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Academia de Letras de SJBV: sua história

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Considerações

Considerações

50 anos 1971-2021

A Academia de Letras de São João da Boa Vista - SP foi fundada em 10 de setembro de 1971, com o intuito de proporcionar aos escritores sanjoanenses e região, assim como a todos os entusiastas, um espaço em que pudessem encontrar-se para discutir e partilhar assuntos ligados à língua portuguesa e à literatura nacional. Dom Tomás Vaquero, primeiro presidente desta Academia de Letras, cargo que ocupou por nove anos consecutivos, prestes a deixar a presidência, foi proclamado presidente vitalício de honra da Instituição, por decisão unânime da assembleia. Este Sodalício foi declarado de Utilidade Pública pela Lei Municipal n° 112, de 11 de setembro de 1975, e pela Lei Estadual n° 3.041, de 19 de outubro de 1981. Promove há vinte e nove anos o Concurso Literário de Poesia e Prosa, de âmbito internacional, com premiação em todas as faixas etárias. Realiza há dez anos o Concurso Redação na Escola, dentro do Projeto Jovem Escritor, para alunos do ensino fundamental e médio das redes pública e particular de São João da Boa Vista.

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ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA: SUA HISTÓRIA

OS PRIMÓRDIOS 10.09.1971 - Fundação 15.11.1971 - Instalação

A “semente” da Academia de Letras de São João da Boa Vista foi lançada por Milton Duarte Segurado, em uma conversa informal com Octávio da Silva Bastos, que, na época – lá pelos idos de 1966-68 – era Prefeito Municipal da cidade e presidente da Associação Sanjoanense de Ensino, hoje Fundação de Ensino Octávio Bastos - UNIFEOB. Milton Segurado, professor dos cursos de Direito de São João e Campinas, homem culto e membro fundador da Academia Campinense de Letras, mostrou que o avanço cultural da cidade favorecia a criação de uma Academia de Letras, acompanhando a instalação dos cursos superiores: Ciências Econômicas (na atual UNIFAE) e Direito (na atual UNIFEOB), ambos implantados naquela década de 1960, pelo mesmo grupo de pessoas ligadas a Octávio Bastos. Octávio Bastos logo abraçou a ideia do Prof. Segurado e, assim, foi-se esboçando o projeto da nossa Academia, tomando-se como ponto de partida o Estatuto da Academia de Campinas e adaptando-o à nossa realidade. Poucos anos mais tarde, Octávio Bastos procurou dois companheiros, intelectuais de grande prestígio na cidade: Octávio Pereira Leite, tabelião por profissão e participante ativo da vida cultural da cidade na condição de jornalista, escritor, vereador e sócio fundador da Sociedade Cultural de Debates e do Serviço de Assistência Social – SAS; e o Prof. Francisco Roberto de Almeida Júnior, inspetor de ensino na cidade, igualmente jornalista e cofundador da mesma Sociedade Cultural, além de poeta. Foram esses os três organizadores. Era o ano de 1971. Sob o comando de Octávio Bastos, atento à cultura – e à cultura literária – era criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Nesse passo, a próxima etapa era encontrar alguém com o perfil buscado para presidir a Academia. Haveria de ser alguém com cultura e prestígio, mas não só: deveria ter também envergadura moral e carisma para aglutinar as pessoas de destaque nas letras, nas artes e nas ciências. Não foi difícil, para os organizadores, chegarem ao Bispo Diocesano Dom Tomás Vaquero, homem culto e querido. A par das atividades religiosas, dedicava-se à docência universitária e à colaboração em jornais leigos e revistas eclesiásticas. Além disso, era membro de três academias literárias, instituídas dentro de seminários católicos: Grêmio Santa Teresinha, do Seminário Diocesano de Campinas; Academia de Letras José de An-

chieta, do curso de Filosofia do Seminário Central da Imaculada Conceição do Ipiranga, na cidade de São Paulo; e Academia de Letras Beato Inácio de Azevedo, do Pontificio Collegio Pio Brasiliano, de Roma. Tinha, pois, vasto conhecimento de academias de letras, tendo sido diretor da segunda delas, em São Paulo, por seis anos, entre 1942 e 1947. Dom Tomás, como esperado, aceitou o convite. Dando um salto no tempo, importa ressaltar que, em outubro de 2020, a Igreja Católica anunciou a abertura do processo de beatificação de Dom Tomás. Quanta honra para a nossa Academia de Letras. Os organizadores, então, passaram a buscar outros nomes respeitáveis que representassem os valores culturais da cidade, para convidá-los a fundar uma Academia de Letras na cidade. Encontrados esses nomes de destaque cultural, o grupo fez sua primeira reunião em 10 de setembro de 1971, na residência episcopal. Eram dezessete os presentes, mais dois ausentes, representados por procuração. Foram, pois, dezenove os sócios fundadores da Arcádia, que aqui viviam ou aqui trabalhavam. São eles: os cinco já citados – Octávio da Silva Bastos, Milton Duarte Segurado, Octávio Pereira Leite, Francisco Roberto de Almeida Júnior e Dom Tomás Vaquero, cujos perfis já foram brevemente apresentados – e mais estes, por ordem alfabética:

Abelardo Moreira da Silva advogado, professor universitário na área de economia e colaborador de jornais

Ademaro Prézia

jornalista e poeta Emílio Lansac Toha advogado e consagrado poeta Fábio de Carvalho Noronha jornalista, radialista e musicista Hélio Correa da Fonseca jornalista profissional, diretor e coproprietário do Jornal O Município, radialista, advogado e vereador por várias legislaturas

Joaquim José de Oliveira Neto

Jordano Paulo da Silveira

médico de formação e intelectual por vocação, foi professor e diretor do então Ginásio São João, cofundador e professor da Faculdade de Ciências Econômicas, colaborador de jornais bacharel em Direito, poeta, grande sonetista, colaborador de jornais José Osório de Oliveira Azevedo advogado, escritor, colaborador de jornais Rev. José Rodrigues Cordeiro pastor presbiteriano, poeta e professor

Licínio Vita da Silva graduado em Ciências e Letras e em Direito; professor da Faculdade de Ciências Econômicas

Cônego Luiz Gonzaga Bergonzini

Maria Leonor Alvarez Silva pároco da Catedral (mais tarde, bispo de Guarulhos) e diretor do jornal A Cidade de São João professora, escritora, colaboradora da imprensa local e membro da Academia Piracicabana de Letras

Odila de Oliveira Godoy professora e jornalista Palmyro Ferranti cirurgião dentista, provedor da Santa Casa, cronista

Sendo esse o momento de fundação da Academia, tiveram os acadêmicos o privilégio de escolher cada qual o seu patrono. É preciso registrar um fato notável para a época: a presença de duas mulheres entre os acadêmicos, em 1971 – portanto, seis anos antes que a Academia Brasileira de Letras admitisse em seus quadros a primeira mulher, a escritora Rachel de Queirós, em 1977. Essa postura denota bem o espírito aberto e inovador daqueles pioneiros. A reunião de 10 de setembro de 1971 iniciou-se sob a presidência de Octávio da Silva Bastos, que, ao propor a fundação da Academia, obteve apoio unânime e entusiástico. Ele, então, declarou fundada a Academia Sanjoanense de Letras. Foi lido, discutido e aprovado o Estatuto, que havia sido elaborado por Octávio Pereira Leite com base no da Academia Campinense de Letras, porém adaptado ao nosso meio. O nome originalmente proposto, “Academia Sanjoanense de Letras”, foi alterado para “Academia de Letras de São João da Boa Vista”, a partir de sugestão de Emílio Lansac Toha, sob o argumento de que tal denominação “projetaria mais no Estado o nome da nossa cidade”. Também ficou estabelecido o número de quarenta cadeiras, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, além dos membros honorários. A seguir, por aclamação, foi eleita a primeira diretoria, cabendo a presidência a Dom Tomás Vaquero. Empossada a diretoria, Dom Tomás assumiu a presidência da Assembleia e imediatamente organizaram-se os órgãos auxiliares: Conselho Fiscal, Comissão de Relações Públicas e Diretores Sociais. Houve congratulações e manifestações de entusiasmo por “tão auspicioso acontecimento”, conforme consta em ata. Também os jornais locais – A Cidade de São João e O Município, ambos de 15 de setembro de 1971 – divulgaram que a euforia era geral. O acontecimento foi saudado por quatro dos fundadores: Francisco Roberto de Almeida Júnior, Abelardo Moreira da Silva, Reverendo José Rodrigues Cordeiro e Jordano Paulo da Silveira. Este último se expressou por meio de um poema em homenagem aos colegas acadêmicos.

