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Resenha / Série - Ewerton Ramos, pág
from Revista Hánexo 2021
by Adauto Molck
Engana-se quem pensa que as coberturas sensacionalistas, onde os apresentadores que ‘forçam a barra’ para alavancar a audiência, são estratégias recentes. Elas vêm de tempos bem anteriores. E é isso que a Netflix traz, em mais uma tentativa de expandir MUITA AUDIÊNCIA e pouca informação seu portfólio para mais áreas, além da dramaturgia. A série documental Condenados pela Mídia, lançado em 2020, retrata seis casos, que tiveram total influência e uma cobertura massiva por parte da imprensa. Com uma abordagem sutil sobre as perspectivas de cada caso, a mesma sutileza é utilizada para criticar as emissoras da mídia norte-americana, que faziam com que os tribunais se transformassem em auditórios de TV, tudo por um aumento nos medidores de audiência que, no mundo televisivo, equivale a dinheiro. Ao reservar um caso em cada episódio, os relatos são apresentados de modo a demonstrar o quanto a cobertura midiática é falha e o quanto determinados casos nascem como um produto sensacionalista. Um homem branco atira em quatro jovens negros no metrô, ao sentir que eles o iriam assaltar. No dia seguinte, esse rapaz é chamado pela mídia de ‘vigilante’. Não de assassino. Não de criminoso racista. Apresentando pontos cruciais, se revela o poder de influência que a mídia tem sobre os telespectadores e, pior, sobre a grande parte da sociedade. Podemos ver isso nos dias de hoje. Os programas jornalísticos de uma emissora de TV aberta no Brasil, são famosos por abusar do sensacionalismo na cobertura de casos. Evitarei citar nomes, mas sei que, falando de apresentadores e canais muito conhecidos, não será nenhum quebra-cabeça desvendar sobre quem estou me referindo. Fato é que se engana quem diz que a rentabilidade na TV está apenas no entretenimento. Ela está por toda parte. Em um dos casos abordados no documentário, os responsáveis pela emissora que estava sendo processada por, supostamente, ser o estopim de um assassinato, cria um outro canal de TV, apenas para cobrir todo o processo, transmitir as audiências no tribunal, o julgamento e ganhar o público. Ou seja, financeiramente a mesma empresa que poderia perder com o processo, estava ganhando com a transmissão desse processo. No mínimo intrigante e imoral. Por fim, temos os casos, temos a cobertura da mídia sobre esses casos, cada qual em uma determinada época. Temos esse documentário que discute a cobertura feita pela imprensa. Tudo é um processo envolvendo muito dinheiro e pouca informação.
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Leonardo Cassano é apresentador do CBN Cultura, programa que vai ao ar todos os sábados, ao vivo, com duas horas de duração
Foto: Arquivo pessoal
As várias especializações da profissão e as particularidades de cada uma delas
Dentro do jornalismo e das notícias abordadas no cotidiano existem diversos segmentos e possibilidades de especializações para o profissional estudar e transmitir as informações ao público com maior aprofundamento e propriedade sobre o tema.
Para entender melhor sobre cada área, conversamos com sete profissionais, com diferentes especializações, para que eles contassem os desafios e as alegrias que passam, mas vale lembrar que independente do segmento, no jornalismo é necessário trabalhar com preceitos éticos e muita apuração.
Cultura
“Estudar, ler livros, ler críticas de cinema e de peças de teatro, se atentar aos lançamentos de CDs e entender como é um bate-papo”, essas são as dicas que Leonardo Cassano, apresentador do CBN Cultura, dá para quem deseja seguir o mesmo caminho que ele. Leonardo desde cedo apresentou vocação e interesse para a área de cultura. Antes de se aprofundar no mundo do jornalismo, ele se formou em artes cênicas e realizou curso técnico de teatro. A paixão pela cultura já existia, mas aflorou quando Leonardo se formou em jornalismo e viu dentro da área a oportunidade de juntar seus gostos em uma mesma função. Para conquistar seu espaço não foi fácil. O jornalista conta que o mercado de trabalho do jornalismo cultural ainda é pequeno e que só conseguiu conquistar o espaço que tem hoje porque se esforçou muito. Quando iniciou o estágio na CBN, Cassano começou a demonstrar seu interesse pela parte cultural, “eu procurava ajudar na produção do programa de cultura, mesmo nas minhas folgas, para perceberem que eu gostava do segmento”.
