouveau que compõe a cena do Vale do Anhangabaú) e a Santa Casa de Misericórdia (quando se associa ao arquiteto Luigi Pucci).

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 153

Ainda que a projeção do edifício não tenha sofrido intensa modificação, ao olharmos para sua volumetria, não chegamos a esta mesma conclusão. Alavancados por um processo intenso de verticalização, novos coeficientes de aproveitamento e normas para iluminação permitem a “extrusão” da forma do edifício.

154 Porque és o avesso do avesso

Imagem 72: Vista da Rua Anchieta e 15 de Novembro, 1925. Fonte: OLIVEIRA, 2020.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 155

Este período de tempo no século XX tem como demarcação o estabelecimento de São Paulo como uma cidade grande - a busca pela modernidade resultou em projetos de intervenção urbana. Percebemos uma nítida mudança na feição estética da cidade entre as duas décadas do século e após as administrações públicas da década de 1920 e seguintes. Um grande marco que este período nos traz é o início do declínio do triângulo histórico na vida social do paulistano. Ou seja, como o movimento da elite em valorizar a cidade nova acaba por refletir negativamente o núcleo histórico urbano da cidade.

As grandes intervenções municipais realizadas por Fábio Prado e Prestes Maia apagaram o cenário harmônico e pacato que caracterizava São Paulo antes de suas gestões e abriram caminhos para deixar a cidade como a conhecemos hoje. A ornamentação dos edifícios, o cuidado com os detalhes nas fachadas, as alamedas tranquilas e os jardins bem cuidados da região central abriram espaço para a cidade veloz, de grandes avenidas, industrial, envergonhada de seu passado provinciano.” (OLIVEIRA, 2008, p. 123)

Imagem 75: Edifício Clube Comercial, localizado no Vale do Anhangabaú e demolido em 1969. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

156 Porque és o avesso do avesso

Imagem 76: Panorama do Centro Novo de São Paulo. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Entre as décadas de 1930 e 1960, com o estabelecimento de uma arquitetura moderna, o Centro Novo, região conhecida como cidade nova, ganha diversos exemplares das chamadas galerias - edifícios que abrigam comércios, restaurantes, bares, entre muitos outros comércios e serviços, e sua maior característica é a de conectar duas ou mais vias por um percurso interno à quadra. Estes edifícios trazem consigo espaços

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 157

de sociabilidade, a relação dos largos do passado agora introjetam o térreo como continuação do passeio público (que, por vezes, se estende à mezaninos) borrando as fronteiras entre o público e privado.

158 Porque és o avesso do avesso

Imagem 78: Um exemplar das galerias comerciais existentes no Centro Novo, A Galeria Nova Barão (1962) de Maria Bardelli e Ermano Siffredi. Fonte: MEYER et al., 2018.

Ainda na década de 1930 nasce na Praça da República o prenúncio de edifícios que surgiriam na região. O Edifício Esther foi o primeiro edifício de preceitos completos modernistas e que, além da galeria no térreo, em seus andares, comparecem escritórios e moradias. Projetado pelos arquitetos Álvaro Vital Brazil (1909-1997) e Adhemar Marinho (19112000) em 1935 e inaugurado em 1938, foi palco para a vida do pintor Di Cavalcanti (1897-1976) e também para a primeira sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 159

Imagem 79: Croqui Edifício Esther Adhemar Marinho e Álvaro Vital Brazil, via Revista Acrópole. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 80: Álvaro Vital Brazil em frente ao Edifício Esther. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

O capítulo da história moderna paulistana conserva diversas edificações que são símbolos e estão inseridos na dinâmica urbana do paulistano. Situado em um período temporal no qual tem-se a profusão de correntes - trazidas do século XIX e aquelas alcançadas pela modernidade, observamos a pluralidade estilística e construtiva que representa este período. Para demarcar este momento e a quarta camada histórica, elencamos a divisão entre triângulo histórico e centro novo com as edificações: Palácio das Indústrias (1911-1924), Palácio da Justiça (1920-1933), Hotel Esplanada (1921-1923), Mercado Municipal (19221933), Edifício Sampaio Moreira (1922-1924), Edifício Alexandre Mackenzie

