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Marcas de tempo

Nesses meses exercendo o ministério do diaconato, e desde fevereiro o sacerdócio, por várias vezes contemplei as mãos das pessoas a quem eu entregava a comunhão. Mãos calejadas, mãos enegrecidas pelos dias de trabalho árduo, mãos cheias de marcas de sofrimento, de lutas e de conquistas. E isso me faz recordar da passagem do evangelho de Lucas: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Este relato faz parte da narração da ida de Maria até a sua prima Isabel, que estava grávida. Maria se dispôs a caminhar um longo trajeto e se colocou a serviço de sua prima. As mãos dessas pessoas que eu contemplei, e ainda contemplo, também são mãos de pessoas que se dispõem ao serviço. Que não têm medo de se machucar, de ficar com marcas profundas ao buscar o sustento de sua família ou para ajudar ao próximo. Um verdadeiro testemunho vocacional.

Os jovens necessitam de bons exemplos. Por isso, seria tão bom se os filhos e filhas, netos e netas pudessem olhar as marcas nas mãos, nos pés, nos rostos de seus pais, de seus avós. Porque cada uma destas marcas é uma história. E não posso deixar de imaginar que Maria - por mais que quando ela partiu para ajudar Isabel, fosse uma jovem - já possuía muitas marcas, muitas histórias. Sabemos que caminhar por um trajeto muito longo deixa calos e marcas em nossos pés. Porém, se soubermos aproveitar o caminhar, iremos perceber que as paisagens por onde passamos são maravilhosas, um ensinamento à parte. Assim sendo, cada marca, cada cicatriz pode ser relacionada a uma bela paisagem. A intenção de se colocar a caminho já é um verdadeiro ensinamento.

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Há outras marcas que são relacionadas a momentos difíceis, momentos esses que foram superados ou não. Vocacionalmente precisamos nos tornar resilientes, pois enfrentamos muitas dificuldades na nossa vida. Indiferente do caminho que escolhemos, seja para ser padre, irmão ou irmã, ou a vida matrimonial. É necessário aprender a conviver com as adversidades da vida. Aprender com elas a sermos melhores, fazendo da vida uma verdadeira professora. Maria enfrentou muitas dificuldades desde que aceitou ser a mãe do Salvador. Entretanto, enfrentou todas elas com muita fé, partindo apressadamente para se colocar a serviço primeiramente de Deus, e depois dos demais.

As marcas do tempo podem ser bonitas ou não. Mas somos nós que damos significado a elas. Vamos tentar ressignificar cada uma de nossas marcas, tornando elas um belo livro de histórias. Quando Maria decidiu sair apressadamente, após receber o anúncio de que seria a mãe do Salvador e que sua prima Isabel estava grávida, ela se torna um exemplo a ser seguido. Naquele momento, quem mais necessitava de ajuda era a sua prima. Maria aceitou a sua vocação de ser servidora. Todas aquelas pessoas que eu contemplei as mãos tem a vocação de serem servidores, pois o trabalho no campo não é fácil, e as marcas que carregam em suas mãos fazem parte de sua história e de sua vocação.

É preciso que cada um de nós reconheça quais são as marcas do tempo que a nossa vocação deixou em nós. Marcas estas que podem ser invisíveis, porém, marcam ou marcaram profundamente o nosso ser. Não tenhamos medo das nossas marcas, pois cada uma delas conta um pouco da nossa história, da nossa vocação.