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ALDO MORAES - Londrina, PR

Menção Honrosa

ALDO MORAES - Londrina, PR

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A POÉTICA DA VIDA

A leveza no bailado de um menino que joga capoeira (e nem sabe...) parece tanto com o samba da porta-bandeira em plena avenida na terça de carnaval. A leveza das nuvens. A leveza na voz do velho mestre do jongo. E do samurai que combina antiguidade, amor e cavalheirismo. Um toque nos atabaques e o garoto na Angola reflete os mesmos movimentos e o mesmo sentimento da menina que baila por seus ancestrais numa pequena cidade da Bahia.

O povo caminha entre fantasias e carros gigantes tal qual o menino e seus pés e suas mãos e seus olhos que permeiam atalhos de barro e poeira. Barracos à beira de riachos cansados. Barracos que são casas inteiras de madeiras, zinco e tintas juntadas de todo lugar. Barracos de gente feliz e aurora bonita quando amanhece o dia.... Menino caminha entre seus pés tortos e o olhar esperto. Menino baila no chão como o trapezista no ar e o mestre-salas na avenida quando o surdo anuncia o carnaval...

Já é outra manhã, mas a cena do menino e seu corpo contorcido no ar, me levou à infância e nunca mais sai de lá.

Espreito na escuridão, o verso perdido... O sem tom, sem som, sem palavra. À luz de velas, na quase escuridão ouço o poema no ranger da ponta de um lápis. Ouço e vejo o poema no som da máquina de escrever... Na quietude espiritual do cotidiano (que amarga esperanças e perfeições), vejo resplandecer a vida, o sol, a água e o dia que nasce.

Com estas coisas cotidianas, renasce o milagre invisível. O milagre das coisas comuns, da vida comum, do homem comum. É pelo milagre de todos os dias que meu poema canta. E será sempre uma canção sem medo do acaso. Sem medo do destino, do ocaso e do sem final feliz. Poemas e crônicas e contos tirados de pedras e abismos. Poemas e poetas que não se perturbam com milagres de meninos descalços e homens suados em dias que se repetem por eternidades...

A vela a minha frente agora resplandece o verso e as palavras que o orvalho me inspiram...

Homens, velhos, mulheres e crianças se deslocam da calçada em pedra rumo ao meu poema.

Meu poema que insiste nos milagres contados em prosas todos os dias...