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Biotério Pesquisas com animais de alta qualidade

Biotério Central da UFMS oferece qualidade genética e sanitária para pesquisas com animais

Texto: Lucas Caxito Fotos: Arquivo Biotério

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OO Biotério Central é o único setor que produz animais na UFMS, e faz parte da Rede Nacional de Biotérios de Produção de Animais para Fins Científicos, Didáticos e Tecnológicos (Rebiotério), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“O Rebiotério engloba os vinte e seis melhores biotérios do país, e somos o único integrante do centro-oeste, somos referência na produção de animais de laboratório na região”, destaca a médica veterinária e responsável técnica do setor de criação de roedores, Adriana Conceiçon Guercio Menezes.

“A nossa missão é produzir animais de laboratório, que serão utilizados em pesquisas biométricas e agrárias. Os animais mais utilizados são roedores, de diversas linhagens (que são como se fossem raças), gambás de laboratório, gerbil e hamster. Nós produzimos esses animais com qualidade sanitária e genética, porque eles precisam ter um padrão muito elevado, que deve ser adotado pra que eles possam ser utilizados em pesquisas”, explica Menezes.

Diferencial

Biotério Central da UFMS é uma unidade de apoio, vinculado ao Instituto de Biociências (Inbio), responsável pela produção e fornecimento de animais de laboratório para as pesquisas na área biomédica e agrária. O Biotério é composto por três setores: o de criação de roedores, que produz os animais para pesquisa; o setor de reprodução assistida, que trabalha com a parte de embriões, inseminação artificial e requisição de novas linhagens; e o setor de experimentação.

“Somos um setor que atende diversos setores da universidade, então nós não somos um laboratório específico, nós produzimos animais pra todos os pesquisadores da Universidade que pretendem utilizar animais em suas pesquisas. Esse é

o grande diferencial do biotério, nossa produção garante a qualidade de todas as pesquisas com animais de laboratório da Universidade”, ressalta a médica veterinária e responsável técnica pelo setor de experimentação, Maria Paula Ferreira Fialho Franzílio.

Outro diferencial da unidade é o setor de reprodução assistida, que possibilita a expansão do biotério no oferecimento de novas linhagens para pesquisas. “A gente vê pesquisas cada vez mais refinadas, que precisam de animais com determinadas doenças para poder testar um medicamento. O nosso biotério é um dos poucos do Brasil que tem um setor de reprodução assistida, justamente para auxiliar nesse ponto, e poder oferecer novas linhagens para as pesquisas que vão surgindo na Universidade, atendendo às demandas. Esse setor também é um diferencial do Biotério Central em razão de possibilitar o oferecimento de novas linhagens aos pesquisadores”, ressalta o médico veterinário e responsável técnico pelo setor de reprodução assistida, Gediendson Ribeiro de Araújo.

A bióloga e coordenadora do Biotério Central, Telma Bazzano da Silva, enfatiza a importância do setor de reprodução assistida. “Ter a possibilidade de manter linhagens de camundongos em botijões de nitrogênio, como é o caso do Biotério Central, isso reduz custo e tempo, porque o pesquisador não precisa induzir nada, o modelo já está pronto. Então, isso realmente refina muito a pesquisa na Universidade”, destaca.

Novas linhagens

Entre os meses de setembro de 2019 e dezembro de 2020, a Cidade Universitária recebeu doações de 4 novas linhagens especiais de camundongos: Nude, NSG, NOD e GFP. As novas linhagens são provenientes de doações do Biotério Nacional do câncer (Inca) e do Instituto Gonçalo Moniz, da Fiocruz da Bahia. Os Biotérios doadores estabeleceram parceria com a Universidade através do apoio da Reitoria e da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, que incluiu a capacitação de servidores do Biotério Central da UFMS nestas instituições.

O recebimento dessas novas linhagens proporcionará a ampliação de pesquisas da UFMS conduzidas nas áreas biomédicas e agrárias, e cumpre a missão do Biotério de produzir e fornecer animais de laboratório com qualidade genética e sanitária. “A utilização desses modelos animais possibilitará o refinamento de estudos de diferentes linhas de pesquisas como, por exemplo, a carcinogênese com a possibilidade de xenoenxerto de células tumorais humanas em camundongos atímicos ou ainda, em terapia celular, a partir da rastreabilidade de células tronco mesenquimais em camundongos receptores GFP através de marcação pela proteína verde fluorescente presente nesses animais, favorecendo a descoberta de novos medicamentos, bem como tratamentos com foco na medicina regenerativa”, destaca Adriana.

