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LUIZA PACHECO GUZELLA - Belo Horizonte, MG

O PERCEBER DAS COISAS

Ao longo da vida, somos questionados e nos questionamos sobre a pergunta de um milhão de reais: o que é liberdade? Quando criança achava que era poder andar por aí sem rumo, comprar todas as bonecas do mundo e me afogar em uma banheira de jujubas.

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Acho que essa ideia infantil e bonita de liberdade acaba quando crescemos e caímos na esparrela da rotina. Um, dois, um, dois, mais rápido, tempo é dinheiro. E está tudo assim. Veloz, impaciente, líquido. Confesso que me entristece. Passo pelo centro, acho acelerado e foco na parte que me diverte. Presto atenção em algumas birras, um ambulante vendendo pilhas, o cheiro de churros se misturando com o de pão de queijo e o casal abraçado na praça. No ônibus me alegro ao encontrar um raio de sol perdido em um céu chuvoso e troco para uma trilha sonora mais a ver com o momento, talvez uma bossa nova.

A chuva não veio, mas o cheirinho de grama molhada predomina no ar, o céu já se coloriu de azul. Caminho um pouco e paro por causa de um cachorro ou outro, brinco, recebo lambidas, pergunto o nome e digo que sou quase veterinária. Reparo no perfume de um moço muito bonito e vou colecionando mais cheiros. Subindo a rua ouço todos os sons dos vizinhos, das crianças e do pega-pega no play.

Chego e escuto meia dúzia de implicâncias, um pedaço da novela das seis e acho uma joaninha no jardim. Pego o ukulele e arranho alguns tons, em uma tentativa de ressignificar sentimentos e sensações de um dia cansativo, mas divertido e livre. Livre.

Me sinto livre ao perceber o mundo, moro no simples, no perceber das coisas, na calmaria e no ser das pessoas. Esse é o lado que a gente escreve, catando minúsculos detalhes do mundo, pequenas poesias que extraímos de olhares, cheiros e desses lados poéticos da vida.