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CESAR LUIS THEIS - Guarujá Do Sul, SC

CESAR LUIS THEIS - Guarujá Do Sul, SC Professor-pesquisador/ Discente no Mestrado em Educação (UFFS) / Pós-graduado em Educação, Pobreza e Desigualdade Social (UFSC) / Pós-graduado em Mídias para a Educação (IFSC)

O NOVO ANO DE LAURA

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Naquele final de tarde, em que os raios de sol douravam as gotas de uma garoa fina, Laura decidiu caminhar pela praia, não costumava fazê-lo, afinal em sua vida o trabalho era uma ancora na rotina interminável de afazeres, deixou o computador ligado, a xícara de café por terminar, e escolheu o chinelo ignorando o habitual all star azul, e sem hesitar virou de costas e saiu apresada sem nem trancar a porta.

Seus passos apresados contrastavam com a serenidade da face que algumas gotas caprichosamente salpicavam com beijos, mas, Laura, padecia de alguma inquietude, destas que ignoramos até se tornarem urgência, e que pouco versam o racional, mas, que hora se precipita como o amanhecer, em inesperado raiar dourado que dissipa as banalidades que roubam o tempo da vida.

E, a inquietude que se precipitou em urgência não seria adiada pôr uma garoa de verão, Laura abriu os braços, como a mãe que espera para acolher o filho em seu abraço, e até o mar ávido pelo afago de Iemanjá, se lançou em ondas franzidas de branco que diligentemente se deitavam na praia, e entre um passo e outro dissimuladas apagavam o passado das pegadas na areia, abeirando o viver em presente, e juntos subtraiam do tempo o momento, um breve hiato para vislumbrar o novo ano que se premedita no horizonte.

E entre as ondas cadenciadas que encontravam a praia, o presente se fez conhecer ao futuro na espiral do tempo, e o último dia do ano se avizinhou ao primeiro do novo ano, e Laura percebeu, a singularidade do calendário transformara a faísca da inquietude em urgência, desvelando a necessidade de se renovar na nova temporada, mas como se reinventar?

A questão mantinha sua atenção cativa, as múltiplas variáveis da equação que o pensamento tentava abstrair, enquanto os passos se tornavam mais lentos, e a esta altura olhou diligentemente para trás, porém sem pegadas na areia pouco poderia dizer sobre o quanto havia de passado e presente naquela caminhada.

E assim, percebendo que pouco conseguiria saber sobre o que havia de antigo e de momentâneo em sua essência, um sorriso pincelou de incongruência seu rosto, e enquanto as gotas triscavam o manto azulado do mar, decidiu sentar à beira-mar, pois talvez as ondas trouxessem do longínquo horizonte algum presságio produzido pela comiseração celestial, ou até uma garrafa com mapa feito pôr algum náufrago, um sinal que poderia tomar como farol para cruzar as inseguranças do futuro, mas mesmo investigando a paisagem nada se revelava prenúncio do tempo porvindouro.

E a inquietude que se transformou em urgência pela incongruente sequência do

calendário, o arrebatamento se diluiu, e assim como o mar que se agita durante a tempestade, e depois se horizontaliza em seu leito, a aflição de se provou passageira, e Laura recobrou o equilíbrio.

E talvez em um elã dos deuses olimpianos a garoa cessou, e os últimos raios daquele sol de dezembro aproveitaram para criar prismas coloridos nas gotículas sobre a pele de Laura, que mesmo distraída pensou ser o presente a possibilidade e o futuro só uma expectativa.