Modelo de estudos para pesquisas em imunologia humana, a linhagem NSG também é bastante utilizada em pesquisas de doenças infecciosas, oncologia e terapia celular, já que possui deficiência imunológica grave devido à ausência de células B, T e NK. A linhagem Nude é utilizada em pesquisas como xenotransplante, angiogênese tumoral e carcinogênese. A linhagem NOD é o modelo mais utilizado para estudos de diabetes espontâneo e insulino-dependente. Já o camundongo GFP, é uma linhagem geneticamente modificada que emite marcação pela proteína verde fluorescente presente no corpo desses animais, que favorece a descoberta de novos medicamentos, e também é um dos principais modelos em pesquisas com foco na medicina regenerativa, como terapias com células tronco e transplante de tecidos. Com a implantação, o Biotério Central da UFMS passa a ter 12 colônias de diferentes linhagens que podem atender diversas linhas de pesquisas.

Investimento

Por meio de chamada pública de agosto de 2020 realizada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Biotério Central da UFMS foi contemplado com um investimento de R$ 2.017.426,00, para a adequação da estrutura física e tecnológica aos padrões de qualidade e biossegurança que propiciarão a condução de pesquisas com animais de laboratório em uma estrutura multiusuária, com nível de biossegurança NB-3. Atualmente, o Biotério está classificado como NB-2.

De acordo com a coordenadora Telma Bazzano, será realizada a união das áreas de criação e experimentação, com corredor único, possibilitando o transporte interno de animais e insumos; otimização da área de experimentação, com divisão em salas; e aquisição de equipamentos. “Este edital foi de extrema importância, pois fomos o 09 21

O manejo das linhagens é feito na cabines de fluxo laminar

único do Centro-Oeste selecionado para abrigar uma estrutura NB-3. Isso é fundamental para o estudo da Covid-19, mas também de outras enfermidades emergentes, reemergentes e negligenciadas. Os investimentos vão fortalecer as pesquisas experimentais com animais em nossa Universidade”, destaca.

Neste sentido, todos os utilizadores do Biotério se beneficiarão com essa nova estrutura NB-3. Entre utilizadores da unidade, estão 19 programas de pós-graduação (PPG), duas especializações e, além do Inbio, os institutos Integrado de Saúde (Inisa) e Química (Inqui), as faculdades de Medicina, Medicina Veterinária e Zootecnia, Educação, Ciências Humanas, Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição e de Odontologia, bem como os câmpus de Paranaíba e, eventualmente, os de Três Lagoas e Corumbá.

“Com a área NB2 a gente já tem 100% dos programas de mestrado e doutorado, porém nem todas as linhas de pesquisa, exatamente pela necessidade dessa área de biossegurança animal 3. Então, com a readequação da área NB-2 para NB-3, a gente vai aumentar a possibilidade de atendimento de novas linhas de pesquisas, dentro do mesmo programa de mestrado e doutorado”, enfatiza a coordenadora.

O grande objetivo do NB-3, além de atender a comunidade interna, será formar parcerias também com outras instituições, para o desenvolvimento de pesquisas dentro da UFMS. Fora o Biotério Central, a única área NB-3 em Campo Grande, é a Embrapa Gado de Corte. “Existem poucas estruturas no Brasil com esse nível de biossegurança, e nós seremos uma das poucas. Então, isso também é outra grande missão nossa: oferecer esse espaço e firmar parcerias com outras instituições sejam instituições de pesquisa ou universidades”, comenta Adriana. Além do edital da Finep, o Biotério Central também foi selecionado pela Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp) no edital de manutenção dos equipamentos, além da implantação do laboratório de reprodução assistida e recentemente, no fornecimento de bolsas para capacitação de recursos humanos.