160 Porque és o avesso do avesso

(1924-1929), Edifício Rolim (1925), Edifício do Centro Cultural do Banco do Brasil (reformado e inaugurado em 1927), Faculdade de Direito (1930-1934), Edifício João Brícola/Mappin (1936-1939), Edifício Sede do Banco do Estado de São Paulo S.A. (1939-1947), Edifício Sede do Banco do Brasil (1942-1955), Edifício CBI Esplanada (1946-1951), Edifício do Banco Paulista do Comércio (1947-1950), Sede do IAB-SP (1947-1950), Edifício e Galeria Califórnia (19501955), Edifício Copan (1952-1966), Edifício Conde de Prates (1952-1957), Edifício Triângulo (1953-1955), Edifício Ordem dos Advogados (1955), Galeria Metrópole (1956-1964), Edifício Barão de Iguape (1956-1959), Edifício Itália (1960-1965), Edifício Mirante do Vale (1960-1966) e Hotel Hilton (1963-1971).

Imagem 81: Qarta camada histórica. Fonte: Autor, 2021.

162 Porque és o avesso do avesso

Imagem 82: Palácio das Indústrias, projeto de Domiziano Rossi. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 83: Palácio da Justiça, projeto de Felisberto Ranzini Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 84: Hotel Esplanada, projeto de Joseph Gire. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 163

Hotel Esplanada, projeto de Joseph Gire. Imagem 85: Mercado Municipal, projeto de Felisberto Ranzini. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 86: Edifício Sampaio Moreira, projeto de Christiano Stockler das Neves e Samuel das Neves. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

164 Porque és o avesso do avesso

Imagem 87: Edifício Alexandre Mackenzie, projeto de John Pollock Curtis, William P. Preston. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 88: Centro Cultural Banco do Brasil. Fonte: Guia das Artes, 2021. Imagem 89: Edifício Rolim, projeto de Fred Reimann, Hippolyto Gustavo Pujol Júnior e Tito de Carvalho. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 165

Edifício Rolim, projeto de Fred Reimann, Hippolyto Gustavo Pujol Júnior e Tito de Carvalho. Imagem 90: Faculdade de Direito, projeto de Ricardo Severo Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 91: Edifício João Brícola/Mappin, projeto de Elisiário Bahiana. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

166 Porque és o avesso do avesso

Imagem 92: Edifício Sede do Banco do Estado de São Paulo S.A., projeto de José Camargo e Plínio Botelho do Amaral. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 93: Edifício Sede do Banco do Brasil, projeto de Caio Pedro Moacyr. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 94: Edifício CBI Esplanada, projeto de Lucjan Korngold. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 167

Edifício CBI Esplanada, projeto de Lucjan Imagem 95: Edifício do Banco Paulista do Comércio, projeto de Rino Levi. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 96: Sede do IAB-SP, projeto de Abelardo de Souza, Galiano Ciampaglia, Hélio Duarte, Jacob Ruchti, Miguel Forte, Rino Levi, Roberto Cerqueira César, Zenon Lotufo. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

168 Porque és o avesso do avesso

Imagem 97: Edifício e Galeria Califórnia, projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 98: Edifício Copan, projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 99: Edifício Conde de Prates, projeto de Alfredo Mathias, Giancarlo Palanti. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 169

Edifício Conde de Prates, projeto de Alfredo Imagem 100: Edifício Triângulo, projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 101: Edifício Ordem dos Advogados, projeto de Luiz Roberto Carvalho Franco, Rino Levi e Roberto Cerqueira César. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

170 Porque és o avesso do avesso

Imagem 102: Galeria Metrópole, projeto de Gian Carlo Gasperini, Salvador Candia. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 103: Edifício Barão de Iguape, projeto de Gian Carlo Gasperini, Jacques Pilon, John Ogden Merrill, Louis Skidmore, Nathaniel Owings. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 104: Edifício Mirante do Vale, projeto de Aron Kogan e Waldomiro Zarzur. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 171

