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JEFERSON DOUGLAS BICUDO - Paranavaí, PR

JEFERSON DOUGLAS BICUDO - Paranavaí, PR Professor de literatura, português, redação e teatro; ator e escritor.

(N) AS MELANCOLIAS QUE ASSOLAM A ALMA

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Vomitar os monstros que habitam o meu dentro mais perverso é uma necessidade que adquiri com o tempo, esse pai de Chronus não Kairós que me ataca com sua esfinge mais avassaladora de circunstâncias torpes.

Queres me ver nu no espelho palestrando sobre o lado poético metaforizado desse carrasco que sou? Pois dir-lhe-ei no mais neologismo do pensamento desvairado que tenho.

São nos momentos em que o coração acompanha as mãos trêmulas e o sufocar da garganta, que quer gritar, mas calada faz o eu meu sofrer; quando lembro da infância ânsia repleta de fantasmas estuprados; quando o sagrado me condena; quando olho e vejo que não sou herança da terra prometida dos meus pais. São nas lágrimas inundando o meu rosto quente que incessantes insistem em dizer o nada que sou ...

Nesses momentos de aflição, em um paradoxo ortodoxo ouço a voz dela, que baila amiga e me leva a dançar seus passos.

Olho ao derredor e não enxergo solução, pensamentos suicidas tomam conta e sinto meus pés arderem com a sombra de Lúcifer ao meu lado e então recorro ao que me salva por mais algumas horas, até necessitá-la novamente.

Ao sentir a poesia, o meu corpo clama para que eu escreva, mas não escrevo, descrevo-me. O que faço não é escrever, é viver nesses momentos depreciosos onde sonho acordado com os pesadelos ínfimos daquilo que por tanto tempo me fez ser o nada do verme que roeu as memórias póstumas, não as mesmas de Brás Cubas.

Alucinante alucinado alucinando alucinações aluem alusões aos aliados que possuo: poesia poetizada no meu corpo, tatuada em mim.

É assim que a sinto. É assim que a vivo. É assim que me torno humano. É ela que me dá sentido ao sem sentido que sempre fui, ao nada que me tornei quando minha mãe sangrou e vim. O lado poético da minha vida talvez não esteja apenas por um lado, pois momento não seria apenas, mas o tudo que faz meus dias não me levarem ao fim dos mesmos que enforcados produziram os frutos genuínos das árvores da vida no jardim do Éden.

Portanto, um tanto desvairado, concluo: a poesia é o alicerce que mexe em meu ser e me torna um pequeno ser sem ser solitário, tendo a sua companhia como namorada e única confidente. Ela não tem apenas uma parte (lado) poética em minha vida, ela é o meu sangue, meus ossos, meu cadáver e minha biografia existencial vivida até aqui, trazida, sobretudo, na tristeza que sempre fui e, indubitavelmente, seja por isso que não consigo fugir de suas marcas até mesmo na prosa, pois ela proseia diariamente comigo e trocamos segredos secretos.