Ele conta que a parte mais legal do seu trabalho é ter a oportunidade de conhecer, falar e ser ouvido por grandes artistas que ele admira. “Há vários exemplos de famosos que tive a oportunidade de entrevistar, mas posso dizer que a Sandy foi a que mais me marcou”. Desde criança Leonardo já admirava a artista e ele conta que através do seu programa na CBN

Jornalismos diferentes
ele pôde ter o prazer de conhecê-la e entrevistá-la. Em contrapartida, ele relata que a parte mais desafiadora de seu trabalho é convencer os artistas a aceitarem dar entrevistas para o veículo local, embora a CBN seja muito reconhecida. Neste atual cenário, Leonardo conta que a pandemia foi um fator que afetou fortemente seu trabalho, pois o contato visual, tanto com os entrevistados quanto com o técnico que o auxilia na produção, é essencial para conseguir fazer o programa fluir melhor. O CBN Cultura é produzido totalmente por ele, há apenas um operador técnico que coloca os comerciais entre os blocos, mas a multifuncionalidade se faz muito presente em seu cotidiano. Há pouco, a CBN começou a incluir o audiovisual também para a exibição do programa, utilizando o Youtube para transmiti-lo, por isso Leonardo precisou se adaptar para realizar as edições dos vídeos. Na opinião do jornalista, o grande diferencial que o levou a alcançar seu posto foi pesquisar muito sobre os entrevistados, procurar boas informações, estar atento aos lançamentos e falar sobre assuntos que os entrevistados também queiram que sejam trazidos em pauta. “Recebemos diversas sugestões sobre assuntos a serem tratados durante a entrevista pelo assessor do artista, mas é importante não se prender a isso e explorar outros caminhos”.
Política
Cibele Buoro, jornalista com pós-graduação em ciências políticas, diz que o cenário atual em que o jornalismo se encontra é um período de ignorância e descrença. Segundo ela, atualmente muitas pessoas preferem acreditar no que as convém, em fake news e desconfiam ou desacreditam de informações devidamente apuradas e checadas que são veiculadas em jornais.
A jornalista conta que também trabalhou com economia, mas se deparou com a necessidade de se especializar no segmento político para conseguir compreender os inúmeros acontecimentos do cotidiano que impactam diretamente em nossa vida, “tudo está ligado a política, quando você tem a base técnica e teórica sobre o assunto fica muito mais fácil entender o que está acontecendo no mundo e cumprir com o dever de trazer a verdade ao público”. Neste contexto, ela explica também que um curso ou uma pós-graduação para se especializar em política é fundamental, pois somente o conhecimento que é adquirido durante a faculdade é muito raso para proporcionar um amplo entendimento do universo político. Além disso, Cibele conta que a especialização dá bagagem para o profissional aprender a fazer coberturas e elaborar perguntas relevantes para os políticos, que os tirem da zona de conforto. “O mercado para o jornalismo político é muito superficial, há diversos profissionais que fazem somente o básico, não questionam e não entendem os fatos”. Com sua ampla experiência no segmento político, ela diz que o mais desafiador para o profissional que trabalha em redação é convencer de que a pauta é válida, pois muitas vezes ela é relevante para a população, traz denúncias, Cibele Buoro é jornalista, professora, vegana, ambientalista, defende direitos humanos e movimentos sociais
Foto: Arquivo pessoal
porém vai contra a linha editorial do jornal ou revista. “A informação deveria ser um bem público”. Como exemplo de uma grande realização profissional, a jornalista conta que logo quando a internet começou a se popularizar, em meados dos anos 90, ela soube de informações sobre uma população em Cubatão, região metropolitana da Baixada Santista, que sofria graves problemas de saúde e muitas dessas pessoas estavam desenvolvendo cânceres. Instigada a descobrir mais sobre o caso, ela foi até a região investigar, por conta própria.
Cibele descobriu que nos anos 70, a Rhodia atuava naquele espaço e que, anos depois, com a fábrica desativada, foi feito um aterro sanitário de materiais tóxicos cancerígenos. Com o passar do tempo, o terreno virou um loteamento e pessoas começaram a residir naquele local e a sofrerem com problemas de saúde desencadeados pela contaminação. Foi descoberto também que até mesmo os laboratórios de análises clínicas compactuam com a Rhodia para emitir resultados negativos nos exames positivos das doenças. Para comprovar que as pessoas estavam realmente doentes, foi preciso refazer os exames em clínicas que não tivessem vínculo com a empresa.
A matéria não pôde ser publicada pelos veículos de Santos, pois também tinham ligação com a empresa, mas Cibele conseguiu convencer a revista em que trabalhava na época a publicar. “Houve resistência, pois a matéria denunciava um anunciante, indo contra a linha editorial, mas com muita insistência, a matéria saiu.” A jornalista conta que até mesmo a editora da revista chegou a fazer várias mudanças no texto para amenizar a culpa da empresa. O mais legal dessa história, Cibele considera que foi o fato de a matéria ter ajudado - apesar de não ter sido algo decisivo - a população a ganhar o processo jurídico em que reivindicaram tratamento médico vitalício. Ela expressa sua paixão pela área completando que adora poder informar o público, saber tudo em primeira mão e não seguir uma rotina. “Eu considero cada pauta como um desafio e a tarefa do jornalista é encontrar as próprias estratégias para chegar até o objetivo”. Cibele ainda deixa uma dica para quem pretende ingressar neste segmento, “estude muito, pesquise, se atualize, entenda sua posição na sociedade, a constituição, seus direitos, seu compromisso com a verdade e defenda causas”.
Economia
“Essa é minha estante de livros

Carlo Cauti
nasceu na Itália e é editor-chefe do SUNO Notícias
Foto: Arquivo pessoal
e para um jornalista isso é nossa ferramenta de trabalho, sem isso não iremos a nenhum lugar” afirmou o jornalista econômico, Carlo Cauti, ao mostrar sua prateleira recheada de livros durante a entrevista.