Edifício Mirante do Vale, projeto de Aron Imagem 105: Edifício Itália, projeto de Franz Heep. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 106: Hotel Hilton, projeto de Ermano Siffredi, Maria Bardelli. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

172 Porque és o avesso do avesso

10. São Paulo metrópole (1970-2000)

No período em que São Paulo ganha dimensão metropolitana, a noção de centro histórico altera-se. O que antes era conformado pelo distrito da Sé, e mais especificamente a colina histórica, a partir da década de 1970 acaba por englobar também o distrito da República - conformando uma área de 4,4 km² na cidade (NAKANO et al., 2004, p. 124). O termo “Centro Novo”, que durante o século XX nomeou a região República, agora identifica a região entre a Avenida Paulista e o baixio do Rio Pinheiros. Ao passo em que as elites desenvolvem financeiramente e territorialmente este quadrante sudoeste da cidade, o centro histórico acaba por perder a sua “singularidade funcional”, usando o termo de Nakano; Campos e Rolnik (2004, p. 126).

A constituição dos pólos administrativos, de consumo e de serviços nas avenidas Paulista, Engenheiro Luís Carlos Berrini, Brigadeiro Faria Lima e em alguns trechos da via marginal ao rio Pinheiros (avenida das Nações Unidas) revela a reconfiguração econômica-territorial das atividades que apresentam grande dinamismo e capacidade de polarização. A expressão “centro expandido” é insuficiente para designar esse fenômeno, pois não se trata de uma simples expansão do centro abarcando algumas áreas do quadrante sudoeste. Trata-se de um processo de mudança na própria configuração espacial das atividades centrais, principalmente naquelas de cunho administrativo empresarial, de cultura e lazer e nas formas de territorialização. Estas novas formas edificadas ocorrem seja a partir da substituição do patrimônio edificado pré-existente - a exemplo da avenida Paulista, cujos prédios de escritórios e apartamentos levantados nas décadas de 1970 e 1980 substituíram os palacetes dos tempos do café -, seja a partir do aproveitamento de áreas não ocupadas - a exemplo

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 173

das operações imobiliárias conduzidas pela empresa BratkeCollet na avenida Luís Carlos Berrini nas duas últimas décadas. (NAKANO et al., 2004, p. 126)

A transformação da própria Avenida Paulista que iniciou seu percurso concomitantemente à realização do Centro Novo, a abertura das avenidas Faria Lima e Luiz Carlos Berrini criadas nas décadas seguintes e acompanhadas de inúmeros desdobramentos, não chegaram a organizar espaços urbanos com os mesmos predicados do Centro Novo. (MEYER et al., 2018, p. 14-15)

O desaparecimento da singularidade funcional do centro histórico acarreta no aparecimento de edifícios vazios. Estes edifícios vazios não estão abandonados, mas sim fechados ou vagos - em tese, sem uso. Ao analisarmos a vacância das edificações, O’Flaherty (1998, p. 109 apud BOMFIM, 2004, p. 30) nos explica que tal consequência pode estar relacionada às características do espaço urbano, como por exemplo deterioração do imóvel e região, variação de preços, nível de qualidade, demanda e segregação. E, desta forma, sendo catalisado pelo capital imobiliário. Quando observamos o desenvolvimento urbano das áreas centrais, é possível perceber que se comporta tal como um gráfico da função do 2º grau - quando o valor do coeficiente a for menor que 0 -, dado que ascende e se desenvolve e, ao chegar no topo, muda de direção e vêse o declínio. É neste momento de incerteza que pode ser estabelecido o processo especulativo e de experimentações, segundo Bomfim

174 Porque és o avesso do avesso

(2004, p. 31). Isto posto, avaliamos que o papel do poder público é de fundamental influência na concretização da recuperação, renovação ou requalificação urbana de áreas degradadas. Hoje, após a total concretização deste processo de abandono do centro por parte do polo financeiro, conseguimos observar na fisionomia urbana paulista que diversos edifícios continuam obsoletos.