A segunda reunião da Academia de Letras recém-fundada aconteceu em 11 de outubro do mesmo ano, novamente na residência episcopal. Quinze novos membros foram apresentados, cada qual por um dos acadêmicos-fundadores, e depois votados e eleitos. Apenas um deles residia em São João, sendo os demais ligados à cidade por laços de família ou amizade, ou ainda pertencentes a academias literárias de outros municípios. São eles, agrupados por cidade: De São João da Boa Vista, o Monsenhor Antônio David, Vigário Geral da nossa Diocese, fundador do jornal A Cidade de São João. Das cidades próximas, Antônio Ferraz Monteiro, advogado e professor do Instituto de Educação Euclides da Cunha, de São José do Rio Pardo; e Hersílio Ângelo, professor na PUC-Campinas e também no Instituto de Educação de São José do Rio Pardo; Oscar Burgos Possolo, major da aeronáutica em Pirassununga e poeta; e Jurandir Ferreira, jornalista, poeta e prosador, residente em Poços de Caldas. De Campinas, Benedito José Barreto Fonseca, reitor da PUC-Campinas, promotor de justiça e membro efetivo da Academia Campinense de Letras; o Reverendo Júlio Andrade Ferreira, pastor presbiteriano e autor de diversos livros; e Plínio Silva, poeta e jornalista. Da cidade de São Paulo, Eunice Veiga, poeta e colaboradora dos jornais O Dia e Folha de São Paulo; Geraldo Majella Furlani, escritor, com diversos livros publicados; Juversino Garcia de Oliveira, advogado, professor de Português e Literatura no Instituto de Educação de São Paulo e escritor com obras editadas; e Nise Martins Laurindo, diplomada em Letras pela USP, com certificado de proficiência em literatura inglesa pela Universidade de Cambridge. E ainda, de outras localidades, Almir Paula Lima, juiz de Direito em Lavras e presidente da Academia Itajubense de Letras; Fábio Rodrigues Mendes, professor e dirigente de estabelecimento de ensino na cidade de Jundiaí, e atuante nas lides jornalísticas; e João Cabete, poeta e jornalista, titular do cartório do 2º Ofício de Cruzeiro. Poucos dias após, tem lugar a terceira reunião, em 27 de outubro, com o objetivo de discutir as providências necessárias para a sessão magna de instalação solene da Academia e posse dos acadêmicos. A reunião tratou ainda da apresentação de candidatos para preenchimento das seis cadeiras restantes, completando o quadro social da Academia. Os postulantes eram pessoas de destaque – alguns, membros de outras academias –, e foram eleitos após terem sido apresentados, cada qual por um acadêmico. São eles: Da cidade de São Paulo, Acácio Ribeiro Vallim, médico e intelectual com vários livros editados; Leão Salles Machado, escritor, membro e ex-secretário geral da Academia Paulista de Letras, e Nelson Palma Travassos, jornalista e prosador.

Da cidade do Rio de Janeiro, Hélio Carvalho Teixeira, advogado, jornalista e

poeta.

De Barretos, José Assis Canoas, odontólogo e poeta. De Ribeirão Preto, José Magalhães Navarro, alto funcionário do Banco do Brasil e Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras. Eleitos os quarenta membros, a Academia abrangia representantes de treze diferentes cidades, além de São João. Passado apenas um mês e meio da primeira reunião, a Academia de Letras estava agora completa para sua instalação solene e pública. A data escolhida para o evento foi 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Para a ocasião, os preparativos foram grandes, e comissões foram formadas sob direção e organização da acadêmica Odila de Oliveira Godoy. O acadêmico Oscar Burgos Possolo se ofereceu para confeccionar os convites e mereceu aplausos gerais na reunião. Francisco Roberto de Almeida Júnior idealizou o brasão acadêmico, tendo ao centro a imagem de um livro aberto e, na parte inferior, a de uma fita com a legenda “Os livros governam o mundo”, de autoria do filósofo iluminista Voltaire. A instalação solene se deu em 15 de novembro de 1971, às 20h, em uma memorável reunião no salão nobre da Sociedade Esportiva Sanjoanense, cedida gentilmente por seu presidente, Dr. Gastão Michelazzo. O salão estava lotado, com a presença de autoridades municipais e estaduais, bem como de familiares e convidados dos acadêmicos a serem empossados. A reunião foi aberta pelo 1º vice-presidente, Octávio da Silva Bastos que, após compor a mesa com as autoridades presentes, proferiu breve discurso e justa homenagem aos companheiros que arquitetaram a Academia: Francisco Roberto de Almeida Júnior, Milton Duarte Segurado e Octávio Pereira Leite. Encerrando seu discurso, ele concluiu: “Minhas senhoras e meus senhores, tenho a grande honra de declarar instalada neste dia – 15 de novembro de 1971 – a Academia de Letras de São João da Boa Vista”. O 2º vice-presidente, Octávio Pereira Leite, fez uso da palavra, discorrendo sobre o nascimento da ideia de se criar a nossa Academia e de como se haviam desenvolvido os trabalhos de sua organização. Na sequência, Octávio Bastos chamou e declarou solenemente empossado o primeiro acadêmico, Dom Tomás Vaquero, presidente eleito da Arcádia, passando a ele a direção da mesa e dos trabalhos.

Dom Tomás iniciou o ato solene de diplomação dos trinta e oito acadêmicos presentes, por ordem de cadeira. Em seu discurso discorreu sobre a finalidade e os objetivos que deveriam ser visados por uma Academia de Letras. A seguir, a primeira palestra da Academia foi proferida pelo acadêmico Benedito José Barreto Fonseca, reitor da PUC-Campinas, que discorreu sobre seu patrono, Castro Alves, cujo centenário de falecimento era comemorado naquele ano. Segundo consta em ata, ele produziu uma peça de grande beleza e erudição que a todos encantou, merecendo os mais justos aplausos. Complementando a apresentação, a professora Lucila Martarello Astolpho – que mais tarde se tornaria membro da Academia - declamou versos de Castro Alves, da bela poesia “Navio Negreiro”, um dos pontos altos da noite, com efusivos aplausos. Na sequência, o Prefeito Municipal, Dr. Oscar Pirajá Martins Filho, congratulouse com todos os presentes por mais esse marco de progresso cultural na cidade. O acadêmico Jordano Paulo da Silveira declamou dois novos poemas de sua autoria, um dos quais, “No limiar da glória”, escrito em homenagem a todos os acadêmicos:

Temos hoje a sessão inaugural de nossa boa e nobre ACADEMIA, marcando pra São João um grande dia, que atesta bem seu nível cultural.

Não significa arrojo ou ousadia – um passo simples, certo, natural, mostrando sermos gente bem normal, amante, enfim, da grã FILOSOFIA.

Vamos, pois, de mãos dadas, para a frente, deixar buscando um rastro aurifulgente, sem ter em mira os louros da vitória.

Havemos – todos – sim, de os conseguir. Por si, um dia, eles hão de vir – por vindouros nos tendo na memória!

Em agradecimento, o acadêmico Milton Duarte Segurado retribuiria mais tarde com outro soneto, usando as mesmas rimas – os dois poemas foram publicados no jornal O Município de 25 de dezembro de 1971.