“A gente conseguiu bolsa pra poder participar de um curso no ‘The Jackson Laboratory’ nos Estados Unidos, laboratório referência mundial no desenvolvimento e produção de animais de laboratório. Isso vai ser muito importante para o biotério, porque eu vou poder me capacitar na parte de reprodução e desenvolvimento de novas linhagens de camundongos, e também será um nicho de futuras parcerias de pesquisa e de treinamento para nós aqui do biotério. A gente acredita que isso vai ser muito positivo e abrirá novas oportunidades, o que vem ao encontro do que o reitor Marcelo Turini tem buscado nessa gestão, que é a internacionalização da UFMS nos principais centros de pesquisas do mundo”, destaca Gediendson.

“Quero destacar o apoio da reitoria no investimento em recursos humanos no Biotério Central. Esses investimentos proporcionaram a presença de três profissionais médicos veterinários, cada um, na sua área distinta, e isso foi um divisor de águas pra o biotério ter tanto sucesso como a gente tem hoje. Normalmente tínhamos apenas um veterinário, e essa sensibilidade da reitoria foi muito importante, pois propiciou a vinda de mais dois veterinários, formando assim uma equipe integrada e coesa”, destacou a coordenadora, Telma Bazzano.

Curiosidades

Apesar do Biotério ser classificado como um ‘biotério de roedores’, a partir de 2008, a unidade também passou a trabalhar com uma espécie diferente: o Gambá de laboratório. Popularmente chamado de “Cuíca”, o gambá de laboratório é um

animal pertencente à fauna brasileira, muito comum na região norte de Minas Gerais e ao sul da Bahia. Contudo, após a exportação para o Canadá, há mais de 20 anos atrás, o animal se estabeleceu como colônia de laboratório. Em 2008, o Biotério Central importou esses animais, e no Brasil atualmente, o Gambá de laboratório está presente apenas na UFMS.

A palavra “gambá”, oriunda do tupi-guarani, tem o significado de ‘ventre aberto’. “A formação embrionária desses animais ocorre em cerca de catorze dias no útero, e depois desses catorze dias, a fêmea vai parir esses embriões e eles vão terminar o desenvolvimento deles fora do útero, extra-uterinamente. Por isso que é chamado de ventre aberto. E por que isso é importante? Porque esses animais, então, se tornam modelos de estudo pra pesquisas com doenças congênitas. Lá nos Estados Unidos, eles estabeleceram várias pesquisas na época da epidemia do Zika Vírus. Eles infectavam esses animais com vírus e depois estudavam todos os efeitos que o vírus tinha no tecido cerebral desses embriões. Além disso, ele é um modelo animal pra estudos com melanoma e estudos de colesterol, você consegue induzir a uma hipercolesterolemia nesse animal com dieta, além de estudos com o Trypanossoma Cruzi, em razão de esse animal chegar a desenvolver cardiopatia, mas sem morrer”, explica Adriana Conceiçon.

Importância

De acordo com o estudante de doutorado em Medicina Veterinária, Paulo Henrique de Affonseca Jardim, o Biotério representa uma grande importância não apenas para seu estudo mas para todas as pesquisas realizadas na Cidade Universitária. “Eu estudo dois materiais: o óxido de grafeno, e o fluoreto de polivinilideno também chamado de PVDF, e sua resposta frente ao reparo ósseo. Ou seja, se eles são capazes de acelerar ou melhorar a consolidação óssea. Um dos diversos modelos de experimento animal que existem, é o modelo de defeito ósseos em tibia de ratos, e para que os estudos sejam realizados de forma mais precisa, são necessários alguns cuidados para que outros fatores não interfiram no resultado do estudo, como por exemplo: temperatura ambiente, alimentação, estresse dos animais, contaminação do ambiente etc. Quando trabalhamos com modelos experimentais animais, estes fatores são controlados com maior facilidade em biotérios, onde além de fornecer a quantidade necessária de animais para o estudo, fornecem um espaço com estes controles. Isso possibilita ao pesquisador, informações mais fidedignas do que está pesquisando”, ressalta o estudante.

Neste sentido, o trabalho realizado pela equipe do Biotério Central, visa melhorar cada vez mais a qualidade genética dos animais e oferecer o melhor para os pesquisadores da UFMS, para que dessa maneira, eles consigam publicar os seus resultados em revistas com alto fator de impacto, e dessa maneira, alinhar com o objetivo da reitoria de ampliar a visibilidade da UFMS, e fomentar a internacionalização da Universidade.

O Biotério está equipado para o trabalho com as novas linhagens e para atender os pesquisadores da Universidade

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