Compreende-se, portanto, que os vazios construídos para o setor privado são indicadores que orientam os investimentos e as futuras aplicações. O acompanhamento dos vazios construídos permite o conhecimento da relação de oferta e demanda, permitindo assim previsão de riscos, retorno e lucratividade de investimentos imobiliários. O conhecimento dos vazios para o setor público permite a definição de aplicação de recursos para as políticas públicas. No caso das áreas centrais, são vazios intrínsecos aos processos de recuperação, requalificação, renovação ou reabilitação urbana. (BOMFIM, 2004, p. 31-32)

Em grande expansão, aliado à São Paulo metrópole, corria também os planos do metrô paulista. A evolução da chamada Rede Básica do Metrô se desenvolveu entre os anos de 1968 e 1985, e foi a primeira rede concebida através do consórcio HMD21 para a nova Companhia do Metropolitano de São Paulo. Adjacente ao triângulo histórico, o plano básico propunha a estação D. Pedro II como uma estação de conexão,

21 Consórcio formado por 3 empresas. Sendo composto por 2 empresas alemãs e 1 brasileira, respectivamente: Hotchief, Montreal e Deconsult.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 175

possibilitando a transferência das linhas Sudoeste Sudeste e Nordeste Noroeste (atuais 4-Amarela e 3-Vermelha).

Imagem 107: Evolução da rede básica do metrô e as estações de conexão. Fonte: OAKLEY, 2017.

No ano de 1975 a Rede Básica se formaliza como uma revisão dos estudos desenvolvidos em 1968 e propõe algumas alterações. No meio destas alterações, marcamos a substituição da linha Casa Verde-Vila Maria para a linha Lapa-Itaquera, em razão de influenciar fundamentalmente a configuração espacial definitiva da estação Sé, e consequentemente sua projeção de área ocupada do triângulo histórico, como nos explica Tiago

176 Porque és o avesso do avesso

Oakley (2017, p. 86). A estação da Sé caracteriza-se em ser o principal ponto nodal do transporte sobre trilhos na capital paulista. Entretanto, sua proposta original não coincide com sua conformação atual. No plano de 1968, havia sido proposta como Estação Clóvis Bevilácqua, ao passo em que localizava-se na praça de mesmo e defronte ao Palácio da Justiça. De imediato a proposta para a estação de metrô compreendia-se subterrânea e com uma grande claraboia alinhada ao eixo da praça e do edifício do Palácio da Justiça - neste momento, a Praça da Sé, vizinha à Praça Clóvis Bevilácqua, comportava um terminal de ônibus.

Imagem 108: Praça Clóvis Bevilácqua e Palácio da Justiça. Ao fundo, a construção da cúpula da Catedral da Sé. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 109: Terminal de ônibus em frente à Catedral da Sé. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 177

Imagem 110: Estação Clóvis Bevilácqua (anteprojeto de Marcello Fragelli). Fonte: OAKLEY, 2017.

Incorporado no traçado inicial do Plano, previa-se uma segunda linha, também subterrânea, na região da Avenida Celso Garcia/Baixada do Glicério. Contudo, por ser uma região de baixio - local antes do serpenteio do Rio Tamanduateí -, encontraram dificuldades para lidar construtivamente com o terreno pantanoso. Com isso, tem-se a revisão da configuração espacial do traçado e uma nova proposta, como explica

178 Porque és o avesso do avesso

o engenheiro Plinio Assmann:

“A evidência impôs. Mudar o projeto da Estação da Sé, ligar as duas praças Sé e Bevilácqua numa só e enorme praça e com isso abrir um grande espaço público no centro e reduzir as obras da estação para algo como a metade.” (ASSMANN, 2013, p. 203 apud OAKLEY, 2017, p 94)

Ao observarmos a organização atual da Praça da Sé, confirmamos que a proposta de aglutinar as duas praças existentes se concretizou. Para que esta grande obra pudesse ser realizada, foi necessário desapropriar e demolir edifícios que estavam no entremeio das praças. Como é o caso do Palacete Santa Helena e do Edifício Mendes Caldeira.