Carlo é o atual editor-chefe do portal SUNO Notícias. Italiano, formado em Ciências Políticas pela universidade LUISS G. Carli de Roma e mestre cum laude em Relações Internacionais, Jornalismo Internacional e de Guerra e em Economia Internacional. No início, veio ao Brasil trabalhar como correspondente italiano e cobria política externa e internacional, tendo atuado em diversos veículos da imprensa brasileira como Estadão, Veja, Exame e Rede Globo, como editor do G1. Para ele, a grande diferença entre as editorias está em entender verdadeiramente o que acontece, porque principalmente na bolsa de valores ou você sabe o que está acontecendo e o que são todos aqueles acrônimos, siglas e números ou eles não significam nada e em se manter informado todo o tempo, algo que ele considera um dos desafios da profissão. “A parte desafiadora é o bombardeio de informações, eu praticamente não durmo, trabalho até no sono porque o fluxo é contínuo e a bolsa é um caos, então trabalho 24h, eu falo que o jornalista não trabalha ele tem vocação, é que nem padre, eles não terminam o trabalho depois de 8h00”.
Já a mais interessante em sua opinião é todo dia ter novidades, algo diferente, falar com pessoas novas e saber em primeira mão o que está acontecendo no resto do mundo. “Se eu vejo que a demanda de papelão está aumentando eu sei que o varejo está vendendo mais e que algumas ações vão se valorizar, então tem algumas questões que a gente consegue prever com certa precisão”.
Embora a procura pela especialização em economia tenda a aumentar em momentos de crise econômica como a que estamos vivendo, ainda existem mais vagas do que concorrência, isso acontece porque as pessoas têm em mente que por ser um assunto mais complexo são necessários maiores estudo e dedicação, algo que não estão dispostos a buscar. “O que acontece é que todo mundo quer fazer a mesma coisa e tem pouca gente que se interessa por economia, porque pra falar de economia tem que falar de matemática, pelo menos fazer cálculo básico e não dá para falar “sou de humanas, não sei fazer” isso não existe”. Segundo Carlo, a própria economia do Brasil está mudando e se tornando um país mais moderno e maduro e muitas pessoas investem na bolsa hoje o que torna o jornalismo econômico cada vez mais importante para evitar problemas pessoais que podem ser extremamente graves na vida das pessoas. “Quando eu comecei no jornalismo econômico havia 300 mil pessoas que investiam na bolsa. Hoje, são 3,5 milhões e elas precisam saber onde estão colocando dinheiro porque o risco é perder tudo”. A multifuncionalidade, assim como nos outros segmentos, é algo muito presente no jornalismo econômico. O portal de notícias
comandado por ele, SUNO Notícias, partiu do zero e hoje tem em média 4,5 milhões de acessos por mês e milhares de seguidores nas redes sociais, isso porque eles optaram por inovar e oferecer conteúdo no formato que o público quer. “Eu comecei a fazer lives em 2018 algo que não era tão popular e eu nunca tinha feito, então eu tive que aprender a fazer, melhorar aos poucos, mas se recusar a se inovar e acompanhar a evolução é o passaporte para o fracasso, algo que a mídia tradicional deve levar sempre em consideração.”
Entre os momentos marcantes de sua carreira estão dois, quando foi cobrir, pela primeira vez, o Fórum Econômico Mundial (FEM), na Suíça, “eu fiquei no mesmo hotel que pessoas como o Rei da Espanha até o CEO da Microsoft, a Malala estava lá, o próprio Donald Trump também, foi muito emocionante”. E, no ano passado, o momento mais marcante para Carlo foi quando a bolsa caiu 30% em duas semanas logo após o coronavírus, algo que o deixou preocupado. A pandemia trouxe a ele algumas dificuldades como se adequar ao home office e perder um pouco do contato com a redação, o que ele considera ruim uma vez que tem vários estagiários que costumam aprender olhando os mais velhos, mas ao mesmo tempo não precisar mais ficar preso no trânsito de São Paulo e trocar o estresse por uma corrida na Lagoa do Taquaral no fim do dia, foi um ótimo benefício. A dica que ele deixa aos estudantes que querem trilhar o mesmo caminho que ele é ler tudo que aparece, do menu do restaurante até o livro de economia e se interessar desde agora. Para Carlo, infelizmente as faculdades de jornalismo em geral não preparam os alunos para o jornalismo econômico, falta base, o que os alunos devem procurar por conta própria. “Ler economia, fazer cur36 Jornalista Marco Guarizzo trabalha na CBN Campinas, realiza o podcast esportivo Sem Impedimento sos, se atualizar sempre, entender o que significa cada coisa, o que é PIB? Como calcular? Como calcular a inflação? Por que ela faz os preços subirem? Quem é o atual ministro da economia? O que ele faz? Porque o Banco Central deve ser independente? Porque o Brasil tem mais exportação do que importação? Como é feita uma balança comercial? Porque a bolsa de SP chama B3? Essas são coisas básicas do nosso dia a dia.”
