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Entrevista com Pe. Geraldo Aniversário de 60 anos de ordenação sacerdotal
1. Qual sentimento o senhor experimenta nesta grande celebração de 60 anos de ordenação sacerdotal?
O primeiro e maior sentimento que eu tenho é de gratidão a Deus por este tempo vivido e por tudo aquilo que Ele permitiu que eu fizesse. É claro que houve muitas limitações no decorrer da caminhada, as quais eu peço a Deus que me perdoe. Mas, de modo geral, eu me sinto tranquilo por ter feito aquilo que eu podia fazer. Sinto que em minha caminhada fiz sempre o meu melhor, esforçando-me para realizar a vontade de Deus.
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2. Qual foi o momento que o senhor descobriu que a sua vocação era camiliana?
Quando eu entrei no seminário eu tinha apenas 11 anos e a única ideia que eu tinha era que eu queria ser padre. Foi com o tempo que eu fui percebendo, e creio que a Providência foi me iluminando, que eu estava numa ordem religiosa que se dedicava aos enfermos. Com o tempo eu fui crescendo, amadurecendo, e pude me aprofundar mais no carisma quando, no tempo da teologia, por volta de 1960, começamos a visitar o leprosário de Gopouva. Creio que o contato com os enfermos foi muito bom, pois nós, estudantes, criamos muitos vínculos com os pacientes. Daí, ao terminar a teologia, já ordenado, eu fui designado para ser capelão do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Nesta nova missão eu percebi que eu precisava de muito mais preparação para o trabalho que seria desenvolvido, sobretudo na compreensão da pessoa, dos doentes. Então, graças à influência do Pe. Dyonisio, que era meu colega no hospital, eu decidi estudar Psicologia para acompanhar os doentes e fazer um melhor trabalho no hospital.
3. Sobretudo nos momentos de dificuldades, o que o manteve firme em sua decisão?
Durante o período pós-conciliar houve muitas dificuldades, realmente me levaram a refletir e pensar sobre o que eu estava fazendo, dado que muitos colegas haviam desistido nesta época. Daí eu também me questionei: por que estou aqui? A minha resposta foi que aquilo que eu fazia valia a pena, valia a entrega da minha vida. Tudo aquilo não era em vão, mas tinha valor. Esta era a minha vocação.
4. Supondo que, se o senhor estivesse aconselhando os jovens que estão entrando no seminário hoje, que conselhos daria a eles?
Uma ideia que sempre tive e falei em algumas ordenações que participei, quando pediam que eu compartilhasse alguma mensagem aos neo sacerdotes, é que creio que precisamos sempre estar disponíveis ao serviço, recordando que estamos a serviço de Deus na Igreja.
Estando neste serviço, deveríamos nos colocar muito disponíveis para o povo de Deus. O trabalho que eu fazia, que nós fazemos, valia a pena e era aquilo que São Camilo se dispunha a fazer, e também aquilo a que eu me sentia e ainda sinto chamado por Deus.
Trecho da Carta conjunta dos Padres Gerais Pierluigi
Marchesi e Calisto Vendrame aos religiosos das ordens de São João de Deus e dos Ministros dos Enfermos, em 8 de março de 1986

A iniciativa e união das duas Ordens Religiosas foi um sinal dos “elos de caridade fraterna” e de “santa dileção de verdadeira amizade” entre elas, ambas desejosas de que o nome dos seus Fundadores, São Camilo de Lellis e São João de Deus, fossem incluídos na ladainha dos agonizantes, aos quais tanto dedicaram seu esforço durante a vida.
Esse gesto histórico revelou-se, no entanto, muito maior do que um reconhecimento do papel desses homens de inspiração carismática, foi e é uma ação pastoral criativa para mobilizar pessoas, instituições e comunidades na percepção holística do doente, na globalidade do seu ser material e espiritual. E, dessa forma, rompendo, inclusive, com as barreiras entre Estado e Igreja, bastante presentes no tempo em que viviam, quanto à participação eclesial na saúde. Não podendo entrar com os seus religiosos nas estruturas hospitalares, tentavam pelo menos entrar com os seus santos.
Cem anos depois, os frutos dessa colaboração efetiva permitiram também uma resposta ativa ao novo sentido de comunhão da Igreja, levando a todos o compromisso urgente de tornar-se testemunho vivo na evangelização do mundo da saúde como uma profecia para o tempo presente, convidando a transformar a recordação dos Fundadores e, após a Carta da qual refletimos, Patronos, em exemplo para ação unitiva e concreta na solicitude e no amor para com aqueles que sofrem.
Nesse sentido, mesmo os sinais de progresso humano, mais do que um avanço e crescimento técnico, assumem um valor evangélico. O melhoramento da qualidade dos hospitais tem sua importância cada vez mais reconhecida pela Igreja, além de ser vista como sua missão e responsabilidade, no serviço e na caridade.
Essa união segue, portanto, preparando, encorajando e favorecendo o início de novos caminhos comuns para nós, Irmãos de São João de Deus e Camilianos, na solução dos mais recentes desafios e na esperança e estímulo que, por um dom especial do Espírito, fomos chamados a ser e agir nessa missão.