Imagem 111: Palacete Santa Helena, projeto de Giacomo Corbeli, José Sacchetti - demolido em 1971. Fonte: Arquivo Arq, 2021. Imagem 112: Demolição do Edifício Mendes Caldeira em 1975, projeto de Jorge Zalszupin, Lucjan Korngold. Fonte: Arquivo Arq, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 179

Os arquitetos da companhia já haviam proposto e conseguido a demolição de todo um quarteirão entre as praças da Sé e Clóvis Bevilácqua, para localizarem ali a enorme estação de transferência. Como cobertura desse espaço subterrâneo, propuseram uma grande praça pavimentada, com apenas uma estreita faixa ajardinada. Bem no meio e em forma de C projetaram uma passarela pesadíssima sobre pilotis, verdadeiro viaduto que, visto do limite inferior da praça, pareceria um embasamento do Palácio da Justiça. (...) pedi ao colega que conversasse com o autor do projeto e tentasse convencê-lo a criar uma praça verde sobre a estação, o que era tecnicamente muito possível. Pedi também que o convencesse da conveniência da abertura do subsolo no nível da rua, para que o céu pudesse ser visto de baixo. (FRAGELLI, 2010, p. 280 apud OAKLEY, 2017, p. 98)

A praça que marca literalmente o centro da cidade é dotada de uma forte carga simbólica e dominada por pedestres, que contam com um sistema de ruas exclusivas que se desenvolve em direção ao Anhangabaú. (OAKLEY, 2017, p 102)

Imagem 113: Praça da Sé. Plantas das configurações nos momentos históricos: 1889, 1954 e 1978. Fonte: OAKLEY, 2017.

180 Porque és o avesso do avesso

É possível montarmos um paralelo de análise entre a constituição da Catedral da Sé e a grande Praça da Sé. Mesmo que pautada sob justificativas técnico-construtivas acerca do traçado metroviário, a constituição da Praça da Sé como a vemos hoje também foi um movimento de demarcação do sítio. Assim como a nova Catedral foi erguida como símbolo de progresso e modernidade na São Paulo do início do século e que resultou em grande área de demolições, da mesma maneira a construção da nova estação-praça, como símbolo de uma São Paulo do progresso, e sobretudo agora de dimensões metropolitanas, também resultou em demolições. Esta ação, dentre muitas outras demarcadas nesta pesquisa, reforça o sentido do centro histórico de São Paulo como um palimpsesto. Ou seja, de como projetos de modernidade são sobrepostos em camadas históricas. E, ao longo do século XX, observamos que as obras de cunho viário implementadas, sobretudo a partir do Plano de Avenidas, tiveram como desfecho ilhar o centro histórico. Durante todo o período, foram constituídas vias arteriais expressas, elevados, pontes e viadutos, sinalizando e buscando uma dimensão metropolitana, do macro-acesso. Com isso, a acessibilidade na escala local do centro histórico foi prejudicada (ver imagem 114). Sendo grande local de concentração dos transportes públicos, desde os anos 1940 com a substituição dos bondes, a região do centro histórico sofreu forte popularização. Este fator aumenta quando inaugura-se o modal do transporte metropolitano sobre trilhos. O transporte feito por

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 181

Imagem 114: Histórico das intervenções na área central - Transporte coletivo de massa - 4º momento (a partir de 1975). Fonte: NAKANO et al., 2004.

182 Porque és o avesso do avesso

linhas de ônibus começa a se multiplicar e, a partir da década de 1960, são improvisados terminais urbanos nas regiões do Parque Dom Pedro II, Praça da Bandeira e Princesa Isabel. Um marco que chamamos atenção é o movimento de pedestrianização que ocorreu nas ruas do centro histórico, transformando-as em calçadões entre 1975 e 1978 - efeito possibilitado após a criação da CET22 em 1976. Com isso, as elites longe e a intensa popularização, o centro histórico passa a comportar comércios e serviços de caráter popular. Tal fenômeno solidifica-se na década de 1980 (NAKANO et al., 2004, p. 138).

22 Companhia de Engenharia de Tráfego.

Imagem 115: Rua Senador Paulo Egídio, 1977. Fonte: PMSP, 2021.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 183

Imagem 116: Perímetro da contra-rótula e calçadões (azul). Fonte: PMSP, 2021.