Esporte
“Eu sou o tipo de pessoa que prefere assistir um jogo ruim a um filme bom” afirmou em entrevista o jornalista esportivo, Marco Guarizzo. Segundo ele, seguir o segmento de esporte e se tornar apresentador sempre foram sonhos, coisas que ele conseguiu concretizar. “Desde criança eu carrego esse sonho comigo, eu pensava “quero ser igual ao Luciano do Valle” e uma vez tive até a chance de falar isso pra ele, algo que me emociona muito.”
Embora na própria faculda-

de ele já demonstrasse o interesse pela área, no jornalismo você nunca entra pela porta que quer entrar e no começo da carreira, Marco trabalhou como rádio escuta e repórter, cobria a parte de editoria geral e chegou até a escrever sobre moda, um assunto do qual ele diz não entender muito, mas que como todo bom jornalista sempre fez muita apuração e pesquisa para conseguir escrever a respeito.
Ele já trabalhou em veículos como G1, Band News e atualmente é apresentador da CBN no programa “CBN Total” e no Podcast “Sem Impedimento” da mesma emissora. Mesmo que ele adore futebol, também deixa clara a importância de estudar e acompanhar outros esportes “eu consumo esporte o dia inteiro, já fui de acordar de madrugada pra ver Seleção de Vôlei jogar e pra assistir Fórmula 1, sempre acompanho tudo o que eu puder”
Mesmo que Marco tenha conseguido unir suas duas paixões, ele não deixa de enfrentar desafios em sua profissão e um deles é à distância da família. “Você perde festa de família, aniversários, feriado prolongado, perde muita coisa”. A prova disso foi ele ter vivenciado o melhor momento da carreira no dia do aniversário de sua irmã, a qual no ano de 2012 passou a compartilhar a data com outro acontecimento importante: Narrar um Dérbi. “No dia 24 de março de 2012 eu trabalhava na Band News e fui narrar o Dérbi Ponte Preta e Guarani, que completavam 100 anos, o que foi a realização de um sonho porque isso é a Copa do Mundo do jornalista campineiro.” Para Guarizzo, atualmente o mercado, principalmente da mídia convencional, está mais enxuto, o que dificulta a entrada neste segmento, mas a internet está abrindo novos caminhos. Hoje, é necessário mostrar as habilidades com blogs, canais no Youtube, podcast, pois precisa mostrar trabalho em outras mídias para conseguir mais oportunidades. Mas, assim como a internet pode ser uma aliada, ele alerta sobre alguns pontos. “Hoje somos muito vigiados por conta das redes sociais, então temos que tomar certo cuidado com as identidades que assumimos nelas para não nos queimarmos no mercado.” Ele afirma que no próprio meio do esporte muitas coisas mudaram e ele mesmo optou por ter postura diferente em sua forma de trabalhar, cortou as piadinhas ofensivas, o que costumava ser comum no ramo. “Sempre se viu piadinha homofóbica com são-paulino ou ficar falando que Palmeiras não tem mundial ou que corintiano é tudo maloqueiro e eu decidi cortar isso.”
Durante a pandemia ele encarou novos desafios como a cobertura à distância, uma vez que não é permitido ir ao estádio, ele passou a narrar os jogos do próprio estúdio e a ficar refém das assessorias de imprensa e das fontes. Como em outros segmentos, no jornalismo esportivo a imparcialidade deve permanecer, o que ele, mesmo como grande palmeirense, afirma fazer. “Na hora do trabalho você tem que deixar a paixão de lado, eu sempre deixo pra ser palmeirense depois que o jogo acaba.” Marco compartilha ainda uma curiosidade de como os repórteres esportivos comemoram um gol, como eles não podem gritar nem fazer muitos gestos eles costumam chutar a placa de publicidade para esconder a emoção.
Entre suas dicas para os estudantes que almejam seguir o mesmo caminho que ele estão estudar muito todos os tipos de esporte, se manter informado, marcar presença e tentar fazer contatos ao longo do curso. E, embora já tenha realizado
Antônio Bargas Filho, natural de Santo André, atualmente trabalha como repórter na TV Thathi/Record

sonhos como entrevistar o ex-maratonista brasileiro, Vanderlei Cordeiro de Lima, o narrador esportivo, Deva Pascovicci, e conversado com o ex-goleiro do Palmeiras, Marcos, ele ainda carrega alguns sonhos vivos como, por exemplo, entrevistar o rei Pelé
Policial
Antônio Bargas Filho é repórter na TV Thathi Record TV em Campinas e faz a cobertura, prioritariamente, dos fatos policiais na madrugada, das 00h30 às 8h30. Ele conta que este horário o possibilita apurar os fatos quando estão acontecendo, ou seja, ser um repórter factual, “faço a minha própria pauta”.
A carreira do jornalista no segmento policial começou porque ele queria conquistar a mulher que amava, Vera, sua atual esposa. Estão casados há 39 anos. Ele conta que sonhava em ser um grande repórter de esportes ou ser um cronista esportivo, mas mudou de ideia por um motivo “mais do que justo”, como ele define. Na época, Bargas namorava Vera e trabalhava escrevendo sobre esportes para um jornal. Ele diz que ficava incomodado, pois ela comprava as edições de domingo dos jornais ‘Diário do Povo’ ou o ‘Correio Popular’ e logo abria nas páginas de reportagens policiais. “Ela ao menos lia as páginas de esportes, então percebi que Vera não se interessava pelo jornalismo esportivo”. Para conquistá-la, Filho resolveu se aprofundar no jornalismo policial e escrever reportagens policiais, “ao invés de ir para um campo de futebol, passei a ir para as delegacias”. E o plano do jornalista para conquistar sua amada deu certo! Fora o jornalismo esportivo e policial, ele conta que também já fez matérias sobre política, economia, cotidiano e até mesmo escreveu uma coluna social, muito comum nas décadas de 70 e 80. Para ele, a diferença entre os segmentos é apenas o ambiente onde o jornalista frequenta. “No jornalismo policial, o balcão de uma delegacia, porta de IML, porta de batalhão de PM e quartel de Bombeiros são os locais de mais tristezas”. Segundo o jornalista, o ambiente das outras editorias tende a ser muito mais leve, porém as dificuldades de apuração, encontrar fontes, descobrir e produzir a notícia são as mesmas. Para Bargas, a melhor parte de trabalhar no segmento policial é conhecer a vida que não está mascarada ou disfarçada, mas em contrapartida, houve muitas situações extremamente desafiadoras enfrentadas por ele ao longo da carreira, por exemplo, cobrir um tiroteio e nunca ter sido atingido por uma bala perdida e ficar próximo de alguém transtornado em uma delegacia ou na rua e nunca ter sido atacado por ela. Com relação ao mercado de trabalho no jornalismo policial, ele conta que atualmente há muitas oportunidades dentro do segmento, mas que na época em que começou sua carreira não era igual aos dias de hoje, “o repórter policial era aquele jornalista em começo de carreira e que depois migrava para outras editorias, era a porta de entrada, principalmente, nos jornais impressos”. Da década de 90 pra cá, as emissoras de televisão começaram a utilizar mais reportagens policiais e surgiram muitos programas para esse segmento. Segundo o jornalista, o mercado de trabalho não é amplo porque as empresas estão contratando cada vez menos, mas, tem lugar para muitos jornalistas.
Em seu trabalho a multifuncionalidade também se faz presente, pois além de repórter ele também propõe sua própria pauta. “Eu trabalho na rua, portanto, vejo mais
coisas que o pauteiro e o chefe de reportagem, consigo alimentar a redação com sugestões”. Bargas se diz muito realizado por ter feito reportagens que ajudaram nas investigações policiais e que possibilitaram o esclarecimento de crimes. Segundo ele, muitas vezes suas matérias foram usadas até mesmo durante um julgamento. Bargas ainda expõe que um fator crucial para trabalhar com jornalismo policial é se lembrar sempre que um fato tem sempre tem “dois lados”.
A pandemia alterou seu trabalho no quesito distanciamento. Neste atual cenário, é preciso evitar frequentar muitas delegacias de polícia e, também, locais onde ocorreram crimes ou que haja muitas pessoas. Mas, ainda, é preciso permanecer nas ruas, com máscara, álcool em gel, cautelosamente e respeitando as normas de distanciamento social.
Moda
Raíssa Zogbi estava apenas no segundo semestre do curso de jornalismo quando decidiu que queria entender um pouco mais da profissão na prática e foi buscar esse auxílio na editora Gracioli, na qual passou a vivenciar o dia a dia da empresa. “Eu passava as tardes depois da aula lá pra observar o que as pessoas faziam, os estagiários, os jornalistas, os designs, os estilistas e tentava absorver o máximo que eu podia”. Na época, o digital estava começando com uma influência maior e havia a ascensão das redes sociais para qual aos poucos começou a escrever notas, foi assumindo responsabilidades maiores até que eles a contrataram como estagiária e, atualmente, Raíssa é gerente de conteúdo da editora e coordenadora da Z Magazine, revista feita para o público feminino com bastante influência de beleza e moda. E, embora tivesse em casa uma mãe que sempre gostou muito de moda, decoração e que tinha um estilo peculiar e próprio, ela não imaginava que entraria para este universo. Além da graduação em Jornalismo ela se especializou em Jornalismo de moda na FAAP, fez consultoria de moda em Portugal, fez o curso Trend Forecasting Course na Milan Fashion Campus, em Milão, e está terminando o curso de pós-graduação na USP em Estética e Gestão da Moda. Para ela, a parte mais intrigante do segmento é entender como a moda faz parte da sociedade, como reflete o comportamento, o local e a época que estamos vivendo. “É interessante ver como ela acompanha todos os fenômenos,
Raíssa Zogbi, formada em jornalismo pela PUC-Campinas, sempre se identificou com o segmento de moda
Foto: Arquivo pessoal

porque ela é justamente um reflexo da sociedade, pra mim a melhor parte é poder entender quem nós somos através do viés da moda”. Em contrapartida, a mais desafiadora é mostrar isso para as pessoas e ensinar que moda vai muito além de “look do dia”, no ramo da moda ainda existe certo preconceito, mas nele como em todos os outros assuntos necessita de preceitos éticos e da apuração, é preciso estar atualizado constantemente e ter criatividade porque “assim como a moda é um reflexo da sociedade atual, ela carrega muitas referências do passado, as quais você deve saber identificar e entender”. Com o meio digital, Raíssa afirma que as oportunidades do ramo estão mais fortes do que nunca e que hoje todos podem ser criadores de conteúdo e mostrar serviço, mas que para se destacar nele é necessário sair da caixinha e se reinventar. “Não adianta fazer mais do mesmo, os jornalistas precisam saber se reinventar, ser flexível e conquistar espaços não só escrevendo matérias mas na criação de conteúdo também. É importante adaptar a linguagem para o público que você está falando, atingir o leitor e ser didático para ser entendido por ele.”
Entre os momentos mais marcantes da carreira estão à primeira vez que ela fez cobertura do São Paulo Fashion Week, na qual ela ficou surpresa em descobrir que os desfiles duram apenas de 5 á 7 minutos, “Eu achei que iria ficar meia hora vendo as pessoas desfilarem e pra mim foi um baque, mas depois eu entendi o poder e o tanto de trabalho que tinham naqueles 5 minutos”. A aprovação de Capas internacionais para marcas de luxo como Valentino, Emílio Pucci e Ralph Lauren também são momentos gratificantes para ela, assim como o reconhecimento ao fazer palestras e abrir discussões em universidades sobre seu ramo, que ainda é mistificado. Durante a pandemia, Raissa viveu momentos de aprendizado em sua linha editorial e a revista que antes tinha periodicidade mensal passou a ser bimestral ao perceber que seu público precisava de mais tempo para compreender e refletir as matérias mais extensas. “No início tivemos que despencar uma revista que já estava pronta porque não fazia o menor sentido manter as publicações naquele momento turbulento em que as pessoas estavam morrendo e ninguém compreendia nada, precisávamos trazer coisas com conteúdo mais empático e aprofundado”. Novos aprendizados também vieram ao precisar cobrir desfiles que aconteciam no ramo digital o que requeriam bagagem para conseguir absorver rapidamente o conteúdo e trazer informações novas e curiosas em suas matérias, daí vem sua maior dica para os alunos que desejam seguir o caminho da moda. “Seja sempre curioso, pesquise sobre história da moda, tenha repertório cultural e artístico porque é o que vai te fazer escrever bons textos, criativos e interessantes para conquistar seu público com a linguagem adequada”.
Gastronomia
“Quando eu era criança e meu pai me dava dinheiro, eu usava metade para comprar guloseimas e a outra metade para comprar jornal”. É o que relata Manuel Alves Filho, editor-chefe do Correio Popular, sobre sua infância. Ele afirma que, desde pequeno, sempre soube que gostaria de ser jornalista e, paralelamente a essa vontade, a paixão por cozinhar também se desenvolvia gradualmente. Seu pai era um excelente cozinheiro, ele conta, e desde muito jovem o acompanhava na cozinha.
Manuel Alves Filho, se formou jornalista pela PUCCampinas e atualmente trabalha no Correio Popular Foto: Arquivo pessoal. Em um determinado dia em que seu pai adoeceu e não pôde preparar as refeições, deu dinheiro para que Manuel -ainda criança- comprasse pães e frios na padaria.
Ele relata que neste dia disse ao pai que não precisaria comprar, pois já sabia cozinhar, somente de o observar todos os dias preparando os pratos. “Lembro que aquele dia foi a primeira vez que preparei uma refeição sozinho: arroz, feijão, bife acebolado e abobrinha refogada.” Desde então ele ficou ainda mais encantado pela gastronomia e não parou de cozinhar. Manézão, como costuma ser chamado, conta que começou sua carreira no jornalismo trabalhando nas editorias de política, cidades e esportes. Era ele quem fazia os almoços na redação e, apesar de adorar cozinhar, não fazia profissionalmente. Algum tempo depois, quando surgiu uma vaga para gastronomia no Correio Popular, ele decidiu arriscar. “Foi aí que eu percebi que minha bagagem não era suficiente para escrever sobre o tema”. Este foi o motivo que o motivou a fazer cursos gastronômicos, ler mais e começar a cozinhar profissionalmente.
Manuel acredita que há poucos profissionais neste segmento. Segundo ele, existem muitos jornalistas que escrevem sobre gastronomia porque foram designados para isso, mas que são poucos os que têm estudos suficientes para serem, de fato, serem especializados no segmento.
O mercado de trabalho neste segmento cresceu muito nos últimos anos. Reality shows, tanto nacionais quanto internacionais, ganharam espaço e, inclusive, há canais somente sobre gastronomia. Por isso, para se destacar é preciso apresentar um diferencial. Segundo o jornalista, o mais legal deste segmento é abranger outras dimensões da gastronomia, senão a sensorial, como, por exemplo, contar a história de como aquela receita surgiu. Por outro lado, Manuel diz que a parte mais difícil é ter que fazer uma crítica e ela não ser compreendida como algo construtivo, mas sim destrutivo.
A mais marcante realização do jornalista no segmento gastronômico foi quando ele decidiu criar um evento em uma praça de Campinas, o “Chefs Campinas”. O intuito era trazer grandes chefs para cozinharem por um preço acessível para o público.
Manuel conta que na primeira edição ele imaginou que atrairia, no máximo, cinco mil pessoas. Ele não contava com o gigantismo do evento. O resultado final foi que o evento atraiu mais de 15 mil pessoas na praça. Apesar de neste momento, devido a pandemia, não estar podendo mais realizar esses tipos de eventos, o jornalista aproveitou o isolamento social para postar vídeos de preparos de receitas fáceis e econômicas, todos os dias, para ajudar quem não possui muitas habilidades na cozinha. Ao todo, ele publicou 100 vídeos.
O jornalista precisa se atualizar e aprender novas funções. Principalmente no segmento gastronômico, ele alerta que, além de saber escrever, é necessário saber se reinventar. A pandemia o levou a aprender a editar vídeos. Além disso, ele conta que saber fotografar é essencial para atrair a vontade do público de experimentar o prato ao olhar para a foto, o famoso “comer com os olhos”! A título de curiosidade, Manuel ainda relata que dentre todas as refeições que já comeu, incluindo os pratos mais caros e bem elaborados, sua preferência sempre será o pão de queijo com café quentinho para acompanhar. “Nada supera a gastronomia brasileira na diversidade, riqueza e sabores”.

Muito depois dos homens, quebrando os padrões e resistindo, as jornalistas entram em campo com o objetivo de falar de futebol; primeiro como repórteres, depois como apresentadoras de programas esportivos e agora tiveram mais uma conquista, comentarista de jogos numa grande emissora de TV
Texto e edição Amanda Florentino Ewerton Ramos Ingrid Lopes
Diagramação Heloisa Furquim Gabriela Formenti
Fotos Arquivos Pessoais
Aos 45’do 2º tempo

No país do futebol, desde muito cedo, os meninos são apresentados ao mundo da bola. Acontece uma imersão total. Assistir aos jogos com o pai ou o avô, vestir camisas de time, jogar pelada na rua e na escola. E não precisa de muita coisa. Dois pares de chinelos alinhados lado a lado são o suficiente para fazer o papel das traves e iniciar uma partida.
Como consequência dessa cultura, o jornalismo esportivo tornou-se um território predominantemente ocupado por homens. Caminhando a passos curtos, a história das mulheres no jornalismo esportivo no Brasil começou a ser escrita em 1980, quando a jornalista
Regiani Ritter passou a exercer a função de repórter de campo. Após 39 anos, Ana Thaís Matos se tornou a primeira mulher a comentar um jogo de futebol na maior emissora do país. Alvo de frequentes críticas, principalmente quando aparecem em canais de TV aberta, as mulheres lutam diariamente para ocupar um espaço que a tempos é caracterizado por agregar a opinião masculina com muita facilidade, mas que ainda tem dificuldade de lidar com o fato de ter o sexo oposto ditando o que é certo ou errado através de comentários durante os jogos ou em ‘mesas redondas’. A evolução, mesmo que pequena, pode ser notada em programas de televisão. O tratamento de ‘musa’ está caindo em desuso e há o início do tão esperado reconhecimento das mulheres como jornalistas preparadas para comentar, narrar e reportar o que acontece no universo do esporte mais popular no país da seleção pentacampeã.
Engana-se quem pensa que apenas os homens crescem com a vontade de falar de futebol nos meios de comunicação. Se antes as famílias privavam muito as mulheres de acompanhar os jogos, hoje, a família é uma forte incentivadora dessa paixão para as garotas, despertando nelas também esse desejo de informar sobre futebol. “Eu decidi fazer jornalismo aos 12 anos e já decidida a falar de futebol muito pelo contato que eu sempre tive da minha família. Sempre fomos muito ligados ao esporte, com uma raiz maior no futebol. Era um ambiente em que consumir futebol era algo natural.” O relato é da comentarista e estagiária da BandNews FM, Jordana Araújo, que comenta as partidas do Brasileirão Feminino pela CBF TV.
Tem quem decidiu muito cedo por jornalismo esportivo. Tem quem tentou evitar o contato com a área durante a faculdade e um comentário de uma professora foi capaz de mudar todo o rumo da história.
Quem nunca ouviu aquela frase: “entrar na faculdade é fácil, o difícil é sobreviver nela”? Para todas as mulheres que vão em busca do sonho de trabalhar em uma área dominada pelos homens, essa sobrevivência extrapola os muros da graduação e chega ao campo. As profissionais femininas se veem constantemente em situações em que precisam provar que têm competência para falar de futebol. “O pessoal perguntava se eu sabia o que era impedimento, o que os jogadores faziam dentro do campo, qual a função do zagueiro e se eu sabia o que um lateral fazia”, conta a comentarista Jordana Araújo. As ofensas e hostilizações à beira de campo não podem impedir que as repórteres realizem seu papel na comunicação esportiva, afinal, após tanto estudo e desafios enfrentados, o objetivo de comunicar ainda fala mais alto do que os gritos que recebem. Para elas, o equipamento de trabalho acaba sendo um aliado que vai além da função a qual realmente se destina. “Normalmente, acontece também em beira de estádio. Você está lá trabalhando e a arquibancada fica te xingando de diversas coisas, eu brinco que é de puta para baixo. O fone acaba sendo um recurso para a gente, porque a gente coloca o fone, aumenta a transmissão no máximo e deixa o povo falar”, afirma a apresentadora dos canais ESPN e Fox Sports, Gláucia Santiago. Estádios e ginásios com a presença de público não são os únicos a deixarem cicatrizes nas profissionais de comunicação. As redações, onde, na teoria, as jornalistas deveriam se sentir mais protegidas e respeitadas também têm um histórico de dor para essas mulheres. “Eu sofri violência psicológica na redação pelo fato de ser mulher, com pessoas desqualificando o meu trabalho, me colocando para baixo e me desencorajando a seguir carreira. Já fui chamada de lixo, de animal, já ouvi pessoas me falando que eu nunca ia conseguir ser repórter e nem apresentadora”, relata a apresentadora, narradora, e repórter esportiva do SBT, Fernanda Arantes. Em 2021, Fernanda foi a primeira mulher a cobrir uma final de uma Libertadores da América em TV aberta. Os avanços tecnológicos possibilitam às mulheres novas oportunidades de seguirem com o jornalismo esportivo. Em 2020, a jornalista Natália Beatriz e outras quatro amigas, criaram o podcast Resenha de Mulheres, que prioriza abordar temas relacionados ao futebol feminino. “Somos uma mídia alternativa mesmo. Durante esse último ano, o nosso podcast foi o primeiro a falar sobre futebol feminino como carro-chefe. Estamos em todas as plataformas, inclusive fomos o primeiro podcast de futebol feminino convidado a fazer parte do streaming da Amazon”. Mas nem tudo são flores. Os mesmos avanços que ajudtam, também podem atrapalhar. As redes sociais, como
Instagram, Facebook, produtos desses avanços, que auxiliam na divulgação do trabalho das jornalistas, servem também de “arma” contra elas mesmas.
Ainda com o machismo muito presente quando não deveria mais ser e, manifestado através de preconceito e assédio sobre jornalistas mulheres que atuam no jornalismo esportivo, Renata Cardoso Nassar, que se formou jornalista em 2018, dedicou seu TCC (trabalho de conclusão de curso) a estudar esse fenômeno.
Intitulado de “O assédio no jornalismo esportivo: o cotidiano das jornalistas e o machismo praticado pela imprensa”, o TCC de Renata Cardoso Nassar, através de entrevistas Acom jornalistas esportivas, constatou que, para 96,55% das profissionais entrevistadas, o preconceito é vivido diariamente por mulheres que atuam na cobertura esportiva. Além disso, do total, 86,65% das jornalistas que participaram da pesquisa afirmaram já terem sofrido preconceito em algum momento da carreira, sendo o assédio o principal tipo de constrangimento. Hoje, Renata Cardoso Nassar, estuda e trabalha com ciências contábeis. Apesar de amar o jornalismo, ela precisou mudar sua área de atuação porque não conseguiu um emprego como jornalista. Se encontrar um emprego na área jornalística já não é tarefa fácil, para as mulheres que desejam seguir carreira na cobertura esportiva, sAe torna mais desafiador ainda. O nicho de oportunidades de trabalho que já é restrito, restringe-se ainda mais.
Apesar dos empecilhos e obstáculos que colocam em questionamento o profissionalismo das jornalistas esportivas que querem cobrir futebol, a paixão que elas sentem pela profissão fala mais alto. “O jornalismo é minha paixão, se tiver uma oportunidade de trabalhar com jornalismo esportivo, eu largo contábeis, eu vou e caio de cabeçAa”, afirma a jornalista e estudante de ciências contábeis, Renata Cardoso Nassar. Embora pareça estar longe de acontecer e, ainda que a esperança de uma mulher atuar cobrindo futebol sem ser questionada pareça mínima, elas seguem resistentes, lutando para que as futuras gerações não tenham que passar pelo que elas passam e para que o mercado de trabalho disponha de oportunidades igualitárias a ambos os sexos. “Para que isso aconteça, a gente não deve aceitar nenhum tipo de desrespeito, precisamos denunciar todo tipo de violência no ambiente de trabalho, nos afirmar, querer ocupar cada vez mais espaço e ter certeza de que a mulher no jornalismo esportivo já é realidade. O meu sonho é que a mulher no jornalismo esportivo deixe de ser pauta”. A frase dita pela jornalista do SBT, Fernanda Arantes, ressalta como as mulheres devem resistir e seguir na luta por maior representatividade dentro do jornalismo esportivo.
vozes femininas em campo
NATÁLIA
"Você tem que ter mil vezes mais experiência do que um homem. Você pode estar concorrendo a uma vaga com um homem e ter a mesma experiência que ele, mas por ele ser homem, vão contratar ele.”
RENATA
- Renata Cardoso Nassar, jornalista e estudante de ciências contábeis.
GLÁUCIA
“Uma vez, fui entregar um currículo pessoalmente e um homem me disse, ‘não contratamos mulheres para a equipe de jornalismo esportivo, é uma norma geral nossa, mas se você quiser, posso encaminhar seu currículo para o pessoal do jornalismo geral’“



NATÁLIA