Soneto de Agradecimento

Perseguem cidadãos um ideal e a fim de que esta meta fugidia consigam alcançar, buscam uma via que os leve à integração universal.

Cenáculo somente reuniria Partindo o pão e usando o mesmo sal os que preferem refeição frugal mas temperada sempre de poesia.

A oratória se fará presente Junto à ficção, que irá constantemente parceria fazer ao jus e à história;

teatro, filosofia progredir irão com folclore e no porvir caminharemos juntos para a Glória!

A reunião foi enriquecida com uma saudação à Academia, feita pelo Dr. Paranhos de Siqueira, convidado vindo da Academia Campinense de Letras, e, a seguir, com uma palestra do acadêmico Leão Machado, a respeito do tema “Normas acadêmicas”.

Foi muito oportuna esta sua fala para a Academia que acabava de se instalar, já que ele tinha sido, por seis anos, Secretário Geral da Academia Paulista de Letras. Para finalizar a noite, o acadêmico Plínio Silva declamou um lindo poema de sua autoria em homenagem à instituição:

À Academia de Letras de São João da Boa Vista

A Academia de Letras de São João da Boa Vista faz luzir em suas cetras a inteligência paulista.

Cada titular, de fato, erudição tem notória: poeta de escol literato, ou modelo de oratória.

Educadores eméritos, ou cientistas mais cultos, todos revelam seus méritos; são na vida nobres vultos!

De orgulho muito me abraso Quando as alturas eu grimpo desse autêntico Parnaso, desse mirífico Olimpo.

A maior força no mundo, que ao ser dá onipotência, está no ânimo facundo, no brilho da inteligência!

Por isso, magna honraria é justo que se dispense.

Foi oferecida uma confraternização com brinde de champagne para terminar aquela noite memorável. O hoje acadêmico João Baptista Scannapieco pôde assistir ao evento e assim o relata:

[...] Posso dizer a todos que eu assisti à fundação da Academia, no dia 15 de novembro de 1971, uma noite memorável, aqui na Sociedade Esportiva Sanjoanense. Uma reunião com um protocolo muito bonito, concorrida, muitas pessoas, autoridades, e aqui os primeiros acadêmicos foram diplomados. Eu me lembro... a alegria de Dom Tomás Vaquero e do Dr. Octávio da Silva Bastos e também do Prof. Octávio Pereira Leite. E eu conduzi aqui duas acadêmicas, Dona Maria Leonor Alvarez Silva e a Dona Odila Godoy. Eu fui motorista delas e por sorte eu assisti essa solenidade. Todos estavam muito alegres, muita gente, porque nós tínhamos acadêmicos não só de São João como da região. Eles estavam aqui com as famílias também. Eu me lembro tão bem que, ao terminar a reunião, a Dona Odila Godoy saiu da Sociedade Esportiva e disse: “Hoje as estrelas estão brilhando mais, e o rio Jaguari continua a correr placidamente com suas águas. Estou muito feliz”. Então, eu vi lançar as primeiras sementes da Academia, às margens do rio Jaguari. Vi essas sementes germinarem, crescerem e frutificarem. E eu estou feliz porque eu nunca sonhava um dia participar da Academia. Hoje sou acadêmico, da cadeira número 17, meu patrono é o professor de português, famoso, Francisco Dias Paschoal. E a Academia está produzindo muitos frutos. Eu espero que continue a produzir. Vejam vocês a Revista Arca, vejam vocês o Concurso Literário feito pela Academia, e o que mais me encanta é a Redação nas Escolas. Como professor, eu admiro e parabenizo. Desejo muitos frutos para a Academia.1

O jornal A Cidade de São João, em 20.11.1971, registrou o histórico evento com detalhes em matéria escrita pela acadêmica Odila de Oliveira Godoy, que terminou seu relato descrevendo poeticamente aquela noite solene: “No céu, as estrelas luziam e o Jaguary, a poucos metros, deslizava tranquilo. A brisa agradável envolvia de mistério e serenidade os corações. Este o cenário que marcou, indelevelmente, na história da Cidade dos Crepúsculos Maravilhosos a instalação solene e a posse dos Acadêmicos da Academia de Letras de São João da Boa Vista”. A propósito, a imprensa local exerceu um importante papel na divulgação das atividades da Academia, com os jornais O Município e A Cidade de São João se revezando em publicar quinzenalmente a “Página Literária” da instituição, com textos dos acadêmicos. Houve grande repercussão também na imprensa de fora da cidade. A notícia correu todo o estado e foi divulgada nos jornais da capital: Folha de São Paulo, A Gazeta, O Dia, Diário de São Paulo, inclusive com a foto do grupo dos acadêmicos recémempossados, que se tornou histórica. Até mesmo a Assembleia Legislativa homenageou a Academia prestando-lhe votos de congratulações, na sessão de 30 de novembro.

1 Vídeo gravado em 17.10.2020, na Sede da ALSJBV. Material arquivado no Acervo da ALSJBV; exibido em live no dia 28.11.2020, no canal da instituição no YouTube.

E, como ponderou o nobre colega confrade João Baptista Scannapieco, no texto que escreveu para as comemorações do Jubileu de Prata da Academia: “A semente lançada por Milton Duarte Segurado caiu em solo fértil”. No final de seu discurso, o presidente Dom Tomás Vaquero vaticinou: “Nossa Academia está criada e empossados os seus primeiros acadêmicos. Agora deve crescer, florescer, frutificar e o vai fazer logo a seguir, iniciando sua longa caminhada, não com passos de criancinha, mas com passos firmes de adulto”. Foi profética a fala do primeiro presidente, porque assim aconteceu.

OS PRIMEIROS TEMPOS

A jovem Academia pôs-se a promover reuniões mensais, totalizando onze sessões em seu primeiro ano de existência, realizadas no salão paroquial e, ocasionalmente, nas salas de aula da Associação Sanjoanense de Ensino (atual Fundação de Ensino Octávio Bastos - UNIFEOB) e na residência episcopal. A primeira reunião ordinária deu-se em fevereiro de 1972, quando tomaram posse os dois acadêmicos que não puderam estar presentes à cerimônia de instalação, assim completando o quadro. Diferentemente das atuais cerimônias de posse, os neoacadêmicos não falaram sobre seu patrono – nem obviamente sobre seus antecessores, pois eram os pioneiros –, limitando-se a breves palavras de agradecimento. A reunião terminou com declamação de poema, prática que seria incorporada às reuniões subsequentes. Momento histórico foi a segunda reunião, sediada em uma sala da Faculdade de Direito, com a presença de acadêmicos, convidados e grande número de estudantes. O orador da noite foi o acadêmico Milton Segurado, professor da instituição, que discorreu sobre a vida e obra de seu patrono, Euclides da Cunha, sob a forma de poema, em versos decassílabos. Pouco a pouco, foi-se estabelecendo um padrão para as reuniões: o acadêmico proferia uma conferência sobre seu patrono, seguida de declamações de poemas por acadêmicos e senhoras sanjoanenses. Dentre o grupo, destacavam-se o acadêmico Jordano da Silveira, com sonetos que compunha em homenagem aos colegas, e as convidadas Aparecida Guimarães (Dona Cidinha), Carmela Lombardi Vilela e Maria Benedita Abreu Rossi. Apresentações musicais também passaram a abrilhantar as reuniões, bem como as sessões de autógrafo e lançamento de livros. As reuniões contavam com grande público: “seleta audiência que enchia o salão e que dia a dia mais vem se interessando e apoiando este nosso sodalício”, registra uma das atas. Importante elo com a comunidade foi a figura de Dom Tomás Vaquero, que permaneceria à frente da instituição por três gestões consecutivas, de 1971 a 1980, assessorado pelo mesmo núcleo fundador.

Os primeiros tempos plasmaram os rumos da Casa. Nas comemorações do primeiro aniversário, ao saudar o acadêmico-conferencista Revdo. Júlio de Andrade Ferreira, o presidente Dom Tomás declarou “a nossa Academia [como] um centro de cultura e arte de ecumenismo aberto” que não poderia faltar à cidade e “cuja existência se vai consolidando graças ao interesse e apoio que vem encontrando de parte dos nossos estudantes e das nossas elites intelectuais”. O mesmo respeito às diferenças pôde ser sentido também na primeira confraternização de Natal, quando o jogral de estudantes conduzido pelo acadêmico Revdo. José Cordeiro teve como tema “O negro na grandeza do Brasil”. Por seu turno, a sociedade local acolheu a instituição a ponto de o casal Odete e Orlando Milan oferecer champagne aos presentes nessa confraternização: “foi uma das mais animadas sessões, com o salão inteiramente lotado, notando-se com alegria para todos nós que a Academia de Letras de São Joao da Boa Vista é hoje uma realidade que se impõe, graças ao apoio recebido do culto povo sanjoanense”. Estava, pois, consolidada a instituição e plenamente integrada à vida da cidade. No entanto, a Casa enfrentava o problema da baixa frequência dos membros residentes em outras cidades, alguns dos quais passaram à categoria de membro honorário e, após a reforma do Estatuto em 1980, para correspondente. Por outro lado, ciosas do papel histórico de uma Academia, as primeiras diretorias, graças sobretudo ao trabalho de Abelardo Moreira da Silva, empenharam-se para que os acadêmicos enviassem seus currículos, assim dando início ao acervo da instituição. Este seria progressivamente enriquecido por doações de livros, a começar pela biblioteca deixada pelo acadêmico Almeida Júnior, a ponto de, em seu terceiro aniversário, a instituição já possuir 1.500 volumes. O MEDALHÃO Menção especial merece o medalhão acadêmico. Estes só foram confeccionados quando a Academia contava já com dois anos de existência, em 1973, e por uma razão muito prática: para que os convidados pudessem diferenciar os acadêmicos das demais pessoas presentes, já que não se adotara o fardão, como fazem algumas academias. Além disso, praticamente a metade dos acadêmicos era de outras cidades, o que dificultava sua identificação. O medalhão foi criado por Augusto Procesi, tomando por base o brasão de Almeida Júnior e acrescentando-lhe os versos de Castro Alves: “Bendito o que semeia livros” A confecção dos medalhões, por sua vez, contou com a parceria artística de Procesi e o apoio financeiro do Sr. Welson Gonçalves Barbosa, posteriormente acadêmico honorário, que arcou com quase metade dos custos. Mas não é só: vinte anos mais tarde, quando se fez necessário cunhar novas peças, o medalhão diminuiu de tamanho, sendo esse o modelo hoje usado.

O PRIMEIRO CONCURSO Aos três anos de existência, em 1974, a instituição lança seu primeiro concurso, de Monografia e Crítica sobre as obras de Lobato e Alencar, direcionado a estudantes de nível secundário e comercial. A iniciativa foi considerada um “sucesso retumbante” junto à juventude, com a participação de quarenta e cinco trabalhos, sendo os vencedores premiados com coleções de livros doados por acadêmicos e pela comunidade. Cogitada a ideia de se lançar uma revista, decidiu-se que esta “ficará para outra oportunidade”. No mesmo ano, a Academia sofre sua primeira perda com a morte de Almeida Jr. e publica em jornal o primeiro edital para preenchimento da vaga. Foi eleito, Munir Moukarzel, cuja posse inaugura a tradição que se estenderia aos dias atuais, com oferta de diploma e medalhão, discurso do neoacadêmico sobre o patrono e o antecessor, e oferta de coquetel aos presentes. Na década seguinte, a Academia encontra-se consolidada a ponto de receber como palestrante o ex-presidente da República Jânio Quadros, a convite do acadêmico Prof. Mário Ferreira Balbão, revisor de seu dicionário. Tão instigante quanto o tema da palestra, “Rumos da democracia moderna”, foi o enaltecimento da figura feminina por Octávio Pereira Leite. PRIMEIRA REFORMA DO ESTATUTO No mesmo ano de 1980 é aprovada a primeira reforma do Estatuto, sob a forma de “Emenda aditiva”. Dentre as mudanças, destaca-se a atribuição do título de presidente vitalício de honra a Dom Tomás; o aumento do número de acadêmicos para quarenta e cinco membros efetivos; a criação da categoria de membro correspondente, cujo ingresso pode se dar por eleição, por transferência a pedido ou por transferência compulsória, assim “abrindo-se para a Academia novos horizontes”.

OS ANOS OITENTA

Em 15 de novembro de 1980, comemorando o nono aniversário da Academia de Letras, toma posse a diretoria encabeçada por Octávio Pereira Leite, membro sempre atuante nas gestões anteriores e que permanecerá à frente dos trabalhos também por três gestões, até falecer em 1989. Na solenidade, realizada no Salão Diocesano com mais de trezentos convidados, Dom Tomás é diplomado como Presidente Vitalício de Honra. Momento marcante da cerimônia foi a entrada inaugural das bandeiras – do Brasil, do Estado e da novel bandeira da Academia – ao som do Hino Nacional pela Banda Dona Gabriela regida pelo Maestro Mourão.

O 10° ANO Ao completar dez anos de existência, a Academia já tinha uma história a ser registrada. Publicou-se, então, um opúsculo com o relato de sua fundação e de seus feitos, acompanhado de seu quadro social e seu Estatuto, sendo esse o embrião deste opúsculo. Realizou-se também o primeiro certame propriamente literário da Casa, um Concurso de Crônicas destinado aos estudantes de nível médio de São João e Águas da Prata, com premiação em dinheiro, doado por três empresas locais. No entanto, apesar do envolvimento da comunidade e escolas e apesar da alta qualidade dos dezenove textos participantes – a ponto de ter sido conferida uma menção honrosa não prevista no edital –, o concurso não teve continuidade. Grandes vultos passaram por esta Casa na década de 1980. O crítico literário Antonio Candido, amigo íntimo do acadêmico Oliveira Neto de quem fora aluno ao cursar o ginásio na cidade, proferiu no Centro Recreativo uma concorrida palestra sobre literatura latino-americana (1985). Dom Benedito Ulhoa Vieira, à época vice-presidente da CNBB e arcebispo metropolitano de Uberaba, foi o conferencista da confraternização natalina de 1985, em cerimônia abrilhantada pelos corais das igrejas Batista e Presbiteriana, ao lado do coral Vozes de São João. No ano seguinte, o futuro cardeal Dom Orani João Tempesta, então vigário de São José do Rio Pardo, proferiu palestra, igualmente acompanhada pelos corais da Igreja Batista e Vozes de São João. Na mesma década, a par das reuniões oficiais, os acadêmicos passaram a promover em suas casas encontros sociais abertos aos familiares, não por acaso chamados “Encontros da Família Acadêmica”. O ano de 1989 marca um momento triste para a Academia. Um de seus baluartes, o presidente Octávio Pereira Leite, encontrava-se doente, o que fez escassear os eventos e igualmente os registros e atas. Prestes a partir, pediu ao confrade: “Wildes, não deixe a Academia morrer”. Falecido ele em outubro daquele ano, já em final de gestão, formou-se a chapa Novo Tempo para a eleição de nova diretoria, sob o comando de Wildes Bruscato, tal qual pedira o antigo presidente.

NOVOS TEMPOS

Empossada para o triênio 1990-1992 em sessão aberta pelo presidente de honra, Dom Tomás Vaquero, a diretoria liderada por Wildes Bruscato inicia nova fase para a instituição. As atas, até então manuscritas, passam a ser datilografadas. Passa-se adotar o livro de presenças, bem como se decide fazer um “estudo criterioso da situação de algumas cadeiras cujos titulares não vêm mantendo, de há muito tempo, qualquer contato ou demonstração de real interesse pela Academia”, a fim de determinar as cadeiras vagas e preenchê-las mediante edital. Decide-se fazer ficha dos acadêmicos, com endereço, data de aniversário e até nome da esposa. Iniciam-se os estudos para a elaboração

de novo Estatuto. Adicionalmente, a instituição enfrenta o problema do bloqueio de valores depositados em caderneta de poupança, em decorrência do Plano Collor. Delibera-se juntar os livros e pertences da Academia, como bandeira e baú, que se encontravam no Centro Recreativo e no escritório do acadêmico Monsenhor Luiz Gonzaga Bergonzini, encaminhando-os ao escritório do novo presidente. Na sequência, comissão designada para examinar os livros (da qual fazia parte o Dr. João Batista Merlin, arquiteto especializado em restauração e presidente do Museu de Arte Sacra local) conclui que a ação dos cupins, traças e bolor tornara-os imprestáveis, e acabouse por queimá-los (1991), sendo assim destruída a primeira biblioteca da Academia de Letras. Tentando reverter a perda, quatro meses depois tem início a formação de nova biblioteca, com quatorze livros doados por acadêmicos e amigos. De outra parte, Decreto municipal torna de “utilidade pública” a Academia, assim como o jornal O Município abre espaço para a publicação da “Página Literária”, destacando-se a insistência do presidente para que os acadêmicos escrevam na seção. O ano de 1991 é marcado pela aprovação do novo Estatuto e pela retomada das reuniões públicas. Aquele, dentre outras alterações, exige dos acadêmicos a presença em cinquenta por cento das reuniões ordinárias, sob pena de serem eles transferidos para a categoria de correspondente, deixando vaga a cadeira. Assim, é também criado o livro de presenças que os acadêmicos (e visitantes) assinam a cada reunião, o que possibilita a atribuição de um inusitado prêmio de assiduidade, ofertado tempos depois, em 2002.

Retomam-se as reuniões ordinárias, agora, via de regra, realizadas no Centro Cultural Pagu, espaço público recém-inaugurado. A primeira delas, com a presença de vinte e um acadêmicos e cerca de quarenta convidados, é tida como um sucesso por sua “frequência incomum”. Na sequência, a Casa recebe palestras de Valdir Troncoso Peres, advogado criminalista de renome internacional, natural de Vargem Grande do Sul, e de Dom Dadeus Grings, bispo recém-empossado na diocese de São João da Boa Vista, em substituição a Dom Tomás, que se encontra enfermo. No triênio, foram empossados dez novos membros, seis dos quais apenas no primeiro ano. Enfim, a Academia preenchera as vagas decorrentes de mortes e transferências para membro correspondente, a pedido ou compulsoriamente.

PERSEVERANDO

Na sequência, a gestão comandada por José Edgard Alonso (1993-1995) faz confeccionar medalhões, agora menores que o anterior. Histórica foi a palestra de Lygia Fagundes Telles, que reuniu cerca de cento e cinquenta pessoas no auditório da Faculdade

de Administração e Economia – FAE, quando lançou o livro Capitu, roteiro cinematográfico para o romance de Machado de Assis, escrito por ela e pelo marido, Paulo Emílio Salles Gomes. Na ocasião a Academia conferiu-lhe o título de acadêmica honorária e o medalhão. O CONCURSO LITERÁRIO No mesmo ano, 1993, logra-se finalmente lançar o Concurso Literário de Poesia, Conto e Crônica, sob coordenação de Maria Célia Marcondes. Decide-se que os prêmios terão os nomes de três dos fundadores da instituição: Prêmio Emílio Lansac Toha para poesia; Prêmio Octávio Pereira Leite para trabalhos em prosa; e Prêmio Fábio Noronha, destinado aos acadêmicos – categoria esta que nunca chegou a ser implementada. O primeiro colocado recebia um troféu em mármore, enquanto o segundo e o terceiro, um cartão de prata em estojo de veludo. O regulamento foi distribuído entre o público presente à sessão acadêmica, com o singelo pedido para que o divulgassem. Rapidamente o Concurso cresceu: sua segunda edição foi patrocinada pela Caixa Econômica Estadual – Nossa Caixa, tendo recebido mais de cento e vinte inscrições. Mais que isso, o Concurso veio revelar talentos. A título de exemplo, nos três primeiros anos, estiveram entre os finalistas futuros escritores e futuros acadêmicos, como Jenny Rugeroni, Luiz Antonio Spada, Antônio de Pádua Barros e Luiz Fernando Dezena. Pouco a pouco, foram-se aprimorando as normas de julgamento e da premiação. Em 1994 a instituição recebe, por testamento, a biblioteca do acadêmico Abelardo Moreira da Silva, bem como sua cadeira, temporariamente cedida em comodato ao secretário Barbin, por falta de local para acomodá-la. Adoentado, o presidente licencia-se, assumindo interinamente a segunda vice-presidente, Maria Célia de Campos Marcondes, pois o primeiro vice renunciara ao cargo. Os trabalhos de 1995 iniciam-se com cinco transferências compulsórias, seguidas de um intenso ritmo de atividades e do falecimento do presidente licenciado.

NO LIMIAR DO SÉCULO XXI

A seguir, Maria Aparecida Mangeon Oliveira (Aparecidinha) dirige a Casa por três gestões sucessivas, de 1996 a 2004, período em que se renovou quase metade dos quadros do Sodalício, com o ingresso de vinte um novos membros, e promoveram-se eventos em espaços cedidos pelas mais diversas instituições: Centro Cultural Pagu; Centro Recreativo Sanjoanense; FEOB – Fundação de Ensino Octávio Bastos (atual UNIFEOB); FAE – Faculdade de Administração e Economia (Faculdades Associadas de Ensino após 2001; atual UNIFAE); Theatro Municipal após completada sua restauração, em setembro de 2002; e até o auditório do CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

Realizavam-se em regra quatro reuniões ordinárias anuais: em maio, pelo Dia das Mães; em agosto, palestra ou homenagem ao Dia dos Pais; em outubro, a premiação do Concurso Literário; em dezembro, a confraternização natalina, geralmente realizada no Centro Recreativo. Palestras, premiações, cerimônias de posse, lançamento de livro de acadêmico, declamações e apresentações musicais podiam conviver na mesma reunião. JUBILEU DE PRATA Menção especial merece a comemoração ao Jubileu de Prata da instituição (1996), realizada em sessão lítero-musical no Centro Recreativo, com a presença de cerca de cento e cinquenta pessoas. Foi distribuído um livreto comemorativo, com texto histórico do acadêmico João Baptista Scannapieco sobre a fundação da Academia. Posteriormente, o artigo foi republicado na I Antologia da Academia de Letras de São João da Boa Vista, em 2005. Mais tarde, a gravação da solenidade foi transposta para DVD. A par das sessões acadêmicas, eram realizados projetos conjuntos com/na Livraria Papyrus, de propriedade do futuro acadêmico Francisco de Assis Martins Bezerra, que, dentre outras realizações, trouxe a poeta Orides Fontela para o lançamento do livro Teia em 24 de junho de 1996, data de aniversário da cidade. Na livraria também foram lançados livros de acadêmicos, além de se oferecerem cursos, palestras e eventos culturais, sempre com a presença ou organização de integrantes da Arcádia.

Os eventos contavam com numeroso público, a ponto de a posse de cinco acadêmicos, em 1998, reunir mais de duzentas e trinta pessoas no Centro Recreativo. Nesse ano, dois momentos notáveis foram protagonizados Nelly Novaes Coelho e Antonio Candido, professores da USP, tendo este recebido as insígnias de membro honorário e sido recepcionado na residência do casal Maria Célia e José Marcondes. As atividades acadêmicas avançavam. Em 1997 a FEOB cedera uma sala à instituição, para aí acomodar seus livros, organizando-se então a biblioteca. A “Página Literária” continuava sendo publicada, por cortesia, no jornal O Município, embora fossem poucos os acadêmicos que nela colaboravam com regularidade. O Concurso Literário crescia, exigindo que a cada ano se aprimorasse seu regulamento. Na quinta edição, em 1998, atingia 185 trabalhos de 15 cidades; quatro anos mais tarde, já dividido em duas faixas

etárias, jovem e adulto, somava 319 trabalhos, oriundos de 57 cidades e 13 estados. Encerrando o milênio, a comemoração natalina de 1999 consistiu na apresentação líteromusical de obras marcantes do século, por numeroso grupo de acadêmicos. Aos poucos, porém, foi-se substituindo esse modelo pela realização de almoço entre os acadêmicos e cônjuges. A NOVA SEDE Pouco depois, em maio de 2000, a Academia ganha sua primeira sede: uma sala na Estação Ferroviária, a que se dá o nome de Abelardo Moreira da Silva, em homenagem ao fundador que lhe legara dinheiro, todos os seus livros e os móveis que guarneciam seu escritório. É nessa sala que, por ocasião do 30° aniversário da instituição, são homenageados dois de seus decanos: os fundadores Odila Godoy, como vicepresidente honorária, e Palmyro Ferranti, como presidente honorário. Para essa mesma sala, faz-se bem-sucedida campanha de doação de cadeiras no ano seguinte. Mais uma vez, a diretoria cogita publicar revista literária.

DE 2005 A 2010

No primeiro triênio, sob a gestão Sérgio Meirelles (2005/2007), tomam posse onze neocadêmicos, dentre os quais Plínio de Arruda Sampaio, que tem família e propriedade na cidade. Realizam-se palestras, publica-se regularmente a “Página Literária” e dá-se seguimento ao Concurso Literário, agora em três faixas etárias: até 12 anos; de 13 a 18 anos; adulto. Destaca-se ainda a publicação da II Antologia da Academia de Letras, em 2007. A seguir, o triênio comandado por Maria Célia Marcondes (2008/2010), foi marcado por reuniões em que se declamavam poemas de acadêmicos precedentes e se exibiam imagens de reuniões passadas. Na mesma esteira, preocupou-se em registrar a memória da instituição, mediante o levantamento de documentos e atas, bem como a identificação de todos os acadêmicos, membros correspondentes e honorários. Realizaram-se também inúmeras palestras, lançamentos de livros e eventos grandiosos. Dentre estes, destaca-se o espetáculo “O tempo pingando dos olhos”, escrito pela presidente em homenagem à poeta sanjoanense Orides Fontela; o Concurso “Pagu, cem anos de história” e a encenação “Padre Vieira, arquiteto dos sonhos”, todos eles realizados no Theatro Municipal lotado. A “Página Literária” publicada em jornal local, um dos desafios ao longo dos trinta e nove anos da Casa, permaneceu ativa por todo o triênio, com banco de reserva de textos e publicação de trabalhos vencedores do Concurso Literário. Este, por sua vez, ganhou a figura de um patrono a cada edição e, a partir de 2010, passou a oferecer apenas duas categorias, Poesia e Prosa.

MODERNIDADE O período marcou o ingresso da Academia na era da informática, graças sobretudo à dedicação da confreira Neusa Menezes. Em 2009 a instituição construiu seu site, com informações sobre sua história e seus membros, além abrir o Concurso Literário na web, o que ampliou sobremaneira a sua dimensão: naquele ano, concorreram mais de trezentos e vinte trabalhos, oriundos de quinze estados do país, além de Portugal. Na cerimônia de premiação, três dos finalistas participaram por videoconferência, e outros cinco por vídeo pré-gravado, recursos incipientes à época. Paralelamente, transferiu-se para meios digitais o acervo da Academia, aí incluídos filmes, fotos e documentos. CONCURSO REDAÇÃO NA ESCOLA & SÃO JOÃO EM VITRINA A partir de 2009, a Academia passou a promover o “Concurso Redação na Escola”, coordenado pela Sra. Lucelena Maia, radicada na cidade havia dois anos e futura acadêmica. O projeto, voltado a estudantes do ensino fundamental e médio, contempla doze séries, cada qual com um subtema específico, dentro de um tema mais amplo escolhido a cada edição do Concurso. O julgamento consiste em duas etapas: a seleção das melhores redações e, após, a defesa destas perante a banca. A premiação dá-se em concorrida noite de gala, com a entrega de prêmios e exemplares da Antologia dos textos vencedores, sob patrocínio de empresas locais.

No ano seguinte, parceria entre a Associação Comercial e Empresarial-ACE e a Academia fez realizar o Projeto “São João em Vitrina”, idealizado novamente por Lucelena Maia, agora já acadêmica. O projeto constituía-se de concurso fotográfico e edição de catálogo, onde as imagens da cidade eram acompanhadas de textos escritos por acadêmicos. Em junho, mês de aniversário de São João, o trabalho foi exposto em banners nas vitrinas do comércio local e, a partir de agosto, tornaram-se itinerantes nas escolas. ESTATUTO Em 2010, em decisão de Assembleia Geral, foi aprovado novo Estatuto, substituindo o anterior, que, dezoito anos depois, encontrava-se defasado. Como principais alterações, os patronos passaram a ser imutáveis, respeitados os nomes definidos no Estatuto e, ao lado da votação por carta, foi admitido o voto por e-mail. Por outro lado, a diretoria ficou mais condensada, sem suplência, bem como se estipulou mandato bienal, sendo permitida apenas uma reeleição sucessiva para o cargo de presidente.

OS QUARENTA ANOS

A seguir, acompanhando os novos tempos, a gestão de Francisco Arten (20112012) criou página no Facebook, inaugurou a votação por e-mail e fez a Academia atravessar suas portas, envolvendo diferentes instâncias da cidade. Em comemoração aos quarenta anos de sua fundação, a Arcádia lançou no Theatro Municipal o Álbum de Figurinhas – Linha do Tempo, em parceria com a ACE, em projeto concebido e executado pela acadêmica Lucelena Maia. Fechando as comemorações, convidou o crítico literário e escritor Davi Arrigucci Júnior, que proferiu conferência no auditório do Instituto Federal de São Paulo. Ainda, no Fórum local, foram ministradas palestras acerca do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente – tema do 4° Concurso Redação na Escola – envolvendo um juiz, uma advogada e dois promotores de justiça. Também o Concurso Literário rompeu as fronteiras da Arcádia, com a primeira publicação da Antologia dos textos vencedores em 2011. TRIBUTO À REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA As comemorações da Revolução Constitucionalista voltaram-se a sanjoanenses que nela lutaram: uma palestra sobre José Osório Oliveira Azevedo, membro fundador desta Casa, proferida por seu filho, o também acadêmico José Osório de Azevedo Jr.; o lançamento do filme “Maria, Mulher Soldado”, produzido pela UNIFAE; e o lançamento do livro 1932 em São João da Boa Vista, dos acadêmicos Neusa Menezes, Francisco Arten e Lucelena Maia. Este último evento, realizado na Escola Joaquim José em parceria com a Prefeitura Municipal, contou com a presença de integrantes do Tiro de Guerra. Após quarenta anos de publicação não onerosa da “Página Literária” nos jornais locais, a Academia viu-se premida a deixar de fazê-lo por impossibilidade de arcar com os custos, optando por buscar outra forma de editar os textos de seus membros, como de fato ocorreu logo depois, com a publicação da III Antologia da Academia de Letras (2012) e, na gestão seguinte, com a criação da revista Arca (2013). No final da gestão, Davi Arriguci Júnior foi eleito acadêmico honorário, porém, por motivos pessoais, não pôde comparecer posteriormente para a outorga do título.

UMA NOVA DINÂMICA

Lucelena Maia esteve à frente da Casa por duas gestões consecutivas (2013-14 e 2015-16). Ambas constituíram um período extremamente inovador e dinâmico. ACADEMIA NAS REDES SOCIAIS A Academia de Letras instalou internet em sua sede, reformulou o site, criou canal no YouTube e perfil no Instagram, bem como grupo

de WhatsApp para as comunicações acadêmicas. Ainda, por três anos, teve abertas as portas de sua sede, com a presença de estagiária no período da tarde, graças ao patrocínio da empresa Sequoia Urbanismo. REVISTA ARCA De plano, ficou decidida a criação da Revista Arca, realizando-se um sonho acalentado desde 1974. Composta por textos exclusivamente de acadêmicos, tinha como jornalista responsável o confrade Francisco Arten. Ao primeiro número, lançado em junho de 2013, somaram-se outros sete no período, ao ritmo de duas edições por ano. Igualmente, o Concurso Redação na Escola teve regular continuidade, realizando-se da quinta à oitava edição nesse quadriênio. Outra iniciativa tradicional da Casa, o Concurso Literário de Poesia e Prosa, foi crescendo ao longo do período e, em 2016, alcançava a marca de 1.459 trabalhos inscritos, oriundos de todo o território nacional, além de Portugal, Angola, Moçambique, Estados Unidos, Japão e Alemanha, abrangendo participantes de 8 a 98 anos. EVENTOS A gestão inaugurou reuniões na modalidade de Chá Literário, sempre às 17 horas. O primeiro deles teve como tema “Xícaras além do Chá”, com exposição de xícaras da coleção do acadêmico Lorette, performance teatral, declamações e apresentações musicais. Seguiram-se muitos outros chás, assim como palestras sobre os mais diversos temas, da literatura às histórias em quadrinho, da música à astrofísica. Dentre estas, destacam-se a conferência do membro honorário Almino Affonso sobre o “Golpe de Estado de 1964”, em evento repleto de autoridades; a palestra do Prof. Dr. Renato Miguel Basso, da UFSCar, acerca dos “VIII Séculos de Língua Portuguesa”; o workshop, oferecido aos estudantes, sobre literatura de cordel, com os cordelistas João Gomes de Sá e Varneci Nascimento e os repentistas João Douto e Adão Fernandes; os espetáculos comemorativos aos centenários de Vinicius de Moraes e Dorival Caymmi, realizados no Theatro Municipal, com direção musical e texto de acadêmicas e a participação dos corais da E. E. Pe. Josué Silveira de Mattos e do SESI; e a palestra “Cem anos de samba no Brasil”, pelo jornalista Luiz Nassif, também acompanhada de números musicais.

Menção especial merecem as aulas magnas “Revisitando a História do Brasil”, proferidas em três tardes pelo acadêmico João Baptista Scannapieco, com a presença de acadêmicos, professores de história, coordenador do curso de História da UNIFEOB, universitários e amigos. O professor foi além do que costumam trazer os livros, narrando detalhes e episódios inusitados de acontecimentos históricos do período colonial e do Império. Os quarenta e sete alunos receberam certificados e, também, as aulas foram gravadas. A VOLTA DE ORIDES Um dos pontos mais marcantes do período foi “A volta de Orides”, quando do traslado de suas cinzas para São João. O evento se distribuiu ao longo de 2016, numa parceria entre a Academia de Letras e a UNIFAE, que tinha como reitor o acadêmico Francisco Arten. Em abril, o Prof. Dr. Gustavo de Castro, da Universidade de Brasília e estudioso da vida e obra de Orides, proferiu palestra na UNIFAE em tarde de autógrafos de seu livro O Enigma Orides. Textos da poeta ficaram expostos nos corredores do Centro Universitário, um trabalho dos professores e alunos. No mês seguinte, a Academia de Letras – em parceria com a UNIFAE e a Prefeitura Municipal – representada por sua presidente e pela 1ª secretária, fez-se presente no Crematório Jardim das Oliveiras, em Jacareí-SP, para a cremação dos restos mortais da poeta. Ficou acertado que em agosto as cinzas seguiriam definitivamente para São João da Boa Vista, e assim foi feito. Na sequência, foram oferecidos na UNIFAE três dias de oficina com o mesmo professor, sob o tema “Poesia contemporânea – Orides Fontela”. Finalmente, em 3 de setembro de 2016, ainda com a presença do Prof. Dr. Gustavo de Castro, da Sra. Maria Helena de Oliveira (prima de Orides) e familiares, de professores da UNIFAE e amigos da poeta, além de acadêmicos, realizou-se o cortejo das cinzas. Saiu da Academia de Letras, passando por pontos importantes na história de vida da poeta: a casa da Sra. Madalena de Azevedo; o Theatro Municipal; a E.E. Cel. Joaquim José; a casa onde ela nasceu, na Rua Oscar Janson, 18; e a E. E. Cel. Cristiano Osório, até chegar ao Memorial Orides Fontela, na UNIFAE. O cerimonial “A volta de Orides” teve início às 9h45, com especial rito desde a Academia de Letras até sua finalização no Memorial na UNIFAE, conforme detalhado na ata de 31 de agosto daquele ano. OS 45 ANOS Pouco depois, os 45 anos da Academia de Letras foram comemorados em duas edições da Revista Arca e em evento realizado no Theatro Municipal, através do ProAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, com o lançamento de Documentário e do Álbum de Figurinhas Carimbadas, acompanhado por apresentação

musical e declamação. Vale registrar que foi a única ocasião em que, ao longo deste meio século, a Arcádia ousou se utilizar dessa exigente legislação de incentivo à cultura. O ESTATUTO Em 2014, em decisão de Assembleia Geral, foi aprovado novo Estatuto. Enxugou-se o quadro da diretoria, abolindo-se o 2° vice-presidente e os bibliotecários, e acrescentou-se um capítulo específico sobre infrações cometidas por acadêmicos, membros honorários e correspondentes. O novo Estatuto limitou o número destes últimos e restringiu a possibilidade de os acadêmicos se transferirem para essa categoria, reservando-a àqueles de reconhecido valor/relevantes serviços e àqueles que fixarem residência em localidade distante, sempre mediante pedido a ser aprovado pela Diretoria. Igualmente, definiu que membros honorários e correspondentes não gozarão das mesmas prerrogativas dos acadêmicos. Foram muitos trabalhos, graças também ao apoio dos parceiros e patrocinadores. Para eles, a diretoria criou o “Troféu Amigo das Letras”, um vaso de cristal com a logomarca da instituição, em cores diferentes a cada ano, a ser entregue ao final da gestão, juntamente com o “Diploma Amigo das Letras”. Finalizados os mandatos, as duas diretorias deixaram o legado de suas ações registrado na Revista Arca e publicações da Casa, na página do Facebook, no site da ALSJBV e em seu canal no YouTube.

POR UMA NOVA SEDE

A gestão do presidente Lorette (2017/2018) coincide com o período de reforma da Estação Ferroviária, onde está sediada a Academia de Letras. Em fevereiro de 2017 encaixotam-se todos os pertences da Academia de Letras: livros, móveis e equipamentos são acomodados em caixas de papelão e guardados em prédio cedido pela Prefeitura Municipal, com transporte também pela Prefeitura, para reforma da Estação Ferroviária, já definida havia dois anos. A sede permanece em sala provisória na mesma Estação, recebendo eventos e palestras. Em janeiro do ano seguinte, mais uma vez a Academia de Letras precisa desocupar seu espaço, para continuidade da reforma da Estação. Em setembro de 2018, já se vislumbra o fim das obras e a necessidade de mobiliário e adesivos com a logomarca da ALSJBV para as portas de vidro. Nesse

ínterim, ainda em sala provisória, a Academia recebe a 41ª Semana Guiomar Novaes, com recital de Eudóxia de Barros e palestra de João Luiz Sampaio acerca da temporada da pianista sanjoanense em Nova Iorque. Em novembro tem lugar a premiação do XXVI Concurso Literário de Poesia e Prosa. Finalmente, em 1º de dezembro de 2018, é inaugurada na “Estação das Artes” a nova sede da Academia de Letras e realizada a entrega do Troféu Amigo das Letras aos patrocinadores da gestão.

SEGUINDO EM FRENTE

Coube à equipe liderada pela presidente Lucelena Maia, esta em sua terceira gestão, tocar os trabalhos da instituição no biênio 2019/2020. Uma vez instalada na nova sede, a Academia recebeu doação do casal Diva e Carolus Johannes Barth para equipar a cozinha com eletroeletrônicos e adequar o layout interno. Vários eventos movimentaram a instituição em 2019. Dois deles ousaram no formato da apresentação, a começar pela palestra “Serpentina Literária”, em que confreira Beatriz Castilho discorreu sobre a história do carnaval, acompanhada de musicistas acadêmicas e baile de máscaras na plataforma da Estação. Comemorando o Dia Internacional da Mulher no Theatro Municipal, nove acadêmicas e duas amigas atreveram-se a representar “11 Mulheres sem Segredos”, monólogos adaptados de livro de contos da confreira Silvia Ferrante, com direção de Leandro Gulin. Por sua vez, a acadêmica Maria José Gargantini Moreira apresentou a conferência “João Cabral de Melo Neto: andanças pela Andaluzia” para comemorar o centenário de nascimento do poeta, em Chá Literário intercalado com música, dança flamenca e sabores de Espanha. Também, por ocasião da 42ª Semana Guiomar Novaes, a Arcádia foi parceira da Prefeitura e da APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte, com palestra do ex-ministro José Gregori no Teatro Estação das Artes, seguida de apresentação musical. A par dessas atividades, a Academia de Letras conduziu simultaneamente três concursos. Ao lado dos tradicionais concursos de “Poesia e Prosa” e “Redação na Escola”, realizou o concurso “Orides: poesia, raízes e caminhos”, com o objetivo de divulgar/ dessacralizar a obra da poeta junto a alunos do ensino médio. Este último foi antecedido por um Seminário com a presença de especialistas convidados para abordar a poética de Orides e da poesia contemporânea, como forma de melhor preparar os alunos do ensino médio a respeito da temática. No biênio, foram lançadas a 9ª e a 10ª edição da Arca, esta última já em 29 de fevereiro de 2020. Poucos dias depois, porém... ... A PANDEMIA obrigou a suspender os eventos culturais e os trabalhos internos até que, em 24 de junho, a diretoria fez sua primeira reunião por videoconferência

(Google Meet) para tratar dos assuntos pendentes desde março. Definiu-se que, devido à crise pandêmica, realizar-se-iam no segundo semestre somente três eventos – e por live: a posse de neoacadêmico, a premiação do Concurso Literário de Poesia e Prosa, e a Comemoração de Abertura do Cinquentenário do Sodalício. POSSE PELA WEB O dia 20.08.2020 foi histórico para a instituição. Em momento inusitado, em primeira transmissão por live, tomou posse a acadêmica Marly T. Estevam de Camargo Fadiga, acompanhada apenas da diretoria, todos usando máscara. Ao final da live, constataram-se cento e quarenta acessos, o dobro do número de pessoas que comporta a sala da Casa de Letras. Em razão da pandemia, também a Premiação do XXVIII Concurso Literário de Poesia e Prosa ganhou formato de live. Pediu-se aos finalistas que enviassem vídeos de até trinta segundos, os quais foram mostrados durante a cerimônia de premiação. Em setembro, foi eleita a chapa “Compromisso”, liderada por Beatriz Castilho e composta pelos diretores então em exercício e pela acadêmica Maria José Moreira. Sendo a única chapa inscrita, foi eleita por aclamação via WhatsApp, por solicitação dos acadêmicos. Acadêmicos não usuários desse aplicativo votaram por via impressa ou telefone. RUMO AOS 50 Tendo em vista o Cinquentenário da instituição, a partir de esboço proposto pela presidente, foi confeccionado pelo designer Eduardo Menezes o Selo 50 Anos, para ser usado nos trabalhos da Academia de Letras durante tal período. Na mesma direção, ao longo do segundo semestre de 2020, a presidente em exercício e a presidente eleita Beatriz Castilho iniciaram pesquisas nos livros de atas para elaboração de uma versão preliminar da presente obra, visando contar os primórdios da história da instituição. Uma vez feita a montagem gráfica pela acadêmica Neusa Menezes, o texto foi postado no site da Arcádia em novembro, para leitura on line. Paralelamente, organizou-se o evento de Abertura do Jubileu de Ouro. Foi pedido aos acadêmicos que gravassem vídeos de trinta segundos para serem inseridos na live. Isso feito, a presidente em exercício e a presidente eleita escreveram o texto para a Abertura do Cinquentenário, intercalando-o com a apresentação dos trinta e quatro vídeos e dezesseis imagens. Exatamente no dia 15 de novembro de 2020, quando a instituição entrava no 50º ano de existência, seu site foi atualizado, inclusive a página de rosto, onde foi inserido o Selo 50 Anos, entre outras novidades. Estava tudo pronto para a Abertura do Jubileu de Ouro da Arcádia.

Finalmente, em 28 de novembro de 2020, na sede da Academia de Letras, por live, transmitiu-se a cerimônia, com a presença apenas dos cinco diretores. Textos, vídeos, imagens e apresentação musical pelos acadêmicos Wildes e Wilges Bruscato completaram a importante história dos primórdios da instituição. Os acadêmicos, mesmo não estando presentes fisicamente no evento, ajudaram a contá-la, por vídeo, inclusive declamando poemas de fundadores desta Casa de Letras.

OS DIAS ATUAIS

Em fins de janeiro de 2021 toma posse a diretoria conduzida por Beatriz Castilho (2021-2022). A pandemia não havia cedido; a vacinação sequer se iniciara no país. Assim, fez-se a posse em reunião restrita aos seis diretores, com transmissão por live. Apresentada a Agenda Cultural do ano, esta teve que se readequar às novas restrições trazidas pelo agravamento do quadro sanitário. A primeira palestra, que seria realizada por live, precisou ser adiada em razão de nova variante do coranavírus, que fez recrudescer a pandemia a ponto de se proibirem reuniões e de se decretar toque de recolher no início da noite, impossibilitando qualquer evento. A partir de abril, o uso de ferramentas de videoconferência estendeu-se a todas as reuniões acadêmicas – até então, esse recurso era usado somente nas reuniões de diretoria. Foi por esse meio que se deu a apuração dos votos recebidos por Hélio Correa da Fonseca Filho, quando de sua eleição. Poder se verem, mesmo que mediados por uma tela, foi um momento de grande emoção para os acadêmicos, que não se reuniam há mais de um ano. Foi então que se decidiu adquirir a licença do Zoom sincronizado ao YouTube, assim possibilitando tanto a presença virtual dos acadêmicos quanto a transmissão pela rede. Por sua vez, o acadêmico Lorette aceitou ser o conferencista a testar a novo instrumento, agendando sua palestra sobre Orides para poucos dias depois. A novidade foi bem aceita: de um lado, uma acadêmica, senhora de seus oitenta anos, contratou professor de informática somente para ensiná-la a operar o Zoom e, de outro, o primeiro tesoureiro Lauro aceitou bravamente a incumbência de levar o evento ao YouTube. Vencida a primeira barreira, sucederam-se outros chás literários, com expressivo número de acessos e intensa participação do público, via chat. Mergulhada no mundo digital, a Academia vencia as barreiras de espaço e tempo, trazendo palestrantes fisicamente distantes e conquistando público antes inalcançável, a ponto de a premiação do XXIX Concurso Literário contar com a maciça participação dos finalistas e cerca de quinhentos e oitenta acessos. A pandemia fez as escolas continuarem fechadas, assim interrompendo momentaneamente o Concurso Redação na Escola. Também a revista Arca somente voltou a ser publicada em novembro de 2021, quando do Jubileu de Ouro, vinte meses após a anterior: de um lado, com a crise econômica e sanitária, não se encontravam patrocinadores

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