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Caça ao Graal
from Akadémicos 12
Título: O Código da Vinci
Género: Thriller
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Realização: Ron Howard
Actores: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian Mckellen, Jean Reno
A notícia de que o livro “dinossauro” da década se iria tornar filme chegou cedo, quando ainda este estava a emergir das prateleiras das livrarias. Até hoje, foram vendidas mais de 60 milhões de cópias, editadas mais umas quantas obras literárias a escalpelizar a primeira, centenas de documentários e debates televisivos, etc. Tudo isto embebido na tão querida e facturadora polémica, não fosse a obra andar a troçar daquilo que a Igreja nos ensina.
O filme tornou-se então um dos mais aguardados de 2006. No livro e na película, Robert Langdon (Tom Hanks) é um historiador americano de símbolos religiosos, de visita a Paris, na mesma altura em que um velho conservador do Louvre é assassinado. Antes de morrer, tratou de deixar uma série de pistas intrincadas no local do crime, de forma a juntar Langdon e a sua neta, Sophie Noveau (Audrey Tautou, a menina celebrizada por Amélie). O que se segue é uma caça-ao-tesouro por entre algumas das maiores obras históricas (com destaque para as de Da Vinci, que dão o nome ao livro) no que se revela uma obscura conspiração que dura há vários séculos a fim de esconder um segredo que poderia destro- nar os dogmas da Igreja Católica. Ron Howard (conhecido por realizar Uma Mente Brilhante, Apollo 13 ou Cinderella Man) pega nas rédeas desta polémica conversão para o grande ecrã, e escolhe, como se esperava, um elenco em grande parte, francês. Entre eles está Jean Reno, como Fache, da polícia francesa, que persegue Langdon por tomar este como o culpado do crime que abre o livro/filme. Na corrida juntam-se ainda Ian McKellen (Senhor dos Anéis) como Teabing, um velho milionário que dedicou a vida a estudar os grandes segredos da Bíblia, e Paul Bettany, como Silas, um monge albino a trabalhar para um bispo mal intencionado da Opus Dei.

As interpretações nesta adaptação estão irrepreensíveis, e de modo geral, respeitam aquilo que os milhões de leitores imaginaram como sendo cada uma das personagens. Mas será que só isto faz valer o filme?
O eterno problema de quem adapta um livro para cinema é sempre o mesmo: deve-se manter e respeitar todos os aspectos do decorrer da história que estão escritos e que, consequentemente, ocupam vários dias de leitura, ou devemos modificá-los para se ajustarem num filme que dura apenas algumas horas?
Este optou pelo primeiro. De facto, o filme é milimetricamente o que acontece no livro, desde a ordem dos acontecimentos, aos locais que visitam. A obra de Dan Brown não é um guião para cinema, nem deve ser. E por querer estar tão próximo do livro, o filme sofre seriamente.
Em duas horas e meia, assistimos a diálogos demasiado extensos, confusos, e, eventualmente, aborrecidos para quem nunca folheou o livro. As personagens vão saltando do ponto A para o ponto B, e somos arrastados num eterno “páraarranca” que prejudica seriamente o andamento do filme, e que o define como um híbrido estranho: parece que se quer pisar terreno em todos os assuntos, mas como estamos perante um filme, a história tem que andar.
Para além disso, o filme nem tem o “look” necessário de um blockbuster: é escuro, decorre sempre em espaços fechados, e está estruturado para sugerir mais do que o que efectivamente mostra.

É bastante interessante ver projectado no ecrã aquilo que imaginámos anteriormente, mas… e quem não leu o livro? Só me resta aconselhar O Código Da Vinci a quem já o conhece minimamente, e tem curiosidade de ver a conversão. Caso contrário, comecem a ler o livro agora, e vejam o DVD mais tarde.
Daniel Louro
Informações descodificadas
Na história, o editor de Robert Langdon chama-se Jonas Faukman. Este nome é um anagrama do editor de Dan Brown, na vida real: “Jason Kaufman”.
O presidente Jaques Chirac, numa conversa telefónica amigável com Ron Howard, o realizador, propôs-lhe aceitar a filha de um amigo próximo como actriz no filme, no papel de Sophie Neveu. Não foi, como sabemos, aceite.
Em promoção ao filme no Japão, Tom Hanks propôs oferecer ao primeiro-ministro um relógio de pulso com o Mickey (tal como a sua personagem tem no livro). Infelizmente os estúdios acharam que pareceria uma piada de mau gosto, e acabaram por oferecer uma cópia do livro autografada pelo actor.
Dan Brown escreveu a personagem Bezu Fache, o polícia francês, já imaginando o actor Jean Reno no seu lugar.
A personagem Leigh Teabing surgiu a partir de dois nomes, Richard Leigh e Michael Baigent (autores do livro “Holy Blood, Holy Grail”). Mais tarde Dan Brown estaria em tribunal para se defender contra a acusação de plágio por esses dois autores.
A Catedral de Lincoln (Grã-Bretanha) parou os sinos pela primeira vez desde a II Guerra Mundial em Agosto de 2005, para a equipa poder filmar.

Apesar de terem autorização para filmar no interior do Museu do Louvre, a equipa de produção do filme seguiu uma série de regras, tais como filmar apenas durante a noite, não largar sangue nos soalhos dos corredores ou incidir luz directa nos quadros.

Dan Brown e a esposa podem ser vistos no filme, na cena em que Langdon autografa alguns livros. Estão ao fundo da imagem, desfocados.
A Irmã Mary Michael, de 61 anos, rezou de joelhos durante 12 horas junto à Catedral Lincoln, por considerar blasfémia filmar naquele local para uma obra herege.
A National Organization for Albinism and Hypopigmentation, uma organização que zela pela população albina, mostrou igualmente descontentamento pela personagem Silas, que representa um vilão albino no filme/livro.
O filme foi banido na Síria, Jordão, Líbano e Egipto. Nas Filipinas, Tailândia e Singapura é apenas permitido a maiores de idade. Já na Inglaterra fizeram-se alguns cortes, não em cenas, mas em alguns efeitos sonoros de partes mais violentas. Com a saída do primeiro trailer do filme, foi iniciada uma “caça-ao-tesouro” na Internet, onde era proposto aos fãs resolver enigmas muito semelhantes aos que as personagens descobrem na obra. Eram destacadas algumas letras nos créditos finais da apresentação que, reordenadas davam o seguinte URL: “http://www.seekthecodes.com”. Este site, embora nada tenha directamente a ver com o filme, contem uma série de textos ligados ao Priorado de Sião e a Leonardo da Vinci. A partir daí, o jogo prossegue, com mais pistas no site oficial do filme e no próprio Google.
O próprio livro O Código da Vinci contém enigmas espalhados, da capa ao seu interior. Prestem atenção às escritas invertidas, às letras na contra-capa, ou até ao número dos capítulos dedicados à personagem Aringarosa (dependendo das edições).

Rodrigo Guedes de Carvalho, jornalista e escritor