184 Porque és o avesso do avesso

O centro passa, então, a ser utilizado por uma população de menor poder aquisitivo e seus espaços, ocupados pelas estratégias de sobrevivência dos segmentos empobrecidos - sem-teto, ambulantes, desempregados, moradores de rua e demais setores excluídos dos circuitos produtivos formais. A macro e a micro-organização do sistema de transporte coletivo condiciona os fluxos de pedestres no centro histórico e induz à ocupação da economia informal nos espaços públicos. Isso, por sua vez, acentua a fuga das camadas dominantes e a desvalorização imobiliária, realimentando o processo. (NAKANO et al., 2004, p. 138)

As transformações ocorridas no centro histórico sempre tiveram como plano de fundo legislações urbanas. Não diferente, nas décadas de 1970 e 1980, o poder público utiliza-se do zoneamento como principal meio para as regulações urbanas. O histórico de normas e leis do passado reforçaram o perfil elitista do território, assim como por meio dos Códigos de Obras - entre as décadas de 1920 e 1930 -, viabilizou-se a verticalização das edificações. A partir do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (1971), foi concebida a legislação de zoneamento e ocupação do solo no ano de 1972. Esta legislação foi baseada nos planos norte-americanos e se debruçou nos detalhes para a região central. Como exemplo, na zona de maior densidade de ocupação e variedade de usos, o coeficiente de aproveitamento máximo permitido era de 3,5 vezes a área do lote, com taxa de ocupação de 80%. Na segunda metade do século XX o Vale do Anhangabaú ganha novo significado para a sociedade. Em seu histórico carrega consigo a marca de ter sido “fundo” da cidade até meados do século XIX e com

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 185

o advento da ferrovia, tornou-se a “porta de entrada” da cidade. Ao se tornar extensão da porta de entrada, novas funções passaram a integrar a dinâmica espacial do vale. Grandes empreendimentos, residências e centro financeiro e de negócios passaram a tomar as bordas do local - o que resultou em projetos de embelezamento para a área. Entretanto, como consequência do Plano de Avenidas, vê-se uma remodelação do Anhangabaú para atender aos interesses do mercado imobiliário e da indústria automobilística (ROLNIK, 1997 apud TONTI, 2017, p.4). Projeto que se concretiza na década de 1950, transformando o vale em uma grande avenida, fazendo a ligação norte-sul da cidade.

Imagem 117: Perímetro da contra-rótula e calçadões (azul). Fonte: Revista Sampa Histórica, 2013.

186 Porque és o avesso do avesso

Após a transferência do centro econômico e cultural da cidade para o quadrante sudoeste, o declínio e a deterioração do espaço central também abrangeu a área do Vale. Com isso, na década de 1980, a Prefeitura Municipal através da EMURB23, realiza o Concurso Público Nacional para a Elaboração de Plano de Reurbanização do Vale do Anhangabaú em parceria com com o Instituto de Arquitetos do Brasil, o qual tem como vencedor o projeto do arquiteto Jorge Wilheim em parceria com a arquiteta paisagista Rosa Kliass. O projeto se desenvolve por cobrir as vias com uma laje - transformando a ligação norte-sul em um túnel - que abriga recintos ajardinados e espaços abertos, uma grande esplanada. O espaço converte-se em palco para vivências culturais, manifestações e convívio. No ano de 1991 é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo (CONPRESP), por seu “valor histórico, social e urbanístico representado pelos vários modos de organização do espaço urbano” (RESOLUÇÃO N. 37/92 apud TONTI, 2017, p.8).

23 Empresa Municipal de Urbanização, hoje com o nome de SP-Urbanismo.

Projeto de expografia para o Centro Histórico de São Paulo 187

Imagem 118: Projeto vencedor do concurso. Perspectiva com a “Praça para comícios e eventos públicos” em primeiro plano. Fonte: TONTI, 2017. Imagem 119: Vista do Vale do Anhangabaú, anos 2000. Fonte: Archdaily Brasil, 2020.

This article is from: